Sobre vingança, moda e punk
“Cruella” é um acontecimento. Alcança um nível tão alto de qualidade que torna todos os outros live-actions da Disney menos interessantes. É tudo o que os anteriores tentaram mas não conseguiram ser. Esse tem alma, tem vida própria e não se contenta em ser apenas um favor confortável aos fãs. Como é bom encontrar um produto que prometia pouca coisa e entregou absolutamente tudo.
Existe um brilho a mais em Emma Stone e aqui compreendemos o quão poderosa é sua presença. Uma atriz versátil, carismática e que nos seduz a acompanhar a divertida trajetória de sua personagem. O filme tem como intuito mostrar os eventos antes daqueles que conhecemos em “101 Dálmatas” e a peculiar ascensão de sua adorável vilã. Claro que com uma roupagem completamente diferente e, felizmente, sem se apegar à obra original. É uma trama nova e que acaba, por fim, humanizando Cruella. Poderia ter dado bem errado se não fossem as mãos dos roteiristas Dana Fox e Tony McNamara (A Favorita). É um trabalho brilhante realizado pela dupla, que entrega um filme hipnotizante, que flui muito bem por suas mais de duas horas de duração.

O diretor Craig Gillespie constrói, com sua direção, uma narrativa ainda mais imersiva e consistente daquela apresentada em “Eu, Tonya”. Tem movimento, velocidade e nos mantém atentos a cada detalhe. A produção vem caprichadíssima também, com seus deslumbrantes figurinos e uma impecável direção de arte. Destaque, claro, para a empolgante trilha musical – com nomes como The Clash, Blondie e The Rolling Stones – que nos leva à fascinante Londres dos anos 70. É uma junção de elementos que funcionam perfeitamente bem em cena, sendo uma experiência revigorante de vingança, moda e punk. O único detalhe que causa um certo estranhamento é o uso de CGI nos cachorros, ainda que bem realizado. Porém, acaba sendo justificado quando ganhamos instantes como o doguinho Wink vestido de rato.
Assumindo o papel de Cruella como uma anti-heroína, o roteiro não nos deixou de nos apresentar uma grande vilã. A Baronesa vivida pela veterana Emma Thompson é impagável. O embate entre as duas personagens é saborosíssimo, nos lembrando rapidamente da troca entre Andrea e Miranda Priestly de “O Diabo Veste Prada”. É, ainda, incrível como todos os coadjuvantes funcionam e todos possuem uma função importante ali. Existe química entre todos eles e nos afeiçoamos a essas relações e nos engenhosos planos que desenvolvem. Momentos como os do caminhão de lixo, o show na passarela ou o do vestido de insetos ficarão na memória de tão icônicos que foram. E a grande verdade é que o cinema atual carece disso, desses grandes momentos. Dessas grandes escolhas. “Cruella” é inventivo, tem personalidade e uma energia que vibra. Um espetáculo a ser apreciado!
NOTA: 9,5

País de origem: EUA
Ano: 2021
Disponível: Disney Plus
Duração: 134 minutos
Diretor: Craig Gillespie
Roteiro: Tony McNamara, Dana Fox
Elenco: Emma Stone, Emma Thompson, Joel Fry, Paul Walter Hauser, Mark Strong