Crítica: Contágio

O medo é contagioso

Quando um filme de 2011 se torna a obra obrigatória e uma das mais relevantes de 2020. “Contágio” é aquele conhecido sleeper hit, que passa despercebido quando é lançado e demora anos para conquistar o sucesso. Atualmente, é um dos mais baixados e pesquisados, isso porque notou-se as semelhanças do longa com o que vivemos nos dias de hoje com o surto do Coronavírus. É brilhante quando paramos para analisar como um produto de quase 10 anos atrás conseguiu desenhar com tamanha precisão e realismo o caminhar da humanidade diante de uma pandemia. De fato, tem muito mais impacto neste tempo, justamente porque olhamos para a tela e compreendemos tudo o que ele estava tentando nos dizer, mas só agora fomos capazes de entender.

O roteiro, que teve mais de 30 versões antes da entrega final, contou com a importante consultoria de estudiosos, jornalistas e epidemiologistas. Tudo isso para que conseguissem construir a expansão de um surto sem os exageros e fantasias de Hollywood. Assim como o Sars-Cov-2, o vírus do Covid-19, o vírus fictício MEV-1 – descrito no filme – tem explicação científica e extremamente plausível. A trama se inicia com a personagem de Gwyneth Paltrow, que ao retornar de uma viagem à Hong Kong, dissemina uma doença viral e que, em pouquíssimo tempo, infecta centenas de pessoas em diversos países. Os sintomas são muito parecidos com os de uma gripe, mas a morte é fatal. A partir deste ponto, o longa tenta investigar os passos anteriores desta paciente zero e compreender a origem do vírus, ao mesmo tempo em que cientistas e profissionais da saúde correm contra o tempo para pesquisarem e desenvolverem uma vacina capaz de salvar a população. Ainda temos a presença das autoridades que precisam encontrar soluções, em um curto prazo, para como a humanidade precisa agir diante do caos que se instaurou. Além do olhar da mídia e todas as interpretações que ela tem sobre o caso.

Chega a ser bizarro e assustador as semelhanças com o que vivemos hoje. É chocante ver como o roteiro consegue ser tão preciso e tão perto da realidade. Compreende com inteligência todos os aspectos que envolvem uma crise como esta, entregando muito mais que um entretenimento, mas um estudo de sociedade. Vai muito além do que simplesmente mostrar a trajetória de uma infecção. Revela como isso afeta o Governo, aqueles que trabalham com saúde e principalmente, como afeta a vida das pessoas comuns. “Com o pânico, o vírus será o menor de nossos problemas”, diz uma cientista em certo momento. “Contágio” é muito sobre como o medo se expande com mais rapidez e eficácia que qualquer doença. O surto, a paranoia, a incerteza do amanhã. Mais do que a crise dos supermercados e a ausência de tudo aquilo que consideramos básicos para nossa sobrevivência, o filme investiga a crise psicológica que nasce na população e os efeitos colaterais do confinamento.

Dirigido por Steven Soderbergh, “Contágio” é narrado por uma perspectiva bem ampla, sem se apegar a personagens ou nas atuações, ainda que conte com um elenco de peso. Matt Damon, Kate Winslet, Jude Law, Laurence Fishburne e Marion Cotillard passam na tela como meros coadjuvantes. O texto está mais interessado na situação como um todo e não, especificamente, na experiência pessoal de cada um. Talvez isso fruste porque não há como ter empatia a nada. Não há indivíduos para nos preocupar e nem histórias que nos apegamos. No entanto, isso não impede do filme ter seu impacto e sua relevância enquanto cinema. Pelo contrário. Soderbergh e sua produção encontram o tom perfeito e criam uma atmosfera tensa, fria e angustiante, digno de uma ótima ficção científica apocalíptica.

É compreensível do porquê “Contágio” ter se tornado tão relevante dos dias de hoje e isso só prova a imensa qualidade da produção. É brilhante quando o cinema tem, no meio de sua fantasia, o poder de ver o futuro com clareza. O filme se torna importante e poderoso quando, enfim, vivemos este futuro e, de fato, ele estava certo sobre muitas coisas. Ainda que a obra incite nossa paranoia, não deixa de nos entregar, também, um voto de confiança, de otimismo. Mais do que entender a ciência e os efeitos de um surto, o longa entende o poder do contato. Aquele abraço, aquele aperto de mão. Isto é básico para a humanidade e vamos lutar para que isso continue existindo.

NOTA: 8

  • País de origem: EUA
    Ano: 2011

    Título original: Contagion
    Duração: 107 minutos
    Distribuidor: Warner Bros.
    Diretor: Steven Soderbergh
    Roteiro: Scott Z.Burns
    Elenco: Laurence Fishburne, Jennifer Ehle, Matt Damon, Jude Law, Kate Winslet, Marion Cotillard, Gwyneth Paltow, Bryan Cranston, John Hawkes

Crítica: A Minha Vida Com John F. Donovan

Tudo aquilo que não se revela

Primeiro filme de Xavier Dolan (Mommy) em língua inglesa, “A Minha Vida com John F. Donovan” foi o grande fiasco na carreira do diretor canadense, que não conseguiu nem mesmo um lançamento nos Estados Unidos. Havia uma expectativa muito alta quanto a este seu trabalho que reunia um elenco poderoso de Hollywood, mas nem mesmo isso o salvou. Problemas na pós-produção, críticas pesadas no Festival de Toronto onde teve sua exibição e Jessica Chastain eliminada no corte final. A bomba era anunciada a cada nova notícia e mesmo assim resolvi arriscar pelo simples prazer de consumir mais um produto do cineasta (e curiosidade diante de tudo isso). Para minha grande surpresa, estranhamente, gostei do que vi. Senti algo muito forte e especial, mesmo diante de suas falhas, de seus constantes excessos.

Assim como todos os trabalhos do diretor, este retrata um momento muito íntimo de sua vida, logo que, quando criança, nutria uma admiração muito grande por Leonardo Dicaprio e chegou a mandar uma carta para ele aos 8 anos de idade. Este pequeno evento o inspirou a escrever e dirigir “A Minha Vida Com John F. Donovan”, que narra a história de Rupert (Jacob Tremblay), um pequeno garoto que troca correspondências com um grande astro de Hollywood – o John do título -, aqui interpretado por Kit Harington. Logo no começo, porém, é anunciado a morte do ator e são através dessas cartas escritas para seu fã que o filme investiga a ascensão e solidão deste misterioso homem.

John é o retrato desses jovens atores que lutam por crescer em Hollywood, que passam a ter suas vidas controladas pela mídia e a sofrer as consequências da fama. Há algo de misterioso nesses ícones, um fascínio por descobrir o que não se revela, por ver o que há além dos holofotes. O filme, então, invade essa privacidade a fim de entender este objeto de desejo. A intimidade, os segredos, o que o torna tão frágil. É interessante, ainda assim, como no fim das contas, John não deixa de ser um enigma, um fantasma. Conhecemos sua versão pelo ponto de vista de outra pessoa. Conhecemos suas partes. O filho que não se conecta com a mãe, a história de amor forjada, a homossexualidade aprisionada. Mas não conhecemos sua verdade, sua mais completa essência. Em um dos instantes mais belos, a mãe o assiste cantar ao lado do irmão deitado em uma banheira e seus olhares se encontram. A câmera fixa naquele olhar puro e tão distante, tão vazio. O filme desperta em nós este fascínio de tentar desvendá-lo e nos faz refletir sobre tantos casos obscuros de atores jovens que se foram e nunca foram compreendidos.

Há algo na presença de Kit Harington que me encanta. É irônico sua escalação, visto que assim como John, ele nunca foi visto de forma séria por Hollywood, apenas um rosto bonito sem talento. Ele consegue transmitir essas inseguranças do personagem e este receio que tem por viver tantas mentiras. É bom revisitar esses temas tão recorrentes de Xavier Dolan e a sensibilidade com que ele retrata a homossexualidade em seus filmes. É interessante notar como, mesmo em um produto mais comercial, ele deixa muito visível seu toque pessoal, seja pela construção dos personagens, na forma com que captura diálogos verborrágicos ou até mesmo na cafonice visual que expõe tudo isso. A personagem de Susan Sarandon é um exemplo claro disso. É exagerada, dramática e uma criação claramente vinda dele. Mesmo em outro país, com novos cenários, o diretor não perde sua assinatura, seu olhar e sua maneira peculiar de construir seus universos.

Ainda que seja uma produção muito cuidadosa e charmosa sim, “A Minha Vida Com John F. Donovan” não deixa, assim como outros filmes do diretor, de exceder o tom. Dolan tem uma mão pesada e extrapola na breguice em alguns momentos, diminuindo o valor de seu produto que poderia ter mais impacto pela sutileza. A cena do abraço entre Rupert e sua mãe ao som de “Stand By Me” é um assombroso equívoco. É forçado e se distancia do resto que ele construiu ali. No entanto, há algo de cafona em Dolan que tem seu brilho, que funciona, porque ele prova não ter receio disso. A maneira como ele insere as canções, não é apenas um acalento para alma dos que nasceram, assim como ele, na década de 90, mas uma prova dessa coragem. Brega sim, mas divertida. Digo isso porque não há nada mais apelativo que finalizar seu produto com “Bitter Sweet Symphony“. É um golpe sujo que funciona, porque vem dele e, querendo ou não, me fez terminar de vê-lo com um sorriso no rosto e olhos lacrimejados.

Uma das maiores armas de Dolan aqui é seu poderoso elenco. Mesmo sem Chastain, é muito bom ver todos em cena. Kathy Bates e Sarandon, mesmo que menores, estão fantásticas. Natalie Portman não tem muito o que fazer com sua fraca personagem, enquanto que Jacob Tremblay surge irritante com seu protagonista verborrágico. Um dos melhores instantes, porém, além da presença de Harington, é ver Thandie Newton e Ben Schnetzer dividindo a cena. Há algo de muito natural e especial entre os dois estranhos que narram toda a história. Ben, que vive o Rupert mais velho, nos revela esse personagem que se moldou pelas palavras de seu grande admirador. É belo e poético, então, ao final nos darmos conta de que ele criança não teve acesso a última carta deixada por John que, curiosamente, a única vez que o roteiro expõe suas próprias palavras é pela voz de outra pessoa. Seu último suspiro traz esperança mas uma melancolia que talvez impedisse Rupert de seguir seus sonhos, seus passos. Seus próprios passos, enfim. Sentado na garupa de uma moto, ao som de The Verve, sem medo de ser quem é, livre dos julgamentos, livre da prisão que a mesma mídia construiu sobre John F. Donovan.

NOTA: 8,5

  • País de origem: EUA, Canadá
    Ano: 2018
    Título original: The Death and Life of John F. Donovan
    Duração: 127 minutos
    Distribuidor: –
    Diretor: Xavier Dolan
    Roteiro: Xavier Dolan
    Elenco: Kit Harington, Jacob Tremblay, Ben Schnetzer, Natalie Portman, Thandie Newton, Chris Zylka, Susan Sarandon, Kathy Bates, Michael Gambon, Sarah Gadon

Crítica: Antes do Adeus

Abraçar o inesperado

Chris Evans, mais conhecido do grande público por interpretar o herói da Marvel, Capitão América, nunca escondeu sua afeição à comédia romântica. Mocinho de algumas produções açucaradas, o ator se aventurou a dirigir um filme, surpreendendo por sua escolha em comandar um romance maduro e realista e surpreendendo por alcançar um resultado tão positivo. “Before We Go”, de certa forma, vai contra a tudo o que esperávamos dele. Rosto de um cinema mais comercial, Evans constrói um produto refinado, de bom gosto e ainda que seja completamente simples na ideia e no formato, realiza um trabalho notável, sutil, bastante delicado e romântico.

O longa acompanha algumas horas na vida de Nick (Evans) e Brooke (Alice Eve), dois estranhos que se conhecem na noite de Nova York. Em uma estação de trem, ele se encontra perdido em si mesmo, indeciso sobre o que fazer com sua vida, é então que se esbarra com Brooke, que acaba de perder o último trem e sente frustrada pelas consequências que isso trará no seu casamento. Nick decide ajudá-la, principalmente quando descobre que ela perdeu sua bolsa com todos os seus pertences. Juntos, eles caminham para encontrar soluções e no meio disso, trocam experiências de vida, contam histórias do passado e tudo o que os levaram até ali e sobre os planos futuros e o que esperam após aquela noite.

“Você irá conhecer alguém. Você saberá na hora que ela é problema. No fim da noite você vai querer falar algumas coisas, mas não diga. Não estrague tudo. Apenas beije-a. Deseje-lhe boa sorte. Agradeça-a. Por te mostrar que você pode amar mais do que uma pessoa nessa vida.”

Quase como uma versão moderna de “Antes do Amanhecer” (trazendo algumas fortes referências como as cenas do telefonema imaginário), o longa, mesmo que não alcance a genialidade da obra de Richard Linklater, tem seu valor. É delicioso de assistir, de ouvir aquelas conversas aleatórias, de dois seres que não conhecemos, mas que passamos a admirar dentro daquele pequeno universo. Ouvir suas histórias e tudo o que eles tem a dizer sobre a vida faz bem para a alma, porque começamos a perceber que em algum lugar das cidades existem seres tão frustrados quanto nós, incompletos de alguma forma, donos de um passado que não aceitam com facilidade e inseguros sobre o futuro. Esses filmes que mostram uma conversa entre dois adultos sempre refletem um pouco sobre nós e isso sempre é reconfortante, agradável de acompanhar. Através dessas conversas, “Before We Go” também acaba sendo um relato intimista sobre essas ironias do destino, sobre esses seres que esbarram em nossos caminhos e se tornam, de repente, tão importantes.

Seus minutos funcionam bem devido a ótima condução de Evans como diretor e a boa química entre os atores. Claro que algumas sequências teriam sido mais proveitosas se Alice Eve e Chris Evans fossem mais despojados e naturais, mas no fim, isso acaba não interferindo muito, já que ambos defendem bem seus personagens. A delicada trilha musical torna esta viagem ainda mais agradável, com boas canções que ilustram bem as passagens. No entanto, o que mais torna a obra este belíssimo evento é seu roteiro, que trata com naturalidade todos os acontecimentos, que encontra doçura em cada diálogo, que encanta por suas pequenas ideias e consegue ser, diferente de tantas tentativas frustrantes no cinema recente, verdadeiramente romântico. É incrivelmente apaixonante algumas sequências e algumas falas, que são ditas de coração e nos tocam. Não é sempre que temos esta relação com um casal da ficção, que ficamos olhando para tela feito tontos e não conseguindo imaginar um outro final além deles juntos. “Before We Go” tem esse mérito e quando termina nos deixa ali, com sorriso no rosto, sentindo um enorme carinho a tudo o que nos fora apresentado. Para aqueles que procuram um romance mais pé no chão, inteligente e maduro, temos aqui mais um grande exemplar.

NOTA: 8,5

  • País de origem: EUA
    Duração: 95 minutos
    Título original: Before We Go
    Distribuidor: –
    Diretor: Chris Evans
    Roteiro: Chris Shafer, Jen Smolka, Paul Vicknair, Ronald Bass
    Elenco: Chris Evans, Alice Eve

As 20 melhores comédias da década

A lista com os melhores da década continua aqui no site! Resolvi comentar sobre as comédias que se destacaram nesses últimos anos, citando aquelas que não, necessariamente, foram as mais engraçadas, mas aquelas que, através do bom-humor, trouxeram uma boa ideia, divertiram e acertaram, seja no roteiro, na construção dos personagens, seja na escalação correta do elenco. É difícil olhar para 10 anos e definir quais entregaram o melhor resultado, por isso espero ter feito uma boa seleção. Caso lembrem de outros títulos que mereciam estar aqui, deixem nos comentários.

Com vocês, os melhores filmes de comédia desta década, relembrando produções que foram lançadas entre 2010 a 2019.

20. Os Estagiários
2013 | Shawn Levy

“Os Estagiários” trouxe um pouco daquele ar inocente das comédias dos anos 2000 (inclusive, na minha pesquisa, até me surpreendi que era dessa década). Até mesmo suas piadas soam antiquadas, quase como um filme que veio na época errada. A história é um tanto quanto absurda e rimos mesmo quando o roteiro não tem a intenção. Dois homens com problemas financeiros conseguem uma vaga de estágio na Google e durante toda a trama vamos acompanhando dois marmanjão lidando com modernidade, tecnologia e jovens descolados. É uma piada pronta e, por mais estranho que pareça, funciona bastante. A boa química entre os atores Owen Wilson e Vince Vaughn faz tudo valer ainda mais a pena.

19. Quero Matar Meu Chefe
2011 | Seth Gordon

Pegando carona no sucesso de “Se Beber Não Case” e aquela comédia com aventura de três caras “super legais” que se unem durante o caos, “Quero Matar Meu Chefe” diverte com seu trio enlouquecido de protagonistas. Jason Bateman, Jason Sudeikis e Charlie Day são hilários em cena e por mais horrível que seja a premissa – onde os três planejam literalmente matar seus respectivos chefes – torcemos para que tudo dê certo e embarcamos nessa jornada bizarra dos amigos. Muito bom poder ver Jennifer Aniston, Jamie Foxx e Colin Farrell em papéis bem diferentes do usual também.

18. Minha Mãe é Uma Peça
2012 | André Pellenz

Provavelmente o único acerto da comédia nacional nesta década, que errou a mão e entregou produções vergonhosas. “Minha Mãe é Uma Peça”, baseada na peça estrelada por Paulo Gustavo, entrega uma das personagens mais icônicas da comédia recente: a Dona Hermínia. O filme é um amontoado de situações hilárias que envolvem sua relação com os filhos e os inúmeros problemas que enfrenta por causa de sua família. É um texto divertido, redondo e que nos faz querer repetir vários diálogos em nossa mente assim que terminamos de assistir.

17. Não Vai Dar
2018 | Kay Cannon

Filme pouco comentado e que nem chegou a ir para os cinemas brasileiros, mas que, definitivamente, valeu e muito uma conferida. “Não Vai Dar” mostra a divertida jornada de três pais que se unem para impedir que suas filhas – amigas do colégio – percam a virgindade na esperada noite de formatura. Daquelas comédias que fluem gostoso, onde as tramas são bem desenvolvidas e os personagens são naturalmente engraçados. Ganha ainda mais pontos por entregar um final bem maduro, onde trata com respeito seus temas e os indivíduos ali em cena.

16. A Escolha Perfeita
2012 | Jason Moore

Aca-awesome! Apesar das sequências desnecessárias, a primeira parte da franquia valeu e muito a pena. Uma grata surpresa esse musical acapella estrelado por Anna Kendrick e Rebel Wilson, que mostra um grupo de garotas que se une para uma competição de música. Com um texto espontâneo, personagens adoráveis e ótimas referências de alguns clássicos juvenis do cinema, temos aqui um filme que, definitivamente, é uma escolha perfeita para qualquer final de semana. Muito mais do que uma excelente trilha musical, a obra diverte e empolga com sua trama muito bem conduzida.

15. Scott Pilgrim Contra o Mundo
2010 | Edgar Wright

Adaptação da aclamada HQ, “Scott Pilgrim” entregou um produto original, revigorante, cheio cores e movimento. A história do jovem deslocado (Michael Cera) que para conquistar o amor de Ramona Flowers (Mary Elizebeth Winstead), sua nova grande paixão, precisa lutar contra seus poderosos ex-namorados. Com uma história insanamente divertida, foi difícil não cair nas graças deste filme muito bem dirigido por Edgar Wright.

14. A Espiã Que Sabia de Menos
2015 | Paul Feig

Apesar da tradução bizarra, “A Espiã Que Sabia de Menos” traz uma Melissa McCarthy inspiradíssima e hilária na pele uma analista da CIA que se coloca na frente de uma missão secreta e extremamente perigosa. A ação funciona e nos mantêm presos em sua trama cheia de boas reviravoltas e saídas inteligentes, contando sempre com um texto divertido, bem-humorado e que nunca subestima seu público, mesmo sendo pastelão na maior parte do tempo. O elenco de coadjuvantes revela ótimos momentos como a fantástica Rose Byrne, Jude Law e uma surpreendente participação de Jason Statham.

13. Anjos da Lei
2012 | Phil Lord, Christopher Miller

Baseada em uma antiga série de TV, “Anjos da Lei” traz a excelente parceria entre Jonah Hill e Channing Tatum, além de revelar o talento de dois grandes nomes desta década: Phil Lord e Christopher Miller, envolvidos em séries como “How I Met Your Mother”, “Brooklyn Nine-Nine” e responsáveis pelos filmes “Uma Aventura Lego” e “Homem-Aranha no Aranhaverso”. O texto é bem divertido e conta a trajetória de dois policiais que voltam ao ambiente escolar como infiltrados para desvendar a fonte de uma nova e perigosa droga. Toda a situação é bem cômica, sendo impagável ver Jonah e Tatum como adolescentes, tentando se enturmar com os mais jovens.

12. Amizade Colorida
2011 | Will Gluck

Aquele humor sem pudores, espontâneo e delicioso de assistir. A química entre Mila Kunis e Justin Timberlake é hipnotizante e nos faz torcer pelo casal como poucas comédias românticas conseguiram. É divertido ver os dois em cena, jogando conversa fora, exatamente como duas pessoas que se gostam agem na vida real. A graça de “Amizade Colorida” é justamente brincar com os clichês do gênero e trazer uma nova roupagem, através de um texto leve, ousado e repleto de boas sacadas. A trama é sobre dois amigos que decidem acabar com a carência sexual que sentem, mantendo uma relação apenas com sexo e sem que isso afete a amizade entre eles. Obviamente, eles se apaixonam. O filme é tão bom e tão cativante que não ligamos para suas conveniências, apenas nos deixamos ser levados por seus bons personagens e pela naturalidade com que fala sobre temas tão tabus dentro do cinema.

11. Popstar: Sem Parar, Sem Limites
2016 | Jorma Taccone, Akiva Schaffer

“Popstar”, de longe, até parecia uma brincadeira bem produzida por Andy Samberg e seus amigos. Não deixa de ser, no entanto, é uma piada que deu tão certo que acabou por entregar uma das melhores comédias desta década. Para aqueles que curtem um humor nonsense, temos aqui um prato cheio e bem saboroso. Em formato de documentário, o filme narra a ascensão e declínio da carreira de um astro fictício do pop, Conner 4Real, que ganha vida pelo inspirado e carismático Samberg. Nessa divertida jornada, o longa consegue reunir os clichês que envolvem a indústria musical, desde os escândalos aos fracassos de vendas. O resultado é bem positivo e mesmo com seu humor politicamente incorreto, consegue ser extremamente agradável de se ver.

10. Amor a Toda Prova
2011 | John Requa, Glenn Ficarra

Um dos plot twists mais incríveis desta década! Nem só por isso “Amor a Toda Prova” é um grande filme. A obra consegue unir várias tramas de forma harmoniosa, onde cada personagem tem vida própria, começo, meio e fim. Tudo é muito bem construído e o roteiro consegue explorar, através de cada um deles, inúmeras formas de amor. É fofo, romântico, gostoso de assistir e diverte como uma boa comédia deve divertir. A ótima sintonia entre Ryan Gosling com Steve Carell e Emma Stone, faz a sessão valer ainda mais a pena.

09. Artista do Desastre
2017 | James Franco

“Artista do Desastre” é um filme insano, bizarro e completamente imprevisível. Foi uma bela surpresa para mim que esperava só mais uma comédia estrelada por James Franco e seus amigos. É nítido, sim, o quanto eles se divertiram fazendo isso. O lado bom é que, como consequência disso, nós nos divertimos ainda mais. O roteiro escrito pela dupla Scott Neustadter e Michael H.Weber – conhecidos por “500 Dias Com Ela” – é incrível, tanto pela introdução e desenvolvimento de cada personagem, como pela evolução da história, que flui muito bem por seus hilários minutos. James Franco surpreende e realiza um trabalho fantástico, tanto como ator como diretor, filmando os bastidores de um dos piores filmes da história de forma brilhante. Se trata de uma bela e divertida homenagem, que encontra humanidade e complexidade dentro daquilo que poderia ter sido uma simples piada.

08. Uma Aventura LEGO
2014 | Phil Lord, Christopher Miller

Dentre as animações lançadas nesta década, “Uma Aventura Lego” foi uma das mais adoráveis surpresas. O que, de início, parecia apenas uma boa jogada de marketing, logo nos deparamos com uma obra criativa e extremamente empolgante. E exatamente como a mente de uma criança, o roteiro possui uma imaginação fértil, onde nada necessita de alguma lógica para existir. É assim que descobrimos uma história original, que encanta por sua coragem, que diverte (e muito!) com o nonsense, que faz rir das coisas mais idiotas possíveis e que alcança, durante seus hilários minutos, um nível de inteligência raro para o gênero.

07. A Noite do Jogo
2018 | Jonathan Goldstein, John Francis Daley

Com um roteiro surpreendentemente bem escrito, a comédia brinca o tempo inteiro com o público, criando uma série de acontecimentos imprevisíveis e reviravoltas agradáveis. Aquele produto raro, que faz rir de situações inteligentes e que jamais subestima seu público. “A Noite do Jogo” foi uma grata surpresa quando surgiu aos cinemas em uma época onde a comédia se tornou um gênero tão raro. Na trama, acompanhamos um casal, interpretados pelos ótimos Jason Bateman e Rachel McAdams, que enquanto participavam de uma noite de jogos com alguns amigos, um sequestro repentino os fazem acreditar que tudo faz parte de uma brincadeira engenhosa, mesmo quando passam a ser perseguidos por criminosos. É assim que a obra oferece uma sequência de situações absurdas, insanamente engraçadas e muito bem elaboradas.

06. A Mentira
2010 | Will Gluck

Levemente inspirado em “A Letra Escarlate”, o filme conseguiu resgatar toda a nostalgia dos clássicos adolescentes da década de 80 em um roteiro ágil, esperto e incrivelmente bem-humorado. Naturalmente subestimamos filmes adolescentes e é ótimo quando encontramos um texto que nos prove o contrário. “A Mentira” brinca com os estereótipos dos colégios norte-americanos e traz uma trama original e cheia de ótimas sacadas, onde uma jovem, muito bem interpretada por Emma Stone, acaba se aproveitando de sua repentina fama de “vadia” para ajudar os excluídos. É bom, é inteligente e tudo o que não esperamos dele.

05. Família do Bagulho
2013 | Rawson Marshall Thurber

Por trás de uma tradução brasileira tosca, existe um ótimo filme de comédia. Quando quatro estranhos se unem, fingindo ser uma família, para buscar maconha no México, dá muito errado para eles, mas incrivelmente certo para o público. O resultado disso foi impagável e fomos surpreendidos com uma das obras mais engraçadas que tivemos nesses últimos anos. Jennifer Aniston, Jason Sudeikis, Emma Roberts e Will Poulter compõem esse elenco que ainda conta com participações hilárias de Kathryn Hahn e Nick Offerman. Alguns momentos são tão icônicos que ficamos reprisando em nossa mente para rir um pouco com seus absurdos.

04. Vizinhos
2014 | Nicholas Stoller

O grande acerto de “Vizinhos” foi, definitivamente, compreender a belíssima química existente entre Seth Rogen e Rose Byrne. É bom demais ver os dois atores em cena, que agem com espontaneidade e dão vida a um texto criativo, politicamente incorreto e inteligente. Foi bom, também, poder ver esse lado cômico de Zac Efron, que se sai muito bem. Na trama, um casal se muda para um bairro aparentemente tranquilo para cuidar da filha recém-nascida, no entanto, logo percebem que do lado vive um jovem líder de um grupo de estudantes hiperativos e amantes de boas festas e barulho. Todas as situações que o roteiro expõe para revelar essa batalha entre os pais e os adolescentes são divertidíssimas, exageradas e que tornam o filme uma das comédias mais interessantes que tivemos.

03. Fora de Série
2019 | Olivia Wilde

A última grande comédia que tivemos nesta década! Pouco antes de acabar, 2019 veio e nos presenteou com este filme fabuloso dirigido pela atriz Olivia Wilde, que debuta em uma obra original, revigorante e imensamente prazerosa de assistir. “Fora de Série” narra a jornada de duas melhores amigas, interpretadas pelas ótimas Kaitlyn Dever e Beanie Feldstein, que decidem aproveitar o último dia do Ensino Médio e correr atrás dos anos que passaram e não se divertiram como deveriam. É um belíssimo coming of age, que encanta por todas as saídas que encontra, que inova pela forma natural com que fala sobre adolescência e se destaca por romper com diversos estereótipos do gênero. Uma comédia inteligente, fantástica, que nasceu como um clássico.

02. O Que Fazemos nas Sombras
2014 | Jemaine Clement, Taika Waititi

Como vivem os vampiros nos dias de hoje? Este é o ponto inicial de “O Que Fazemos nas Sombras”, que pretende revelar, em um falso documentário, a vida de quatro amigos centenários que dividem a casa. Louça acumulada na pia, descobertas de casas noturnas, perfis em redes sociais e tudo o que pessoas normais enfrentam mas sempre com toque especial. É simplesmente hilário ver esses caras discutindo sobre convivência e refletindo sobre inadequações sociais. Para os amantes de séries como “The Office” e “Parks and Recreation” temos aqui um prato cheio. É inteligente, bem-humorado, bem conduzido e sempre surpreende positivamente pelos caminhos que segue. Acabou, ainda, por revelar o talento de Taika Waititi que hoje recebe o título de “diretor visionário”.

01. Missão Madrinha de Casamento
22011 | Paul Feig

Não tem absolutamente uma cena que tenha dado errado ou que não seja simplesmente hilária em “Missão Madrinha de Casamento”. Tem tanta coisa positiva junta em um único filme que desde que comecei a fazer esta lista, sabia muito bem qual seria meu primeiro lugar. O filme veio para dizer – em uma época em que as comédias estavam morrendo e as poucas (eram) protagonizadas por homens – que ainda é possível salvar o gênero quando se tem boas ideias, um roteiro que respeite seus personagens e saiba conduzir com inteligência sua trama. Além de ser extremamente engraçado, temos aqui uma aula de como se construir uma produto cômico. Na trama, uma mulher (Kristen Wiig) que, depois de vários fracassos pessoais, aceita ser madrinha de sua melhor amiga (Maya Rudolph), porém, claro, toda a jornada pré-casamento dá bem errado. É um texto divertido, audacioso e com uma protagonista muito bem construída, que ao mesmo tempo que nos faz rir de sua desgraça, nos faz torcer por suas vitórias.

Crítica: A Assistente

Os bastidores do silêncio

Nos últimos anos uma bomba caiu sobre Hollywood. Movimentos como o “Me Too” – que ganhou força em 2017 – cortaram o silêncio de milhares de mulheres que foram abusadas sexualmente, assediadas e chantageadas pelos chefões do mundo do entretenimento. “A Assistente” surge como o primeiro grande filme a tratar do assunto e por isso possui uma grande relevância no cenário atual. É um registro necessário, que foge do sensacionalismo ou oportunismo e narra de maneira sutil, honesta e bastante realista um momento tão emblemático como este.

Primeiro filme de ficção escrito e dirigido por Kitty Green, que construiu sua curta carreira em documentários. Acredito que esta sua habilidade em contar histórias reais tornou este seu novo trabalho possível, capaz de gerar boas discussões e causar impacto. É curioso como, para fazer sua denúncia, ela optou por revelar o olhar de quem estava nos bastidores e não necessariamente na linha de frente. Somos inseridos neste universo através de Jane (Julia Garner), uma aspirante produtora de cinema que consegue o emprego dos sonhos para ser assistente de um poderoso magnata do entretenimento. Apesar de poucos meses dentro da agência, ela começa a perceber que algo de muito estranho ocorre ali dentro e passa a criar consciência dos tantos abusos que existem naquele ambiente tóxico de trabalho. É desta forma que a diretora consegue criar uma atmosfera tensa e um nível de realismo absurdo aqui. As conversas, as reuniões, os sons, somos completamente inseridos neste mundo que, aos poucos, se torna altamente claustrofóbico, angustiante.

É bastante interessante como a trama vai sendo revelada. Aos poucos, vamos vivenciando ao lado daquela assistente situações que parecem comum naquele lugar, apesar de assustadoras. Desta forma, o filme vai se tornando um poderoso thriller guiado por Jane, uma das poucas mulheres que trabalham em um ambiente dominado por homens brancos. Ela é a personificação da inocência quebrada, da jovem que descobre a sujeira que habita o lugar dos seus sonhos. Há um momento em que Jane é obrigada a pedir desculpas, sendo ensinada e forçada por homens superiores a dizer como ela se sente. Ela, por fim, também representa esse silêncio de tantas mulheres, que são censuradas e repreendidas. O roteiro, muito bem pontuado, acompanha um dia inteiro ao lado de sua rotina, e assistirmos seu momento de catarse, de revelação. A presença de Julia Garner só aumenta a grandeza e poder desses discursos. Ela expõe doçura e inocência, ao mesmo tempo em que há desespero e desconforto em seu olhar, em seus trejeitos. Belíssima composição.

Um dos instante mais desesperadores aqui é quando Jane cria a coragem para denunciar o que vê. A conversa que ela tem com um homem, aparentemente do RH, sintetiza o horror que é estar ali, vendo tudo de perto. Ela não é levada a sério, é ameaçada. Aquele que parecia ser seu único lugar seguro se desmorona. É sufocante ter que ouvir o que ela ouve. Jane está nos bastidores, tudo o que ela sabe é porque ouviu, percebeu, limpou os restos do crime. Ainda que ela não esteja envolvida, estar ali, saber e se manter calada, a torna uma cúmplice. Com isso, “A Assistente” nos faz refletir sobre esse silêncio, sobre todas as pessoas que de alguma forma estiveram envolvidas com tudo isso, seja por aquelas que não viam maldade, seja por aquelas que foram chantageadas para não contar. Curioso como o filme nunca revela o nome ou o rosto de seu principal vilão. Ele é a sombra que caminha pelo escritório. A voz tenebrosa do telefone. As palavras ríspidas de um e-mail. Ele é o homem que existe mas todos fingem não ver. E não há nada mais assustador que isso, porque ele parece inalcançável, inatingível.

Mais do que revelar os bastidores podres do entretenimento, “A Assistente” também surge como o registro de uma mudança. O primeiro passo dado para a revolução. É aquele degrau pequeno, passo lento, mas que está ali e foi necessário. Necessário para tudo o que se deu depois. Jane é, também, a representação esperançosa deste pequeno ato de rebeldia. O longa termina quase como se aquele fosse o fim de um dia comum e que o próximo seria o mesmo. Há um certo alívio saber que não. Filmes como este provam que não vivemos naquele mesmo tempo. Não que tudo tenha acabado mas é ótimo saber que historias como esta hoje podem ser contadas e podemos falar abertamente o que antes era só um boato cruel, um segredo amplamente acobertado por homens de poder.

NOTA: 8,5

  • País de origem: EUA
    Ano: 2019
    Título original: The Assistante
    Duração: 87 minutos
    Distribuidor: Diamond Films
    Diretor: Kitty Green
    Roteiro: Kitty Green
    Elenco: Julia Garner, Kristine Froseth, Matthew MacFadyen, Noah Robbins

Crítica: O Bebê de Rosemary

O medo causado pela incerteza

Todo mundo tem aquele clássico do cinema que fica postergando para assistir e um dos meus sempre foi “O Bebê de Rosemary”. Por anos esteve na minha lista e só agora resolvi dedicar um tempo para ver. Lançado em 1968 e baseado no livro de Ira Levin, o filme é conhecido com um dos melhores títulos de terror da história, marcando época e servindo, até hoje, de referência para o gênero. Seu realizador, Roman Polanski, por sua vez, não conseguiu se manter nesse tempo e hoje tem seu nome sempre vinculado à polêmicas. No entanto, ele constrói aqui um cenário aterrorizante e devido suas escolhas conseguiu eternizar seu produto. É interessante perceber o quão precursor ele foi e como o terror psicológico foi trabalhado aqui, sem apostar em jump scare ou outros tantos recursos que poderiam prejudicar suas intenções. A grande sacada da obra são as dúvidas que o roteiro vai nos deixando, nos permitindo adentrar na história e ser tão paranoicos quanto sua forte protagonista.

Ao início, somos apresentados a um casal que se muda para um apartamento em Nova York. Rosemary (Mia Farrow) é casada com Guy (John Cassavetes), um ator promissor, e juntos tentam um novo começo na cidade grande, local que decidem ter o primeiro filho. O clima de harmonia se altera quando os excêntricos vizinhos começam a invadir a vida deles, além das tantas histórias que passam a ouvir sobre o passado do mal assombrado edifício. Pouco tempo depois, após um terrível pesadelo, Rosemary descobre estar grávida e apesar da felicidade em conquistar o que queria, começa a adentrar em uma paranoia envolvendo o nascimento do bebê e as tantas situações incomuns que iniciam nesta sua nova rotina.

Através de elementos do cotidiano, Polanski consegue construir uma atmosfera de extremo pavor. O medo nasce já pelo incômodo de assistirmos aquela frágil mulher tendo que enfrentar tamanha pressão. Seja pelo marido que nunca a apóia e apenas a pressiona pela forma como age ou até mesmo como corta seu cabelo. Seja pelo médico ou pelos novos vizinhos que controlam sua gravidez. É desconfortável vê-la tendo que lidar com tudo isso, ao mesmo tempo em que enfrenta um período tão delicado como dar vida a um filho. Por trás do terror desses eventos, a obra não deixa de ser um relato dessa pressão existente na vida da mulher, dela ter que se provar a todo instante enquanto precisa se encaixar perfeitamente ao que a sociedade espera dela enquanto mãe e esposa. Rosemary está sozinha em sua batalha e é desesperador enfrentar esta jornada ao seu lado. 

“O Bebê de Rosemary” coloca sua protagonista lidando com este estresse pós-parto e ao percebermos o quão desolada e vulnerável está, nos faz questionar se seus discursos fantasiosos não são apenas reflexo deste seu novo estado, de seu delírio. Rosemary, após receber um livro de bruxaria de um amigo próximo, passa a questionar a possibilidade de estar sendo vítima de algum pacto ou culto pagão. Há cada nova cena somos apresentados a uma nova pista que nos faz duvidar junto com ela. O medo da obra vem justamente desta incerteza, desta possibilidade de existir ou não um ritual macabro e de que os pesadelos que surgem na mente da protagonista podem não ser apenas alucinações. Os dois lados são possíveis e é brilhante como o filme consegue manter este suspense boa parte da trama. Sentimos a tensão porque não sabemos o que há do lado de fora daquele apartamento, porque não sabemos o que de ruim pode acontecer com aquela mulher ou com seu filho.

Mia Farrow, em começo de carreira, surpreende como protagonista aqui. É incrível de assistir a transformação física e psicológica dela em cena, em como ela se transforma e torna tudo ainda mais convincente. Há garra mesmo na sua doçura, que nos faz torcer por ela, vibrar e se colocar em seu lugar a todo instante. Sua feição de espanto ao final é simplesmente memorável. Apesar da belíssima atuação, curiosamente, quem saiu vencedora do Oscar no mesmo ano foi a coadjuvante Ruth Gordon, que está ótima, mas nada que justifique tal prêmio. John Cassavetes surge carismático e cumpre bem o papel.

Gosto de como a obra vai sendo construída aos poucos, como o roteiro vai revelando suas camadas e seus mistérios no tempo devido. Quando mal percebemos, estamos completamente imersos em seu universo e tudo isso se deve, não apenas ao excelente roteiro, mas a boa direção de Polanski que redefiniu aqui o terror, que desenhou uma nova forma ao medo. Os últimos minutos de filme são simplesmente hipnotizantes, eletrizantes e incrivelmente tensos. Apesar de não revelar tudo, revela o necessário, o suficiente para nos deixar atordoados muito tempo depois que termina. “O Bebê de Rosemary” é daquelas produções que ecoam na mente e nos deixam reflexivos, pensando sobre tudo o que nos foi mostrado. É a grande prova do quão longe o gênero pode ir, pode nos afetar. 50 anos nos separam mas, definitivamente, não envelheceu em nada.

NOTA: 9,5

  • País de origem: EUA
    Ano: 1968
    Título original: Rosemary’s Baby
    Duração: 136 minutos
    Distribuidor: Paramount Pictures
    Diretor: Roman Polanski
    Roteiro: Roman Polanski
    Elenco: Mia Farrow, John Cassavetes, Ruth Gordon

Crítica: Um Lindo Dia na Vizinhança

Gostaria de ser meu vizinho?

Em 2018 foi lançado o elogiado documentário sobre o apresentador norte-americano Fred Rogers, “Won’t You Be My Neighbor?”. Se trata de um filme sutilmente emotivo e que, no fim das contas, acaba revelando muito mais sobre nós do que sobre ele. É a história de um homem bom, uma divindade quase, que usa do seu poder de fala e sua influência na TV para ensinar às crianças questões sobre aceitação, medo e perdão. Diz sobre nós porque lá no fundo, tentamos buscar algo de podre dentro dele, algo que prove que essa santidade não passa de um personagem. A grande virada é justamente essa. Temos dificuldade em aceitar essa bondade genuína e sempre esperamos o pior na humanidade. É interessante, então, a decisão deste filme em tornar Fred um coadjuvante. Porque a história nunca foi sobre ele e sim sobre como a trajetória dele reflete em nós.

“Um Lindo Dia na Vizinhança” tem outro protagonista. Ele é o jornalista Lloyde Vogel (Matthew Rhys), que escreveu o artigo para a revista Esquire, no qual a obra é baseada. Um homem traumatizado por seus conflitos familiares e que tem uma reputação ruim enquanto profissional, logo que sua maior habilidade é encontrar o que há de pior sobre aqueles que escreve. Lloyde é convidado a falar sobre pessoas consideradas heroínas e Fred acaba sendo o único a aceitar ser entrevistado por ele. O filme, então, coloca esses dois seres completamente diferentes frente a frente. Enquanto Fred é o símbolo da bondade, Lloyde parece carregar o mundo em seus ombros, sempre amargurado, sempre indisposto. O papel do jornalista, curiosamente, passa a ser o nosso enquanto assistíamos aquele documentário. Ele cava a vida do apresentador para apagar essa imagem santa e encontrar algo de ruim que o torne parte desta sociedade podre na qual tanto acreditamos.

O roteiro, sabiamente, transforma toda esta jornada em algo bem didático. Seria um grande erro em outro filme, mas aqui se encaixa quando estamos falando de um apresentador infantil. Chega a ser encantador em como eles fazem a vida caótica de Lloyde parecer um quadro do programa, onde até mesmo as vistas aéreas da cidade em que acontece são ilustradas por maquetes. É tudo lúdico e adoravelmente convidativo. O grande problema vem, porém, quando o protagonista soa estranhamente unilateral. Matthew Rhys é um bom ator, mas há pouco o que fazer com seu personagem tão limitado. Na tentativa de usar da imagem de Lloyde esta representação de uma vida amargurada, o texto ignora qualquer sentimento que saia deste campo. Ele está sempre cansado, triste, desiludido. Soa ainda mais forçado quando o roteiro abusa de clichês para falar sobre seus conflitos familiares. A infância difícil, o pai ausente, a doença terminal que os une. E nesta reciclagem de temas, acaba sendo difícil criar algum tipo de vínculo com o personagem ou se emocionar com este laço que ele cria com o apresentador e todas as lições de vida que ele acaba deixando pelo caminho.

Em certo momento, Fred Rogers, enquanto conversa com o jornalista, pede para que ele dedique um minuto refletindo sobre as pessoas que ama e que moldaram sua personalidade de hoje. Curiosamente, a produção dedica exato um minuto em silêncio e Fred quebra a quarta parede e nos encara. É impossível, enquanto público, não pensar em alguém naquele momento. “Um Lindo Dia na Vizinhança” não é sobre Fred Rogers. É um convite para pensarmos sobre nós mesmos. O que nos molda e nossa capacidade em encarar nossos medos, nossa raiva, nosso poder em perdoar. Mais do que isso, nossa habilidade em aceitar a bondade que vem de fora e que custamos a acreditar. Ela existe e pode preencher um espaço que bloqueamos com muita facilidade. É, também, claro, um palco para Tom Hanks brilhar. Não haveria outro ator para estar aqui além dele. Um filme doce e que apresenta diversos momentos de reflexão, mas é pequeno perto do que poderia ser e decepciona ao ter em mãos um personagem tão intrigante quanto Rogers e desperdiçá-lo em um filme sobre um insosso e pouco original drama familiar.

NOTA: 7

  • País de origem: EUA
    Ano: 2019
    Título original: A Beautiful Day in The Neighborhood
    Duração: 107 minutos
    Distribuidor: Sony Pictures
    Diretor: Marielle Heller
    Roteiro: Micah Fitzerman-Blue, Noah Harpster
    Elenco: Matthew Rhys, Tom Hanks, Chris Cooper, Susan Kelechi Watson

Crítica: As Ondas

Águas violentas destruindo castelos de areia

Segundo longa-metragem de Trey Edward Shults, “Waves” vai completamente na contramão de seu trabalho anterior. Enquanto que “Ao Cair da Noite” prezava pela sutileza, aqui ele cria algo muito maior e com mais pirotecnia. Ao narrar a dolorosa jornada de uma família norte americana, corrompida por eventos trágicos, o diretor constrói uma obra imersiva, intensa e cheia de excessos. A produção nos lança na velocidade de uma onde, turbulenta e cruel ao início até que se encontra a estabilidade. É desta forma que somos apresentados basicamente a dois filmes dentro de um. Uma história contínua mas que divide seu protagonismo. Quase como o lado A e lado B de um disco de vinil.

Já nos primeiros minutos de “Waves” compreendemos que não estamos diante de algo ordinário. Na batida das músicas e na velocidade de uma câmera inquietante, mergulhamos na rotina agitada de jovens que cuidam de seus corpos, se entregam às festas e em relacionamentos para serem expostos em uma rede social. Uma vida de liberdade e belas oportunidades, ainda mais para um jovem como Tyler (Kelvin Harrison Jr,), que é o grande orgulho de sua família. Este castelo se desmorona quando ele perde completamente o controle e acaba cometendo uma atrocidade que, por fim, reflete no rumo de todos aqueles que o amavam. É então que conhecemos a sobrevivência de sua irmã mais nova (Taylor Russell), que luta por seguir em frente ao mesmo tempo em que descobre um grande amor.

Apesar da longa duração, “Waves” tem um ritmo alucinante, o que torna seu minutos em uma experiência sem igual e prazerosa. Com uma potente trilha sonora de Atticus Ross e Trent Reznor, cores marcantes e inúmeros planos-sequência, a obra cria um universo imersivo e que nos faz sentir diversas sensações. Trey Edward Shults entrega um produto megalomaníaco e com algumas semelhanças aos recentes trabalhos de Sam Levinson (de “Assassination Nation” e “Euphoria”). Apesar dos belos discursos que traz como família, redenção e perdão, o diretor peca pelo excesso, soando forçado em algumas saídas para causar um fácil impacto e, pior, piegas quando tenta ser emotivo. Ele excede o tom necessário.

“Não nos permitem ser medianos”. Ainda que o diretor leva essa máxima a um nível elevado, ao menos ele consegue trazer um poderoso discurso a partir disso. Ao colocar o protagonismo da história à uma família preta, é interessante este debate sobre a pressão social existente entre todos eles, onde precisam batalhar dobrado para estar no lugar e na altura que todos os outros estão. É uma luta diária ser preto e ter que se provar digno das oportunidades que para o resto vem tão fácil. A obra ainda encontra espaço para falar sobre masculinidade tóxica e o quanto isso corrompe as relações. O elenco é poderoso e dá voz a todas essas boas ideias. Destaque para os jovens Kelvin Harrison Jr que domina o primeiro ato e a revelação Taylor Russell, que nasce na tela quase como uma figurante e ganha vida ao decorrer da trama, entregando uma surpreendente atuação ao fim.

“Waves” vem como uma onda em nosso peito. Chega duro como um soco e depois, quando se desfaz, nos acalenta. Um produto grande, intenso, que se nega à todo instante ser mediano. Emociona e nos faz imaginar como seria viver tudo aquilo, todo aquele turbilhão, sentir na pele aquela dor. Peca pelo excesso sim mas ao menos deixa um grande impacto em nós assim que termina e uma sensação prazerosa de poder ver algo extremamente revigorante, cheio de cor e alma.

NOTA: 8

  • País de origem: EUA
    Ano: 2019
    Título original: Waves
    Duração: 135 minutos
    Distribuidor: –
    Diretor: Trey Edward Shults
    Roteiro: Trey Edward Shults
    Elenco: Kelvin Harrison Jr., Taylor Russell, Sterling K.Brown, Lucas Hedges, Alexa Demie

Crítica: Newness

a fome de novidade

O diretor Drake Doremus (Like Crazy, Equals) tem um olhar muito peculiar sobre relações amorosas. Além de trazer muita sensibilidade para suas histórias, há sempre um realismo extremo que tornam seus personagens e as situações em que vivem tão próximos de nós. “Newness” pode não ser uma obra-prima do cinema e presente no catálogo extenso da Netflix, pode até não alcançar tanta gente. No entanto, há algo que precisamos considerar que é um grande feito aqui, sua honestidade ao falar sobre amor. Não me lembro a última vez em que vi um filme que falou tão bem sobre isso, que expôs, com tamanha verdade, o que é dividir a vida com alguém.

Aqui os protagonistas se conhecem como itens de uma enorme vitrine. Como produtos a serem logo descartados. Quase que viciados em aplicativos de encontros, Martin (Nicholas Hoult) e Gabi (Laia Costa) buscam uma transa rápida, algo que lhes traga uma satisfação momentânea. Quando o match, enfim, acontece, a química entre os dois é nítida, o que inevitavelmente acaba fluindo para uma relação. Um tempo depois, passam a dividir o mesmo apartamento, porém, sem grandes surpresas, a vida entre eles alcança o tédio e em uma tentativa de reascender o que sentiam no começo, decidem abrir o relacionamento, lhes permitindo conhecer outras pessoas, fugindo assim, da mesmice que um casamento pode ser.

Me senti chocado e tocado por cada cena de “Newness”, justamente porque a obra é um reflexo muito exato do que somos, do que vivemos e do que acreditamos. Martin e Gabi fazem parte de uma geração que busca por novidades, que se cansa fácil do que já tem. É a sociedade do consumo, que deseja algo rápido, que usa e logo joga fora. Drake Doremus fala com precisão sobre os amores líquidos e a estranha facilidade que temos em perder tesão em algo que pouco tempo antes nos preenchia. Talvez a própria tecnologia nos transformou nisso. A novidade está constantemente ao nosso alcance. Se acostumar com algo velho ou aceitar a rotina parece um sintoma de cegueira. Vivemos em uma época em que casamento é visto como prisão, como o contrato oficial do tédio. O filme, então, parece questionar como escrever uma história de amor no tempo em que relações estão fadadas ao fracasso. No tempo em que se mostrar frio e distante é sinônimo de fortaleza, de coragem. Aquele desprezo doentio que se confunde com autossuficiência.

A história dos dois é uma história de amor possível. Eles se amam e isso deveria ser o necessário. Não é. Nunca é. Falta atenção, interesse. Falta aquela dose de esforço diário que esquecemos sempre. É doloroso acompanhar a jornada do casal, em como eles machucam, se destroem. Viver uma vida a dois requer tão mais que só amor e sofremos porque vemos ali na tela duas pessoas que querem estar uma com a outra, mas não estão dispostas a ceder. As discussões entre os dois são incrivelmente verdadeiras e alcançam um nível alto de brilhantismo. É interessante, também, o debate da obra acerca dos relacionamentos abertos e sobre a poligamia. Sobre esta ideia de que a vida é curta demais para amarmos uma única pessoa.

A química entre os dois atores é a grande arma do filme, que nos faz vibrar por cada etapa que enfrentam. Nicholas Hoult é sempre incrível, mas é Laia Costa quem brilha. A atriz é uma mistura intrigante de delicadeza e fúria. Fiquei emocionado por sua entrega e por cada momento em que está em cena. Drake Doremus continua muito sensível ao falar de amor e poucos cineastas transmitem tão bem este sentimento para a tela como ele. No final da obra senti o impacto. É intenso, honesto e profundamente humano. A fotografia e a bela trilha sonora ajudam a compor este filme que não tem a pretensão de ser memorável, mas ao menos atinge com perfeição sua proposta. Ser o retrato fiel dos relacionamentos amorosos dos tempos atuais. Será difícil achar um outro que fale tão bem quanto este. Uma preciosidade rara. Um achado.

NOTA: 9

  • País de origem: EUA
    Ano: 2017
    Duração: 117 minutos
    Distribuidor: Netflix
    Diretor: Drake Doremus
    Roteiro: Ben York Jones
    Elenco: Laia Costa, Nicholas Hoult, Matthew Gray Gubler, Danny Huston

Crítica: Jóias Brutas

O outro lado de Adam Sandler

“Jóias Brutas” é uma surpresa em muitos aspectos. Vai além do que esperamos de um filme e muito além do que esperamos de Adam Sandler. O ator que ganhou reputação bem ruim diante de tantas escolhas equivocadas em sua carreira vem para provar um talento raras vezes demonstrado. Ele não apenas entrega uma belíssima atuação como nos faz esquecer completamente a visão que temos dele. Sandler renasce neste papel e revela uma garra em cena admirável. Só por vê-lo fora de sua zona de conforto, a produção já valeria a pena, no entanto, este novo trabalho dos irmãos Safdie é pura catarse e merece nossa atenção por suas tantas outras qualidades. É eletrizante, intenso e uma experiência sem igual.

Sandler interpreta Howard Ratner, dono de uma joalheria e enfiado em diversas dívidas. Para contornar esta situação e se ver distante das constantes perseguições que sofre, resolve leiloar uma preciosa pedra que comprou diretamente da Etiópia. Porém, seus planos ganham uma nova trajetória, quando um de seus clientes, um astro da NBA, pega a pedra “emprestada” e Howard precisa driblar a grande confusão que ele mesmo criou e recuperar o objeto que pode ser sua única salvação. Essa jornada do protagonista é simplesmente hipnotizante. Cheio de vícios e uma habilidade em dificultar o que poderia ser simples, ele nos deixa apreensivos por seus passos tortos e aflitos por essa total ausência de controle em sua vida.

Benny e Josh Safdie, que ganharam o respeito da crítica quando lançaram “Bom Comportamento” em 2017, retornam com um filme ainda mais completo e impactante. Há algo de muito novo no cinema deles, uma linguagem que se difere do que estamos habituados a assistir. “Jóias Brutas” é imersivo, insano e seu ritmo acelerado faz suas 2h15 minutos passarem voando por nós. Cada segundo parece ter uma informação nova e a todo instante o universo que cria parece virar de ponta cabeça. É verborrágico e nos faz rir no meio de suas tantas tragédias. É um riso nervoso, de desespero diante das cagadas de seu protagonista. Seja um plano mal elaborado, uma perseguição inquietante ou até mesmo a porta da loja em que trabalha que geralmente trava nas horas indevidas. Elementos que fazem o coração acelerar e ficar ansioso para ver tudo aquilo, em algum momento, dar certo. A direção dos Irmãos Safdies é brilhante, assim como a fantástica montagem que torna uma simples sequência em um evento vibrante e de tirar o fôlego, auxiliado por uma sempre presente e fantástica trilha sonora assinada por Daniel Lopatin. O roteiro merece destaque também, ao conseguir dar vida a tantos personagens, situações e amarrar tudo de forma coesa, mesmo no meio do caos e do turbilhão de sentimentos que expõe.

“Jóias Brutas” acerta na composição de seu universo e nos mantém atentos do começo ao fim. Um filme muito único, divertido, revigorante e cheio de alma, de vida, de coragem. Me senti surpreendido por cada detalhe e ao fim me deixou completamente devastado e impactado por sua ousada saída. É ótimo, também, para vermos este outro lado de Adam Sandler, que distante da comédia, entrega aqui a melhor atuação de sua carreira.

NOTA: 9,5

  • País de origem: EUA
    Ano: 2019
    Título original: Uncut Gems
    Duração: 135 minutos
    Distribuidor: Netflix
    Diretor: Benny Safdie, Josh Safdie
    Roteiro: Benny Safdie, Josh Safdie
    Elenco: Adam Sandler, Lakeith Stanfield, Idina Menzel, Julia Fox