A DreamWorks Animation teve seu auge lá no começo dos anos 2000 com o lançamento de Shrek e suas sequências. De lá para cá teve alguns casos de sucesso como “Madagascar” e “Como Treinar o Seu Dragão”, mas algo aconteceu no caminho que eles perderam o prestígio. Sem ninguém esperar absolutamente nada de “Gato de Botas 2” – visto que o primeiro não é lá grande coisa – o longa recupera com êxito o que fez desse estúdio, um dia, referência de qualidade. É mágico, divertido e visualmente impressionante. Uma animação rara e boa demais de se ver em uma tela grande.
Na sequência, o personagem se dá conta de que ser um gato aventureiro tem seu preço e já perdeu oito de suas nove vidas. Com sua última chance cada vez mais próxima de acabar, ele parte em uma jornada pela Floresta Negra para encontrar a mítica Estrela dos Desejos, que lhe dará o poder de fazer um último pedido: driblar a morte e viver sem o medo do fim. É bem interessante como o roteiro faz bom uso dessa “lenda” sobre os gatos e como cada um dos indivíduos que o acompanham nesse caminho também possuem suas motivações para estarem ali. Fazia tempo que não via uma animação com coadjuvantes tão carismáticos e tão bem escritos. O texto é ótimo e consegue amarrar todas as tramas sem nada parecer excesso, divertindo e encantando na medida certa.
Absolutamente tudo o que entregam aqui é superior ao original, inclusive funciona muito bem isoladamente. O filme traz de volta aquela aventura mágica que os grandes estúdios perderam a mão em fazer. Não só pelo humor – que é engraçadíssimo – e nem pela habilidade de ser imensamente fofo, mas porque respeita seus personagens e a evolução de cada um. Sabe quando a jornada precisa de respiro, assim como entende o que faz de uma cena de ação algo envolvente para aquele que assiste. Nesse sentido, a direção de Joel Crawford é um grande acerto. Com nítidas inspirações ao clássico Akira, a produção navega por diferentes técnicas e traços de animação, revelando instantes surpreendentemente belos e inventivos.
“Gato de Botas 2” registra um dos pontos mais altos da DreamWorks Animation e como o estúdio ainda respira originalidade e inteligência. Saí do cinema apaixonado por esse filme e com aquela sensação rara de que eu poderia voltar e assistir mais uma sessão daquilo tranquilamente. Apesar de toda a graça e encanto gerado pela obra, é fascinante como ela dialoga tão bem com os nossos medos atuais. Fiquei tocado quando crise de ansiedade entra em pauta aqui, de forma tão madura e necessária. Me fez refletir, ainda, em como todos aqueles personagens, mesmo com a possibilidade de pedirem algo impossível, todos eles desejam algo que já possuem. E isso diz muito sobre nós.
NOTA: 9,0
País de origem: Estados Unidos Ano: 2022 Titulo original: Puss in Boots: The Last Wish Duração: 101 minutos Disponível: Cinemas Diretor: Joel Crawford Roteiro: Paul Fisher, Tommy Swerdlow Elenco: Antonio Banderas, Salma Hayek, Florence Pugh, Harvey Guillén
Entender o fim de um relacionamento amoroso, por vezes, é mais fácil do que entender o fim de uma amizade. “Os Banshees de Inisherin”, novo filme de Martin McDonagh (Três Anúncios Para um Crime), gira inteiramente sobre a separação entre dois amigos de longa data e a confusão de sentimentos que nascem a partir de então. Apesar de contar com um humor afiadíssimo – sim, é possível dar boas risadas aqui – existe uma atmosfera melancólica que permeia por toda esta excêntrica jornada.
É difícil entender o rompimento de uma amizade, ainda mais quando somos adultos. O que fez aquela pessoa sumir? Onde mora o problema? São essas questões profundas que assombram o coração quebrado de Pádraic (Colin Farrell), quando Colm (Brendan Gleeson) põe fim à amizade deles. Enquanto aquele que se afasta prefere se dedicar à música e construir algum legado, Pádraic decide ir fundo até descobrir os motivos daquele inesperado fim, se envolvendo em um confronto brutal.
Eles vivem em uma pacata ilha na costa oeste da Irlanda, onde não há muito o que se fazer. O que torna tudo ainda mais triste ao percebermos que não há muito na vida do protagonista além daquela amizade que ele tanto preserva. É curioso como, no meio desse embate, não muito distante dali, ocorre uma guerra civil que será definitiva para a separação do país. Em uma batalha onde todos saem perdendo, não faz mais diferença quem é o ataque e quem é defesa. Um pano de fundo que ilustra muito bem esse conflito, onde mesmo quando as motivações não são claras, tentamos tomar um partido ou buscar alguma razão lógica para suas ações tão absurdas.
Martin McDonagh é um excelente roteirista e consegue navegar por gêneros distintos, sem oscilar, entregando diálogos incríveis em uma obra que sabe ser terna e divertida na mesma proporção em que é tensa e sombria. Não há como definir os “Banshees de Inisherin”, mas posso afirmar que se trata de uma experiência extremamente agradável. Me encontrei completamente imerso nessa sua história imprevisível. Seja com riso ou lágrimas no rosto, quis entrar na tela por muitas vezes e abraçar seus adoráveis personagens. É incrível o entrosamento entre eles e como todos estão somando ali. Colin Farrell e Brendan Gleeson são dois atores fantásticos e fazem esse jogo dar muito certo. Já Barry Keoghan e Kerry Condon, como coadjuvantes, estão sublimes e o filme só melhora quando eles entram em cena.
“Os Banshees de Inisherin” é um filme único e repleto de grandes momentos. Não há como se sentir indiferente após a sessão, mesmo que não agrade. A verdade é que é fácil se identificar com essa solidão que retrata. Com essa estranha dor de não fazer mais parte da vida de alguém que até ontem nos completava. De ser rejeitado. De querer entender os sentimentos dos outros e buscar, mesmo que nos momentos difíceis, ser gentil com o próximo. Porque gentileza também é um legado. E dos mais duradouros.
NOTA: 9,5
País de origem: Estados Unidos, Reino Unido, Irlanda do Norte Ano: 2022 Titulo original: The Banshees of Inisherin Duração: 114 minutos Disponível: Cinemas Diretor: Martin McDonagh Roteiro: Martin McDonagh Elenco: Colin Farrell, Brendan Gleeson,Barry Keoghan, Kerry Condon
Pois é, minha gente! Mais um ano se encerrou e, com isso, mais uma retrospectiva aqui na página! É hora de celebrarmos as obras incríveis que tivemos e relembrar o que marcou nesses doze meses que se passaram. Demorou, mas veio aí: a lista de melhores filmes que assisti em 2022.
Confesso que adoro fazer essas listas com os meus filmes favoritos. Nunca é uma seleção fácil, até porque consegui assistir muita coisa boa. Precisei, desta forma, deixar vários que amei de fora para manter 25 títulos. Claro, se trata de uma escolha muito pessoal, então é natural que o seu favorito não esteja aqui…isso não significa que ele seja ruim, apenas que não funcionou comigo.
Estou bem feliz com essas obras que trago. Todas elas significaram algo para mim e se destacaram no meu ano. Outras até se tornaram maiores desde que assisti.
Ressalto, também, que para esta lista foram considerados apenas aqueles filmes lançados no Brasil entre janeiro e dezembro de 2022, no cinema ou VOD de forma legal, independente do lançamento original.
Menções honrosas: Viola Davis lidera um grupo de mulheres guerreiras e emociona com “A Mulher Rei”. Vingança é um tema comum no cinema, mas “O Homem do Norte” vem para nos revelar a base de muitas histórias em mais uma produção admirável de Robert Eggers. Foi o ano do terror e, por isso, vale destacar “Morte Morte Morte”, que diverte ao brincar com as fórmulas do gênero. Tom Cruise é um astro e foi responsável por levar o público de volta ao cinema com o empolgante “Top Gun: Maverick”.
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25. Spencer direção: Pablo Larraín
Já tivemos muitos retratos sobre a Princesa Diana, mas “Spencer” não é só mais um deles. É uma proposta bem mais intimista, onde revela, de forma fictícia, o que poderia ter sido o último Natal dela ao lado da família Real. Pablo Larraín é um dos grandes diretores do cinema atual e ele transforma essa narrativa simples em uma experiência sensorial. Ele, sabiamente, se utiliza da atmosfera de filmes de terror para narrar a solidão da protagonista, que vive de aparências, de uma rotina da qual não tem o menor controle. A câmera quase nunca desgruda de suas costas, nos colocando para dentro daquele universo, nos fazendo sentir tão claustrofóbicos quanto ela. A produção é absurdamente bela, desde os figurinos à riqueza de detalhes dos cenários. A fantástica trilha sonora de Jonny Greenwood vem para acentuar ainda mais essa tensão da narrativa, desenhando com perfeição o tom grandioso que ecoa em nós.
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24. Paris, 13º Distrito direção: Jacques Audiard
Parceria entre dois cineastas franceses que tanto admiro: Jacques Audiard e Céline Sciamma. Eles narram, despretensiosamente, sobre os amores complexos dentro de uma grande metrópole. Os encontros e desencontros entre três adultos que se relacionam, se tornam amantes, parceiros e pouco fazem ideia do que querem da vida. Entre falhas, palavras que machucam e rompimentos, eles buscam se entender, mesmo que por caminhos tortuosos. É apaixonante como Jacques ilustra esse conto sobre amores modernos. Filmado em preto e branco, o longa hipnotiza por sua beleza, mas também por ter um ritmo surpreendentemente empolgante.
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23. RRR direção: S. S. Rajamouli
Uma das coisas mais mágicas que o streaming oferece atualmente, é esse poder que ele tem de estourar a bolha, levando o cinema a atravessar continentes e atingir pessoas que antes não seria possível. “RRR” é um hit indiano da Netflix que fez bonito em 2022. Ele recupera o que Hollywood parece ter esquecido: a entregar um épico da forma como tem que ser. Com grandes efeitos visuais para ilustrar sua grandiosidade, mas também com muita paixão e personalidade. É sobre uma inusitada história de amizade entre o líder de uma revolta e um policial durão obcecado por sua promoção no exército britânico. Eles estão dos lados opostos e ambos tem muita garra para defender seus objetivos. Um daqueles filmes feitos por alguém que nitidamente ama o cinema e a magia que essa arte tem em contar histórias e nos levar para universos tão distantes. Aqui tem dança, combates eletrizantes e câmera lenta para revelar sua grandiosidade. Não tem medo do excesso e abraça isso com força. Diverte, encanta e nos envolve ao longo de suas belíssimas 3 horas de duração.
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22. Pinóquio direção: Guillermo del Toro, Mark Gustafson
Apesar das tantas adaptações que já tivemos do menino de madeira, esta adaptação de Guillermo del Toro tem algo de especial. Aqui, “ser um menino de verdade” nunca é um desejo do protagonista e tornar-se humano acaba sendo uma consequência de suas ações. O roteiro desenha muito bem essas transições e como a transformação não vem apenas de Pinóquio, mas também na vida daqueles que o cercam, que são impactados por seus atos de bondade. Tem muito sentimento nesta jornada e um cuidado rigoroso de toda a produção. Um stop motion que nos choca pelo realismo dos detalhes, que replicam até mesmo as imperfeições. É arte em sua forma mais genuína.
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21. Influencer de Mentira direção: Quinn Shephard
Para chamar atenção dos demais, uma jovem (Zoey Deutch) forja uma visita à Paris, mas sua mentira acaba saindo do controle quando acontece um ataque terrorista “durante sua viagem”. Para ser a influencer que deseja, ela aproveita esta repentina fama criando um movimento que dá voz a todos aqueles que vivenciaram algum tipo de trauma. É através desse cenário improvável que a obra se aprofunda no universo digital, desenhando, com precisão, essa geração que se tornou refém de suas motivações vazias. “Influencer de Mentira” navega por temas extremamente delicados sem perder a força do humor. Caminha sem medo nessa linha tênue entre a provocação e o ofensivo, mas é corajoso o suficiente para se manter ali, cutucando sem utilizar-se de um discurso panfletário e sendo incisivo para causar desconforto.
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20. Mais que Amigos direção: Nicholas Stoller
“Mais Que Amigos” é uma comédia romântica que redefine a representação queer no cinema. Billy Eichner, que escreve e protagoniza, aproveita esse espaço para criticar a máquina de Hollywood e como os grandes estúdios sempre ignoraram as narrativas homoafetivas. Ele interpreta um diretor de museu que precisa enfrentar a dificuldade de se relacionar com outros homens na era complexa dos aplicativos e da frivolidade. Apesar dos risos, o longa traz reflexões sobre essa impulsividade não saudável dos amores líquidos, onde ninguém mais se importa em como suas ações podem afetar o emocional do outro. É um roteiro imensamente sincero, que faz rir pelos exageros mas também machuca com suas tantas verdades. Finalmente vejo um filme que sabe equilibrar esse romantismo e esperança que tanto precisamos, com as dores e frustrações que sentimos na era dos desafetos. Porque é escrita por alguém que vive isso na pele e sabe usar suas palavras para nos atingir.
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19. Carvão direção: Carolina Markowicz
Um dos grandes filmes nacionais que tivemos em 2022. “Carvão”, dirigido pela estreante e talentosíssima Carolina Markowicz, narra uma trama bastante inusitada que acontece no interior do Brasil, onde uma família humilde acaba abrigando um estrangeiro misterioso dentro de casa. Tudo é muito curioso aqui e ficamos vidrados nessa história bizarra, mas estranhamente possível de acontecer. E mesmo quando o longa termina, ficamos ali, digerindo tudo o que ele quis dizer. O que torna a produção tão fascinante, porém, é trazer esses indivíduos tipicamente brasileiros para dentro da cena. O elenco é muito bom e facilmente acreditamos que vivem aquela rotina. Nos faz rir pela identificação que provoca e nos assusta pelas reflexões que deixa no caminho.
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18. Arremessando Alto Direção: Jeremiah Zagar
Aquela prova de que um clichê bem realizado pode se tornar um grande filme. “Arremessando Alto” marca mais uma parceria entre Adam Sandler e a Netflix e surpreende pelo simples fato de ser bom. É uma obra que chega já com a receita pronta, que envolve uma história de superação dentro do universo esportivo. Aqui, Sandler interpreta um olheiro de um time de basquete que aposta todas as fichas em um jovem com enorme potencial. A direção de Jeremiah Zagar torna todo esse espetáculo muito próximo de nós, sendo impossível não vibrar por cada vitória e torcer fervorosamente pelos protagonistas. Uma obra cativante e, mesmo que a história abrace a simplicidade e clichê dos filmes de esporte, comove. E comove porque é bem contado e porque tem muito sentimento envolvido.
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17. A Lenda do Cavaleiro Verde direção: David Lowery
A Távola Redonda é cercada de lendas gloriosas. Neste mesmo universo se encontra Gawain (Dev Patel), sobrinho do Rei Arthur. É sobre sua jornada que conhecemos aqui em “A Lenda do Cavaleiro Verde”, dirigido por David Lowery. O longa se afasta por completo deste cinema de fantasia e ação do qual estamos acostumados, revelando este cenário medieval de forma mais sombria e, até mesmo, mais humana. O protagonista é um jovem imprudente e sua ação imatura acaba tendo consequências drásticas, o levando para uma jornada rumo à sua própria morte. O filme subverte essa saga do herói de forma audaciosa e engrandece com seu final ambíguo. Me senti completamente imerso nesse universo e seduzido pelo poder de suas imagens.
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16. O Acontecimento direção: Audrey Diwan
Apesar dos eventos do filme acontecer nos anos 60, o que vemos aqui é um retrato doloroso e, infelizmente, ainda muito atual sobre aborto. Em uma época em que o procedimento não era legalizado na França, uma jovem (Anamaria Vartolomei) se vê diante de uma jornada solitária após uma gravidez indesejada. A câmera não desgruda da protagonista e a acompanhamos extremamente de perto nesse caminho torturante. É sufocante e soa como um verdadeiro thriller psicológico, onde a personagem precisa enfrentar dores físicas e emocionais constantes. O longa nos faz refletir muito sobre esse peso da gravidez que as mulheres carregam sozinhas e quantas histórias parecidas como essa ainda existem ao nosso redor e nem nos damos conta. É forte e nos causa um grande impacto.
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15. Os Primeiros Soldados direção: Rodrigo de Oliveira
Quando “Os Primeiros Soldados” acabou, fiquei olhando para a tela por um tempo tentando digerir o que havia visto, até que desabei. É um recorte muito real e que nos atinge justamente porque nos faz pensar em quantas histórias como a retratada aqui aconteceram. A produção nacional revela o encontro de três pessoas que precisaram enfrentar a primeira onda de epidemia da AIDS no Brasil dos anos 80. É muito cruel ver esses personagens tão desamparados, diante de tanto preconceito e falta de informação da época. Eles são vistos como a escória do mundo, como aqueles que não merecem a cura. Apesar do nítido baixo orçamento da produção, é louvável o que o diretor faz com tão pouco. As excelentes atuações trazem uma naturalidade fascinante para as cenas, assim como o texto que traz honestidade e sensibilidade para lidar com um tema tão delicado. É forte e poderoso tudo o que é dito aqui. São falas que nos alcançam porque possuem muito sentimento e muita poesia também.
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14. Flee direção: Jonas Poher Rasmussen
Por muitas vezes, enquanto assistia “Flee”, eu esquecia que se tratava de um documentário. E, por muitas vezes, eu quis esquecer que se tratava de uma história real. É interessante como a animação sempre foi uma técnica para explorar a fantasia, a fuga da realidade. E essa quebra, que mescla recortes históricos com traços animados, vem justamente como um escape, uma saída para tudo aquilo que é doloroso demais para traduzir, para tudo aquilo que nosso protagonista gostaria de esquecer, de fugir. Conhecemos aqui a dura trajetória de Amin Nawabi, um refugiado afegão e todo o caminho que precisou percorrer, ao longo dos anos, até encontrar um lugar para chamar de lar. Um jovem indo atrás de aceitação da sociedade por estar sempre a margem, por não ter um país e por se descobrir homossexual. Existe um abismo entre ele e o resto do mundo. “Flee” é impactante, doloroso e profundamente emocionante.
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13. Competição Oficial direção: Gastón Duprat, Mariano Cohn
“Competição Oficial” é metalinguagem pura. É ficção dentro de uma ficção, em uma obra que satiriza, com brilhantismo, Hollywood e toda a batalha de egos que existe no meio artístico. O longa utiliza-se de pouquíssimos cenários e ambientações, mas é aquela produção tão absurdamente genial, que vai se tornando gigantesca aos nossos olhos. A trama se concentra em apenas três personagens: uma diretora (Penélope Cruz) e dois atores renomados, Félix (Antonio Banderas) e Iván (Oscar Martínez) e tudo acontece durante os ensaios para o filme que irão lançar. Uma surpresa deliciosa, que revela, através de um texto crítico e bastante atual, o cinema de nosso tempo. Ri de nervoso, mas também me deixou reflexivo sobre seu excelente final. E claro, valeu por ver esse trio de atores arrebentando em cena. O texto exige bastante dos três e eles devoram cada oportunidade. Eles brilham.
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12. Noites Brutais direção: Zach Cregger
Uma obra que me deixou em completo choque, não só por suas cenas fortes, mas também por toda sua ousadia e originalidade. Porque se recusa a ser só mais um filme de terror, se transformando (e se reinventando) a cada minuto. “Noites Brutais” sabe como fisgar a atenção, revelando uma trama que tem sempre uma carta na manga e está sempre a um passo à frente do público. Temos aqui quase que 3 filmes distintos e que, aos poucos, vão se encontrando. Essas quebras podem até causar uma estranheza, mas enriquecem sua estrutura como um todo. Sem pretensão alguma, encontramos aqui um dos filmes mais inventivos e divertidos do ano.
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11. O Bom Patrão Direção: Fernando León de Aranoa
Às vezes, para se ter equilíbrio no mundo, é preciso enganar a balança. É com essa premissa que “O Bom Patrão” faz um recorte extremamente atual sobre o mundo corporativo e sobre as tantas desigualdades que regem o sistema capitalista. O filme acontece durante uma semana, quando o dono de uma fábrica de balanças, Julio Blanco, interpretado pelo sempre fantástico Javier Bardem, precisa resolver todos os problemas de seus funcionários para conseguir, ao fim daqueles dias, receber um prêmio de excelência empresarial. É ele fazendo absurdos para tapar os buracos e manipulando a todos para sair bem na foto. O roteiro é espertíssimo e cria situações que atacam a nossa ansiedade. Ficamos atentos pelos desdobramentos e para ver como toda aquela loucura poderia acabar. Um filme brilhante, divertido e incrivelmente dinâmico.
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10. Great Freedom direção: Sebastian Meise
“Great Freedom” ilustra com extrema delicadeza o período em que amar era considerado um crime. Parece uma trama distópica e nos sufoca quando entendemos a vida opressora que muitos tiveram que enfrentar. Acompanhamos a jornada de Hans Hoffman (Franz Rogowski) que, em um período pós-guerra na Alemanha, é encarcerado repetidas vezes ao longo dos anos por ser homossexual. Me vi o tempo todo querendo poder abraçá-lo. Hans é o doloroso retrato de tantas pessoas que tiveram suas identidades apagadas. O filme choca ao recontar esse momento da história em que homens foram perseguidos e castigados pela forma como eles amavam. O fim, então, vem como um soco ao falar de liberdade e o quanto ela é relativa. O que é ser livre para você pode também ser a minha prisão.
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9. Argentina, 1985 direção: Santiago Mitre
Em uma época em que muitos ainda apoiam a ditadura militar, “Argentina, 1985” não poderia ter vindo em hora melhor. O longa nos mostra o julgamento histórico que colocou no réu os principais comandantes do regime militar argentino e todos aqueles responsáveis por torturar e assassinar durante a mais sanguinária ditadura da América Latina. O ótimo Ricardo Darín interpreta o promotor público que esteve à frente do processo e como ele reuniu um grupo de jovens estudantes para a investigação do caso. O diretor Santiago Mitre constrói um filme de tribunal angustiante, mas também eletrizante, que envolve e nos mantém vidrados por cada nova informação que chega. Sabe como dosar o humor e o tempo para revelar as relações entre os personagens. Fantástico e altamente necessário.
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8. O Chef Direção: Philip Barantini
Filmado em único take, vemos de perto a noite mais movimentada dentro de um restaurante. A câmera caminha pelos corredores da cozinha, onde assistimos a rotina caótica do local e um Chef que precisa lidar com a pressão dos funcionários, dos clientes e da crítica, além de ter que segurar seus tantos dramas pessoais. É simplesmente eletrizante adentrar ao universo desse filme, que segura nossa mão já nos primeiros minutos e não solta nem por um segundo. Um plano sequência incrivelmente bem coreografado, que traz naturalidade e intensifica os tantos sentimentos que ali se abrigam. O elenco é incrível e faz esse jogo proposto funcionar. Acreditamos naquela realidade e ficamos hipnotizados por cada pequeno detalhe. Uma obra imersiva, inteligente e sem a pretensão de ser, diferente de outros “menus” oferecidos por aí.
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7. Elvis direção: Baz Luhrmann
Elvis Presley foi uma das figuras mais emblemáticas do século XX. Ainda que ele já tenha se tornado personagem em outros filmes, nunca o cinema teve a coragem de fazer uma cinebiografia dessa magnitude e Baz Luhrmann, mais conhecido por sua estética espalhafatosa, prova ter sido a escolha mais adequada para esse projeto. Ele flerta com o musical contemporâneo e costura a vida de Elvis em meio a colagens e batidas que nunca pausam. Navegamos em um ritmo alucinante pelos altos e baixos de sua carreira, desde sua infância até sua morte e é incrível como o roteiro consegue, em suas duas horas e meia, dar um overview sobre tudo, sem nunca perder o fôlego. Longe de qualquer imitação, Austin Butler se entrega de corpo e alma nesta obra energética e revigorante. O show que Elvis merecia. O filme que nem sabíamos que precisávamos.
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6. Não! Não Olhe! direção: Jordan Peele
Jordan Peele segue sendo um dos raros cineastas atuais a movimentar uma multidão para uma ideia original. É um trabalho maduro, de um diretor ainda em seu auge e nos oferecendo uma experiência sem igual. Aquele tipo de filme que, além de nos causar fascínio diante de seus misteriosos símbolos, também nos empolga nesse cinema eletrizante, bom demais de ver em uma tela grande. O terror aqui está nos céus e desperta a atenção de dois irmãos (Keke Palmer e Daniel Kaluuya) que moram em um rancho e procuram alguma forma de registrar essa criatura que os amedronta. É um filme que permite inúmeras interpretações e isso só o enriquece. E não é apenas por essas possíveis leituras que o novo trabalho de Peele funciona. Funciona, principalmente, porque é muito bem feito, porque encanta e diverte um bocado. O roteiro é ótimo e encontra equilíbrio entre comédia e tensão. Um espetáculo visual, sonoro e que só cresceu dentro de mim. Quanto mais eu penso nele, mais eu gosto.
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5. A Pior Pessoa do Mundo direção: Joachim Trier
Impossível chegar aos 30 anos e não se identificar com a trajetória da personagem Julie, muito bem defendida pela atriz Renate Reinsve em “A Pior Pessoa do Mundo”. Quando ela alcança essa idade, milhões de inseguranças a atingem e uma necessidade de realizar tudo, ao mesmo tempo em que não consegue concretizar nada. O longa norueguês acaba por revelar um singelo e honesto retrato da vida adulta e as tantas incertezas que nos definem. Julie tem a preciosa habilidade de fazer as coisas não darem certo e suas falhas acabam dizendo mais sobre nós do que gostaríamos de admitir. Flertando com o lúdico, o diretor Joachim Trier entrega uma obra deliciosa, elegante e assustadoramente madura.
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4. Um Herói direção: Asghar Farhadi
O cinema do iraniano Asghar Farhadi tem poder de nos provocar com seus contos morais e aqui não é diferente. É difícil sair ileso de “Um Herói”, que segue como se uma bomba pudesse explodir a qualquer instante. Rahim (Amir Jadidi) está preso por uma dívida que não consegue pagar e durante sua condicional, ele tenta reverter a situação para que a queixa seja retirada. Nada sai como o planejado e sua ação acaba tendo proporções inimagináveis. Nos mantém tensos e angustiados, porque ficamos ali torcendo por algum milagre que faça o protagonista se ver livre desse circo que ele acaba criando para si. Farhadi não tem interesse em julgar o caráter de Rahim e nos faz questionar, a todo momento, o que faríamos em seu lugar. O quão culpado ele é nessa história ou o quão longe vale ir para provar inocência. São decisões difíceis e por isso ficamos ali, sufocados e completamente imersos em sua trajetória. Um drama eletrizante e que, definitivamente, me deixou sem fôlego.
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3. Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo direção: Daniel Kwan, Daniel Scheinert
“Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo” não poderia ter um título mais pertinente. De fato, cabe muita coisa dentro desse filme, que flui entre gêneros distintos e consegue ser incrível em todos eles. Ao nos transportar para esse lugar de infinitas possibilidades, nos permite sentir inúmeras sensações e vivenciar uma experiência única, ousada e surpreendentemente tocante. O roteiro é absurdamente genial e nunca para de criar ou trazer informações novas. É uma obra que vai se reinventando e mergulhando em lugares nunca antes explorados. A criatividade aqui é inesgotável, onde nem tudo faz sentido e nada, no fim das contas, precisa fazer. O grande lance aqui é se permitir viver a loucura e abraçar o nonsense, porque em algum canto, seja por um detalhe ou um simples diálogo, o filme falará diretamente com você. E no meio do furacão espalhafatoso que nos deparamos aqui, existe um coração que bate forte e emociona quando menos esperamos. Há tanta coisa dentro do filme que ele explode em nós.
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2. Cha Cha Real Smooth direção: Cooper Raiff
Eu realmente acredito que alguns filmes podem ter um significado mais profundo quando aparecem na hora certa em nossas vidas. Esse aqui foi de encontro comigo e com o que sinto, me fazendo desabar ao final. Escrito, dirigido e estrelado por Cooper Raiff, o longa traz uma narrativa sobre amadurecimento na fase adulta, quando seu carismático protagonista, completamente perdido na vida, acaba se apaixonando por uma mulher mais velha e comprometida. O texto é ótimo e mesmo que tudo seja extremamente leve e gostoso de assistir, caminha com os pés no chão, revelando personagens e sentimentos extremamente possíveis. Diz muito sobre como, independente da idade, no fim das contas, todos enfrentamos um processo de entendermos a nós mesmos e de como encarar o outro. É aqui que o texto vem para dizer muito sobre responsabilidade afetiva e a importância de ser verdadeiro com o próximo. Penso que o que há de mais poderoso aqui é a honestidade entre os personagens e essa coragem que todos têm em dizer o que sentem. Vivemos em um tempo onde todos são tão frios e distantes, que ouvir sobre gentileza acaba sendo de grande impacto. “Cha Cha Real Smooth” diz coisas que eu precisava ouvir e nem sabia. É lindo, acolhedor e faz um bem enorme pra alma.
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1. Aftersun direção: Charlotte Wells
Nenhum outro filme de 2022 me despertou o que esse aqui conseguiu. É um cinema que transcende, que nos leva para um lugar imensamente íntimo, doce e, ao mesmo tempo, tão obscuro e doloroso. “Aftersun” terminou e me deixou paralisado, em completo estado de catarse. Enquanto grande parte da projeção, estamos lidando com as férias de verão e o relacionamento entre uma filha, Sophie (Frankie Corio) e seu pai Calum (Paul Mescal), ao decorrer entendemos que se trata de uma história de reconciliação, de memória e luto. De uma mulher, agora adulta, procurando pela verdade de seu pai, por tudo aquilo que só a idade a fez compreender. O resultado dessa experiência é algo difícil de esquecer. Uma obra que me comoveu profundamente e me fez ficar remoendo por muito tempo o que eu havia presenciado. Um filme que ecoa em nós. O melhor do ano.
A retrospectiva continua por aqui para revelar o que teve de melhor no cinema em 2022. Venho agora listar as minhas cenas favoritas do ano.
Separei 15 momentos que, de alguma forma, me marcaram. Seja por um diálogo, pelo visual, pelas atuações. Seja pela forma como o diretor revelou aquele momento dentro do filme. Aqueles instantes que ficaram na cabeça e, por isso, merecem destaque.
Lembrando que todos os títulos citados são de produções lançadas entre janeiro e dezembro de 2022 aqui no Brasil, no cinema ou VOD, independente do lançamento no país de origem.
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15. Revelação (Morte Morte Morte)
Seria trágico, se não fosse tão cômico. “Morte Morte Morte” traz uma situação aterrorizante, quando um grupo de “amigos” são assassinados dentro de uma mansão ao longo de um fim de semana. A cena final vem para revelar o grande mistério e, assim como toda a obra, choca pelo absurdo. Uma quebra de expectativa corajosa, porque entrega exatamente o que nenhum outro filme de terror ousaria, justamente porque não é o que o público espera. Quando as sobreviventes encontram o celular da suposta primeira vítima, assistem incrédulas o registro de sua morte. É um instante cômico e surpreendente. Para rir de nervoso.
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14. Fita métrica (Noites Brutais)
Já na segunda parte de “Noites Brutais”, o personagem de Justin Long retorna para seu imóvel abandonado e ao chegar lá percebe que há um “puxadinho” misterioso. É então que ele decide medir aquele novo espaço. A tensão existe porque nós já sabemos o que habilita ali e vê-lo caminhando tranquilamente com sua fita métrica nos deixa imensamente apreensivos. O diretor Zach Cregger sabe como trabalhar o suspense e nos mantém hipnotizados ali, já esperando pelo pior.
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13. Monólogo na praia (Mais Que Amigos)
Billy Eichner sempre abraçou com força esse papel do cara tagarela e áspero. Quando ele escreve “Mais Que Amigos”, é nítido que ele coloca muito de si na história. A cena em que ele vai à praia com seu “bro” é quando ele revela sua mais verdadeira essência. Longe de qualquer máscara, caricatura ou muro que ele construiu para si. É ele falando sobre ser um artista gay e como teve sua voz reduzida por tanto tempo dentro do mundo do entretenimento. Como ele precisou esperar até que histórias entre homossexuais pudessem ser lucrativas para que ele, enfim, pudesse falar sobre suas próprias vivências. É metalinguagem pura em um discurso honesto e extremamente necessário.
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12. Ensaio da Morte (Competição Oficial)
A trama de “Competição Oficial” oferece uma metalinguagem bem saborosa e interessante. São dois atores que não se suportam, precisando dar vida a história de vingança entre dois irmãos. A cena em questão, é quando os astros precisam ensaiar o ápice do filme que vão gravar. A sequência que marcará a grande reviravolta, quando um dos irmãos assassina o outro e rouba seu lugar. É muito simbólico esse instante porque acaba refletindo muito sobre o que virá a acontecer na realidade. É fascinante também toda a construção desse momento, onde os cenários estão apenas demarcados e parece que estamos diante de uma peça de teatro, com pouca iluminação e uma atmosfera angustiante.
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11. Telescópio (Marte Um)
“Marte Um” é um filme muito singelo e feito de muito coração também. O final deixa isso muito claro, quando a família Martins, depois de passar por vários perrengues, decide ouvir sobre os sonhos do filho mais novo, que almeja estudar astrofísica e participar de uma missão espacial. Ele, então, os leva a observar o céu com seu telescópio. É uma cena genuinamente bela, que traz finalmente um momento de paz para aqueles personagens e de esperança que eles tanto precisam.
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10. Crianças revoltadas (Matilda: O Musical)
Nem todos os números musicais funcionam na versão de “Matilda” da Netflix. Mas se tem um que me fez me ajeitar na poltrona e dar um replay foi a sequência em que as crianças se rebelam na escola cantando “Revolting Children”. É uma coreografia assustadoramente bem coordenada, acelerada e empolgante. A câmera passeia pelos corredores do local em uma montagem fascinante.
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9. Jantar de pérolas (Spencer)
Quando junta a trilha de Jonny Greenwood, a elegante condução de Pablo Larraín e as expressões de Kristen Stewart, temos o prato perfeito para uma cena agoniante e irretocável. É um jantar que explicita a relação conturbada entre a Princesa Diana e a família Real e, também, uma grande metáfora para os transtornos sofridos pela protagonista. Entre troca de olhares fuzilantes, ela se vê presa no local. Sufocada, ela arranca o próprio colar, deixando as pérolas caírem no prato, onde logo em seguida, as come.
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8. Trouble (Elvis)
Eu poderia listar inúmeras cenas incríveis de “Elvis”, mas cito uma que me deixou extasiado. Quando o Rei sobe no palco para cantar “Trouble“, ele registra ali que está contra as regras, contra a ordem que rege aquela sociedade tão retrógrada. Com seus movimentos sensuais e gestos provocativos, ele leva o público à loucura, para a fúria dos policiais que acompanhavam o show e logo precisam interceder. É Elvis usando o poder de sua música para quebrar barreiras e incitando a rebeldia que muitas vezes é necessária.
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7. Naatu Naatu (RRR)
Mais do que entregar uma música chiclete, temos aqui a cena mais fascinante de “RRR”, épico indiano da Netflix. É uma sequência musical no meio de sua aventura gloriosa, onde os dois protagonistas se unem, em uma festa, para ensinar aos convidados um passo de dança nada convencional. É um ato rebeldia ali, já que aqueles movimentos não são bem vindos na alta classe. A sequência é divertidíssima e eletrizante, onde os dois entregam uma coreografia insana e impossível de desgrudar os olhos.
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6. Última batalha (O Homem do Norte)
O último ato da vingança de Amleth (Alexander Skarsgard), que finalmente entra em combate com seu tio. O diretor Robert Eggers faz deste instante algo esplêndido, quando os coloca para lutar pelados em um cenário devastado por lavas que queimam. O vermelho grita na tela em uma sequência pouco iluminada. A potente trilha traz ainda mais essa sensação de que estamos presenciando algo épico. Há tensão, emoção e tudo que é necessário para entregar um belíssimo clímax.
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5. Chuva de Sangue (Não! Não Olhe!)
Um dos momentos mais tensos e brilhantes de “Nope”, quando Emerald (Keke Palmer) e Angel (Brandon Perea) estão dentro da casa e percebem que algo muito ruim está acontecendo do lado de fora. Eles começam a ouvir sons assustadores que se aproximam, como gritos desesperados. Logo depois, avistam pela janela, uma chuva de sangue acompanhada de vários objetos, como restos mortais sendo cuspidos por alguma criatura que sobrevoa a região. A trilha sonora de Michael Abels torna esse instante ainda mais impactante. Olhei para essa cena e gritei “ARTE!”.
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4. Pedras (Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo)
Curioso como uma das cenas mais sinceras e emocionantes de “Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo” seja protagonizada por duas pedras. É um filme que reúne várias sequências peculiares e essa é uma delas. Em um dos tantos universos propostos aqui, mãe e filha são duas pedras no topo de uma montanha. Ali elas tem uma pequena reflexão sobre a vida e como diante de todo universo são apenas criaturas pequenas e estúpidas.
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3. Tempo congelado (A Pior Pessoa do Mundo)
Cansada da monotonia de seu relacionamento atual e da rotina sem emoção que segue, Julie (Renate Reinsve) vislumbra um mundo congelado. Ela sai de seu apartamento e atravessa a cidade, onde todos os moradores estão paralisados. Julie vai de encontro a única pessoa que também não teve o tempo parado, seu amante, que trabalha em um café. Eles passam um dia romântico juntos. Um dia só deles. Sem ninguém mais. Uma sequência belíssima e apaixonante, ainda que revela essa impulsividade autodestrutiva da protagonista. É leve, gostoso de ver e uma quebra interessante e fantasiosa dentro de um filme tão realista.
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2. Introdução (Athena)
A notícia de um jovem morto por um policial dá início a uma revolta popular na França. A introdução de “Athena” nos coloca para dentro da cena, quando vemos o grupo de rebeldes em ação. Filmado em um eletrizante plano-sequência, o diretor Romain Gavras constrói ali um instante hipnotizante, imersivo e poderoso. É daqueles momentos do cinema que ficamos nos perguntando como tudo aquilo foi feito. É extremamente calculado cada passo ali e ficamos abismados com tamanha perfeição.
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1. Última dança (Aftersun)
Começa como apenas uma cena adorável entre pai e filha, durante uma festa, quando ele a convida a dançar “Under Pressure”, clássica colaboração entre Queen e David Bowie. Uma música presente em muitos filmes, mas esse aqui trouxe uma nova perspectiva, que nos faz ouvi-la de forma diferente. A batida empolgante, de repente, ganha contornos mais dramáticos. “Você pode nos dar mais uma chance?”. “Esta é nossa última dança”. Essas frases ecoam em nós como um soco diante do que acontece ali. É o presente devastado tentando abraçar o passado incompreendido. É uma filha buscando seu pai, tentando viver aquela última lembrança com novos olhos. Uma cena incrível, que nos toca e causa um impacto gigante em nós.
Finalizando a lista de melhores atuações de 2022 aqui na página, venho trazer esse post especial com as grandes atrizes que tivemos no ano.
Seja na comédia, no drama, no terror, essas mulheres brilharam demais no cinema. Separei, então, 15 atrizes que acredito que foram as melhores. Claro, precisei deixar excelentes atuações de fora, mas espero que gostem das selecionadas.
Lembrando que selecionei atuações apenas de filmes lançados entre janeiro e dezembro de 2022 aqui no Brasil, no cinema ou VOD, independente do lançamento original.
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15. Aubrey Plaza (Emily the Criminal)
Aubrey Plaza é uma atriz que tem me surpreendido positivamente. Confesso que sempre achei que ela fazia a mesma coisa, sempre presa na figura mal humorada de April Ludgate (Parks and Rec). Mas aos poucos, tem revelado novas facetas e em “Emily The Criminal” ela prova que pode ir muito além. Seu humor está ali, mas há também muita força em sua presença e honestidade ao compor essa jovem comum que busca ter uma vida melhor, mesmo que para isso cometa alguns pequenos crimes. Vai de encontro aos seus objetivos sem rodeios e nos causa uma estranha identificação, justamente porque ela está cansada demais para aceitar as coisas como são.
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14. Taylor Russell (Até os Ossos)
Taylor é uma jovem atriz que merece atenção. É sempre uma surpresa boa tudo o que ela esconde por trás dessa aparente doçura. Como protagonista de “Até os Ossos”, ela encanta, mesmo quando interpreta uma garota canibal. Maren está no fim da adolescência, buscando seu lugar no mundo e confrontando seus tantos medos internos. Taylor está fascinante em cena e encontra o tom certo para dar vida a um papel tão original.
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13. Kika Sena (Paloma)
O grande sonho de Paloma é casar, mas para isso ela precisa enfrentar o grande preconceito por ser uma mulher trans. É uma jornada delicada e muito real. Nos atinge justamente por sabermos o quão possível é tudo isso acontecer, dessa mulher não podendo viver o amor como deseja. Kika Sena entrega toda sua verdade e nos comove.
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12. Mia Goth (X – A Marca da Morte)
2022 foi o ano de Mia Goth, logo, não poderia deixá-la de fora dessa lista. É incrível como ela, mesmo com filmes menores, estourou a bolha e conquistou o grande público. “X” marca uma virada em sua carreira, deixando de lado qualquer dúvida que houvesse sobre seu talento. Ao interpretar duas personagens aqui, Pearl e Maxine, ela prova sua imensa versatilidade. Tem presença, carisma e tem tudo pra ser a nova queridinha do terror.
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11. Frankie Corio (Aftersun)
É sempre surpreendente ver essas atuações brilhantes vindas de crianças. Frankie não parece uma atriz novata, tamanha naturalidade que entrega aqui. Sua parceria com o ator Paul Mescal é uma das mais adoráveis do ano. Os dois têm muita sintonia como pai e filha, graças ao enorme talento dos dois. A sequência em que ela é ignorada no palco ao cantar “Losing My Religion” é gigante, porque precisa encarar um misto de sentimentos. Tudo o que vem dela parece um improviso e é gostoso demais de acompanhar.
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10. Isabelle Fuhrman (A Novata)
Para equilibrar a péssima oportunidade que teve de retornar em “A Órfã 2”, Isabelle nos agraciou com uma grande interpretação no ano. Na pele de Alex, uma caloura obcecada em ser a melhor na equipe de remo, a atriz brilha. A personagem se lança em uma busca incessante pela perfeição e Isabelle nos revela com muita intensidade essa confusão, desespero e solidão. Que venham outros papéis bons para ela!
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9. Viola Davis (A Mulher Rei)
Viola é um evento. Qualquer coisa que essa mulher faça, estaremos lá aplaudindo. Em “A Mulher Rei”, ela se mostra muito confortável como essa heroína valente. Seja nas cenas em que é preciso uma entrega mais corporal, seja nos instantes mais dramáticos. Viola domina todos eles.
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8. Jessica Chastain (Os Olhos de Tammy Faye)
Estava com o pé atrás com essa interpretação, mas quando vi entendi suas tantas premiações. Claro que sempre parece mais fácil o caminho da transformação do ator quando ele está carregado de maquiagem. Mas a verdade é que a transformação de Chastain vai muito além da aparência. Os trejeitos, postura, voz, não há nada ali que me lembre outra interpretação dela. Ela renasce para dar vida a Tammy Faye e todos os seus mais absurdos excessos. É difícil dar vida a uma figura caricata sem parecer imitação e ainda assim revelar verdade. E Chastain consegue esse feito.
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7. Penélope Cruz (Competição Oficial)
Uma diretora durona e com métodos excêntricos de trabalho. Essa é Lola Cuevas, que Penélope Cruz da vida com tanta graça em “Competição Oficial”. É nítido que ela se diverte em cena e, como consequência, nos divertimos muito também. É um papel cômico, exagerado e estranhamente sedutor. Só podia ser Penélope aqui.
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6. Renate Reinsve (A Pior Pessoa do Mundo)
É tão fácil se identificar com a trajetória de Julie em “A Pior Pessoa do Mundo”. Para quem já chegou nos 30 e sente que possui essa habilidade de se autodestruir, esse aqui vem como um soco. E que bom que temos Renate como protagonista, porque ela torna essa conexão possível. Há sensibilidade, leveza e muito sentimento em seus olhares, vindos de alguém que teve o coração partido diante das más escolhas da vida.
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5. Anamaria Vartolomei (O Acontecimentoi)
Outra atriz novata aqui na lista, Anamaria surpreende em “O Acontecimento”, em um dos papéis mais difíceis do ano. Aqui ela interpreta Annie, uma jovem que, ao descobrir que está grávida, busca por realizar o aborto. A grande questão é que a trama ocorre nos anos 60, onde a informação é mais escassa e o tabu ainda maior. É extremamente forte tudo o que a protagonista enfrenta e a atriz se entrega por completo. Ela carrega em seus olhares toda a dor silenciosa que Annie não pode expressar. Um trabalho arrebatador.
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4. Maeve Jinkings (Carvão)
Maeve é uma das grandes atrizes do cinema nacional. Ela faz de Irene, do filme “Carvão”, um retrato honesto de tantas mulheres e tantas histórias brasileiras. Nas marcas de sua pele ao olhar vazio e distante. O sotaque que imprime muito humor, mas também muita força, muita garra. Maeve é aquela atriz que pode ser qualquer coisa e ela é incrível em tudo o que faz.
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3. Ana de Armas (Blonde)
Muito delicado falar de Ana de Armas em “Blonde” porque se trata de um filme controverso. Um dos mais odiados e polêmicos de 2022. É fato que o retrato que o cineasta Andrew Dominik faz de Marilyn Monroe é desconfortavelmente misógino. Mas aí que entra a grandeza de Ana. Ela ilumina a obra. Incendeia. Sua transformação e entrega para o papel é comovente, porque ela se doa inteiramente. Existe um brilho a mais na atriz, um carisma diferenciado. Há algo nela que me faz lembrar as grandes estrelas do cinema. E Ana de Armas é uma dessas estrelas, das mais raras e especiais.
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2. Emma Thompson (Boa Sorte, Leo Grande)
Emociona quando o cinema decide contar histórias de mulheres da terceira idade. Envelhecer como atriz não é fácil, porque sabemos que portas se fecham, porque Hollywood pouco se interessa pelo o que elas têm a dizer. É então que “Boa Sorte, Leo Grande”, uma aparente comédia romântica bobinha, abre essa porta. Permite que uma atriz, no auge de sua experiência, se desnude por completo. Emma Thompson abraça essa oportunidade com força e entrega uma das atuações mais honestas e importantes do ano. Como é bom vê-la aqui. Intensa, divertida, arrogante, espontânea e tudo o que pode caber de mais complexo dentro de uma mulher. Emma é gigante e o seu lugar só pode ser no topo.
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1. Michelle Yeoh (Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo)
É muito estranho pensar que o fato de uma atriz asiática estar sendo ovacionada e premiada seja algo tão novo e revolucionário. Triste perceber que essa minoria seja tão desvalorizada no cinema e nunca tenha espaço para contar suas histórias. Uma das entrevistas que mais me emocionaram no ano foi de Michelle Yeoh dizendo que esperou sua vida inteira por esse papel. É sim o papel de sua carreira e é também aquele que escancara seu talento subestimado. Finalmente lhe deram voz para ser a mãe, a amante, a dona de uma loja. Tudo é possível nesse roteiro insano e Michelle se lança a essa montanha russa de sentimentos. Encara todas as oportunidades e entrega uma atuação formidável. Ela diverte, emociona e finalmente nos prova o quão grande ela é. Que muitos outros bons personagens venham para essa veterana! Ela merece o mundo!
Continuando com a retrospectiva de 2022, venho apresentar os meus atores favoritos do ano.
Tivemos algumas grandes revelações de atores novatos, como também tivemos a chance de ver alguns veteranos brilharem novamente. Foi um ano bem interessante para as atuações masculinas, o que tornou bem difícil fechar essa lista em apenas 15 nomes.
Espero que gostem dos selecionados e comentem qual foi a favorita de vocês!
Lembrando que selecionei atuações apenas de filmes lançados entre janeiro e dezembro de 2022 aqui no Brasil, no cinema ou VOD, independente do lançamento original.
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15. Vincent Lindon (Titane)
“Titane” é um filme bem maluco e precisava de um excelente ator para fazer essa insanidade funcionar. Vincent interpreta Vincent, um homem que injeta esteróides para salvar seu corpo do envelhecimento, enquanto luta pela dor de ter perdido um filho no passado. É um personagem ferido e que externaliza suas dores através de sua força e fúria. Uma performance marcante de um grande ator.
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14. Justin Chon (Blue Bayou)
Justin também escreve e dirige o drama “Blue Bayou”, o que torna sua atuação ainda mais interessante. Ele é incrível em todas as funções que ocupa aqui e prova ser um talento a ser descoberto. É nítido o quão pessoal é esse projeto para o ator, que entrega muita honestidade em todos os seus dolorosos discursos. O final é arrebatador e ele nos destrói.
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13. Alexander Skarsgård (O Homem do Norte)
Confesso que eu sempre esqueço que o Alexander é um grande ator. Toda vez que ele ressurge eu penso: “Ah, verdade! Ele atua muito bem mesmo”. Talvez porque ele já tenha se metido em projetos duvidosos, mas quando ele tem a chance de fazer algo realmente bom, o cara se destaca. Em “O Homem do Norte”, ele nos revela toda a garra de seu bravo protagonista, atormentado pelo passado, sedento por vingança. Sua presença é forte e nos carrega ao seu lado nessa jornada violenta.
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12. Peter Dinklage (Cyrano)
Peter já havia dado vida a Cyrano nos palcos e agora tem a chance de mostrar ao grande público o carinho que tem pelo personagem. Um homem que, por acreditar não ser digno do amor, se esconde nas cartas que envia à sua donzela, fingindo ser outra pessoa e vivendo sempre distante da felicidade. Além de revelar ser um excelente cantor, afinal estamos falando de um musical, Peter faz de Cyrano uma figura adorável e apaixonante. Deposita ali muito sentimento e facilmente nos emociona.
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11. Dev Patel (A Lenda do Cavaleiro Verde)
Gawain não tem nada de herói e é justamente isso que torna sua jornada tão interessante. Distante da bravura e lealdade que sempre lemos nas histórias sobre a Távola Redonda, ele é covarde, fraco e cheio de dúvidas. Ele é humano. Dev Patel faz de Gawain um indivíduo estranhamente fascinante, que caminha sempre atormentado por suas escolhas, pelo peso de ser quem é, receoso sobre o que o futuro lhe aguarda.
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10. Oscar Martínez (Competição Oficial)
No meio da insana e divertida metalinguagem de “Competição Oficial”, o ator argentino Oscar Martínez brilha como o ator Iván Torres, um renomado astro do cinema que precisa encarar um excêntrico ensaio para seu novo filme. Nesse tempo ele precisa se desconstruir e se desprender de seu enorme ego. Oscar nos convence ser essa persona amarga e obcecada pela perfeição. Um grande personagem entregue a um grande ator. Não poderia dar errado.
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9. Denzel Washington (A Tragédia de Macbeth)
O veterano Denzel Washington tem a chance de ouro aqui. É aquele papel do sonho de qualquer profissional e ele agarra com bravura, estando sempre a altura do difícil texto que proclama. Como Lorde Macbeth, o ator nos relembra o tamanho de seu talento e fazia tempo que ele não tinha uma oportunidade tão rica como esta.
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8. Felix Kammerer (Nada de Novo no Front)
É bastante desesperador acompanhar a guerra pelos olhos do soldado Paul. Se de início, ele é apenas um jovem sonhador, acreditando estar agindo como herói, assim que pisa nas trincheiras destroçadas, sua expressão se apaga. Felix entrega uma atuação brutal, intensa e que acaba dizendo muitos com seus olhares.
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7. Paul Mescal (Aftersun)
Eu diria que é impossível não se envolver com o Paul Mescal em “Aftersun”. Impossível não ficar com ele na mente, muito tempo depois que o filme termina. Seu personagem nos envolve e, ao fim, nos faz revirar tudo o que vimos para tentar entendê-lo melhor, buscar detalhes que nos passaram despercebidos. É como se ele fosse próximo de nós. Um ente querido, um amigo do qual recordamos com carinho. Uma performance muito singela, comovente. Paul é uma revelação.
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6. Javier Bardem (O Bom Patrão)
Me vi com um sorriso nervoso enquanto assistia “O Bom Patrão”. É um retrato poderoso e extremamente atual sobre o mundo corporativo. Como chefe de uma fábrica de balanças, Javier nos faz sentir um turbilhão de emoções. É uma mistura de asco e raiva, mas também de admiração por ver um ator veterano tão entregue e tão à vontade no papel. É desconfortavelmente cômico, real e ele nos fisga. Ele faz aqui um protagonista incomum, onde nos deixa vidrados por suas ações inescrupulosas e torcendo por sua desgraça.
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5. Amir Jadidi (Um Herói)
“Um Herói” atacou a minha ansiedade. A obra nos faz sentir sentimentos diversos diante de sua trama que corre como se a qualquer minuto uma bomba pudesse explodir. A poderosa presença de Amir Jadidi faz dessa experiência ainda mais intensa e emotiva. Há algo de muito único em seu olhar e sua postura. Ele é um cara comum, querendo recuperar sua vida depois de ser preso injustamente. Seu sorriso de alguém que quer sempre acreditar no melhor nos golpeia com força. Uma atuação delicada e extremamente humana.
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4. Antonio Banderas (Competição Oficial)
Bandeira dá vida a Félix Rivero, um astro do cinema que está prestes a lançar um novo filme. Ele tem uma reputação a zelar e um método de atuação nada convencional. Banderas está à vontade no papel e nos diverte. Ele explora muito bem todas as possibilidades aqui e entrega uma performance espetacular. O monólogo dele quando inventa sofrer de uma doença terminal é de arrepiar.
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3. Stephen Graham (O Chef)
“O Chef” tem um roteiro eletrizante que não nos permite escapar nem por um segundo. Ficamos ali vidrados por cada passo dos atores, isso porque é filmado em um único take. É um desafio e tanto para o britânico Stephen Graham que não se pode dar o luxo da falha. É ele quem nos guia pelos espaços de um restaurante, vivendo a pressão de uma noite de trabalho. Ele precisa segurar os ânimos de todo mundo, manter aquele lugar de pé e ainda enfrentar seus tantos medos internos. Ele é um furacão.
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2. Franz Rogowski (Great Freedom)
Um dos personagens que mais comoveram em 2022. Franz é um ator brilhante e me fez querer, a todo momento, entrar ali na tela e abraçá-lo e dizer que vai ficar tudo bem. Ele interpreta Hans, que em uma Alemanha pós-guerra, é repetidamente preso ao longo dos anos por ser homossexual. Um papel poderoso e que representa tantas histórias silenciadas. Me vi com os olhos marejados e com o coração apertado diante de sua presença. É belo e único o que ele faz aqui.
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1. Austin Butler (Elvis)
Desde que vi as imagens e posteriormente o trailer, em nada Austin me convencia que poderia ser o Elvis Presley. Não só por não parecer fisicamente com o ícone da música, mas algo não encaixava. Ao final do filme eu estava trêmulo, simplesmente hipnotizado por aquela performance. É muito difícil fazer o Elvis porque ele é uma figura excêntrica e já foi alvo de muitas imitações. Distante de qualquer caricatura, Austin traz verdade. Traz sentimento. Não apenas pela voz e por seu rigoroso trabalho corporal, mas também por sua energia, por sua presença que ocupa os espaços e que nos faz acreditar, durante aqueles preciosos minutos, de que sim…ele é o Elvis.
Continuando com as listas de melhores do cinema de 2022 aqui no site, venho para revelar as 10 melhores atuações femininas em papéis coadjuvantes.
Confesso que foi uma lista difícil de fechar, porque ano passado tivemos várias atrizes que brilharam com personagens secundários. Infelizmente, acabei deixando algumas que amei de fora, mas fiquei feliz com as selecionadas e espero que gostem também.
Lembrando que selecionei atuações apenas de filmes lançados entre janeiro e dezembro de 2022 aqui no Brasil, no cinema ou VOD, independente do lançamento original
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10. Rachel Sennott (Morte Morte Morte)
Enquanto reúne um grupo de jovens adultos em uma mansão para curtir um fim de semana, “Morte Morte Morte” satiriza com inteligência a geração Z. Apesar do ótimo elenco, é Rachel Sennott quem se destaca como Alice, uma garota que tenta convencer suas amigas a fazerem trends da Internet e a apreciarem sua carreira como podcaster. É sempre muito bom quando ela aparece em cena, principalmente porque ela sabe dosar o humor e desespero, engrandecendo a obra e a tornando ainda mais saborosa e inesperadamente divertida.
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9. Lashana Lynch (A Mulher Rei)
Lashana tem vindo em uma crescente em sua carreira e fico feliz de acompanhar essa sua evolução. Ela é tem presença e um carisma que preenche a tela. Em “A Mulher Rei” isso fica muito evidente. Na pele de Izogie, ela mostra força, mas sem esconder as fragilidades. É aquela coadjuvante que queremos sempre ver mais.
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8. Mia Wasikowska (A Ilha de Bergman)
“A Ilha de Bergman” tem um roteiro bem interessante e, no meio de sua brilhante metalinguagem, acaba revelando um filme dentro de um filme. É assim que nasce a personagem de Mia Wasikowska, como uma criação da protagonista e um reflexo de seus desejos e receios. Quando ela entra em cena, o filme se transforma e se torna ainda maior. Ela se mostra muito vulnerável diante de uma paixão não correspondida e intensa diante de um amor que nunca acontece.
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7. Lucie Zhang (Paris, 13º Distrito)
É simplesmente chocante saber que essa foi a estreia de Lucie Zhang. A atriz francesa encanta em “Paris, 13 Distrito” e não deixa nenhum sinal de ser uma novata. Ela rouba a cena e torna o filme seu. Sua personagem é carismática, divertida, mas também jamais esconde sua vulnerabilidade e sua sinceridade ao falar de amor. Ela está sempre buscando seu espaço e sempre permitindo se machucar. Vai de coração aberto às emoções da vida. Difícil não se apaixonar por sua Émilie.
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6. Mia Isaac (Influencer de Mentira)
Mia Isaac foi uma das grandes revelações do cinema em 2022 e em “Influencer de Mentira” ela prova o quão longe ela pode ir. Gosto bastante da construção da personagem, que surge pequena, quase como um detalhe ali no meio do filme e vai crescendo, até percebermos que a história na verdade era sobre ela, o tempo todo. Mia vive uma adolescente traumatizada pelo passado violento e entrega uma performance muito delicada. Na cena final, ela realiza um monólogo intenso, emotivo e surpreende pela garra com que enfrenta o texto. Um momento grandioso.
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5. Vinette Robinson (O Chef)
Confesso que não conhecia a atriz e foi uma surpresa enorme poder ver sua entrega como a cozinheira Carly no drama britânico “O Chef”. Filmado em um único take, é aquele filme que explora muito bem as atuações de todo o seu elenco, que precisa estar em sintonia a cada segundo. Vinette está ótima, sempre presente e crescendo em cena. Nos instantes finais vamos percebendo a bomba explodir e seus sentimentos extremamente aflorados diante da pressão de seu trabalho.
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4. Thuso Mbedu (A Mulher Rei)
A personagem Nawi é uma peça essencial em “A Mulher Rei”. Ela é nosso olhar que adentra ao novo universo. É através dela que vamos conhecendo a vida daquelas mulheres guerreiras. Thuso é uma atriz jovem mas incrivelmente talentosa, que nos faz atravessar essa jornada ao seu lado e nos emociona diante de sua entrega. Há ternura, mas há também muita garra e força em seu poderoso olhar. Vale lembrar também que ela divide a cena com ninguém menos que Viola Davis, estando a altura da veterana.
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3. Keke Palmer (Não! Não Olhe!)
É uma pena que as grandes premiações, em pleno 2023, ainda ignorem as atuações dentro do terror. Jordan Peele não apenas provou ser mestre no gênero, como também provou saber extrair ótimas interpretações de seu elenco. Keke está fantástica aqui, trilhando com perfeição entre a comédia e o pavor. É difícil dominar essas tantas oscilações do roteiro, mas ela é boa o suficiente para fazer tudo isso funcionar.
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2. Renata Carvalho (Os Primeiros Soldados)
Renata é uma atriz trans brasileira e é lindo poder vê-la dominando o cinema nacional. Sabemos que há pouquíssimas oportunidades para talentos trans e por isso sua presença é tão importante. Ela vive uma artista que, junto com um grupo de amigos, precisa encarar a pandemia da AIDS no país da década de 80. É um relato ínfimo e poderoso, poético até eu diria. Renata brilha e domina as cenas, principalmente em um monólogo poderoso que externaliza suas dores e medo de morrer e ser esquecida e que encontrará força para sobreviver mesmo quando a sociedade ignora sua existência.
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1. Stephanie Hsu (Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo)
Outra grande revelação de 2022 foi Stephanie Hsu em “Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo”. É uma chance de ouro que a atriz abraça com todas as forças. Isso porque ela tem a oportunidade de revelar todas as suas facetas. Vai da comédia ao drama em uma única sequência, além de mandar bem na ação também. Seja como a filha que busca encontrar o coração da mãe, seja da vilã obcecada por sua missão. Stephanie mergulha nessas tantas camadas que o brilhante roteiro permite e se mostra a coadjuvante mais completa que tivemos neste ano. É um papel riquíssimo e que ela domina com maestria.
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E para você? Qual foi a grande atriz coadjuvante de 2022?
Esta semana, aqui no site, postarei algumas listas revelando minhas atuações favoritas de 2022. E para dar start nessa retrospectiva, vou começar pelas grandes performances masculinas em papéis coadjuvantes.
É incrível quando nos deparamos com aqueles personagens de suporte dentro da trama que acabam roubando a cena. Que por vezes, pela excelente entrega do ator, acabam se tornando maiores do que deveriam.
Selecionei, então, 10 atores coadjuvantes que, ao meu ver, se destacaram durante o ano!
Lembrando que selecionei atuações apenas de filmes lançados entre janeiro e dezembro de 2022 aqui no Brasil, no cinema ou VOD, independente do lançamento em seus respectivos países de origem.
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10. Theo Rossi (Emily the Criminal)
Apesar do caráter duvidoso de seu personagem, a verdade é que nos afeiçoamos à Theo Rossi em “Emily The Criminal”. É ele quem vai guiar a protagonista a cometer pequenos crimes para sobreviver, mas ele também tem seus sonhos e um coração ainda muito vivo. Sua presença é carismática e estranhamente nos faz torcer por ele, ainda que duvidamos dele o tempo todo.
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9. Anthony Hopkins (Armageddon Time)
Poucas coisas funcionaram no drama “Armageddon Time” e a atuação de Anthony Hopkins definitivamente foi uma delas. É incrível o poder que o veterano tem em cena, transformando cada pequeno diálogo em um momento a ser apreciado. Ele engrandece a obra, sem muito esforço.
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8. Jean De Almeida Costa (Carvão)
Atuações mirins tendem a ser pouco valorizadas no cinema. É uma pena porque existem aqueles naturalmente bons e que roubam a cena, mesmo em um elenco dominado por adultos. Esse é o caso do pequeno Jean de Almeida Costa que se destaca no filme “Carvão”. Filho da família onde a ação ocorre, ele arranca nosso riso fácil mesmo quando o humor não é o foco. Existe uma espontaneidade admirável, como se ele vivesse realmente aquela vida. Há muita força em seu olhar também.
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7. Paul Dano (Batman)
Paul Dano é um dos atores mais subestimados do cinema atual. Ele sempre entrega atuações marcantes, mesmo quando seu papel é pequeno. Em “Batman”, ele faz de Charada um personagem altamente intrigante, que nos hipnotiza. Ele não busca uma caracterização estereotipada, revelando algo novo e que mexe com os nossos nervos. Uma pena que não apareça tanto, mas quando ele surge em cena, é impossível prestar atenção em outra coisa.
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6. Eddie Redmayne (O Enfermeiro da Noite)
Nunca gostei muito do Eddie Redmayne, que pra mim sempre trouxe atuações exageradas e sempre fora do tom. Dito isso, me surpreende muito vê-lo em “O Enfermeiro da Noite”, onde ele finalmente entrega algo sutil, mas imensamente poderoso. Aqui ele interpreta o serial killer Charles Cullen, que assassinou dezenas de pacientes nos hospitais em que trabalhou. É um personagem complexo e que ele torna ainda mais interessante. Seus tantos trejeitos somem para dar vida ao personagem, que vai se transformando diante de nossos olhos, conforme a trama vai nos revelando sua verdadeira identidade. Uma composição certeira e assustadora.
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5. Brian Tyree Henry (Passagem)
É curioso como “Passagem” prometia ser o retorno de Jennifer Lawrence e acabou sendo o palco para Brian Tyree Henry finalmente provar seu grande talento. Na pele do mecânico James, que auxilia na jornada pós traumática da protagonista, ele entrega uma atuação contida, mas comovente e delicada. Seus relatos trazem honestidade e facilmente acreditamos nas dores daquele frágil homem.
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4. Anders Danielsen Lie (A Pior Pessoa do Mundo)
O palco de “A Pior Pessoa do Mundo” é todo da protagonista, mas é inegável que o charme e delicadeza do norueguês Anders Danielsen Lie chamam a atenção, principalmente na reta final da obra, quando seu personagem revela sofrer de uma doença terminal. Os discursos finais são imensamente comoventes devido a entrega do ator.
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3. Ke Huy Quan (Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo)
Uma grande atuação que ninguém esperava encontrar no ano, vinda de um ator que por anos se manteve afastado dos holofotes. Muito provavelmente nem Ke Huy Quan acreditava no alcance que sua atuação teria em “Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo”. Devido ao riquíssimo texto da obra, ele tem a chance de viver todas as vidas possíveis aqui dentro e ele abraça com muito sentimento todas elas. Seu carisma e senso de humor enchem a tela, mas é seu coração que torna sua atuação tão grande. Ele se transforma em cada segundo e nos convence em todos eles.
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2. Sean Harris (O Desconhecido)
Sean Harris é aquele ator que está no elenco de vários filmes, mas nunca nos damos conta. Não por ele ser esquecível, mas porque ele é bom demais e dificilmente conectamos uma interpretação sua a outra. Em “O Desconhecido”, ele dá vida à homem misterioso e principal suspeito de um assassinato. Sua presença traz um sentimento pesado, negativo, como se estivéssemos, de fato, observando os passos e ações de um criminoso. Sua composição é brilhante, nos amedronta e nos faz ter a certeza do grande ator que ele é (e ainda muito subestimado).
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1. Mark Rylance (Até os Ossos)
É exatamente o tipo de papel que eu jamais imaginei o Mark Rylance fazendo e que, depois de assisti-lo, será difícil desvincular sua imagem a ele. O veterano é um camaleão e, ainda assim, ele nos surpreende aqui. Como o canibal Sully, ele nos provoca e nos faz ter um asco enorme por sua presença. Cada trejeito e cada detalhe de sua performance nos causa uma sensação ruim, de algo repugnante. Convence demais e, por isso, o primeiro lugar não poderia ser outro.
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E para você? Qual foi o grande ator coadjuvante de 2022?
Pelo cardápio, esse prato parece saborosíssimo. Uma inusitada experiência gastronômica que envolve humor, tensão e crítica social. Todos os ingredientes para o sucesso estão ali, inclusive um bom elenco que o segure. É refinado e feito na medida para impactar a audiência, mas é aquele prato bonito que vai perdendo o sabor, tamanha a bagunça que entrega ali. “O Menu” é frustrante e decepciona ao servir uma trama tão vazia e pretensiosa.
Eu diria até que a primeira hora do filme funciona muito que bem. Tem uma base que remete a estrutura de “Midsommar”, quando um grupo de pessoas vai vivenciar uma cultura diferente e, enquanto notam as excentricidades assustadores do local, entendem que a saída já não é mais uma possibilidade. Temos um casal, Margot (Anya Taylor-Joy) e Tyler (Nicholas Hoult), que vão viajar de barco até uma ilha isolada, onde terão acesso, ao lado de um grupo de desconhecidos, ao renomado e exclusivo restaurante do Chef Julian Slowik (Ralph Fiennes). Entre as refeições, mortes e segredos serão morbidamente servidos.
Toda essa tensão inicial é muito bem guiada pelo diretor Mark Mylod. Vamos pescando situações estranhas que logo provam que algo de errado não está certo. Até que o filme precisa dar uma virada e nos impactar e é aí que a coisa começa a desandar. Acaba virando um circo caótico e de extremo mal gosto todo o caminho que passa a seguir, apelando para saídas tolas e sem muito sentido. Talvez se houvessem menos personagens, o roteiro conseguisse orquestrar melhor essa brincadeira. Mas, ao fim, as particularidades de cada um não altera em nada a história. Inclusive o passado dos protagonistas é bizarramente mal aproveitado.
Mesmo que o sarcasmo do texto divirta, a trama é decepcionante e não vai para lugar algum. O roteiro ainda tenta maquear seu vazio com uma pífia critica social de opressores e oprimidos, mas não cola. Anya Taylor-Joy tem presença e acaba fazendo a sessão um pouco mais interessante, assim como o sempre ótimo Ralph Fiennes. “O Menu” se esforça bastante para ser um Yorgos Lanthimos mas falta muita personalidade (e um bom roteiro) para isso. A cereja no topo desse bolo é o final mequetrefe. É brochante, preguiçoso e de uma tosquice sem igual.
NOTA: 6,5
País de origem: Estados Unidos Ano: 2022 Titulo original: The Menu Duração: 106 minutos Disponível: Star+ Diretor: Mark Mylod Roteiro: Seth Reiss, Will Tracy Elenco: Anya Taylor-Joy, Ralph Fiennes, Nicholas Hoult, Hong Chau, Janet McTeer, John Leguizamo, Judith Light
Uma continuação divertida, mas bem menos inteligente do que acredita que seja
“Entre Facas e Segredos” foi um sucesso inesperado em 2019, o que fez com que seu criador, Rian Johnson, logo entregasse uma continuação, agora nas mãos da Netflix. Na época, ele havia recuperado com muito charme o clássico “whodunit” e aquelas histórias sobre qual dos personagens é o verdadeiro assassino. Aqui, mais do que trazer o detetive Benoit Blanc de volta, o diretor e roteirista teve a difícil missão de manter essa essência ainda viva. Infelizmente, ele entrega algo bastante inferior ao primeiro, principalmente porque no lugar do descompromisso, entra a necessidade da demanda, em um filme que se esforça demais para ser icônico.
Um excêntrico milionário convida um grupo de amigos, junto com o detetive Benoit, para um jogo onde todos deverão, em um fim de semana em sua ilha perticular na Grécia, desvendar seu fictício assassinato. Até que acaba ocorrendo uma morte, de fato, os fazendo questionar qual deles teriam reais motivos para dar um fim na vítima. O grande pecado de “Glass Onion”, porém, é não nos permitir fazer parte dessa investigação. Quando o crime acontece, logo o roteiro corre para nos explicar os porquês. Não há tempo para saborear os mistérios e o texto não se esforça em mudar nossas percepções sobre os personagens. Benoit deixa de ser detetive e passa a ser um mero narrador dos acontecimentos.
Apesar de uma pequena reviravolta em sua metade, o texto enfraquece quando centraliza sua trama em dois únicos personagens, Miles (Edward Norton) e Andi (Janelle Monáe), tornando todos os outros coadjuvantes peças inúteis desse tabuleiro. Mais do que um desperdício de um grande elenco, a trama perde o brilho quando já sabemos quem é a vítima e o vilão dessa história. Janelle, inclusive, está boa no papel, mas me parece muito surto toda essa aclamação que tem tido e já ser considerada uma das favoritas ao Oscar de atriz coadjuvante. No geral, pouco me convenci sobre essa relação e conexão que todos esses indivíduos possuem, principalmente porque nenhum deles (tirando a contagiante Kate Hudson e Norton) me parece confortável no papel. Não há aquela divertida sintonia que havia no elenco original. Falta carisma.
Sou péssimo com trocadilhos, mas “Glass Onion” é como uma cebola de vidro mesmo. De longe, parece uma peça requintada e cheia de camadas, mas de perto, podemos enxergar facilmente seu miolo e seus segredos. Não que um filme precise de reviravolta para ser bom, afinal o que importa é o caminho até chegar lá, mas essa sequência entrega um mistério pouco envolvente, com seus fracos personagens já muito demarcados em suas posições, sem nos permitir se deliciar com a investigação e resolução e sem ter espaço para nos fazer duvidar do caráter ou cada passo que eles dão. Aposta em situações bobas como falsa morte, irmã gêmea, entre outras coisas vindas de um roteiro pouco inspirado. Não nego que esse seja divertido sim e segura bem a atenção pela boa produção, mas é inferior em absolutamente todos os aspectos quanto ao primeiro filme.
NOTA: 6,5
País de origem: Estados Unidos Ano: 2022 Titulo original: Glass Onion: A Knives Out Mystery Duração: 140 minutos Disponível: Netflix Diretor: Rian Johnson Roteiro: Rian Johnson Elenco: Daniel Craig, Janelle Monáe, Edward Norton, Kate Hudson, Kathryn Hahn, Jessica Henwick, Madelyn Cline, Leslie Odom Jr., Dave Bautista