Paul Thomas Anderson foi responsável por realizar algumas obras-primas do cinema como “Magnólia” e “Sangue Negro” e, desde muito tempo, tornou-se um nome digno de atenção. Com este seu novo filme, o cineasta retorna ao ambiente que cresceu, a Los Angeles da década de 70, para celebrar a liberdade da juventude, enquanto passeia pelos bastidores do entretenimento, algo que rapidamente nos remete a um de seus melhores trabalhos: “Boogie Nights”. O humor ainda se mantém bastante presente, assim como capacidade de inserir diversos personagens em uma narrativa insana. Ainda que exista um certo brilhantismo em sua condução, esse seu resgate de outra época traz consigo uma visão de mundo que deveria ter ficado no passado mesmo.
A obra narra o encontro do jovem Gary Valentine, interpretado por Cooper Hoffman (filho do saudoso Philip Seymour Hoffman) com Alana, interpretada pela cantora Alana Haim (da banda Haim). Ele, que tem um forte dom para o empreendedorismo, decide apostar em uma série de negócios depois de perceber que sua carreira como ator fracassou. Alana é uma espécie de “parceira do crime”, que passa a auxiliá-lo em uma fase do qual não tem muitos planos para si. Um adolescente que quer ser visto como adulto e uma mulher adulta que não se encontra. O homem aqui é muito seguro, mesmo que esse tenha apenas 15 anos de idade (e o roteiro omita de nós como um garoto de sua idade tem tantos recursos para se dar bem na vida) e a mulher nunca parece evoluir, sempre perdida, confusa, presa nas escolhas de seu companheiro. Alana, tanto a atriz como a personagem, tem uma autenticidade que inunda a tela. Merecia voar, mas o texto é antiquado demais para isso. É assim que não consigo enxergar essa trama de “amadurecimento” que muitos apontam e vejo apenas um roteiro reforçando um pensamento machista sobre relacionamentos e como a mulher é vista dentro de um.
Paul Thomas Anderson revisita o passado mas esquece que nem tudo que ficou nos anos que passaram precisa ser trazido de volta. A nostalgia é linda sim, mas a sociedade retrógrada não e é uma pena que ele demonstre ter tanto apreço a isso. Em nenhum momento, o roteirista parece ter vergonha de seu humor datado, não evitando revelar um dos poucos personagens homossexuais de forma caricata, além de suas piadas xenofóbicas (vindas de um personagem que se retirado não faria falta) ou de naturalizar sua protagonista sendo assediada a todo tempo. O saudosismo é belo, mas o cineasta peca quando usa disso como desculpa para perpetuar comportamentos tão ultrapassados. Nada disso é engraçado e é triste que tenha sido um dia.
Teria sido incrível, ainda, se o filme focasse na história do casal imensamente carismático. Alana Haim e Cooper Hoffman são ótimos e trazem naturalidade e alma aqui, apesar do desconforto causado pela diferença de idade. Faltou o roteiro entender que o universo além deles não é tão interessante assim. Nunca é sobre eles e em uma sequência aleatória de eventos, a obra se perde e nos leva para cantos do qual pouco nos importamos. Seja pelos bastidores do mundo do entretenimento, das vendas ou da política, o texto nunca se encontra e cansa. “Licorice Pizza” até tem alguns momentos divertidos como os do “caminhão”, mas nada que acrescente na trajetória dos personagens ou que os leve para alguma outra direção. É assim que suas tantas “participações especiais” se tornam puro excesso e capricho do diretor. Que chatice toda a passagem de Sean Penn e Tom Waits. Serviu de alguma coisa tudo aquilo? É um trabalho repleto de referências, trazendo em cena figuras reais de Los Angeles mas que, infelizmente, nada agregam à narrativa.
Claro que apesar dos tantos pesares, a boa marca de Paul Thomas Anderson ainda está ali. Ele continua um grande diretor, trazendo cenas visualmente poderosas. Toda essa viagem no tempo é muito bem conduzida, seja pelos figurinos, cenários e principalmente pela potente trilha musical que traz nomes como Nina Simone, Paul McCartney e David Bowie. “Licorice Pizza” diverte mas é muito abaixo do que eu esperava vindo do diretor. Suas qualidades técnicas continuam impecáveis, mas é muito incômodo essa visão quadrada de mundo que ele tenta naturalizar com seu humor ultrapassado, mas que ele prefere vender como “nostalgia”.
NOTA: 6,0
País de origem: EUA Ano: 2021 Duração: 133 minutos Diretor: Paul Thomas Anderson Roteiro: Paul Thomas Anderson Elenco: Alana Haim, Cooper Hoofman, Ben Safdie, Bradley Cooper, Sean Penn
2021 acabou (já faz um tempinho) e como de costume aqui no blog, venho apresentar meus filmes favoritos do ano.
A pandemia ainda segue e desde 2020 estamos encontrando novas formas de nos conectarmos ao cinema. Grande parte desses filmes não chegaram à tela grande e o streaming se mostrou uma alternativa ainda muito relevante no nosso dia a dia, assim como o serviço de video on demand (VOD). Isso, por outro lado, acabou fazendo com que algumas obras passassem completamente despercebidas pelo público. Venho, então, de certa forma, com o intuito de destacar algumas produções que merecem mais atenção.
Foi um ano que consegui assistir muita coisa e espero ter feito uma seleção justa. Lembrando que seleciono aqui apenas os filmes lançados entre janeiro e dezembro de 2021 aqui no Brasil. Espero que gostem dos selecionados e caso não tenham visto algum, já deixo aqui como dicas a serem achadas também.
Menções honrosas: Denis Villeneuve teve a ousadia de dar vida ao complexo universo de “Duna” e entregou um filme majestoso. Experimento musical de Leos Carax, “Annette” foge de qualquer obviedade do gênero. “Não Olhe Para Cima” conseguiu reunir um elenco estelar em uma sátira brilhante de Adam McKay. Fazer boa comédia é para poucos e por isso “Duas Tias Loucas de Férias” merece destaque.
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25. Em um Bairro de Nova York de Jon M. Chu | EUA
“Em Um Bairro de Nova York” revitaliza com êxito o musical na tela grande. Fazia tempo em que não víamos um filme do gênero desta grandiosidade, que mais parece um milagre de como o diretor Jon M.Chu conseguiu encaixar tudo em uma única produção. É aquela obra que explode, que grita e nos faz querer sair dançando por aí. O hip-hop, em uma interessante mescla com salsa e bolero, atinge instantes de glória. Mais do que falar sobre sonhos, a música aqui vem como um manifesto político (e poético) contra essa marginalização de comunidades imigrantes nos Estados Unidos. Um filme que tem uma energia inesgotável, que vibra, que pulsa em cada pequeno detalhe.
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24. Judas e o Messias Negro de Shaka King | EUA
Com uma trama que se inicia lá no final da década de 60, o longa traz grandes reflexões sobre desigualdade social, racismo e sobre a corajosa luta dos negros ao longo dos anos. “Judas e o Messias Negro” traz uma estrutura já comum no cinema, a do infiltrado que se fascina por seu alvo. Ainda assim, o roteiro empolga e costura um suspense hipnotizante, principalmente pelas ótimas atuações do elenco e pela complexidade de sentimentos entregues ali. Uma história triste, revoltante e que causa um grande impacto em nós.
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23. A Filha Perdida de Maggie Gyllenhaal | EUA
Estreia na direção da atriz Maggie Gyllenhaal, “A Filha Perdida” é uma adaptação do elogiado livro de Elena Ferrante. Lançado pela Netflix, o texto do filme é potente, foge da obviedade e ecoa em nossa mente, justamente porque ficamos remoendo tudo aquilo que não é claramente exposto. A obra acerta ao construir personagens complexas e em nenhum momento busca justificar suas ações ou julgar qualquer movimento questionável. Vem com coragem para discutir o peso da maternidade e esses sentimentos tão velados pela sociedade. As atrizes estão incríveis e o roteiro cria o palco para todas elas brilharem.
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22. O Esquadrão Suicida de James Gun | EUA
Uma sequência de “Esquadrão Suicida” parecia o caminho mais tolo a ser seguido. É então que o projeto cai nas mãos certas e James Gunn reinicia com vigor a franquia, entregando um produto autêntico e extremamente eficiente. Não é apenas muito prazeroso de assistir como também comprova a esperteza de seu criador. Traz estilo sim, mas o grande acerto aqui se encontra no texto, que sabe dosar o humor, a dramaticidade e, principalmente, sabe como valorizar seus bons personagens. Encontramos aqui uma obra revigorante e feita de muito coração. A mais bela surpresa do ano e uma aula necessária de como conduzir um filme de super-herói.
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21. 007 – Sem Tempo para Morrer de Cary Fukunaga | Reino Unido
Depois de quinze anos na pele de James Bond, Daniel Craig se despede neste filme que encerra com grande êxito os capítulos comandados pelo ator. Temos aqui uma obra que não descansa, que está sempre seguindo uma nova direção e jamais perdendo a empolgação ou nosso interesse. A relação entre todos os personagens é sempre muito bem conduzida pelo roteiro, que sabe dosar humor, seriedade e sentimentalismo. Uma bela homenagem ao querido agente secreto, que respeita sua trajetória e, principalmente, respeita o público que esteve ao seu lado nesses últimos anos.
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20. Amor e Monstros de Michael Matthews | EUA
Como é prazeroso encontrar “Amor e Monstros” em pleno 2021. Sua pureza chega a ser nostálgica, estampando um sorriso tonto em meu rosto durante seus minutos. Roteiro esperto, personagens carismáticos e belas mensagens. O filme é, basicamente, sobre um jovem (Dylan O’Brien) que, em um mundo pós-apocalíptico dominado por monstros, decide traçar uma perigosa jornada para encontrar a namorada. Uma bela aventura à moda antiga e muito maior do que parece ser ou do que pretende ser. Um produto raro e um tanto quanto especial.
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19. Luca de Enrico Casarosa | EUA
Os filmes da Pixar possuem um certo poder. Mesmo quando assumem a simplicidade, conseguem extrair algo grande dali e transbordam. Com “Luca” não é diferente. O protagonista é uma criatura marinha que consegue se passar por humano quando sai do mar e, assim, vai viver como um garoto comum, se camuflando na multidão e apagando sua própria identidade. O poder desta nova animação é usar de uma ideia tão simples para construir uma metáfora brilhante sobre homoafetividade. É uma trama sobre aceitação, respeito e entender que tudo bem ser diferente dos outros. É uma mensagem muito necessária e que pode trazer um impacto muito positivo para as crianças, além de dialogar com muitos adultos que enfrentaram essas tantas lutas na infância.
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18. Loucos por Justiça de Anders Thomas Jensen | Dinamarca
Uma grata surpresa de 2021, “Loucos por Justiça” vai muito além da história de luto e vingança do qual tão bem já conhecemos. É uma obra bem amarrada, que se mostra, aos poucos, bastante sensível. A grande graça aqui é acompanhar a relação de um grupo de homens comuns buscando por justiça. O roteiro é brilhante, esperto e navega bem por diversos gêneros. Ao fim, emociona sutilmente ao falar sobre esses laços de amizade e como eles revelam a imprevisibilidade milagrosa da vida.
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17. Mais Que Especiais de Olivier Nakache, Éric Toledano | França
Inspirado em uma história real, o filme nos revela com sensibilidade a história real de dois homens que criaram duas organizações sem fins lucrativos para abrigar e dar assistência a pessoas com transtornos autistas severos. Interessante como a obra usa de uma narrativa de investigação para decifrar um ato de bondade, de altruísmo. As batalhas diárias vividas pelos protagonistas são mostradas em tom documental e comovem pela honestidade, construindo uma teia de afeto e de transformações milagrosas. “Mais Que Especiais”, ao fim, soa como uma bela celebração à vida, a apostar no próximo, a lutar pela inclusão do outro. Emociona porque fala com verdade, porque tem coração presente em cada instante.
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16. Raya e o Último Dragão de Carlos López Estrada, Don Hall | EUA
Mais do que uma experiência agradável e empolgante, a animação da Disney traz reflexões necessárias. A trama coloca uma jovem guerreira em uma aventura para salvar sua comunidade e encanta pelo carisma dos personagens e pelo texto que está sempre trazendo elementos novos para a narrativa. “Raya e o Último Dragão” vem para nos lembrar sobre o quanto perdemos quando desistimos do mundo, quando não depositamos fé no próximo. Um voto de confiança é necessário porque ele traz poder, ele transforma e nos permite evoluir.
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15. Deserto Particular de Aly Muritiba | Brasil
O grande filme nacional do ano, “Deserto Particular” entrega uma delicada história de amor no tempo dos desafetos. A trama envolve um policial que atravessa o país para encontrar uma mulher que só conhecia virtualmente. Esse encontro cara a cara desencadeia uma série de frustrações, medos e revela uma imensa necessidade do contato, de toque. Uma obra poética, sensível e que diz muito em seu silêncio. Emociona porque cria identificação, porque é cru e real. Porque é extremamente humano.
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14. Palmer de Fisher Stevens | EUA
A obra se mostra bastante necessária ao nosso tempo ao falar de um tema um tanto quanto tabu ainda hoje: a homossexualidade na infância. O filme narra o interessante encontro entre um ex-presidiário (Justin Timberlake) e um pequeno garoto rejeitado por ser quem é. Belo a forma como o roteiro vai construindo essa relação, emocionando de forma honesta e arrebatadora. Não vem com discursos prontos sobre redenção, segundas chances ou sobre ser quem você deseja ser. As situações são apresentadas e se desenvolvem de forma natural, sem parecer pedante ou didáticas. Comove porque não clama por isso e porque é respeitoso o suficiente para tratar de temas delicados da maneira como precisávamos ouvir. “Palmer” é, acima de tudo, um filme gentil, terno e acolhedor.
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13. Bela Vingança de Emerald Fennell | EUA
Uma obra que causa um extremo desconforto e que não é de fácil digestão. Carey Mulligan está incrível em cena e aqui ela dá vida à Cassandra, uma mulher misteriosa que frequenta bares à noite e se finge de bêbada para atacar homens assediadores que exploram a vulnerabilidade da mulher nessas condições. O roteiro é inteligente e sai constantemente do lugar comum ao falar sobre vingança e reformula por completo filmes que já abordaram o mesmo tema. Ao mesmo tempo em que é acidamente sedutor e divertido, “Promising Young Woman” entrega um material doloroso, cruel e impactante.
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12. O Último Duelo de Ridley Scott | Reino Unido
Com direção de Ridley Scott, a obra investiga o último julgamento travado por um duelo mortal na França. Apesar de ser um filme medieval, a trama é bastante atual ao falar sobre uma mulher vai contra toda a sociedade quando ela decide expor um caso abuso sexual. O filme se divide em três capítulos e retoma os mesmos eventos para revelar as diferentes perspectivas dos três personagens centrais. O texto é bastante crítico ao apontar que, ao fim, mesmo quando é a palavra de uma mulher que está em jogo, tudo é sobre a honra e glória dos homens, sobre a postura deles diante dos outros. E isso dói de assistir.
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11. First Cow de Kelly Reichardt | EUA
Que experiência boa é ver “First Cow”. A diretora Kelly Reichardt entrega um produto especial e digno de apreciação. Ela narra com bastante carinho uma história de amizade entre dois homens em uma era de descobertas nos Estados Unidos de 1820. Sem pretensão, a trama estampa um sorriso em nosso rosto e encanta pela trajetória desses personagens. “First Cow” é um conto tocante sobre pessoas tentando vencer na vida. É simples, contemplativo, envolvente e cativante.
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10. Tick, Tick… Boom! de Lin-Manuel Miranda | EUA
Com “tick, tick…BOOM!”, Lin-Manuel Miranda faz sua declaração de amor aos musicais, enquanto homenageia seu grande ídolo, Jonathan Larson, a mente brilhante por trás de “Rent”. É uma obra especial e, ao mesmo tempo, dolorosa, porque Larson é a personificação dos sonhos, mas também da efemeridade da vida. Como é fácil ter 30 anos e se ver ali na tela. Mais do que os dramas de um artista frustrado, o longa é um retrato poderoso dessa geração ansiosa. Que teme não ter o tempo necessário, teme não conquistar quando todos ao redor estão desfrutando do sucesso. Andrew Garfield está incrível e rapidamente nos faz abraçar esses seus anseios e nos emociona.
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9. No Ritmo do Coração de Sian Heder | Canadá
O francês “A Família Bélier” é ótimo sim, mas não deixa de ser surpreendente o fato desse remake ter dado tão certo. O longa conquista pela sensibilidade ao narrar a história de uma jovem (Emilia Jones) que fica dividida entre viver o grande sonho de sua vida e cuidar da família, onde todos são surdos. É forte esse dilema enfrentado pela protagonista porque nunca depende de decisões fáceis. Seguir seu sonho é quase como abandonar, rejeitar seu ninho. O roteiro é belíssimo e avança por essas nuances com delicadeza e sem frear essa capacidade de nos fazer chorar. “O Ritmo do Coração” é lindo e atinge nosso coração com força.
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8. Cruella de Craig Gillespie | EUA
“Cruella” é um acontecimento. Alcança um nível tão alto de qualidade que torna todos os outros live-actions da Disney menos interessantes. É tudo o que os anteriores tentaram mas não conseguiram ser. Esse tem vida própria e não se contenta em ser apenas um favor confortável aos fãs. O filme tem como intuito mostrar os eventos antes daqueles que conhecemos em “101 Dálmatas” e a peculiar ascensão de sua adorável vilã. O filme, que tem excelente ritmo, é uma experiência revigorante de vingança, moda e punk. “Cruella” é inventivo, tem personalidade e uma energia que vibra. Um espetáculo a ser apreciado.
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7. Nove Dias de Edson Oda | EUA
Aquele tipo de filme com o poder de nos acolher e nos abraçar. A obra nos leva para uma realidade mística, onde um homem (Winston Duke) precisa entrevistar algumas almas durante nove dias para decidir qual delas é digna de viver. Sua trama nos faz pensar muito em nossa existência aqui na Terra e sobre o quanto somos peculiares a nossa forma. “Nove Dias” encanta pelas situações que narra e pela sensibilidade de falar sobre a vida. Nos toca porque fala diretamente com nosso coração e nos relembra o milagre que é estar aqui.
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6. Ataque dos Cães de Jane Campion | Reino Unido, Austrália, Nova Zelândia
Com “Ataque dos Cães”, a renomada Jane Campion vem para contestar o faroeste e dar voz a sentimentos não explorados dentro do gênero em uma obra contemplativa e silenciosa. O filme nos mostra o embate entre um cowboy amargurado (Benedict Cumberbatch) e a nova família que seu irmão tenta construir. Quando as ações dos personagens nunca são claras, o longa se transforma em um suspense enigmático e estranhamente convidativo. As emoções são expressadas em pequenas ações, em detalhes e olhares. É assim que a obra se torna quase que uma experiência sensorial, porque nada vem de forma expositiva, mas ainda assim nos golpeia com força.
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5. Quo Vadis, Aida? de Jasmila Žbanic | Bósnia e Herzegovina
“Quo Vadis, Aida?” é um drama que mexe com os nervos do público, sendo difícil sair ileso por tudo o que nos apresenta. A trama acontece nos anos 90, quando o exército Sérvio invade as fronteiras da Bósnia e nossa corajosa protagonista, dentro de um campo de refugiados, se desdobra para tentar proteger sua família. Temos aqui um filme devastador, dilacerante e que nos faz sentir a impotência diante de um genocídio. É sufocante, tenso e nos deixa sem chão ao fim. Como cinema, um exercício narrativo primoroso, repleto de sensações e que facilmente nos causa impacto.
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4. Val de Ting Poo, Leo Scott | EUA
“Val” me acertou em cheio. Me fez sentir algo que nenhuma outra obra do ano me fez sentir. Com uma dor profunda no peito, terminei de vê-lo sem estruturas. O documentário nasce para ser uma cinebiografia do ator Val Kilmer, mas vai muito além daquela trajetória que já conhecemos de fama, ascensão e fracasso. Impressiona pelo imenso acervo e como registro de uma história, nos permite mergulhar na intimidade do ator, nas suas mais dolorosas lembranças. É o registro do tempo, do envelhecimento, das perdas. Do ídolo rejeitado. A obra distorce essa visão que temos dele e emociona ao falar sobre o homem que viveu por sua paixão pelo cinema, sobre o homem que viveu uma ilusão, que respira ainda hoje por seus sonhos.
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3. Druk – Mais uma Rodada de Thomas Vinterberg | Dinamarca
Quatro amigos e professores, vivendo pela inércia da rotina, decidem provar uma tese de que, ao ingerirem uma quantidade específica de álcool todos os dias, se tornariam mais confiantes em suas ações. São homens de meia idade buscando esse renascimento, se reconectando com a juventude que deixaram para trás. O cineasta Thomas Vinterberg cria aqui uma obra ousada, que caminha por rumos delicados. Ele sabe como conduzir esse discurso sem cair em um campo perigoso e irresponsável, entregando um produto elegante, divertido e sutilmente comovente. Vinterberg faz um filme festivo quando teve uma grande perda em sua vida pessoal. “Druk” é seu grito de dor, sua força, sua razão de ainda estar em pé.
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2. Nomadland de Chloé Zhao | EUA
Existe uma linha tênue que separa o documental e a ficção no cinema de Chloé Zhao. Em “Nomadland”, ela faz um registo bastante íntimo sobre a vida nômade através do singelo olhar de Fern, brilhantemente interpretada por Frances McDormand, que após enfrentar um colapso econômico em sua cidade, traça uma jornada sem destino pelos Estados Unidos. Ela é a soma de muitas conversas, encontros e ciclos que nunca se fecham. A diretora realiza um filme único e especial, que nos toca, nos fazendo viver, durante seus belos minutos, essa vida que não é nossa. Aqui tudo é história, tudo é sentimento e tudo é real. “Nomadland” é imenso.
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1. Meu Pai de Florian Zeller | EUA, França, Reino Unido
Tenho uma relação muito pessoal com “Meu Pai”, porque parte dos dramas narrados aqui eu vivo dentro de casa. Por isso é um filme que me atingiu com muita força, porque aqueles tantos sentimentos fazem sentido para mim. A obra nos coloca para dentro de um apartamento, onde vemos de perto a difícil relação entre uma filha (Olivia Colman) e seu pai (Anthony Hopkins), que enfrenta o doloroso processo de perda de memória. O texto é honesto e nos conforta ao falar, com extrema precisão, sobre o Alzheimer. Me senti acolhido, compreendido talvez. É brilhante como o roteiro encontra para ilustrar essa confusão do pai. Nos coloca dentro de sua mente e nos faz duvidar junto com ele, sentindo essa mágoa por não ter mais controle de tudo o que muda, o que se altera, o que se apaga. “Meu Pai” nos choca porque nos lembra deste processo inevitável que é envelhecer e como isso, às vezes, pode ser cruel e solitário.
Com mais um ano que se encerra, venho aqui no blog fazer aquela retrospectiva básica de tudo o que houve melhor no cinema. É assim que venho revelar as minhas cenas favoritas de 2021.
A ideia desse post é destacar 20 instantes que mais me marcaram, seja por um diálogo, uma atuação, seja pela direção primorosa que tiveram. Lembrando que os filmes elegíveis para a lista eram apenas aqueles lançados entre janeiro e dezembro do ano passado, aqui no Brasil, no cinema, streaming ou VOD.
Espero que gostem das selecionadas e caso lembrarem de outra cena que merecia estar aqui, deixem nos comentários.
[CONTÉM SPOILERS NOS TEXTOS]
20. Dança no túmulo “Verão de 85” | direção: François Ozon
A história de amor de François Ozon tem vários momentos românticos, mas segue uma narrativa bem trágica. Depois da morte de sua grande paixão, o jovem Alexis, quase como se libertando do luto e desse peso que carrega, dança em sua homenagem em cima de seu túmulo. Ao som de “Sailing” de Rod Stewart, a cena é um lindo ode aos anos 80 e uma bela despedida desse casal que tinha tudo para dar certo.
O filme “Coquetel Explosivo” tem várias cenas de ação caprichadas, mas a melhor delas, felizmente, ficou para o final. O combate entre as “bibliotecárias” contra a gangue rival é revigorante e um espetáculo visual divertidíssimo. A música “It’s All Over Now Baby Blue” se encaixa perfeitamente na sequência. É sangue, slow motion e atrizes maravilhosas dando o sangue ali na porrada.
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18. Mav1s “Amor e Monstros” | direção: Michael Matthews
Uma das grandes qualidades de “Amor e Monstros” é valorizar suas pausas e entender que elas são fundamentais para entendermos seus personagens. Em um momento muito doce que serve de grande ruptura ali na ação do filme, o protagonista (Dylan O’Brien) se depara com a robô Mav1s. Depois de uma conversa sincera, o rosto dela se transforma em uma tela, onde o jovem aventureiro consegue ver sua mãe, tendo finalmente a chance de se despedir. É um momento comovente, que termina de forma ainda mais agradável, quando águas-vivas flutuantes surgem no céu e Mav1s decide tocar “Stand By Me”.
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17. Musical da gaivota “Duas Tias Loucas de Férias” | direção: Josh Greenbaum
Eu poderia fazer uma lista especial só das melhores cenas de “Duas Tias Loucas de Férias”. Escolho essa porque ela é um show bizarro e nonsense e representa muito bem o que o filme é. Na sequência, assistimos ao agente secreto Edgar, interpretado por Jamie Dornan (surpreendentemente divertido), fazendo o seu aleatório número musical após sentir seu coração partido pela vilã vivida por Kristen Wiig. Ele dança na praia, faz pirueta, rasga a camisa e tudo o que não faz o menor sentido. Uma delícia (em todos os sentidos).
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16. So May We Start “Annette” | direção: Leos Carax
“”Annette” é um experimento audacioso dos músicos da banda Sparks. Nada nesse filme surge de forma óbvia e a primeira cena é o cartão de visitas dessa insana viagem. É metalinguagem pura, onde os próprios roteiristas do filme fazem um número musical – “So May We Start” -, ao lado dos atores, dando a largada inicial. Um prólogo nada convencional.
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15. A Guardiã de Ta Lo “Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis” | direção: Destin Cretton
A cena em questão nos revela a chegada de Xu Wenwu (Tony Leung), pai do nosso herói Shang Chi, no Reino místico de Ta Lo. Ele, que usa dez pulseiras poderosas, entra em combate com a bela guardiã do local. Existe um nítido interesse amoroso entre os dois, o que torna a cena surpreendentemente poética no meio de uma produção da Marvel. É bonito esse contraste de efeitos especiais com os delicados movimentos das artes marciais. Funcionou e ficou incrível de se ver.
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14. Te convido a passear “Nove Dias” | direção: Edson Oda
“Nove Dias”, dirigido pelo brasileiro Edson Oda, é poesia pura. Na trama existe uma série de avaliações entre algumas almas para que as vencedoras recebam o direito de descer à Terra e viver. As que falham, ganham o direito de escolher uma experiência humana jamais vivida. Aqui, a personagem escolhe andar de bicicleta pelas ruas da cidade, ouvindo uma música lenta em seu fone de ouvido. Em uma vibe “Show de Trumam”, eles constroem o cenário perfeito para que aquele desejo se torne possível. É bonito e singelo demais.
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13. Fuga de Arlequina “O Esquadrão Suicida” | direção: James Gunn
“O Esquadrão Suicida” veio para se redimir dos erros cometidos em 2016. O que a gente não esperava era encontrar um filme tão divertido e bom de se ver. Em um dos melhores instantes, a personagem Arlequina, vivida com muita leveza e graça por Margot Robbie, escapa após ter sido aprisionada. A sequência foi gravada em quatro dias e é um espetáculo! Depois de roubar as chaves somente com as pernas em um movimento acrobático, ela sai metralhando a todos. Muitas cores e flores surgem ao seu fundo em uma estética de brilhar os olhos. Ficou legal demais isso.
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12. Aline “All Hands on Deck” | direção: Guillaume Brac
“Aline” é uma canção clássica francesa do músico Christophe lançada nos anos 60. Apesar de bastante popular, não me recordo de tê-la visto em uma cena tão gostosa como essa. Aqui, dois jovens que se conheceram durante um período de férias no sul da França, decidem cantar a canção em um karaokê. A cena nos encanta porque é um momento doce entre eles, mas principalmente porque sabemos que ela marca o fim e a despedida do sonho em que viveram juntos.
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11. 96.000 “Em um Bairro de Nova York” | direção: Jon M. Chu
Os números musicais de “Em Um Bairro de Nova York” são deslumbrantes e de uma energia admirável. Tem alma, barulho e ritmo que nos levam para dentro das cenas. No dia da revelação de um altíssimo prêmio na loteria, todos os moradores daquele agitado bairro vão passar uma tarde na piscina. Ali, eles cantam sobre seus sonhos e tudo o que 96 mil dólares poderiam comprar. Um instante divertido, com movimentos absurdos, muito bem captados pelo diretor e pela ágil montagem. A canção é ótima também e só engrandece esse instante dinâmico e incrivelmente bem coreografadas.
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10. Boho Days “Tick, Tick… Boom!” | direção: Lin-Manuel Miranda
Mais uma cena musical para a lista! “Boho Days” é uma das canções mais simples de “Tick, tick…BOOM!” e ainda assim, sob o comando de ninguém menos que o gênio Lin-Manuel Miranda, temos uma sequência tão adorável de se ver. Há algo de espontâneo que contagia aqui, onde em uma reunião entre amigos em um apartamento apertado, todos os boêmios cantam para celebrar o simples fato de estarem ali juntos. O único defeito é ser curta demais, poderia ver longos minutos sem reclamar de tão gostoso que foi.
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9. Monólogo no deserto “Nove Dias” | direção: Edson Oda
Difícil não sentir o impacto pelo final de “Nove Dias”. É tão poético que nos atinge em cheio, vai lá no nosso peito e nos abraça. Quando Emma, personagem de Zazie Beetz, é rejeitada na prova das almas, o entrevistador Will decide compensá-la realizando seu sonho, que nada mais é que vê-lo recitando seu monólogo da época em que era um jovem ator esperançoso na Terra. A cena é longa e o ator Winston Duke se entrega a um texto tão sensível. É ele resgatando sua fome de viver, de sentir-se humano novamente.
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8. Cuba “007 – Sem Tempo para Morrer” | direção: Cary Fukunaga
Eu poderia fazer um abaixo-assinado por ter me sentido traído com a pequena participação de Ana de Armas no novo “007”. Ela merecia um filme só pra ela e sua Paloma. São cerca de 10 minutos em que ela fica em cena e consegue ser a melhor coisa do filme todo. E isso é um grande elogio porque o filme é incrível. Ela surge sedutora e carismática como uma agente que ajuda James em sua missão em Cuba. Que momento!! Eu poderia assistir no looping.
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7. Buscando oxigênio “Passageiro Acidental” | direção: Joe Penna
O sci-fi espacial da Netflix tem muitos pontos negativos sim, mas se teve um momento que acertou em cheio foi nesse. Quando dois tripulantes da nave precisam sair para fora e buscar um tanque de oxigênio é adrenalina pura. Poucas vezes nesse ano eu fiquei sem ar e uma delas foi aqui. A cena é lenta e acontece quase que em tempo real, nos mantendo atentos a cada passo dado por eles. É um instante silencioso, o que nos deixa imensamente tensos, principalmente porque a vida dos personagens está totalmente dependendo dessa busca.
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6. O duelo “O Último Duelo” | direção: Ridley Scott
A prova maior de que aquele Ridley Scott que conhecemos de “Gladiador” ainda vive. Toda a trama caminha para esse momento e ele é simplesmente épico. Tão bom quanto o filme todo merecia. Os dois cavaleiros duelam naquele que ficou conhecido como o último duelo até a morte ocorrido na França. Sabemos que um dos personagens principais irá morrer e isso definirá a “justiça”. É tenso e de tirar o fôlego. Incrivelmente bem filmada, ficamos vibrando por cada movimento. Scott foi, finalmente, um gênio novamente.
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5. Prisão “Maligno” | direção: James Wan
“Maligno” nos presenteou com a revelação mais inesperada e divertida do ano. Uma reviravolta brilhante e que acontece em uma cena de deixar qualquer um boquiaberto. No instante em que finalmente descobrimos quem é Gabriel e o que atormenta a protagonista, ela está em uma prisão e permite que seu lado maligno se manifeste. Gabriel toma conta de sua consciência e vimos uma luta bizarríssima e violenta. Visualmente chocante, James Wan entrega um espetáculo de terror corporal aqui.
Bob Odenkirk interpreta um pacato pai de família que nunca revida as injustiças que vê ao seu redor. Eis que sua libertação acontece quando um grupo de homens passam a incomodar uma jovem dentro de um ônibus. Ele se irrita com aquilo e decide dar início a uma nova versão de si mesmo, espancando sem dó todos que cruzam seu caminho. Uma cena extremamente violenta, explícita e muito bem editada.
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3. Eu sou um revolucionário “Judas e o Messias Negro” | direção: Shaka King
Esse diálogo deu a Daniel Kaluuya seu Oscar de Melhor Ator Coadjuvante. É de arrepiar quando acompanhamos o discurso fervoroso de Fred Hampton, líder dos Panteras Negras. Ele grita sobre ser um revolucionário e o quanto ele busca por uma virada na sociedade, uma vida justa para aqueles tão segregados. É chocante sua entrega ali, onde acreditamos na força e poder de suas palavras.
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2. O parto “Pieces of a Woman” | direção: Kornél Mundruczó
Vanessa Kirby interpreta Martha, uma mulher que perde o filho logo após o parto. Nos primeiros 30 minutos, o diretor Kornél Mundruczó se dedica a mostrar esse momento desesperador, de nascimento e morte. E são minutos dilacerantes. A cena desse parto é forte, real e a opção de desse registro ser feita em um plano sequência foi certeira. Acompanhamos de perto todos os sentimentos daquela mulher aflita. Vanessa se doa por completo aqui, entregando uma atuação magistral.
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1. What a life “Druk – Mais uma Rodada” | direção: Thomas Vinterberg
Thomas Vinterberg encerra sua obra com o mesmo gosto de um bom drink. Nos deixa entusiasmados pela beleza e força daquela cena, mas simultaneamente, deixa também um gosto amargo ao fim. Depois de perder um de seus amigos mais próximos pela bebida, o professor Martin (Mads Mikkelsen) celebra alcoolizado ao lado dos alunos. Ele dança freneticamente ao som de “What a Life”, com seus passos de ballet que relembram sua juventude. É sua celebração à vida. Ainda que seja um instante fascinante, essa alegria que “Druk” finaliza é um tanto quanto irônica. Ficamos felizes naquele minuto, mas não sabemos a dor que aquilo trará no amanhã. Genial!
2021 marcou quase que uma retomada no cinema. A pandemia ainda segue, mas as salas voltaram a revelar números mais expressivos. Filmes como “Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa” e “007 – Sem Tempo Para Morrer” fizeram uma movimentação que há tempos não se via. Claro, filmes de super-heróis acabam tendo muito peso nesse momento delicado, pois são eles, ainda, o grande chamariz. A Marvel veio com força com filmes como “Viúva Negra” e obras que iniciaram sua tão aguardada “fase 4” como “Eternos”, “Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis” e o já citado Miranha. A DC foi mais discreta, mas acertou em cheio com “O Esquadrão Suicida”.
O Oscar, no início do ano, como sempre, dá a largada dos principais lançamentos do ano. “Nomadland”, “Meu Pai”, “Bela Vingança” e “Judas e o Messias Negro” foram os grandes destaques. A Disney também foi fundamental ao trazer animações de altíssimo nível como “Luca”, “Raya e o Último Dragão” e o mais recente, “Encanto”.
Por falar nisso, a plataforma da ratazana mercenária não foi muito bem, com poucas produções originais relevantes, diferentes da Netflix que chegou com tudo com alguns dos melhores filmes do ano como “Pieces of a Woman”, “Não Olhe Para Cima” e “A Filha Perdida”. A HBO Max, por sua vez, foi uma ótima adição nessa concorrência. A chegada da plataforma se provou necessária, ainda mais quando torna acessível títulos que acabaram de sair do cinema. É um passo e tanto. Prime Video, seguiu tímido. De qualquer forma, essas opções de streaming se tornaram ainda mais presentes na vida do cinéfilo.
Além da presença massiva do streaming em nossas vidas, outra coisa que marcou o ano foram os reboots e sequência de clássicos do cinema. Uma falta de originalidade, carência de novas ideias e uma forma de apelar para a nostalgia do público. Foi assim que tivemos o retorno de “Matrix”, “Halloween”, “Ghostbusters”, “Space Jam” e “A Lenda de Candyman”, além de sequências que ninguém pediu como “Invocação do Mal 3”, “O Homem nas Trevas 2”, “Um Lugar Silencioso – Parte II”.
2021 também marcou a volta triunfal dos musicais. “Tick, Tick…Boom”, “Em Um Bairro de Nova York”, “Amor, Sublime Amor”, “Querido Evan Hansen”, “Annette” e “Todos Estão Falando Sobre Jamie” provaram que foi o ano desse gênero. O faroeste também teve uma bela de uma reformulada com filmes como “First Cow”, “Nomadland”, “Cry Macho”, “Vingança e Castigo” e um dos melhores do ano: “Ataque dos Cães”.
Também tivemos retornos de cineastas consagrados como James Wan (Maligno), M.Night Shyamalan (Tempo), Wes Anderson (A Crônica Francesa), Denis Villeneuve (Duna) e Ridley Scott com a dobradinha “Casa Gucci” e “O Último Duelo”, além de Spielberg e Jane Campion em obras já citadas.
Tendo tudo isso em mente, venho aqui para enaltecer as produções que tivemos durante esse 2021. Criei uma premiação fictícia, reunindo em 16 categorias técnicas, filmes que merecem destaque e que acredito que foram os melhores em cada uma delas. Selecionei apenas filmes lançados no Brasil entre janeiro e dezembro aqui no Brasil, no cinema, streaming e VOD. Espero que gostem.
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1. Druk – Mais uma Rodada 2. Bela Vingança 3. Loucos por Justiça 4. Annette 5. Duas Tias Loucas de Férias 6. Falsos Milionários
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1. Meu Pai 2. Ataque dos Cães 3. A Filha Perdida 4. O Último Duelo 5. No Ritmo do Coração 6. Tick, Tick…Boom!
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1. Raya e o Último Dragão 2. Luca 3. A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas 4. Din e o Dragão Genial 5. Encanto 6. A Jornada de Vivo
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1. Duna 2. Nomadland 3. Ataque dos Cães 4. A Crônica Francesa 5. First Cow 6. Amor, Sublime Amor
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1. Duna 2. Pinóquio 3. A Crônica Francesa 4. A Vida Extraordinária de David Copperfield 5. Meu Pai 6. Cruella
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1. Cruella 2. Duna 3. A Vida Extraordinária de David Copperfield 4. Amor, Sublime Amor 5. O Último Duelo 6. Noite Passada em Soho
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1. Pinóquio 2. Duna 3. Casa Gucci 4. Maligno 5. O Esquadrão Suicida 6. Cruella
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1. Godzilla vs Kong 2. Duna 3. Free Guy: Assumindo o Controle 4. Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis 5. Amor e Monstros 6. O Esquadrão Suicida
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1. Duna 2. Godzilla vs Kong 3. 007 – Sem Tempo Para Morrer 4. Um Lugar Silencioso – Parte II 5. Finch 6. Tick, Tick…Boom!
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1. Meu Pai 2. Noite Passada em Soho 3. 007 – Sem Tempo Para Morrer 4. O Último Duelo 5. Tick, Tick…Boom! 6. Em um Bairro de Nova York
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1. Antonio Pinto (Nove Dias) 2. Gustavo Santaolalla (Finch) 3. Emile Mosseri (Minari) 4. Jonny Greenwood (Ataque dos Cães) 5. Kris Bowers (King Richard) 6. Nicholas Britell (Não Olhe para Cima)
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1. Second Nature (Não Olhe para Cima) 2. Guns Go Bang (Vingança e Castigo) 3. Redemption (Palmer) 4. So May We Start (Annette) 5. My Own Drum (A Jornada de Vivo) 6. Dos Oruguitas (Encanto)
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1. Ataque dos Cães 2. A Filha Perdida 3. Vingança e Castigo 4. No Ritmo do Coração 5. Não Olhe para Cima 6. Uma Noite em Miami
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1. Emilia Jones (No Ritmo do Coração) 2. Rachel Zegler (Amor, Sublime Amor) 3. Filippo Scotti (A Mão de Deus) 4. Fred Hechinger (A Mulher na Janela) 5. Rachel Sennott (Shiva Baby) 6. Adarsh Gourav (O Tigre Branco)
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1. Maggie Gyllenhaal (A Filha Perdida) 2. Florian Zeller (Meu Pai) 3. Nia DaCosta (Passando dos Limites / A Lenda de Candyman) 4. Emerald Fennell (Bela Vingança) 5. Edson Oda (Nove Dias) 6. Lin-Manuel Miranda (Tick, Tick… Boom!) 7. Benjamin Cleary (O Canto do Cisne) 8. Emma Seligman (Shiva Baby) 9. Rebecca Hall (Identidade)
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1. Chloé Zhao (Nomadland) 2. Jane Campion (Ataque dos Cães) 3. Thomas Vinterberg (Druk – Mais uma Rodada) 4. Paolo Sorrentino (A Mão de Deus) 5. Ridley Scott (O Último Duelo) 6. Kelly Reichardt (First Cow) 7. Kornél Mundruczó (Pieces of a Woman) 8. Jasmila Žbanić (Quo Vadis, Aida?) 9. Leos Carax (Annette)
As listas de melhores atuações do cinema em 2021 continuam e agora retorno para revelar minhas atuações masculinas favoritas. Preciso confessar, foi uma lista difícil de finalizar. Foi um ano que tivemos papéis desafiadores e marcantes. Infelizmente acabei deixando alguns nomes incríveis de fora para fechar 15 colocações.
Essas foram as minhas favoritas! Deixem nos comentários o ator que mais te chamou a atenção durante esses doze meses. Lembrando que selecionei atuações apenas de filmes lançados entre janeiro e dezembro de 2021 aqui no Brasil, no cinema ou VOD, independente do lançamento em seus respectivos países de origem.
15. Anthony Ramos (Em um Bairro de Nova York)
Parte do elenco da peça de grande sucesso “Hamilton”, Anthony retoma sua parceria com o músico e roteirista Lin-Manuel Miranda no musical “Em Um Bairro de Nova York”. Protagonista, ele é quem dá o tom da obra. Tem uma energia que pulsa, que vibra a cada cena. Tem paixão e uma força inesgotável. Como o sonhador Usnavi, ele encanta, porque tudo o que fala sai diretamente do coração.
14. Leonardo DiCaprio (Não Olhe para Cima)
Falo com tranquilidade que esse é um dos menores papéis da carreira irretocável de Leonardo DiCaprio. E essa é a maior prova de sua genialidade como ator. Porque mesmo dividindo o peso da narrativa com outros atores brilhantes, ele não decepciona e entrega seu melhor. O cientista Randall poderia cair na caricatura fácil, mas o ator constrói na tela uma figura interessante e divertida, mesmo que a comédia nunca tenha sido sua praia.
13. John Magaro (First Cow)
Apesar de ter alguns papéis em filmes e séries de TV de sucesso, John não é um ator muito conhecido. O coloco aqui porque, confesso, só me dei conta que era ele nos créditos finais. Ainda que seja uma atuação bastante contida, sem qualquer tipo de afetação, ele se transforma. É bela sua composição, surgindo com sensibilidade ao dar vida para um personagem tão simples e ingênuo.
12. Kingsley Ben-Adir (Uma Noite em Miami)
Uma das atuações mais subestimadas de 2021. Dar vida para figuras históricas é sempre um desafio e Kingsley surpreende demais como o ativista Malcolm X. Os personagens de “Uma Noite em Miami” vivem um momento decisivo na luta pelos direitos civis da comunidade negra norte-americana. Existe dor na fala de Malcolm, angústia e um sentimento de urgência, de pressa por ver uma mudança na sociedade. O ator traz verdade a esses tantos discursos de liberdade e esperança. Fala com verdade e nos comove.
11. Winston Duke (Nove Dias)
Sem dúvidas, uma das atuações que mais me surpreendeu. Winston Duke é uma revelação recente, mas até então ele esteve envolvido em filmes de herói e papéis mais cômicos. Que surpresa vê-lo tão entregue a um personagem mais dramático, sem qualquer resquício de suas outras interpretações. A última cena é extremamente poética e, através de um monólogo intenso, ele prova sua força como ator.
10. Adam Driver (Annette)
Adam Driver vive um momento bom na carreira. Não sou muito fã do ator e nem o acho tão incrível como muitos falam, mas aqui em “Annette” eu tive que dar o braço a torcer. Completamente entregue nesse musical controverso, ele tem uma série de diálogos intermináveis e bastante desafiadores. É um papel difícil e ele convence em todas as camadas que revela.
9. Will Smith (King Richard: Criando Campeãs)
Tenho preguiça dessa fissura do ator por papéis com discursos motivacionais, mas a verdade é que Will está muito seguro em cena e transmite muita honestidade na pele de Richard Williams, pai e treinador de suas filhas tenistas. Seja por sua postura, seu sotaque, é nítido ver o quanto ele precisou se transformar pelo papel, o quanto ele queria entregar o melhor.
8. Jude Law (O Refúgio)
Não tão reconhecido como merecia, Jude teve uma bela passagem no drama “O Refúgio”. Seu personagem é um homem de negócios ambicioso, que vai, aos poucos, se afundando em suas frustrações, em seus sonhos não realizados. Ele convence ao compor esse indivíduo desprezível mas ao mesmo tempo amargurado, triste pelo vazio de uma vida que ele nunca terá. Excelente.
7. Lakeith Stanfield (Judas e o Messias Negro)
Lakeith é um jovem ator que se transforma a cada novo papel. Muito bom ver como ele deposita tanta garra e tanta verdade em seu personagem. Na pele de William O’Neal, o infiltrado no grupo revolucionário dos Panteras Negras, ele desenha na tela um ser complexo, que trai seus iguais por liberdade. Nunca sabemos o que há na mente daquele homem, que nos assusta, mas também nos causa empatia, nos faz compreender sua dor.
6. Andrew Garfield (Tick, Tick… Boom!)
“Tick, Tick…BOOM!” é uma grande homenagem aos musicais e à mente de Jonathan Larson, dramaturgo que revolucionou o teatro nos anos 90. Andrew deu uma virada drástica em sua carreira com esse papel, provando de vez aquilo que estranhamente as pessoas tinham dúvida. Extremamente talentoso e versátil, ele entrega alma para Larson, canta com o coração e traz muita honestidade a este jovem ansioso e sonhador.
5. Mahershala Ali (O Canto do Cisne)
Você aceitaria ser clonado e deixar com que sua cópia ocupe o espaço que hoje você ocupa em sua vida? Esse é o dilema vivido por Cameron, que aceita essa alternativa quando descobre sofrer de uma doença terminal. É um personagem forte e que Mahershala domina por completo. Essas dúvidas e receios que o rodeiam, somado a dor de ter que se despedir de quem ama. O ator faz tudo com muita sensibilidade e emociona.
4. Leonardo Sbaraglia (Coração Errante)
Leonardo Sbaraglia entrega aqui uma das minhas atuações favoritas do ano. Ele incorpora por completo o personagem, comovendo tamanha honestidade que imprime em cada cena. Santiago é um retrato amargo do homem gay que envelhece solitário, sempre com o medo da rejeição. Nos causa desconforto, riso nervoso, mas também nos faz sofrer ao seu lado, sentir essa paixão que vibra na forma como ele conduz sua vida. Ele se desnuda e expõe suas fragilidades e inseguranças. Que trabalho lindo!
3. Mads Mikkelsen (Druk – Mais uma Rodada)
Mads é um dos atores mais queridos da atualidade e aqui ele prova, mais uma vez, do porquê é sempre tão bom vê-lo atuando. Ele interpreta Martin, um professor desiludido com a vida que passa a ingerir uma quantidade mínima de álcool todos os dias para ter mais tesão de viver. Dono de um carisma imenso, ele diverte aqui, mas sem esquecer de revelar a densidade de seu personagem, desse vazio existencial que sente.
2. Anthony Hopkins (Meu Pai)
É muito comum que atores veteranos, às vezes, acabam acionando o piloto automático para encarar certos filmes. O próprio Hopkins, de vez em quando, aceita umas bombas na carreira. Sim, precisamos aceitar também que é raro bons personagens para atores mais velhos e é triste esse cenário, ainda mais quando talentos desse calibre acabam sumindo. Pensando em tudo isso, como é lindo ver um papel tão bem escrito para um veterano, que claramente foi escrito para ele. Como é bom ver um profissional tão experiente e ainda assim, tão aberto a viver algo novo, a revelar uma faceta que desconhecíamos. Sim, isso foi possível, e Anthony Hopkins entregou uma das atuações mais impressionantes do ano. Seu personagem tem Alzheimer e se perde no próprio universo. Um retrato honesto, necessário e responsável sobre um assunto tão delicado. É real e nos toca profundamente.
1. Benedict Cumberbatch (Ataque dos Cães)
Phil, brilhantemente interpretado por Benedict Cumberbatch, é um grande personagem. Um dos mais complexos e fascinantes do cinema recente, eu arriscaria dizer. O Cowboy amargurado, ríspido, solitário, mas também uma incógnita que nos fascina. Quando “Ataque dos Cães” termina, ficamos revisitando seus passos, encontrando razões para sua violência, para sua fragilidade. É um ser que nos provoca, que nos causa ódio assim como também nos causa uma certa comoção. Benedict está absurdo aqui, traduzindo com muito cuidado todos esses sentimentos. Um trabalho riquíssimo de composição, que facilmente será lembrado nos próximos anos.
Seguindo com a retrospectiva aqui na página, retorno para revelar uma das listas que mais gosto de fazer e, por isso, venho com muita empolgação apresentar a minha seleção de melhores atrizes de 2021. Durante esses doze meses, tivemos alguns retornos marcantes de veteranas e revelações de jovens atrizes promissoras. Com essas personagens incríveis, elas encontraram a chance perfeita de brilharem em cena.
Seleciono aqui as 15 performances que mais me chamaram a atenção. Espero que gostem da lista! Lembrando que foram elegíveis apenas aquelas que estiveram em filmes lançados entre janeiro e dezembro de 2021 aqui no Brasil, no cinema, streaming ou VOD.
Deixe nos comentários qual foi a sua favorita!
15. Rosamund Pike (Eu Me Importo)
Arriscaria dizer que Marla Grayson foi umas das personagens mais marcantes do ano. Pilantra, ela ganha vida às custas de velhinhos indefesos. Entre o trágico e o cômico, o filme nos faz amar essa mulher detestável, chegando ao ponto de torcermos por ela, mesmo quando julgamos suas ações tão questionáveis. Rosamund sabe trilhar por essas nuances com perfeição, entregando uma anti-heroína divertidíssima, sagaz e provocativa.
14. Emma Stone (Cruella)
Muito difícil reviver uma personagem tão icônica, ainda mais quando ela já foi vivida por ninguém menos que Glenn Close. Stone encara o desafio e constrói algo único, à sua forma. A atriz tem um brilho a mais, algo que preenche a tela. Seja por seu imenso carisma, seja por sua incrível habilidade de caminhar pela comédia e drama. Stone é gigante e impressiona a cada novo papel. Podia ter dado muito errado, mas ela faz dar certo, muito mais certo do que qualquer um poderia imaginar.
13. Jodie Foster (O Mauritano)
Jodie Foster é aquela atriz de poucas aparições. Por algumas vezes, fica anos sem retornar para um papel. Mas quando esse retorno acontece, temos então um grande evento. Ela segura tão bem as cenas e tem uma presença tão forte. Acreditamos no poder de sua personagem, na coragem de ir contra todo um sistema, de apostar na bondade do outro. Como advogada de defesa Nancy Hollander, a atriz domina e nos comove.
12. Elisabeth Moss (Shirley)
Na pele da escritora Shirley Jackson, Elisabeth Moss entrega mais uma potente atuação em sua carreira. Ela tem sido um dos nomes mais fortes do cinema e da TV atual e fico feliz por esse momento de grande reconhecimento em que vive. Tem algo de muito poderoso em sua presença, dizendo muito com seus olhares, com sua postura. Sua personagem é bastante excêntrica e a atriz revela uma imensidão de sentimentos com suas tantas expressões.
11. Tessa Thompson (Identidade)
Existem papéis que clamam por um Oscar. Que aos gritos e expressões, uma atriz suplica por uma premiação. Existem, por outro lado, aquelas performances contidas, que parecem pequenas, mas são tão grandes. Tão necessárias. Tessa Thompson surpreende no papel de Irene, essa mulher que enfrenta tantas dúvidas e tantos dilemas como mulher negra nos Estados Unidos da década de 20. É uma personagem belíssima, complexa, elegante, e a atriz se entrega com muita honestidade.
10. Rebecca Hall (A Casa Sombria)
O terror é um gênero que sempre acaba revelando boas interpretações, no entanto, infelizmente, muitos ainda o subestimam, visto, por exemplo, que quase nunca alcançam premiações importantes. É assim que pouco se falou sobre a fantástica atuação de Rebecca Hall em “A Casa Sombria”. É belo o que a atriz faz de sua personagem, Beth, que vivendo do luto após perder o marido, se lança a um universo assombroso, se afundando no medo e abraçando sua dor. Emociona.
9. Carey Mulligan (Bela Vingança)
Cassandra é uma incógnita que nos seduz a acompanhar suas armadilhas no thriller “Bela Vingança”. Ela tem um passado misterioso, mas dedica seu tempo atacando homens assediadores que exploram a vulnerabilidade da mulher. Sem dúvida alguma, umas das personagens mais insanas e complexas que passou por nós em 2021. Que bom que esse papel caiu nas mãos de Carey, que há tempos andava sumida. Este é seu retorno triunfal e a prova de que ela merece estar no topo.
8. Carrie Coon (O Refúgio)
Carrie Coon tem bastante prestígio na TV e, aos poucos, tem conquistado o cinema. Como Allison, uma mulher que tem seus desejos silenciados pelas altas ambições do marido, ela entrega uma performance bastante segura, nos afundando junto com sua personagem, sentindo suas dores e seu medo diante de um ambiente que não se adapta. Sua transformação em cena é brilhante e nos fascina.
7. Jodie Comer (O Último Duelo)
Um dos melhores roteiros de 2021, que merece destaque por ter dado voz a uma personagem tão interessante. Marguerite, que no século XIV, foi vitima de um estupro, traça uma batalha para acusar seu agressor em um ato de extrema coragem. Jodie Comer surpreende por ser novata no cinema, entregando uma atuação de alguém com muita experiência. Ela domina aquele espaço com sua presença, sua força e garra, mas sem esconder suas fragilidades, seu medo de não ser ouvida, de ser julgada.
6. Zhou Dongyu (Dias Melhores)
Zhou Dongyu tem em mãos um papel extremamente forte. Desde o início, ela precisa estar entregue a emoções muito intensas, isso porque sua personagem sofre bullying na escola. É tudo bastante pesado em cena e a atriz se entrega com força, sempre muito honesta, nos comovendo em sua dolorosa jornada e nos levando a acompanhá-la a um turbilhão de sentimentos.
5. Andra Day (Estados Unidos vs. Billie Holiday)
Fiquei bastante surpreso por ver a cantora Andra Day tão entregue no cinema. Não é uma personagem fácil e ela encara o desafio com tanta garra e verdade. Aqui ela dá vida à Billie Holiday e a tumultuada carreira de uma das maiores cantoras e compositoras da história da música. Como é lindo ver o quanto ela se doa e se transforma para esse papel. Andra brilha porque se joga de corpo e alma.
4. Frances McDormand (Nomadland)
A beleza de ver Frances McDormand aqui é poder presenciar sua naturalidade em cena. Ela se despe por completo em um papel tão singelo, tão honesto, tão real. Como Fern, uma mulher que traça uma jornada sem destino em sua Van e se mantendo em empregos temporários como uma nômade moderna, ela nos faz esquecer que estamos diante de uma interpretação. Ela vive aquilo e nós acreditamos. Sua personagem é adorável e nos faz querer abraçá-la a cada instante.
3. Vanessa Kirby (Pieces of a Woman)
Um dos papéis mais fortes do ano e uma das atuações mais surpreendentes também. Ainda com um currículo curto no cinema, a atriz britânica Vanessa Kirby entregou, talvez, o que muitas atrizes não conseguiram em uma longa carreira. É uma entrega fascinante, que choca, que nos faz sentir o peso e a dor que é existir para sua personagem. Martha é uma mulher que precisa se manter forte depois de perder o próprio filho no parto. Uma jornada sensível, difícil e ela demonstra total domínio.
2. Jasna Đuričić (Quo Vadis, Aida?)
Fortíssima protagonista de “Quo Vadis, Aida?”, a atriz sérvia Jasna Đuričić nos faz perder o fôlego, tamanha honestidade que imprime nas cenas. Acreditamos naquela realidade apresentada e em sua personagem que, no meio de uma invasão militar em seu país, precisa correr contra o tempo para salvar sua família. É angustiante e desesperador tudo o que vemos ali e a atriz carrega muito sentimento dentro de si. Há garra e coragem para proteger quem ama, mas há também medo e pavor diante da violência que presencia.
1. Olivia Colman (A Filha Perdida)
Olivia Colman é uma atriz a ser estudada. Carreira longa no cinema e na TV, ela parece que foi redescoberta nos últimos anos. De uns tempos para cá, ótimos papéis chegaram em suas mãos, caindo na graça do público e dos críticos. Tem algo fascinante que é difícil de descrever em sua persona. Ela tem um brilho, uma força rara. Poucas atrizes sabem tão bem trilhar da comédia para o drama como ela. Olivia dá vida a um texto fantástico e traz vida para “A Filha Perdida”. Sua personagem Leda é extremamente complexa e somente um talento como o dela poderia tornar esse filme possível. Olivia Colman é um acontecimento, a joia mais preciosa do cinema atual.