Os 25 melhores filmes de 2020

2020 foi um grande e longo filme de terror. No meio de uma pandemia e nossas tantas crises pessoais que se iniciaram, a arte veio para ser nosso suporte. Ainda que os cinemas tenham sido fechados e mesmo quando reabertos, optamos por não ir, os filmes ainda estiveram presentes em nossas vidas. Alguns poucos vistos na tela grande, outros em plataformas de streaming ou VOD. Foi um ano que consegui assistir bastante coisa e por isso esta lista é tão especial, porque resume bem tudo o que descobri de melhor.

Os filmes que seleciono aqui foram lançados no Brasil entre janeiro e dezembro de 2020. Espero que gostem dos selecionados e caso não tenham visto algum, já deixo aqui como dicas a serem achadas também.

Menções honrosas: “Host” entregou um terror refinado mesmo com um baixíssimo orçamento e merece destaque. Sacha Baron Cohen foi gênio e fez de “Borat: Fita de Cinema Seguinte” uma sequência incrível e superior ao original. “On The Rocks” foi um belíssimo e cativante retorno de Sofia Coppola ao cinema e a animação “Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica” foi mais um divertido e emocionante acerto da Pixar.

25. O Homem Invisível
de Leigh Whannell | EUA

“O Homem Invisível” é a prova de que remakes não precisam seguir à risca a matéria original. É possível se ter um olhar diferente sobre o mesmo universo e o longa de Leigh Whannell teve essa ousadia de propor algo diferente do que já existia. O terror está ali, a tensão e a protagonista tentando escapar do homem que ninguém vê. A obra, com muita perspicácia, reformula a ideia e traz temas muito atuais para dentro da história. Elisabeth Moss está ótima.

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24. O Diabo de Cada Dia
de Antonio Campos | EUA

Filmes que se vendem pelo grande elenco geralmente dão muito errado. Felizmente, “O Diabo de Cada Dia” acerta ao não tentar se manter pelas boas atuações e sim na boa trama que ali é construída e na profundidade de cada indivíduo retratado. O longa de Antonio Campos revela essa sociedade grotesca que tem como base o fanatismo religioso e como uma pequena ideia apresentada lá no início se desenrola modificando a história de diversos personagens. É inteligente, bem desenvolvido e me lembrou muito o cinema dos anos 90, o que é um baita de um elogio.

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23. A Assistente
de Kitty Green | EUA

“A Assistente” é um filme simples, pequeno, mas de uma importância e relevância gigantesca no cenário atual. Vinda de uma carreira em documentários, a diretora Kitty Green faz um aqui um recorte poderoso sobre os bastidores do entretenimento que deram origem à movimentos como o #metoo. Através de uma protagonista ingenua, defendida muito bem por Julia Garner, somos colocados para dentro de um ambiente tóxico de trabalho, onde o assédio sexual existe e todos fingem não ver. É assustadoramente possível e um discurso que precisava ser dito.

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22. O Preço da Verdade – Dark Waters
de Todd Haynes | EUA

Sob o comando do cultuado Todd Haynes, o longa é baseado em um caso real, onde um advogado (Mark Ruffalo, em ótima performance), especializado em meio ambiente, entra na justiça contra uma poderosa corporação que despejava resíduos químicos no abastecimento de água de uma região. Indo muito além do simples “filme denúncia”, temos aqui uma produção fantástica e um diretor atento aos detalhes, que preza pela qualidade de sua história assim como pelo poder de suas imagens. O roteiro é excepcional e nos deixa completamente abismados por seus assustadores desdobramentos.

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21. Luce
de Julius Onah | EUA

Adaptação de uma peça teatral, “Luce” é um poderoso thriller psicológico que narra a conflituosa relação entre quatro personagens centrais. É o tipo de filme que cresce lentamente, que inicia com uma problemática pequena mas que acaba ganhando proporções cada vez mais assustadoras. Lento na medida, a obra caminha como se uma bomba pudesse explodir a cada instante. A complexidade de cada personagem permite que a trama siga por caminhos imprevisíveis e torne este provocativo embate – de racismo em um ambiente escolar – em uma experiência intensa e reveladora.

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20. Professor Polvo
de James Reed, Pippa Ehrlich | EUA, Singapura

Nunca pensei que eu poderia chorar vendo um filme sobre um polvo, mas esta deslumbrante produção da Netflix me permitiu isso. O documentário nos mostra a emocionante aventura de um cineasta em uma floresta subaquática da África do Sul, onde desenvolve uma inusitada relação de amizade com um polvo. O filme nos faz desvendar ao seu lado os mistérios daquele mundo tão desconhecido e nos fazer refletir sobre o milagre que é a natureza. Sobre o milagre que é a vida. Sobre o quão grande e poderoso é o ato de existir.

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19. Nunca, Raramente, Às Vezes, Sempre
de Eliza Hittman | EUA, Reino Unido, Irlanda do Norte

Requer muita coragem debater sobre aborto por ser um tema ainda muito tabu em nossa sociedade. “Nunca, Raramente, Às Vezes, Sempre” revela de forma crua, sutil e arrebatadora a jornada de uma jovem que, para interromper uma gravidez indesejada, decide ir até Nova York realizar um aborto. É um caminho lento, silencioso, mas de uma força esmagadora. A diretora Eliza Hittman traz uma abordagem bastante naturalista e próxima ao documental, através de um roteiro que foge de explicações óbvias ou julgamentos.

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18. As Ondas
de Trey Edward Shults | EUA

Ao narrar a dolorosa jornada de uma família norte-americana, corrompida por eventos trágicos, o diretor Trey Edward Shults constrói uma obra imersiva, intensa e cheia de excessos. A produção nos lança na velocidade de uma onda, turbulenta e cruel ao início até que se encontra a estabilidade. É desta forma que somos apresentados basicamente a dois filmes dentro de um. Quase como o lado A e lado B de um disco de vinil, logo que sempre somos guiados pelas batidas das músicas. “As Ondas” tem um ritmo alucinante, o que torna seus minutos em uma experiência sem igual e prazerosa.

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17. Queen & Slim
de Melina Matsoukas | EUA

Mais do que uma bem-vinda releitura de Bonnie e Clyde e aquela velha história do casal que foge após cometer um crime, “Queen & Slim” usa desta simples premissa para revelar um debate poderoso sobre a luta e resistência negra. O filme, incrivelmente comandado pela diretora Melina Matsoukas, diz muito sobre como essa estrutura racista, ainda que velada em nossa sociedade, transforma as interações humanas. É um belo e corajoso recorte, ilustrado em um deslumbrante road movie.

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16. Uma Vida Oculta
de Terrence Malick | Alemanha, EUA, Reino Unido, Irlanda do Norte

Retorno à boa forma do cineasta Terrence Malick, o longa narra a emocionante jornada de um soldado desertor austríaco na Segunda Guerra Mundial, que ao negar-se a lutar ao lado de Hitler, se torna fugitivo dentro de seu próprio país. É um cinema ainda bastante contemplativo, poético, reflexivo. Que nos faz mergulhar pelos pensamentos e pelas crises existenciais de seus personagens. Através de belas palavras de um texto extremamente delicado, conhecemos o íntimo de seu bravo protagonista. Sua garra, seus sonhos destruídos, sua dor e suas crenças.

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15. Bem-Vindo à Chechênia
de David France | EUA

“Bem-Vindo à Chechênia” é um soco doloroso. Documentário extremamente urgente e necessário sobre a perseguição sofrida pelos LGBTs em território russo. Acompanhamos um grupo de ativistas tentando encontrar abrigo e fuga para jovens que foram brutalmente torturados. Todos os relatos são assustadores principalmente porque há provas desses tantos crimes. Porque os criminosos têm nomes e endereços, mas ainda assim as autoridades do país se negam a reconhecer essas atrocidades. Como filme denúncia é um grande passo para o cinema também, por conseguir aplicar o deepfake na face daqueles que não podem falar. Justamente por isso é lindo e inspirador o instante em que um deles ganha finalmente um rosto na tela, quando ele passa a ser voz que ousa defender toda sua comunidade.

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14. Má Educação
de Cory Finley | EUA

“Má Educação” nos revela o maior caso real de corrupção já existente em uma escola pública nos Estados Unidos. O escândalo verídico ganha vida através de um roteiro esperto, que foge dos clichês de investigação jornalística e aposta na desconstrução do herói, aqui muito bem defendido por Hugh Jackman. É um personagem carismático e ao mesmo tempo uma grande incógnita. Um filme empolgante, bem construído e que enaltece cada ótimo desdobramento que tem em mãos. Se no começo mal sabemos onde a produção quer chegar, ao seu fim, estamos em choque pelo quão longe ela chegou. Simples, inteligente e fantástico.

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13. Você Não Estava Aqui
de Ken Loach | Bélgica, França, Reino Unido, Irlanda do Norte

“Você Não Estava Aqui” é mais um bom registro naturalista do britânico Ken Loach, que aqui causa impacto por suas grandes reflexões. Se aproxima do documentário ao falar da relação do homem com sua jornada de trabalho e nesta falsa sensação de liberdade que a “uberização” atual nos vende. No filme, uma empresa de entregas tenta motivar seus funcionários a serem empreendedores. O roteiro investiga o impacto que isso tem na vida de uma família e choca pela veracidade dos fatos. Um recorte preciso, honesto e bastante sensível.

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12. A Sun
de Mong-Hong Chung | Taiwan

Produção taiwanesa que acompanha uma família destruída por dois eventos trágicos. Esta é a base de uma história poderosa e emocionante, que ganha desdobramentos cada vez mais interessantes. O roteiro é brilhante e nos mantém presos, cativados por seus bons personagens e pela batalha interna que cada um constrói ali. É lindo como tudo flui com a mesma naturalidade da vida. A perda, a dor, a superação. Tudo guiado por um ato de bondade ou uma vontade de recomeçar. Uma jornada que envolve perdão, empatia, redenção e jamais narra isso de maneira óbvia ou de fáceis conclusões.

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11. Transtorno Explosivo
de Nora Fingscheidt | Alemanha

Intenso drama alemão, o longa nos conta a conturbada jornada de Benni, uma garota de apenas nove anos que vive em lares adotivos devido seu comportamento explosivo e seus surtos de raiva. É poderosa toda a construção da obra que nos deixa imersos neste universo único e violento no qual vive a protagonista, incrivelmente defendida pela jovem Helena Zengel. As cenas em que ela é doce ou tenta impressionar os outros por medo da solidão são de cortar o coração. Um registro potente e corajoso de uma infância incomum, que nos destrói e ao mesmo tempo nos encanta pela sensibilidade. É forte e dilacerante.

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10. Corpus Christi
de Jan Komasa | Polônia

“Corpus Christi”, que chegou a ser indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, questiona a hipocrisia dos cidadãos de bem que pregam uma religião. A trama é bastante curiosa e nos intriga, nos levando a acompanhar a inusitada jornada de Daniel, um jovem problemático vindo de um reformatório, que se passa por padre de uma paróquia em um pequeno e conservador vilarejo. Existe coragem nos belos discursos da obra, que vem não para questionar a fé ou diminuir o valor do cristianismo. Vem para indagar, nos fazer olhar para a farsa. Não a farsa do jovem que se faz de padre, mas da farsa que vemos todos os dias, da de pessoas que usam da fé como discurso de ódio. Desta “religião” sem nenhum senso de bondade, igualdade e perdão.

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9. The 40-Year-Old Version
de Radha Black | EUA

Facilmente uma das produções mais interessantes que a Netflix lançou em 2020. Estreia de Radha Blank na direção, que imprime, em seu fascinante texto, sua luta diária como mulher, preta e artista. Ela se coloca como protagonista da própria história – da escritora de 40 anos que nunca teve espaço para realizar sua arte – e faz de “The 40-Year-Old Version” o seu grande manifesto. De forma ousada e sincera, ela aponta uma ferida antiga dentro do cinema, onde o preto apenas tem espaço para ilustrar uma pobreza estereotipada e servir de troféu para histórias de brancos salvadores. Ela traz humor em seu relato, sem jamais diminuir o impacto de seu poderoso e necessário discurso. Um filme brilhante que, definitivamente, precisava existir.

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8. Belle Époque
de Nicolas Bedos | França

“Belle Époque” é o filme que 2020 precisava. Comédia francesa leve e incrivelmente apaixonante de Nicolas Bedos, que narra a divertida história de um senhor que contrata uma empresa que o permite reviver o dia mais especial de sua vida: quando ele conheceu sua esposa. É uma produção leve, mágica, imensamente encantadora, que nos causa fascínio ao transitar entre passado e presente, entre realidade e ficção. “Belle Époque” é poesia aos saudosistas que nesta reencenação do começo de uma história de amor, nos faz pensar em como criamos expectativas em uma relação baseados na perfeição do início. Somos tolos ao buscar no outro aquilo que um dia foi. Um conto criativo que faz bem demais ao coração.

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7. A Arte de Ser Adulto
de Judd Apatow | EUA

Comédia agridoce de Judd Apatow, o longa dá palco para o jovem comediante Pete Davidson expor sobre sua jornada peculiar e sua dor pessoal. O roteiro é impecável e usa do humor para relatar algo melancólico, emocionando mesmo quando não tem pretensão. A trama narra o amadurecimento tardio de um homem de vinte e quatro anos, que não vê qualquer sinal de perspectiva em sua vida depois de perder o pai. A obra causa uma incômoda e rápida identificação com essa frustração de envelhecer. É fácil criar empatia por este sentimento de fracasso quando se chega à fase adulta, quando se tem a mesma idade daqueles que estão vencendo. Confesso que senti uma conexão muito grande com tudo o que vi e fiquei devastado por toda a honestidade e sentimentos expostos. Nem sempre a comédia tem esse poder. Mas essa não é uma comédia qualquer e esse não é um filme qualquer.

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6. 1917
de Sam Mendes | EUA, Reino Unido, Irlanda do Norte

Guerra já foi tema de muitos filmes no cinema e é interessante quando surge uma obra que tem algo novo a mostrar. “1917” facilmente se destaca neste subgênero e merece reconhecimento por suas tantas qualidades técnicas. Um trabalho de produção admirável, que resgata um período histórico com precisão e nos faz viver, durante seus belos minutos, o desespero em estar na pele de seu protagonista, vivendo sob o caos e a tensão de tudo aquilo. O novo longa de Sam Mendes é uma experiência sem igual, imersiva, angustiante e extremamente bem realizada. A opção por gravar suas ações em um quase que ininterrupto plano sequência, torna tudo ainda mais fascinante de assistir. É um deleite visual e um exercício narrativo e cinematográfico altamente ousado.

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5. Soul
de Pete Docter | EUA

Sem dúvidas, a melhor animação da Pixar desde “Divertida Mente”. É um momento muito especial para o estúdio, que entrega aqui o que há de melhor em suas criações. Um filme visualmente belíssimo, onde todas as cenas causam impacto, tamanha perfeição e deslumbre que alcança. Ao narrar a divertida jornada de Joe que vai parar no mundo das almas, “Soul” acaba sendo um lembrete sensível de que nossa existência vai além da conquista de um propósito, de uma habilidade. De que nossos sonhos é que nos impulsiona, mas não é o todo. Uma produção inventiva, original e o mais importante, feita de coração.

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4. Jojo Rabbit
de Taika Waititi | Alemanha, EUA

Uma obra que se propõe a ser uma sátira anti-ódio e acaba sendo um produto extremamente atual, que facilmente dialoga com os novos tempos. Ao revelar os horrores da guerra e da Alemanha ocupada pelos Nazistas através do olhar inocente de uma criança, o longa além de ganhar uma deliciosa liberdade narrativa, nos faz refletir sobre nossa realidade e como tantos discursos de ódio infundados são reproduzidos facilmente em nome de uma doutrina ou de um fanatismo cego a um líder. O diretor e roteirista Taika Waititi acerta a mão e realiza um trabalho bastante original, mágico, surpreendentemente triste e doce.

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3. Joias Brutas
de Ben e Josh Safdie | EUA

“Joias Brutas” é uma surpresa em muitos aspectos. Vai além do que esperamos de um filme e muito além do que esperamos de Adam Sandler, que entrega aqui a melhor atuação de sua carreira. Pelo olhar do endividado Howard, somos levados a um turbilhão de emoções nesta sua saga de sobrevivência em um mundo onde todos querem devorá-lo. É assim que este novo trabalho dos irmãos Safdie se torna pura catarse e ataca nossa ansiedade. Cada segundo parece ter uma informação nova e a todo instante o universo que cria parece virar de ponta cabeça. É eletrizante, intenso, verborrágico e nos faz rir no meio de suas tantas tragédias. Um filme único e revigorante.

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2. O Som do Silêncio
de Darius Marder | EUA

Belíssima revelação de Darius Marder na direção, ele entrega um filme poderoso, íntimo, milagroso até, eu diria. Seu cinema transcende e alcança instantes de uma emoção indescritível. Ele nos apresenta à Ruben, o baterista que, ao perder a audição, mergulha em uma maré de incertezas, atormentado pelo silêncio que parece arruinar seu futuro. Um obra inquietante que permite ao ator Riz Ahmed entregar a mais potente e comovente atuação do ano. “O Som do Silêncio” é um conto poderoso sobre adaptação e sobre como é da natureza humana este dom de se moldar a uma nova circunstância. É sobre ouvir o que há dentro de nós e como não há barulho mais ensurdecedor que esse. Eu senti a dor, a angústia, o medo, o aperto no peito. Encontrei aqui uma das experiências mais incríveis que tive vendo um filme este ano.

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1. Retrato de Uma Jovem em Chamas
de Céline Sciamma | França

“Retrato de Uma Jovem em Chamas” é uma preciosa obra de arte. Um trabalho que alcança um nível de perfeição extremo, que nos deixa sem palavras ao seu fim e encantados por todas as belas decisões que ali foram tomadas. Somos levados à França do século 18 e na belíssima relação entre duas mulheres, a pintora e seu objeto de estudo, sua musa. É lindo quando, deste ato puro de observação entre as duas personagens, nasce uma história de amor. É assim que a diretora Céline Sciamma constrói um filme altamente contemplativo, encontrando beleza nos detalhes. Por fim, me senti completamente emocionado pela forma com que tudo foi guiado, pela sensibilidade de traduzir sentimentos tão puros. Como as imagens, visualmente tão poderosas, as sensações que a produção nos permite sentir ecoa dentro de nós. Lindo, apaixonante, a obra de arte que 2020 precisava. É imbatível. O melhor filme do ano.

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E para você? Qual o melhor filme de 2020?

Retrospectiva 2020: os destaques do ano

2020 foi um ano estranho. A pandemia do coronavírus impactou diversos setores e o cinema foi um deles. Foi um ano atípico para a sétima arte que teve que dar seus pulos para se manter na ativa. É estranho olhar para trás e perceber que não tivemos grandes lançamentos na tela grande. No começo, alguns filmes estavam preparando terreno para o que viria nos próximos meses como “Aves de Rapina” e a bela surpresa “O Homem Invisível”. As obras que estamparam as listas do Oscar também fizeram bonito e indicavam um bom ano cinematográfico como “1917”, “Jojo Rabbit” e “Adoráveis Mulheres”. Eis que tudo parou e, o mais assustador, sem previsão de retorno.

Foi aí que os mais aguardados lançamentos tiveram suas datas alteradas, duas, três, quatro vezes até saírem oficialmente do calendário de 2020. Algumas distribuidoras ainda arriscaram levar alguns títulos ao cinema, chegando produções como “Novos Mutantes” e “Tenet”, que tinha como intuito trazer o público de volta. Não deu certo, não era o momento. “Mulher-Maravilha 1984” conquistou mais retorno, mas as críticas negativas talvez o tenham impedido de crescer mais. Não tivemos Marvel neste ano, o que não acontecia desde…sei lá quando.

É neste cenário que as plataformas de streaming ganharam a confiança do público brasileiro, como a única fonte de novos filmes. A “Netflix” tornou possível as discussões sobre cinema, sobre lançamentos, sobre novidades. Apostou nos “blockbusters” como “Old Guard”, “Resgate” e “Power”, além de ser o espaço para diretores consagrados retornarem como David Fincher, Ron Howard e Charlie Kaufman. O “Prime Video” também se mostrou necessário com lançamentos relevantes como a sequência de “Borat” e um dos melhores do ano, “O Som do Silêncio”. Veio ainda, para acrescentar, o Disney Plus, que trouxe novidades aguardadas como o live action de “Mulan” e a animação da Pixar “Soul”.

Tendo tudo isso em mente, venho aqui para enaltecer as produções que tivemos neste insano 2020. Criei uma premiação fictícia, reunindo em 16 categorias técnicas, filmes que merecem destaque. Selecionei todos aqueles lançados no Brasil entre janeiro e dezembro. Espero que gostem.

1. Jóias Brutas
2. O Som do Silêncio
3. The Forty-Year-Old Version
4. Soul
5. A Arte de Ser Adulto
6. On The Rocks

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1. Jojo Rabbit
2. Má Educação
3. Adoráveis Mulheres
4. Luce
5. O Preço da Verdade – Dark Waters
6. O Diabo de Cada Dia

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1. Soul
2. Wolfwalkers
3. Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica
4. Os Irmãos Willoughby
5. A Caminho da Lua

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1. 1917
2. O Farol
3. Uma Vida Oculta
4. Monos
5. Retrato de Uma Jovem em Chamas
6. Devorar

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1. 1917
2. Emma.
3. Mulan
4. Jojo Rabbit
5. A Verdadeira História de Ned Kelly
6. Mank

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1. Emma.
2. Adoráveis Mulheres
3. Mulan
4. A Voz Suprema do Blues
5. Aves de Rapina
6. Enola Holmes

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1. Estou Pensando em Acabar com Tudo
2. O Escândalo
3. Mulan
4. Power
5. A Verdadeira História de Ned Kelly
6. Aves de Rapina

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1. 1917
2. Tenet
3. Mulan
4. O Céu da Meia-Noite
5. O Homem Invisível
6. Mulher-Maravilha 1984

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1. Jóias Brutas
2. O Som do Silêncio
3. Tenet
4. As Ondas
5. Estou Pensando em Acabar com Tudo
6. O Homem Invisível

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1. Trent Reznor e Atticus Ross (Soul)
2. James Newton Howard (Uma Vida Oculta)
3. Alexandre Desplat (Adoráveis Mulheres)
4. Hans Zimmer (Era Uma Vez um Sonho)
5. Ludwig Göransson (Tenet)
6. Oneohtrix Point Never (Jóias Brutas)

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1. Stand Up (Harriet)
2. Queen Bee (Emma.)
3. Nobody Knows I’m Here (Ninguém Sabe Que Estou Aqui)
4. Only the Young (Miss Americana)
5. My Power (Power)
6. Into The Unknown (Frozen 2)

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1. Os 7 de Chicago
2. Adoráveis Mulheres
3. A Voz Suprema do Blues
4. O Diabo de Cada Dia
5. Jojo Rabbit
6. Luce

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1. Helena Zengel (Transtorno Explosivo)
2. Sidney Flanigan (Nunca, Raramente, Às Vezes, Sempre)
3. Roman Griffin Davis (Jojo Rabbit)
4. Jodie Turner-Smith (Queen e Slim)
5. Betty Gilpin (A Caçada)
6. Maria Bakalova (Borat: Fita de Cinema Seguinte)

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1. Darius Marder (O Som do Silêncio)
2. Carlo Mirabella-Davis (Devorar)
3. Andrew Patterson (A Vastidão da Noite)
4. Radha Blank (The Forty-Year-Old Version)
5. Kitty Green (A Assistente)
6. Nora Fingscheidt (Transtorno Explosivo)
7. Lulu Wang (A Despedida)
8. Melina Matsoukas (Queen & Slim)
9. Dave Franco (Vigiados)

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1. Céline Sciamma (Retrato de Uma Jovem em Chamas)
2. Sam Mendes (1917)
3. Terrence Malick (Uma Vida Oculta)
4. Ben e Josh Safdie (Jóias Brutas)
5. Robert Eggers (O Farol)
6. Trey Edward Shults (As Ondas)
7. Greta Gerwig (Adoráveis Mulheres)
8. Todd Haynes (O Preço da Verdade – Dark Waters)
9. Sofia Coppola (On The Rocks)

Os 15 melhores atores de 2020

Finalizando as listas de melhores atuações do ano, venho agora para revelar os meus 15 atores favoritos de 2020. Confesso que foi uma lista difícil de fechar porque tivemos realmente grandes performances durante o ano. Personagens interessantes, desafiadores e diversos nomes que merecem destaque. Lembrando que as interpretações elegíveis eram aquelas presentes em filmes lançados no Brasil entre janeiro e dezembro de 2020.

Espero que gostem dos selecionados e aproveito, também, para deixar os títulos como dicas para assistir, pois todos aqui valem a pena a descoberta.

15. Ben Affleck
(O Caminho de Volta)

Sinceramente não sei qual foi a última vez que Ben Affleck entregou uma boa atuação e por isso foi tão bom vê-lo aqui, renovado e completamente entregue ao personagem. É forte e poderoso essa conexão que ele tem com o treinador e ex-atleta Jack, neste homem em depressão, que não tem controle sobre a bebida. Há muito do ator ali em cena, logo, ele oferece aqui o momento mais sincero de sua carreira.

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14. Jorge Garcia
(Ninguém Sabe Que Estou Aqui)

Atuação contida de Jorge Garcia, que ao longo de sua carreira ficou marcado por seu personagem na série “Lost”. Aqui ele ganha, finalmente, um espaço para explorar seu grande talento. Memo é um personagem introspectivo, recluso e dono de uma voz poderosa. Garcia traz verdade em cena e encanta.

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13. Paul Walter Hauser
(O Caso Richard Jewell)

Richard Jewell é um personagem interessantíssimo, que nos causa dúvidas, nos faz refletir sobre sua índole a cada instante e nos deixa intrigados por toda sua jornada. Paul Walter Hauser, que tem trilhado uma carreira como coadjuvante cômico, surpreende como protagonista e revela uma faceta nova como ator.

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12. Kelvin Harrison Jr.
(Luce)

É intrigante como um ator tão jovem é capaz de construir na tela um personagem tão complexo. Ainda que nunca fique realmente claro sobre quem é “Luce”, é brilhante o trabalho de Kelvin Harrison Jr.. Ele se mantém como uma incógnita, podendo ser a vítima de perseguição ou um sociopata em ascensão. Um trabalho difícil que ele, mesmo com pouca experiência, domina.

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11. George MacKay
(A Verdadeira História de Ned Kelly)

George MacKay é um ator que tem crescido bastante e tem tudo para ser um profissional prestigiado, no caminho certo ele está e é um nome para ficarmos de olho. Além de surpreender como protagonista de “1917”, ele também brilha aqui com outro protagonista extremamente diferente e poderoso, como Ned Kelly. A evolução do personagem é um tanto quanto confusa pelo bagunçado roteiro, mas felizmente temos um ator competente que dribla essa falta de informação com seu talento e nos mantém atentos por sua poderosa performance.

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10. Antonio de la Torre
(A Trincheira Infinita)

Na pele de Higinio, Antonio de la Torre entrega uma atuação formidável. A história do homem que passou mais de três décadas escondido em um porão, fugindo de um regime autoritário que comandava a Espanha. É um registro assustador, comovente e o ator transmite todo o desespero e agonia de se viver desta forma, recluso, sem vida.

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9. Sope Dirisu
(O Que Ficou Para Trás)

Em “O Que Ficou Para Trás” acompanhamos um casal de refugiados iniciando uma vida na Inglaterra. É um conto de terror que ganha força pela entrega dos dois atores. Sope Dirisu mergulha neste mar de desespero e incertezas, revelando uma atuação potente e nos levando ao inferno ao seu lado.

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8. Gary Oldman
(Mank)

Gary Oldman é aquele famoso camaleão, que sempre vai trazer algo novo para um personagem e se transformar na tela. Na pele do roteirista Herman J. Mankiewicz, o ator traz algo bem mais contido do que aquele que venceu o Oscar (em O Destino de Uma Nação) e ainda assim, melhor. É um papel mais limpo, mais sincero, provando, mais uma vez, ser um dos maiores atores ainda em atividade.

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7. Chadwick Boseman
(A Voz Suprema do Blues)

É um tanto quanto doloroso vir aqui e elogiar Chadwick Boseman, dizer sobre o tamanho do talento dele e o quanto ele se doa ao papel. Falar sobre o ator é lembrar “do que poderia ter sido”. “A Voz Suprema do Blues” carrega esse peso de ser o último trabalho deste grande ser humano. É um registro primoroso porque ele deixa marcado sua real potência. Existe entrega, carisma e existe honestidade.

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6. August Diehl
(Uma Vida Oculta)

Não conhecia o trabalho deste ator alemão e fiquei imensamente surpreso por sua presença no drama “Uma Vida Oculta”. Trata-se de um papel forte e ele domina cada instante. Como um soldado desertor na Segunda Guerra Mundial, ele emociona e nos carrega a uma jornada de dor, solidão e medo. Grande ator, espero poder ver mais dele.

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5. Mark Ruffalo
(O Preço da Verdade – Dark Waters)

Bela transformação de Mark Ruffalo neste drama de investigação como o advogado Rob Bilott, que arrisca sua carreira para enfrentar uma das maiores corporações do mundo. Existe garra em sua performance, aquele senso de justiça e cansaço de alguém que por anos esteve preso no caso. Mais um belo personagem em sua bela carreira.

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4. Hugh Jackman
(Má Educação)

Hugh Jackman é um sujeito interessante. Parece não haver limites para sua atuação, não há algo que ele não faça. Na pele de um superintendente de uma escola que acaba se envolvendo em um perigoso caso de corrupção, o ator revela uma faceta nova, que intriga, nos envolve. A cada minuto de produção, descobrimos algo que muda nossa percepção sobre o personagem e o ator tem este poder de se transformar sob os nossos olhos.

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3. Adam Sandler
(Jóias Brutas)

2020 foi um ano estranho e o começo dele já foi um alerta de que algo de errado não estava certo. Adam Sandler nos entregou uma boa atuação. E não foi só uma transformação de alguém acostumado na comédia e foi para o drama. Como o endividado e inquietante Howard, Adam foi além, muito além do que poderíamos imaginar dele. É, definitivamente, o melhor momento de sua carreira. A comédia ainda está lá, mas ele ainda assim se renova, revela algo que em anos de trabalho não havia mostrado. É brilhante, é poderoso.

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2. Robert Pattinson
(O Farol)

Robert Pattinson tem uma das trajetórias mais interessantes no cinema recente. O jovem ator teve que se virar do avesso para provar ser capaz. Se envolveu em projetos independentes e de grande ousadia e hoje se mostra um dos atores mais promissores de sua geração. Em “O Farol” ele entrega o seu melhor até aqui. Não sou muito fã do filme, mas sua atuação eleva a produção a outro nível.

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1. Riz Ahmed
(O Som do Silêncio)

Minha atuação favorita de 2020. Riz Ahmed me levou para uma outra dimensão. Foi além de uma simples interpretação. É muito poderoso e forte o que o ator realizou em “O Som do Silêncio”, que me deixou hipnotizado, emocionado e completamente imerso ao universo proposto pela produção. Ruben é um personagem grande, que precisa atravessar uma maré de incertezas e medos. Que precisa aceitar uma realidade da qual ele não teve preparo. O baterista que perde a audição é uma bela jornada de auto aceitação, de adaptação. Riz Ahmed personifica esse estado de tensão, de ansiedade, de dor, de querer gritar e não poder se ouvir. É lindo o que ele fez no filme e nada neste ano me marcou tanto quanto o que ele fez aqui.

As 15 melhores atrizes de 2020

Muitas atrizes brilharam em 2020 e faço este post para enaltecer o belíssimo trabalho que realizaram no ano. Seleciono, então, as 15 atuações femininas que mais me chamaram a atenção ao longo desses doze meses que se passaram. Lembrando, então, que as interpretações elegíveis foram aquelas que estiveram em filmes lançados no Brasil entre janeiro e dezembro de 2020, seja por lançamento no cinema, seja em VOD ou streaming.

Espero que gostem das selecionadas e caso lembrarem de algum nome que merecia estar aqui, deixem nos comentários.

15. Riley Keough
(O Chalé)

Grace é uma jovem mulher com um passado conturbado que tenta se reconstruir em uma nova família. Quando um evento de extremo pavor a desestabiliza, conhecemos a real potência de Riley Keough como atriz. Ela navega com perfeição pelas oscilações assustadoras de sua personagem, principalmente na reta final do filme, onde prova ser uma belíssima revelação.

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14. Eva Green
(A Jornada)

Bom retorno de Eva Green à uma produção francesa, que finalmente a permite explorar uma personagem realmente boa. Como uma astronauta que precisa se despedir da filha antes de uma missão, a atriz surge contida e ainda assim entrega uma belíssima e emocionante atuação.

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13. Cynthia Erivo
(Harriet)

Cynthia é uma camaleoa! Não consigo conectar nenhum personagem que ela tenha interpretado e é sempre uma boa surpresa quando ela retorna. Na pele da ativista Harriet Tubman, a atriz entrega seu papel mais desafiador até então. É uma presença marcante, forte e emociona por sua entrega. E ainda nos presenteia com a canção “Stand Up”, porque além de atuar, canta muito bem também.

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12. Sophia Loren
(Rosa e Momo)

Que grande presente a Netflix nos deu com este bem-vindo retorno de Sophia Loren. Após um hiato de 11 anos, ela volta como uma sobrevivente do Holocausto que desenvolve uma relação de afeto com um pequeno garoto imigrante. É muito bom vê-la atuando, ainda mais quando sua personagem a permite crescer na tela.

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11. Adèle Haenel
(Retrato de Uma Jovem em Chamas)

A câmera se aproxima e assistimos por alguns minutos as tantas expressões de Héloïse diante uma ópera em um Teatro lotado. Do espanto à comoção. Das lágrimas de felicidade de estar diante de algo tão único e belo. É um momento especial no fantástico “Retrato de Uma Jovem em Chamas” e que a atriz Adèle Haenel abraça com garra e sintetiza bem o poder de sua atuação. Aliás, sua presença ao longo de todo o filme nos chama atenção e nos hipnotiza.

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10. Julia Garner
(A Assistente)

Além de entregar uma das melhores atuações do ano na TV com sua Ruth de “Ozark”, Julia Garner também brilhou no cinema. Como assistente de um magnata do entretenimento, ela observa de perto um ambiente tóxico e de assédios. A personagem é os nossos olhos naquele espaço e atriz domina a tela, revelando a tensão de estar tão perto de algo aterrorizante.

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9. Elisabeth Moss
(O Homem Invisível)

Elizabeth tem ganhado cada vez mais reconhecimento e esta sua performance só nos prova o porquê. Ela se entrega a personagem, que precisa provar sua sanidade enquanto foge de seu ex parceiro que agora é invisível. A atriz demonstra todo o desespero, agonia e fúria. Uma presença impactante!

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8. Charlize Theron
(O Escândalo)

Retratar personalidades reais é sempre um desafio porque sempre vem com altas expectativas. Charlize some ao interpretar a jornalista Megyn Kelly, a responsável por dar início a uma arriscada investigação contra o chefe assediador. Não apenas pela ótima maquiagem, a atriz renasce no papel. Sua postura, jeito de andar, se expressar. É uma transformação completa e que nos faz esquecer que existe uma atriz ali atrás.

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7. Viola Davis
(A Voz Suprema do Blues)

Viola Davis é um mostro do cinema e ela retorna em mais um grande papel em sua carreira. Ela da vida a Ma Rainey, cantora de blues, e como adaptação de uma peça, todo o texto do filme é bastante teatral. Viola brilha neste palco, apesar de não aparecer tanto o quanto merecia.

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6. Sidney Flanigan
(Nunca, Raramente, Às Vezes, Sempre)

Sidney foi uma das mais belas revelações de 2020. Ela encara um papel difícil, desafiador e surpreende por este ser apenas seu primeiro trabalho no cinema. Sua personagem, Autumm, atravessa um processo doloroso para realizar um aborto. É chocante, forte e a atriz emociona com sua naturalidade. O instante em que ela precisa responder uma série de perguntas pessoais na clínica é impactante e um dos melhores deste ano, tamanha a força e honestidade que entrega ali.

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5. Haley Bennett
(Devorar)

Haley Bennett é uma grande atriz ainda muito subestimada. Tem traçado uma carreira interessante e em “Devorar” ela revela seu momento mais potente. Ela faz aqui uma dona de casa recém casada que fica obcecada em engolir pequenos objetos. É uma personagem nova, intrigante e Haley explora com perfeição todas as suas boas camadas, tornando possível nossa empatia diante de sua insana jornada.

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4. Saoirse Ronan
(Adoráveis Mulheres)

Saoirse tem aquele dom de transformar pequenos papéis em um evento a ser admirado. Talvez na pele de qualquer outra atriz, a irmã mais velha, Jo March, de “Adoráveis Mulheres”, poderia passar despercebida. A maior e mais competente atriz de sua geração, Saoirse traz brilho, alma, carisma e preenche a tela com sua performance.

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3. Helena Zengel
(Transtorno Explosivo)

Quem poderia esperar que uma das mais impactantes atuações do ano viriam de uma criança novato no cinema. A atriz alemã Helena Zengel já até garantiu seu pezinho em Hollywood depois desta incrível interpretação. Aqui ela faz uma garota que vive em lares adotivos devido seu comportamento explosivo e seus surtos de raiva. É um grande papel e ela assume essa responsabilidade com muita entrega e garra. Irretocável!

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2. Marcélia Cartaxo
(Pacarrete)

Grande atriz brasileira, Marcélia Cartaxo é o nome que deveríamos exaltar. Se lá em 1985 ela foi nossa Macabéia de “A Hora da Estrela”, hoje ela é nossa Pacarrete, essa nordestina guerreira que sonha em se manter nos holofotes com seu número de ballet que ninguém se importa. A trajetória de sua personagem é divertida, doce e um reflexo triste sobre um país que menospreza a cultura. Marcélia personifica isso de forma grandiosa, tem carisma e um talento que enche a tela.

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1. Renée Zellweger
(Judy: Muito Além do Arco-Íris)

Quando Renée levou o Oscar de Melhor Atriz em 2020 torci o nariz, não era minha favorita, até assistir ao filme. “Judy” nem é lá uma produção tão interessante, mas a atriz merece reconhecimento pelo o que fez dela. É muito poderosa essa relação entre Judy Garland e Renée Zellweger e como as duas tiveram que enfrentar o peso da idade no mundo do entretenimento. Como ambas foram esnobadas pela mídia e mesmo assim lutaram por estar em cima de um palco. Renée é dona de um talento enorme mas parece que isso nunca faz afeito, nem mesmo seu segundo Oscar pode salvar sua carreira. A cena em que ela canta Somewhere Over The Rainbow ao fim é forte porque há muito da atriz e sua trajetória ali, suplicando por ser aceita. Ela também canta, o que prova ainda mais sua entrega e preparo para o papel. A atriz se transforma por completo e por isso acredito que seja a atuação do ano. Existe verdade e honestidade em cada diálogo, em cada olhar, em cada nota alcançada.

Os 15 melhores atores coadjuvantes do ano

Continuando com as listas de melhores atuações de 2020, retorno para revelar as minhas interpretações masculinas favoritas em papéis coadjuvantes. Foi difícil fechar em apenas 15 nomes porque tivemos diversos atores que mereciam estar aqui.

As atuações elegíveis para a lista foram aquelas que estiveram presentes em obras lançadas no Brasil de janeiro a dezembro do ano passado. Espero que gostem dos selecionados e, caso não tenham visto algum desses filmes, deixo aqui como belas dicas a serem descobertas.

15. Dan Stevens
(Festival Eurovision da Canção)

Ainda que a comédia da Netflix “Festival Eurovision da Canção” tenha seu charme devido aos protagonistas vividos por Rachel McAdams e Will Ferrell, quem brilha mesmo é Dan Stevens. Sua presença é rápida, mas boa demais para passar despercebida. Na pele do cantor russo Alexander Lemtov, Dan entrega um show de carisma e comédia. Sua performance no palco é simplesmente impagável.

14. John Lithgow
(O Escândalo)

Mesmo escondido em muita maquiagem, o ator John Lithgow dá uma belo show em “O Escândalo”. Ele literalmente desaparece como o chefão da Fox News, Roger Ailes. É um personagem difícil de digerir, que causa nojo e espanto. Ainda assim, é muito bom ver um ator veterano com tamanha coragem de se entregar dessa forma.

13. Harry Melling
(O Diabo de Cada Dia)

Harry Melling trabalhou bastante em 2020, por isso é tão surpreendente cada aparição dele ao longo do ano. São personas diferentes e ele se renova em cada uma delas. Como um fanático religioso, Harry surge assustador aqui. Sua entrega é admirável e torna grande um personagem pequeno ali na trama.

12. Bill Burr
(A Arte de Ser Adulto)

O comediante Bill Burr finalmente ganha uma boa chance no cinema. Como o pai solteiro Ray Bishop que acaba conquistando a mãe do protagonista, ele traz vida ao filme. É uma presença marcante dentro da história e um personagem que vai crescendo ali. Sua dinâmica com os atores Pete Davidson e Marisa Tomei é deliciosa.

11. Sacha Baron Cohen
(Os 7 de Chicago)

É sempre surpreendente ver até onde o ator britânico Sacha Baron Cohen é capaz de chegar. É chocante como ele se transforma de um papel para outro e por isso merece estar na lista. Sua presença no drama de tribunal “Os 7 de Chicago” é incrível, trilhando bem entre a comédia e o drama.

10. Taika Waititi
(Jojo Rabbit)

“Jojo Rabbit” é uma comédia bastante ousada e Taika Waititi merece reconhecimento por dirigir, escrever e ainda atuar (e ser incrível em todas essas funções). Aqui ele tem a difícil missão de ser uma versão infantilidade e cômica de Hitler. As chances disso dar errado eram enormes, mas que funcionam devido seu grande carisma e competência como ator.

9. Alessandro Nivola
(A Arte da Autodefesa)

Na pele de um carismático sensei que domina as artes do karate, Alessandro Nivola rouba a cena no surpreendente “A Arte da Autodefesa”. Nunca sabemos ao certo seu caráter e as coisas que ele é capaz de fazer. Por isso nos deixa tão intrigados e hipnotizados por sua presença. Diverte com o humor negro do roteiro, mas também nos deixa um tanto quanto assustados.

8. David Thewlis
(Eu Estou Pensando em Acabar com Tudo)

Assim como sua parceira de cena, Toni Collette, David Thewlis nos causa repulsa na pele do pai do protagonista. São instantes bizarros no drama de Charlie Kaufman, mas que ele domina, adentra com perfeição a este jogo de cena estranhíssimo e divertido. Envelhecendo de um instante para o outro, sua presença se torna cada vez mais esquisita e desesperadora. Ótimo poder ter um ator de seu calibri para dar vida a algo tão louco quanto isso.

7. Tim Blake Nelson
(Luta por Justiça)

Ainda que a produção e divulgação de “Luta Por Justiça” foque nas ótimas presenças de Jamie Foxx, Michael B.Jordan e Brie Larson, o longa acaba surpreendendo por outra atuação que ninguém estava esperando, a do veterano Tim Blake Nelson. É uma passagem rápida mas de grande relevância na trama. Seu sotaque, seu jeitão único de se expressar. Belíssima surpresa.

6. Bill Camp
(O Preço da Verdade – Dark Waters)

Bill Camp é aquele ator fantástico que sempre está presente nos filmes mas pouco nos damos conta. Por isso sua atuação em “Dark Waters” me chamou tanta a atenção e me fez percebê-lo em outras produções. Ele é um coadjuvante de ouro, que enriquece os bons discursos do filme e nos convence na pele de um caipira que busca por justiça.

5. Bill Murray
(On The Rocks)

Murray é figura marcante na filmografia de Sofia Coppola e sua presença em “On The Rocks” prova que esta parceria ainda tem seu charme. Na pele de um pai canastrão, o ator brilha em cena. É divertido, carismático e funciona muito bem ao lado da protagonista de Rashida Jones. Apesar da comicidade, ele traz humanidade ao personagem.

4. Jamie Foxx
(Luta por Justiça)

“Luta Pela Justiça” traz um discurso forte sobre como o sistema carcerário persegue os negros, nos revelando a dolorosa trajetória de homens que buscam por defesa mesmo quando não sou ouvidos. Jamie Foxx dá vida a Walter, que durante anos esteve preso injustamente. É cruel todo caminho percorrido por seu forte personagem e Foxx assume essa responsabilidade de dar voz a tantas histórias como esta. Sua presença é gigante e emociona.

3. Tom Hanks
(Um Lindo Dia na Vizinhança)

O apresentador infantil norte-americano Fred Rogers é o objeto de estudo de “Um Lindo Dia na Vizinhança”. É um ser intrigante e que ganha vida nas mãos de Tom Hanks. É aquele tipo de papel que não faria sentido na pele de outro ator. Acreditamos em seus discursos de bondade e em suas atitudes tão inspiradoras. Hanks sai de sua linha conforto e desenvolve na tela um personagem único.

2. Paul Raci
(O Som do Silêncio)

Por essa grande atuação acredito que ninguém esperava. O palco era de Riz Ahmed, que também está ótimo em cena, mas Paul Raci se mostra um coadjuvante a altura. Conhecedor da linguagem de sinais, é fantástico assistir as tantas formas em que o ator se expressa em cena. Há solidariedade e compaixão em seu olhar. Há sentimento em cada palavra e em cada movimento que gesticula. O momento final em que ele se mostra decepcionado com o protagonista é gigante.

1. Willem Dafoe
(O Farol)

Lista de melhores do ano sem Willem Dafoe não é a mesma. Nos últimos anos, o ator tem se envolvido em projetos bem interessantes e “O Farol” deu a chance para o ator entregar uma atuação poderosa. Mesmo com anos de carreira, ele ainda nos surpreende, ainda tem uma camada não desvendada. E esta é a grandeza do seu trabalho. O embate do ator com Robert Pattinson é poderoso.

As 15 melhores atrizes coadjuvantes de 2020

Com muita empolgação venho, aqui no blog, postar as listas com as melhores atuações de 2020. Ainda que poucas produções tenham chegado aos cinemas neste ano estranho, tivemos diversos lançamentos em VOD e plataformas de streaming e a grande verdade é que, apesar dos pesares, tivemos filmes incríveis e atuações poderosas que merecem destaque.

As atuações elegíveis para a lista foram aquelas que estiveram presentes em obras lançadas no Brasil de janeiro a dezembro do ano passado. Seleciono, então, as 15 melhores interpretações femininas em papéis coadjuvantes. Espero que gostem e se sentirem falta de algum nome que merecia estar aqui, deixem nos comentários.

15. Mia Goth
(Emma.)

Na pele da divertida Harriet na adaptação de Jane Austen, Mia Goth surpreende e encanta. Ela acaba sendo nossos olhos, adentrando ao universo da realeza, com toda sua falta de habilidade. Poderia ser um alívio cômico caricato ali no meio, mas ela é boa demais para permitir que isso aconteça. Traz originalidade para o papel e merece reconhecimento.

14. Kristen Wiig
(Mulher-Maravilha 1984)

Kristen Wiig é a melhor coisa que aconteceu em “Mulher-Maravilha 1984” e falo isso com tranquilidade. Apesar de achar o filme todo divertido (ao contrário de muitos), a escalação da atriz, que antes parecia tão estranha, me soou mais do que acertada. Kristen tem carisma e sabe como trilhar entre a comédia e o drama. É uma personagem que revela diversas facetas durante a obra e a atriz domina todas elas.

13. Bel Powley
(A Arte de Ser Adulto)

Bel Powley é uma caixa de surpresas. Apesar de ser nova no cinema, é sempre surpreendente assistir sua evolução como atriz. Nunca a tinha visto em um papel cômico e foi incrível ver o quanto ela domina o texto, traz carisma e acerta o tom de sua personagem que poderia muito bem ter caído na caricatura, mas Bel a salva. Difícil não se apaixonar por ela em cena, tamanha naturalidade.

12. Taylor Russell
(As Ondas)

Uma das ótimas revelações do ano. Taylor Russell chama a atenção porque nasce como uma simples figurante no drama “As Ondas”, como a filha mais nova de uma família destruída. É lá depois da segunda metade do filme que o roteiro lhe dá vida e é lindo como a jovem atriz agarra essa oportunidade. É muito sensível sua performance, revelando com precisão a dor e insegurança de sua bela personagem.

11. Maria Bakalova
(Borat: Fita de Cinema Seguinte)

A sequência de “Borat” foi uma surpresa em todos os aspectos possíveis. Não apenas porque lançou pouco depois de ser anunciado, mas principalmente por revelar o talento da jovem Maria Bakalova. É uma das atuações mais corajosas do ano porque ela tem que ir além da interpretação. Ela encara o desafio do improviso e de estar diante de figuras reais em situações de extremo desconforto. Maria dá vida a uma personagem divertida, que possui uma evolução admirável na tela.

10. Octavia Spencer
(Luce)

Como a professora Harriet na adaptação da peça “Luce”, Octavia revela um lado ainda mais poderoso de sua atuação. Seu embate com o ator Kelvin Harrison Jr. garante momentos de pura tensão e nos hipnotiza, justamente porque nunca sabemos ao certo o caráter de sua personagem e o que ela é capaz de fazer.

9. Thomasin McKenzie
(Jojo Rabbit)

Thomasin é uma grata revelação dos últimos anos no cinema e “Jojo Rabbit” é mais um projeto acertado no qual ela se envolve. Na pele da judia Elsa, a jovem atriz surpreende. Seja pelo sotaque, postura, pela segurança com que entrega seus poderosos diálogos. É incrível assistir um talento desse ganhando forma. Thomasin vai longe.

8. Margot Robbie
(O Escândalo)

Um papel difícil, bastante delicado e que Margot Robbie domina. Na pele de uma funcionária real da Fox News e vítima de assédio sexual, ela demonstra toda a fragilidade de ser mulher e estar em um ambiente tóxico como o relatado. É doloroso e incômodo toda a trajetória da personagem e a atriz revela o enorme potencial que tem. A cena em que ela conta, por telefone, para uma amiga o que aconteceu sintetiza o poder de sua performance.

7. Allison Janney
(Má Educação)

Ao lado do gigante Hugh Jackman, Allison brilha neste drama sobre corrupção no meio escolar. Sua personagem é bastante complexa e nos intriga. Nos faz criar uma certa afeição pelo carisma de sua presença para logo depois nos chocar com suas atitudes inescrupulosas. Bom demais vê-la em cena.

6. Marisa Tomei
(A Arte de Ser Adulto)

A atuação de Marisa Tomei na comédia “A Arte de Ser Adulto” foi uma das mais belas surpresas que tive em 2020 no cinema. Não estava contando que ali, no meio do besteirol de Judd Apatow, despertaria uma atuação tão contida, singela e honesta. Ela está tão incrível em cena que confesso que demorei alguns minutos para reconhecê-la.

5. Toni Collette
(Eu Estou Pensando em Acabar Com Tudo)

Elogiar Toni Collette é chover no molhado. Ela merece o Oscar de Melhor Atriz só por respirar. Na pele da estranhíssima mãe do protagonista (Jesse Plemons) em “Estou Pensando em Acabar com Tudo”, ela nos causa pavor, incômodo e uma dose de curiosidade. Toni sabe trilhar pela estranheza da situação que lhe é entregue, oscilando entre o humor e o desespero.

4. Olivia Cooke
(O Som do Silêncio)

Desde que surgiu na série Bates Motel, a jovem Olivia Cooke já indicava não ser uma atriz qualquer. Em “O Som do Silêncio”, ela vai do céu ao inferno em pouquíssimos minutos e surpreende pela garra e força com que enfrenta sua personagem. Uma performance segura e comovente.

3. Kathy Bates
(O Caso Richard Jewell)

Clint Eastwood traz um olhar bem naturalista ao real caso de Richard Jewell e o homem comum acusado de terrorismo. Kathy surge como a mãe do protagonista e rouba a cena. Os poucos minutos que tem na tela são soberbos porque ela traz comoção de forma honesta. Ela transmite humildade, carisma e nos faz acreditar na dor de sua personagem.

2. Scarlett Johansson
(Jojo Rabbit)

É muito especial a presença de Scarlett Johansson em “Jojo Rabbit”. A mãe revolucionária em uma Alemanha ocupada pelos Nazistas, que arrisca sua vida para salvar outra. Rosie é puro afeto e tudo o que sai dela envolve amor e proteção. Scarlett traz sensibilidade ao pouco tempo de cena que tem. Ela torna sua personagem maior do que é, deixando um certo impacto em nós. O instante em que ela imita o pai para o filho é primoroso.

1. Amanda Seyfried
(Mank)

Na pele da atriz Marion Davies vivendo na Era de Ouro de Hollywood, Amanda Seyfried desaparece. É incrível quando atrizes renascem em um papel e nos faz esquecer completamente tudo o que fizeram antes. Esse é o momento mais maduro e surpreendente de sua carreira. O filme de David Fincher é apático, o que torna sorte dele e do público se deparar com Amanda. Ela é o brilho da obra. O único elemento com vida.

As 20 melhores cenas de 2020

Como todo ano que passa, gosto de relembrar e reunir tudo o que teve de bom durante os doze meses que se passaram. É assim que chego agora com o post de “Melhores Cenas” de 2020, revelando meus momentos favoritos que tive o prazer de ver no cinema.

Selecionei os 20 instantes que mais me marcaram, seja por um diálogo, uma atuação, seja pela direção primorosa que tiveram. Lembrando que os filmes selecionáveis eram apenas aqueles lançados no Brasil de janeiro a dezembro, seja na tela grande ou VOD.

Espero que gostem das escolhas e caso lembrarem de outra cena que vale destacar, deixem nos comentários.

[CONTÉM SPOILERS NOS TEXTOS]

20. Oceano
“Soul” | Direção: Pete Docter

Na reta final de “Soul”, o protagonista consegue conquistar todos os sonhos e se vê diante de um novo dilema: “É só isso? O que mais acontece”? A cena em questão é quando a líder da banda de jazz lhe diz uma bela passagem sobre como somos tão obcecados por nossos propósitos e sobre como vamos sempre querer algo além do que já temos. Somos insaciáveis.

19. Parque de diversão
“Aves de Rapina” | Direção: Cathy Yan

“Aves de Rapina” traz uma energia contagiante dos desenhos animados através de seu ritmo e visual. A batalha final é incrivelmente bem orquestrada, divertida, colorida e sintetiza bem este poder da obra em criar algo simples e eficaz. Nossas heroínas enfrentam os vilões em um parque temático e o resultado é deslumbrante.

18. Nobody Knows I’m Here
“Ninguém Sabe Que Estou Aqui” | Direção: Gaspar Antillo

Neste momento, o roteiro nos permite, finalmente, entender o conturbado passado de nosso protagonista recluso. Em um programa de TV e com as câmeras desligadas, ele abre seu coração através de sua música, a belíssima “Nobody Knows I’m Here“. Ele se expõe e se permite viver daquilo que ele tanto negou, mesmo que por pouquíssimos minutos.

17. Dançando na Chuva
“Babenco” | Direção: Bárbara Paz

No documentário sobre o fim da vida do diretor Héctor Babenco, o próprio desenhou o que seria a última cena perfeita para este registro. A diretora e sua esposa Bárbara Paz se entrega a um belíssimo e singelo número musical, nua e na chuva. É um momento libertador e poético.

16. O resumo de Olaf
“Frozen 2” | Direção: Jennifer Lee, Chris Buck

“Frozen 2” é, sem querer fazer trocadilhos infames, uma animação fria. Embora entregue uma sequência sem graça, ao menos fomos presenteados com o instante em que Olaf, rodeado por novos personagens, decide contar toda a trajetória de Anna e Elsa, fazendo um divertidíssimo resumo de tudo o que aconteceu no primeiro filme.

15. 4 de julho
“Mulher-Maravilha 1984” | Direção: Patty Jenkins

Patty Jenkins realiza em “Mulher Maravilha 1984” um filme de herói com inúmeras pausas e respiro. Em um desses instantes, Diana (Gal Gadot) e Steve (Chris Pine) sobrevoam Londres em uma noite iluminada pelos fogos de 4 de Julho. É bonito não apenas pelo visual mas, principalmente, porque Jenkins traz um pouco de si ali e sua singela homenagem a seu pai, que foi um combatente de guerra e aviador.

14. Coca-Cola
“A Voz Suprema do Blues” | Direção: George C.Wolfe

Ma Rainey era conhecida por seu comportamento difícil nas gravações de seus discos. Na pele da irreparável Viola Davis, é um momento icônico dentro do filme quando, cansada de cantar, surta ao descobrir que não há Coca-Cola no local, interrompendo o trabalho de todos para que pudessem comprar sua bebida favorita.

13. Filtro
“Host” | Direção: Rob Savage

Mesmo com baixo orçamento, o terror “Host” não nos poupou de belas sequências. Na cena em questão, uma das garotas caminha pela casa para averiguar os sons estranhos que ouve e aponta o celular para enxergar, no entanto, sem querer, ativa um filtro engraçadinho, que para o nosso desespero, reconhece uma face assustadora em sua sala.

12. O legado
“Queen & Slim” | Direção: Melina Matsoukas

Uma das cenas mais impactantes do ano. No maior clima Bonnie e Clyde, o casal protagonista (Daniel Kaluuya e Jodie Turner-Smith) chega ao fim da linha depois de uma longa fuga. Eles trocam belas palavras enquanto são cercados por policiais que, violentamente, atiram e os dois morrem ensanguentados no chão de uma pista de avião.

11. A dança da vida
“Estou Pensando em Acabar com Tudo” | Direção: Charlie Kaufman

A viagem de Charlie Kaufman alcança o ápice neste deslumbrante e inventivo instante, que mais parece um sonho dentro do filme. Antes de compreendermos a verdadeira identidade de nosso protagonista, ele assiste o show da sua própria vida através de um número musical.

10. Restaurante
“O Homem Invisível” | Direção: Leigh Whannell

Quando todos passam a duvidar de sua sanidade, Cecília (Elizabeth Moss) convida sua irmã para jantar em um restaurante. Buscando sua última chance de ser compreendida, ela é surpreendida por uma faca “voadora”, que mata sua irmã em sua frente. Obra de seu perseguidor invisível, que logo encaixa a faca em suas mãos, a fazendo parecer criminosa.

9. Rodovia
“Tenet” | Direção: Christopher Nolan

Difícil escolher o melhor momento de “Tenet”. Mesmo que eu não goste tanto do filme, as sequências de ação, comandadas por Christopher Nolan, são soberbas. Em uma de suas missões, o Protagonista (John David Washington) se vê preso em uma perseguição em plena rodovia. Um instante eletrizante.

8. Tour pela cidade
“A Vastidão da Noite” | Direção: Andrew Patterson

Belíssima produção de baixo orçamento, a ficção científica do estreante Andrew Patterson encanta pelo hipnotizante plano sequência, quando sua câmera caminha por toda a cidade onde a trama ocorre, passeando pelas ruas escuras, os bosques, entrando e saindo em uma escola onde acontece um jogo de esporte, até voltar ao seu ponto de origem. É lindo de ver.

7. Com que frequência?
“Nunca, Raramente, Às Vezes, Sempre” | Direção: Eliza Hittman

Depois de viajar para Nova York ao lado de sua prima para realizar um aborto, a jovem Autumm (Sidney Flanigan) é submetida a uma série de perguntas bem pessoais antes de realizar o procedimento. Nesse momento conhecemos um pouco mais sobre este universo recluso de dor e assédio que a personagem havia enfrentado em sua vida. É uma sequência poderosa, dilacerante.

6. Confronto reverso
“Tenet” | Direção: Christopher Nolan

A produção de “Tenet” choca pela forma como exploraram visualmente este “universo reverso”. Na batalha final, soldados entram em combate em um terreno vasto e precisam lidar com a nova forma de tempo que ali é aplicada. Estruturas são reconstruídas e explosões são engolidas para dentro da terra. O resultado é empolgante de se assistir. A boa edição e trilha enaltecem as boas escolhas de Nolan.

5. Corrida contra o tempo
“1917” | Direção: Sam Mendes

Outro filme difícil de escolher um só momento é “1917”. Seleciono este que, para mim, é impecável e revela o poder da direção do veterano Sam Mendes. Em seu hipnotizante plano sequência, acompanhamos o soldado escapando da trincheira lotada em pleno combate para chegar a tempo de dar suas informações valiosas. Ele precisa desviar de explosões, tiros e soldados que correm pela sobrevivência. É chocante a qualidade desta cena, assustando pelo realismo que alcança.

4. Em chamas
“Retrato de Uma Jovem em Chamas” | Direção: Céline Sciamma

A cena que dá nome ao filme e ao quadro de uma bela história de amor. Quando Héloïse (Adèle Haenel) e Marianne (Noémie Merlant) visitam uma comunidade afastada de mulheres, elas cantam em volta de uma fogueira na escuridão da noite. Héloïse caminha perto do fogo e a pintora observa de longe o vestido de sua amada em chamas. Um instante simbólico e de uma beleza hipnotizante.

3. O som de dentro
“O Som do Silêncio” | Direção: Darius Marder

Existe uma beleza imensurável nesta cena que faltam palavras para descrever. É o momento final de uma jornada repleta de perdas, angústia e, principalmente, de recomeços, adaptação. É o fim e começo para Ruben (Riz Ahmed) que depois de realizar a cirurgia para recuperar sua audição, nota que os novos sons que assimila não são mais os mesmos. Ele finalmente se liberta de sua inquietação, senta, observa a cidade e o silêncio que a nova vida pode ter.

2. Cidade em ruínas
“1917” | Direção: Sam Mendes

Algumas vezes o cinema alcança seu estado mais primoroso. Aquele momento em que você assiste e tem a certeza de aquilo é arte e foi construído na mais perfeita condição. Seja pelo belo trabalho de Sam Mendes, Roger Deakins, Thomas Newman e toda a equipe de som. O instante em que o soldado caminha por uma cidade em ruínas é impecável. Fugindo dos sons que o assombram, avista ainda sinalizadores que explodem na noite. “1917” é uma aula de cinema e esta cena representa bem esta ideia.

1. A dança da liberdade
“Jojo Rabbit” | Direção: Taika Waititi

“Qual a primeira coisa que você fará quando for livre”? Pergunta Jojo (Roman Griffin Davis) à sua nova amiga judia Elsa (Thomasin Mckenzie) durante a ocupação nazista na Alemanha. Quando chega o fim da ditadura, ela caminha pela rua, finalmente, livre. Os dois amigos se olham e realizam aquele antigo desejo: dançar! Ao som de “Heroes” de David Bowie, temos aqui a melhor cena de 2020. Comovente, fofa e boa demais de se ver.

Crítica: Soul

O propósito da vida

Sem dúvidas, a melhor animação da Pixar desde “Divertida Mente”. É um momento muito especial para o estúdio, que entrega aqui o que há de melhor em suas criações.

O filme nos leva a uma jornada emocional quando seu protagonista se depara com o mundo das almas. Na tentativa desesperada de fugir da morte e realizar seu grande sonho como músico de jazz, se passa por instrutor no local, precisando encontrar um propósito de vida para 22, uma alma em treinamento desmotivada pela vida dos humanos.

Este encontro entre os dois personagens nos permite grandes reflexões. É interessante essa busca por um propósito, a vocação como item necessário para se ter uma vida. Somos naturalmente tão obcecados por isso. “Soul” é um lembrete sensível de que nossa existência vai além desta conquista, de que nossos sonhos é que nos impulsiona, mas não é o todo. O que nos faz querer estar vivos envolve tanta coisa, pequenos detalhes muitas vezes não perceptíveis na nossa correria de buscar um sentido. Somos aqueles que querem o oceano, quando a água já nos rodeia.

O filme é, ainda, visualmente belíssimo. Todas as cenas causam impacto, tamanha perfeição e deslumbre que alcança. É inventivo, original e o mais importante, feito de coração. Um estudo complexo e profundo sobre os desejos humanos, valendo uma revisita e podendo ter diversas interpretações. As crianças podem se divertir, mas recomendo fortemente aos adultos.

NOTA: 9

  • País de origem: EUA
    Ano: 2020

    Disponível: Disney Plus
    Duração: 100 minutos
    Diretor: Pete Docter
    Roteiro: Pete Docter, Kemp Powers

Crítica: Belle Époque

A beleza dos inícios

“Belle Époque” é o filme que eu precisava e nem sabia. Comédia francesa leve e incrivelmente apaixonante, que marca o retorno de Nicolas Bedos como roteirista e diretor depois do excelente “Monsieur e Madame Adelman”.

A trama tem um toque mágico e facilmente nos leva para uma viagem encantadora e de boas reflexões. Somos apresentados a uma empresa que, através de riquíssimos cenários e uma reconstituição histórica, permite que seus clientes vivam a época específica que desejarem. É assim que conhecemos Victor, um senhor desiludido, que escolhe reviver o ano de 74, no dia exato em que conheceu o grande amor de sua vida. Este encontro do protagonista com o passado é emocionante, nostálgico e nos faz abraçar suas lembranças como se fossem nossas. Há algo de Show de Truman e essa reconstrução da vida, mas neste caso o personagem tem total consciência do que acontece e opta por viver aquele instante que o fez tão completo, tão feliz.

A produção é deslumbrante e causa fascínio ao transitar entre passado e presente, entre realidade e ficção. O roteiro é brilhante e acerta ao envolver tantos universos ao mesmo tempo.

“Belle Époque” é poesia aos saudosistas. Se o cinema é a arte que nos permite sonhar acordados, Nicolas Bedos nos presenteia, mais uma vez, com um universo mágico, tão belo quanto um sonho que não queremos despertar. E nesta reencenação do começo de uma história de amor – que no futuro perdeu-se o encanto – a obra nos faz pensar sobre como ficamos presos ao início quando se trata de uma relação. Os inícios são sempre os melhores e criamos a ilusão, presos em uma falsa expectativa, de que a perfeição daqueles instantes se prolongarão. Precisamos nos desprender disso, encontrar a beleza no hoje, com todas as suas falhas, caso contrário, ficaríamos trancados nas nossas lembranças, buscando no outro aquilo que um dia foi. A gente muda e a nossa forma de amar também.

NOTA: 9

  • País de origem: França
    Ano: 2019
    Título Original: La Belle Epoque
    Duração: 115 minutos
    Diretor: Nicolas Bedos
    Roteiro: Nicolas Bedos
    Elenco: Daniel Auteuil, Doria Tillier, Guillaume Canet, Fanny Ardant

Crítica: Tenet

o Espetáculo apático de nolan

O mais recente trabalho de Christopher Nolan veio com um peso gigantesco nas costas. Quase como aquele produto que salvaria os cinemas durante a pandemia. Foi um lançamento arriscado e claramente não alcançou os objetivos que pretendia, muito menos causou o impacto que almejava. “Tenet” é um filme difícil e este, definitivamente, não era seu momento.

Nolan é um dos diretores mais ambiciosos de nosso tempo. Seu cinema é grandioso, alcançando um patamar difícil de se manter. “Tenet” é um sinal nítido de seu desgaste, de que ele precisa recuar, se afastar um pouco de sua megalomania. Ele ainda entrega um produto original, novo e interessante, no entanto, falta emoção, aquilo que já em “Dunkirk” demonstrava ter perdido. Ter um bom conceito não é suficiente se você não consegue colocar seu público para dentro da ação. Ele nos priva da experiência, o que torna sua criação sem muitos propósitos.

Nenhum personagem é devidamente apresentado e dificilmente nos importamos com qualquer coisa que eles enfrentam. O protagonista é vazio, o que nos afasta ainda mais de sua missão. Ele é uma peça de um plano maior que nunca temos acesso, seguindo regras que nem mesmo ele compreende. Não tem vida própria e nunca é colocado a fazer escolhas ou a encarar um dilema. John David Washington nitidamente não entendeu o que fazia ali, entregando uma performance desconfortavelmente fraca. Sem carisma algum, sua jornada é guiada por diálogos expositivos e sem emoção. Assim como ele e tudo o que o cerca, não tem alma.

Nolan tem uma direção pomposa como sempre, entregando aqui algumas das cenas mais belas deste ano. Todo o conceito do “universo reverso” é visualmente muito bem explorado, chocando pelas saídas que encontra. O uso controlado de efeitos visuais e sua ousadia de apostar naquilo que é prático, tornam suas sequências de ação absurdamente incríveis. Apesar de ser inventivo, a intenção (e soberba) de Nolan de confundir seu público é maior do que a intenção de nos conectar ao que cria. Sua narrativa é ambiciosa, mas nada disso nos atinge quando o que desenvolve é tão confuso e tão apático. Você passa grande parte sem entender e quando entende, simplesmente não se importa.

NOTA: 6

  • País de origem: EUA
    Ano: 2020
    Duração: 150 minutos
    Diretor: Christopher Nolan
    Roteiro: Christopher Nolan
    Elenco: John David Washington, Kenneth Branagh, Elizabeth Debicki, Robert Pattinson, Michael Caine, Aaron Taylor-Johnson