Crítica: Música para Morrer de Amor

Monólogos da burguesia

Rafael Gomes fez seu nome no teatro ao lançar a peça “Música Para Cortar os Pulsos” lá em 2009. Ele retorna agora como diretor e roteirista nesta adaptação de seu próprio material, com uma roupagem moderna mas ainda com a forte interação da música ao narrar os (des)encontros amorosos de três jovens paulistanos.

É um triângulo amoroso que vai se desenvolvendo aos poucos, entre frustrações, receios e canções que representam grande parte de seus sentimentos. Rubel, O Terno, Clarice Falcão, Marcelo Camelo e Pitty são algumas das faixas que embalam os monólogos desses jovens que sofrem por amor. É curioso como, além da música, os cartões postais de São Paulo também fazem parte crucial desta história. O vão do MASP, a praça Roosevelt, a Linha Amarela surgem como cenários improváveis e que facilmente acabam por criar uma conexão forte em nós. São tramas possíveis de indivíduos que caminham pelas mesmas ruas que nós.

Existe poesia no texto da obra e neste estudo de entender a paixão, a fraqueza dos corações machucados. Entretanto, por mais que seja um material forte em cima dos palcos, sua transição ao cinema é falha. O roteiro abusa dessa teatralidade dos diálogos, quebrando a naturalidade das situações, onde seus personagens não conversam, eles proclamam falas filosóficas sobre amor. Afinal, ninguém acorda às nove da manhã para citar Shakespeare. É tanta necessidade de querer decifrar seus protagonistas ou encontrar as palavras certas para cada momento que o filme se torna enfadonho, entregando mais frases de efeito do que sentimentos reais.

Há desarmonia em muitos aspectos do longa. A montagem é pouco fluida, criando um caos desnecessário, principalmente em suas primeiras cenas, indo e voltando no tempo…estranhíssimo de assistir. Apesar de bela trilha musical, é incomodo a forma como o som é trabalhado aqui, seja pela dificuldade de ouvir o que os personagens falam, seja pelo silêncio das cenas externas.

“Música Para Morrer de Amor” tem boas intenções, mas peca. É doce e pode até dialogar com os jovens e adultos de corações partidos, no entanto, ainda que tente falar sobre um sentimento universal, o longa, no fim, acaba sendo, infelizmente, apenas um retrato dos moradores da Santa Cecília e daqueles que vivem reclusos no mundinho descolado da burguesia paulistana.

NOTA: 6,5

  • País de origem: Brasil
    Ano: 2019
    Disponível: Telecine Play
    Duração: 102 minutos
    Diretor: Rafael Gomes
    Roteiro: Rafael Gomes
    Elenco: Mayara Constantino, Victor Mendes, Caio Horowicz, Denise Fraga, Ícaro Silva, Suelly Franco

Crítica: Relatos do Mundo

Cenário novo, história de sempre

Baseado no romance de Paulette Jiles, “Relatos do Mundo” traz o retorno do diretor Paul Greengrass, que aqui descansa sua câmera inquieta de produções eletrizantes como “Capitão Phillips” e “Ultimato Bourne” para revelar a calmaria do Faroeste. É curioso esta sua escolha, estudando um gênero e um estilo de cinema que se afasta de sua bela filmografia, provando ser um cineasta ainda mais versátil, mesmo que entregue seu filme menos inspirado.

A obra veio como um balde de água fria em mim. Não que minhas expectativas fossem altas, mas não esperava ver um filme tão desinteressante aqui. A trama foca no veterano de Guerra e Capitão Jefferson Kyle Kidd, que viaja pelo Texas levando notícias do mundo para pessoas que não tem acesso. Nesta sua jornada ele se depara com a órfã Johanna, que não fala sua língua e precisa ser levada até seus parentes mais próximos.

A obra acaba estacionando em um lugar muito comum. A relação de amizade que nasce entre o homem introspectivo e a garota selvagem é bastante previsível e o roteiro cria inúmeras conveniências já muito desgastadas no cinema. É óbvio todo o desenvolver desta relação, que jamais emociona ou convence. É uma pena que o texto ainda desperdiça a peculiar profissão do protagonista, que poderia trazer ares de novidade para a trama, optando sempre pelo óbvio, com direito a vilões caricatos e perseguições de poucas motivações.

É sempre bom ver Tom Hanks em cena e seu carisma como ator segura bem, mesmo que ele não entregue nada de novo aqui, deixando o destaque para a pequena e talentosíssima Helena Zengel. A ambientação da época é outro grande destaque da produção, explorando visualmente com muito cuidado cada passagem, assim como a belíssima trilha sonora de James Newton Howard, merecidamente indicada ao Oscar. “Relatos do Mundo” é tecnicamente primoroso, mas é apático, onde pouco sofremos ou nos importamos com a trajetória dos protagonistas.

NOTA: 6,5

  • País de origem: EUA
    Ano: 2021
    Título original: News of The World
    Duração: 118 minutos
    Diretor: Paul Greengrass
    Roteiro: Paul Greengrass, Luke Davies
    Elenco: Tom Hanks, Helena Zengel, Elizabeth Marvel, Bill Camp

Crítica: Judas e o Messias Negro

Os bastidores da revolução

É um momento relevante que nasce “Judas e o Messias Negro”. O longa, que marca a ótima estreia do diretor Shaka King, vem para reforçar tantos discursos em pautas atuais, como os do movimento Black Lives Matter. Mesmo em uma trama que se inicia lá no final da década de 60, traz grandes reflexões sobre desigualdade social, racismo e sobre a corajosa luta dos negros ao longo dos anos.

O filme traz uma estrutura já comum no cinema, a do infiltrado que se fascina por seu alvo. Ainda assim, o roteiro empolga e costura um suspense hipnotizante, principalmente pelas ótimas atuações do elenco e pela complexidade de sentimentos entregues ali. Logo ao início somos apresentados ao Messias Negro, Fred Hampton (Daniel Kaluuya), o ativista e líder do Partido dos Panteras Negras. Grande orador, seus discursos poderosos recrutam e inspiram jovens negros, que se unem dedicados a libertação de pessoas oprimidas. Esse idealismo chama a atenção do FBI, que o encara como um grande inimigo da Segurança Nacional, o que faz com que um agente (Jesse Plemons), use William O’Neal (Lakeith Stanfield), um ladrão de carros, como informante dentro dessa organização. A partir desse momento, acompanhamos a ascensão de Hampton na política e esta relação que nasce entre ele e o novo membro infiltrado.

“Eu sou um revolucionário”. A sequência que revela o poderoso discurso de Hampton é o grande momento do filme, que sintetiza bem esse poder que alcança. Não apenas revela a força das atuações de Daniel Kaluuya e Lakeith Steinfeld, como indica um ponto importante e de ruptura ali. É o momento em que O’Neal revela traços mais complexos, revelando-se um indivíduo bastante intrigante, que passa a confrontar sua necessidade de sobreviver com suas crenças. Ainda que Lakeith seja brilhante, o palco acaba ficando com Kaluuya, que se entrega em cena, transitando com perfeição entre a força e a fragilidade, entre a coragem e a introspecção. É seu grande momento. Curiosamente, ambos foram indicados como coadjuvantes no Oscar. Merecido, mas isso também aponta algo que senti falta na obra: o personagem central, que fosse nosso olhar dentro das situações. Esse elemento diminui um pouco o filme, logo que tudo nos é revelado com certa distância, como se assistíssimos de longe, sem se aprofundar no íntimo de nenhuma dessas figuras tão emblemáticas. Vale destacar, também, a atriz Dominique Fishback que está incrível e sua personagem traz ainda mais profundidade à trama e essa reflexão sobre quais são os motivos de Fred tem para sobreviver, qual o legado que sua luta deixará.

A condução de Shaka King é bastante segura e mantém o bom nível. A ótima trilha, os figurinos e toda esta belíssima ambientação nos levam de volta aos anos 60. A produção conversa bastante com o recente “Infiltrado na Klan” de Spike Lee, mas confesso que gosto bem mais desse. Encerro dizendo, que os letreiros finais vem como um grande soco no estômago. Apesar de trazer uma narrativa que já conhecemos, a realidade ao fim vem como choque. É uma história triste, revoltante e que causa um grande impacto em nós.

NOTA: 8,5

  • País de origem: EUA
    Ano: 2021
    Título original: Judas and The Black Messiah
    Duração: 126 minutos
    Diretor: Shaka King
    Roteiro: Shaka King, Will Berson
    Elenco: Daniel Kaluuya, Lakeith Stanfield, Jesse Plemons, Dominique Fishback, Algee Smith

Crítica: Cherry – Inocência Perdida

Nico Walker publicou em 2018 seu romance semi-autobiográfico, revelando sua jornada no exército norte-americano e como ele teve que cumprir, anos depois, pena na prisão por assaltar bancos. Essa é a história de “Cherry”, que fez os olhos dos diretores Joe e Anthony Russo brilharem ao acharem o cenário perfeito para mostrar seus talentos fora do Universo da Marvel. É, ainda assim, um produto megalomaníaco, barulhento e bastante ambicioso.

O protagonista, vivido com intensidade por Tom Holland, tem 23 anos e pouco tem expectativas sobre seu futuro e decide se alistar ao exército. O filme, que é dividido em seis capítulos, nos revela essas tantas fases de amadurecimento que ele precisa encarar, desde seu relacionamento com a jovem Emily (Ciara Bravo) até seu difícil retorno, tendo que lidar com suas tantas crises de estresse pós-traumático, ansiedade e depressão. Nesta necessidade de sobreviver mas não se encaixar, ele se torna um dependente químico.

O problema desses “capítulos” da obra é que essas histórias são pouco conectadas entre si. Há muitas rupturas e nenhum desenvolvimento plausível. Ainda que os diretores tragam agilidade e estilo às cenas, sua primeira hora soa como uma longa introdução para o que o filme realmente gostaria de dizer, tornando o caminho um tanto quanto desgastante. Na segunda metade, o longa se encontra, mas acaba, infelizmente, entrando numa espiral narrativa que pouco evolui, como as sequências de roubos e o casal viciado em drogas. Nada disso é muito verossímil e tudo se revela como uma representação de algo que ninguém ali chegou a ver de perto. É tudo muito agressivo e de pouco sentimento, pouca verdade.

A quebra da quarta parede é um mero artifício, que surge apenas como mais um desafio para o ator e a direção, mas que pouco soma na narrativa. Ainda assim, o texto é dinâmico e, ao menos, consegue nos trazer para dentro das ações. Traz um olhar bastante crítico sobre o exército e esta dificuldade de readequação desses tantos jovens. “Cherry” é, acima de qualquer coisa, um filme pretensioso, que tem como grande intenção mostrar uma nova face de Tom Holland e dos Irmãos Russo. As cenas são milimetricamente estilosas e, no fim, é só o que realmente importa para os diretores, que encerram esta insana jornada de forma desconfortavelmente moralista.

NOTA: 6,5

  • País de origem: EUA
    Ano: 2021
    Duração: 141 minutos
    Diretor: Anthony e Joe Russo
    Roteiro: Jessica Goldberg
    Elenco: Tom Holland, Ciara Bravo, Forrest Goodluck, Jack Raynor, Damon Wayans Jr.

Crítica: Duas Tias Loucas de Férias

absurdamente patético, estupidamente brilhante

Comédia é um gênero difícil e tem se tornado um item escasso no cinema atual. Nos últimos anos, conseguimos somar na mão as melhores que assistimos. Quando ganham vida, são poucas as que trazem algo novo, refrescante e digno de nota. Dez anos depois de “Missão Madrinha de Casamento” – parece exagero, mas falo tranquilamente que é minha comédia favorita da última década – as roteiristas Annie Mumolo e Kristen Wiig, que aqui também protagonizam, se reúnem novamente e provam, mais uma vez, a força e brilhantismo desta parceria.

Ignore a bizarra tradução nacional e vá com o coração aberto. “Barb and Star Go To Vista Del Mar”, no original, é uma comédia pura, inventiva e que sai constantemente do lugar comum. Anna e Kristen interpretam duas amigas de longuíssima data, Barb e Star, que dividem o quarto, o trabalho, a rotina, o amor pelo nome Trish, onde ambas se sentem confortáveis dentro de um culotte e vivendo uma vida sem muito brilho ao início da meia-idade. Quando esta rotina que seguem é abalada, elas decidem que é hora de viver uma grande aventura e aceitam o convite do destino para uma viagem à paradisíaca Flórida, ao luxuoso hotel Vista Del Mar. Lá, elas se envolvem com o bonitão Edgar (Jamie Dornan), um caranguejo falante e uma vilã determinada a acabar com toda a cidade.

Nada faz muito sentido em “Barb and Star” e é maravilhoso em como a obra abraça com força o nonsense. Aqui não tem nada de “piada pronta” e, ainda assim, o roteiro consegue fluir de forma natural, extraindo humor das situações mais improváveis. A dupla garante o riso do começo ao fim, sem forçar, apelar, apenas pelo talento das duas atrizes em cena e do ótimo texto. É simplesmente hilário cada pedaço desse filme, me fazendo rever cenas e ficar repetindo na minha cabeça os diálogos. Ficarei ainda, por muito tempo, rindo das reuniões de tópicos para conversa com as “amigas”, delas impedindo de vender um sofá só porque gostavam muito dele ou delas fazendo a mala para a viagem e preferindo levar uma corda e um cortador de pizza. É tudo absurdamente patético, estupidamente brilhante.

O diretor Josh Greenbaum vem de uma carreira tímida por trás de episódios soltos de séries de TV. Por isso, chega a ser surpreendente sua condução aqui, entregando um produto novo, extravagante – kitsch até – colorido e empolgante, que jamais tem receio de ser idiota ou de se entregar ao musical simplesmente porque sim. Claro que o grande destaque vai para as duas atrizes e roteiristas que desenvolveram novamente uma comédia relevante. É aquele filme que precisávamos e até agora não sabíamos. Só espero que elas não demorem mais dez anos para retornar. O cinema carece de obras assim e é um prazer enorme quando este encontro acontece.

NOTA: 8,5

  • País de origem: EUA
    Ano: 2021
    Título original: Barb and Star go to Vista Del Mar
    Duração: 107 minutos
    Diretor: Josh Greenbaum
    Roteiro: Kristen Wiig, Annie Mumolo
    Elenco: Kristen Wiig, Annie Mumolo, Jamie Dornan, Damon Wayans Jr.

Crítica: A Escavação

O que sobraria de nós

Baseado no livro de John Preston, que reinventa a história real de um arqueólogo que, a chamado de uma viúva para cavar seu extenso terreno, acaba descobrindo valiosos itens que passam a ser de interesse nacional.

“A Escavação”, recente drama lançado pela Netflix, nos faz pensar nesses pequenos passos dados pela história da humanidade. É um evento pequeno, ignorado, mas que existiu e teve sua importância. Sem a necessidade de um clímax ou uma reviravolta, o texto valoriza essa simplicidade do acontecimento e emociona pela forma delicada com que narra tudo isso. É bonito quando, naquele encontro entre dois personagens, eles revisitam o passado, descobrem uma vida, um momento congelado no tempo, mantido pela terra. Basil Brown, o arqueólogo interpretado por Ralph Fiennes, enxerga seu trabalho como um exercício de resgate, uma ação necessária para o futuro. É preciso cavar para escrever a história e é preciso da história para entender o presente. O roteiro, nitidamente, tem muito carinho por esses personagens que descreve, na relação entre cada um e pela profissão que exercem. Não apenas a arqueologia, é interessante como a fotografia entra aqui também, registrando a beleza de cada pequeno ato, cada encontro.

A trama, que acontece em um período que antecede a Segunda Guerra Mundial, se desenha neste interessante paralelo entre vida e morte. A protagonista, que segue com a dor do luto de perder o marido, assiste, nas ruas, jovens caminhando pela incerteza do confronto. Durante este tempo sombrio, eles cavam o túmulo daquelas terras, tentando descobrir o que um dia morreu ali.

“Se mil anos se passassem em um instante, o que sobraria de nós?”.

No meio das tantas descobertas, os personagens se encontram na reflexão de entender qual o legado deixariam ali, quais seriam os vestígios que sobrariam para o futuro. É assim que a obra se mostra um valioso e belo ensaio sobre o fim, sobre o que deixamos em terra quando não mais estivermos aqui.

“A Escavação” traz uma direção correta de Simon Stone, que não foge muito do que esperamos de um bom drama de época, com belas paisagens e uma trilha sonora empolgante, composta pelo estreante Stefan Gregory. Carey Mulligan é sempre excelente, ainda assim é contestável sua escalação, visto que a personagem é bem mais velha do que ela. Ralph Fiennes também brilha aqui, assim como os bons coadjuvantes de Johnny Flynn, Lily James e Ben Chaplin. Uma obra doce, com boas intenções e que, felizmente, segue em uma admirável crescente, sem perder o encanto e empolgação de seus eventos.

NOTA: 8,5

  • País de origem: EUA
    Ano: 2021
    Disponível: Netflix
    Duração: 112 minutos
    Diretor: Simon Stone
    Roteiro: Moira Buffini
    Elenco: Carey Mulligan, Ralph Fiennes, Lily James, Johnny Flynn, Ben Chaplin

Crítica: A Vida em Um Ano

Drama mal reciclado

Quase seis anos depois de “A Culpa é das Estrelas” (confesso que é um filme que gosto bastante), o cinema ainda insiste nesses romances adolescentes trágicos. Um do casal vai morrer e você já sabe como será o final. Tudo tem a ver com o tempero e como o roteiro e a direção irá nos conduzir até lá. “A Vida em Um Ano” vem coberto de todos os possíveis clichês existentes e chega a ser espantoso o pobre resultado que alcança. Ser previsível, afinal, é um dos menores problemas aqui.

A começar pela fraca química do casal protagonista. Jaden Smith e Cara Delevingne já quase não funcionam isoladamente, juntos é desastroso. Ainda é difícil ter que aceitar Delevingne como adolescente, mas seguimos. O protagonista é Daryn, um jovem com grande potencial nos estudos e vive uma vida regrada pela pressão do pai. Tudo muda quando se apaixona por Isabelle, que tem uma rotina completamente oposta à dele, sem regras, sem planos. Quando ela revela enfrentar uma doença terminal, Daryn decide entregá-la uma vida inteira em um ano, a fazendo realizar desejos ainda não realizados.

O roteiro é falho nesta passagem de tempo, sendo pouco crível a construção deste relacionamento. Não apenas é difícil acreditar nessa paixão que acende entre os dois, como é incômodo o controle que um passa a ter na vida do outro, sempre julgando e sempre decidindo o que é melhor. O texto romantiza essas decisões, sempre forçando a barra, sempre clamando por nossas lágrimas. Nada é sutil aqui, tudo vem escancarado em uma reciclagem mal feita de tantos outros títulos. O diretor Mitja Okorn segue passo a passo a cartilha dos filmes adolescentes e pouco se esforça para fazer bom proveito dos clichês ou extrair alguma boa atuação do elenco. Até o humor, que poderia tornar a trama mais leve, não funciona, apenas constrange. É tudo extremamente piegas e mal gosto.

É estranho pensar que Will Smith é um dos produtores aqui. De fato, não sei qual o potencial viu em “A Vida em Um Ano”. No mais, gosto das músicas escolhidas e de como elas foram inseridas nas cenas. A trajetória de Daryn como cantor de rap e os conflitos vividos com o pai poderiam ter rendido um filme bem mais interessante.

NOTA: 5/10

  • País de origem: EUA
    Ano: 2020
    Disponível: Prime Video
    Duração: 107 minutos
    Diretor: Mitja Okorn
    Roteiro: Jeffrey Addiss
    Elenco: Jaden Smith, Cara Delevingne, Cuba Gooding Jr., Nia Long

Crítica: O Animal Cordial

O sonho do oprimido

Sempre bom ver o cinema nacional se arriscando em outros gêneros e “O Animal Cordial” merece atenção pelo bom resultado que alcança. Uma proposta ousada e que funciona pelas mãos da diretora Gabriela Amaral Almeida, que entrega aqui um potente thriller psicológico.

Quando um restaurante é tomado por dois assaltantes, o dono do local reverte a situação para salvar seu estabelecimento, construindo um jogo perverso e violento dentro daquele pequeno ambiente. Com poucos espaços, o roteiro prende seus personagens durante uma noite tumultuada, construindo ali um embate pela sobrevivência. Apesar do cardápio elegante, é curioso como a produção desenha seu cenário, com cores escuras, paredes sujas, mais parecendo um matadouro, pronto para a carnificina.

A obra me remeteu à fase mais crua de Nicolas Winding Refn, pelo uso das cores, violência e principalmente pela trilha sonora, que aqui mescla órgãos e sintetizadores. As atuações são ótimas, se destacando, claro, Murilo Benício, que cria em cena um personagem macabro e marcante. Luciana Paes e Irandhir Santos também estão incríveis.

O sonho do oprimido é ser opressor. Essa frase ilustra bem “O Animal Cordial” e em como seus personagens, que se veem como a escória de uma posição acima, se rebelam contra esta estrutura hierárquica, decididos a inverter a cadeia alimentar. Todos eles são diminuídos, rejeitados pelo simples ato de ser quem são. É forte o instante em que um dos cozinheiros tem seus cabelos cortados, símbolo de sua resistência e identidade, simplesmente porque “incomodava” seu opressor. Todos almejam uma nova posição, uma fuga, estar longe daquela vida, longe do trabalho de “merda”. E neste jogo violento de ascensão, os indivíduos ali perdem o controle, se degradando até que, ao fim, se tornem apenas animais, grosseiros e famintos.

NOTA: 8,5

  • País de origem: Brasil
    Ano: 2017
    Disponível: Netflix
    Duração: 96 minutos
    Diretor: Gabriela Amaral Almeida
    Roteiro: Gabriela Amaral Almeida
    Elenco: Murilo Benício, Luciana Paes, Irandhir Santos, Ernani Moraes, Camila Morgado, Humberto Carrão