O surreal mundo dos ricos

“French Exit” é um filme estranho. Às vezes, nos encanta por sua peculiaridade, mas também nos afasta por nunca entendermos claramente o que ele quer ser. É uma mistura nem sempre harmoniosa de Woody Allen com Wes Anderson, que pode até não ter o brilhantismo dos dois, mas tem maturidade o suficiente para tal comparação.

O grande destaque da obra, com toda a certeza, é a forte presença de Michelle Pfeiffer. Ela constrói uma personagem interessante, que poderia cair na caricatura mas ela faz com tanta maestria que conquista o impossível, nos fazer nos apaixonar por ela. Isso porque ela interpreta uma mulher que vive em uma realidade muito distante da nossa, no surreal mundo dos ricos. Uma socialite falida que tem a chance de ir sofrer em Paris, ao lado do filho.

Baseada na obra de Patrick deWitt, que aqui também escreve o roteiro, a trama vai crescendo em uma estranheza nem sempre cativante, mas curiosa e imprevisível. É uma comédia refinada com toques de realismo fantástico sobre encontros de pessoas em um apartamento na França, onde a família deslocada acaba se reunindo com uma desconhecida carente, uma cartomante e um detetive para juntos encontrarem o gato possuído pelo espírito do falecido marido. Nada faz muito sentido e, no fim, essa acaba sendo sua maior graça. Abraça o nonsense mas sem deixar de se preocupar com seus bons personagens e de buscar essa humanidade existente em cada um deles.

A primeira hora é bem desgastante e demora a se encontrar, mas quando isso acontece, entrega alguns momentos mágicos, principalmente por extrair o melhor de Pfeiffer. Lucas Hedges já tem vindo no piloto automático há um tempo e pouco faz aqui. Dos coadjuvantes, Valerie Mahaffey se destaca e entrega instantes adoráveis. O cuidado na direção de Azazel Jacobs é notável, assim como a bem conduzida trilha sonora.

“French Exit” é aquela comédia que nem sempre faz rir ou agrada, mas causa um certo fascínio por sua esquisitice. Todos os personagens ali soam como pessoas perdidas, que chegaram em um momento da vida que não sabem mais qual a direção seguir. E assim somos nós. Crescemos e somos como crianças que, em um profundo estudo de observação, aprendemos o comportamentos dos adultos e estamos em um constante ato de simulação, agindo como se soubéssemos o que estamos fazendo.

NOTA: 7,5

País de origem: EUA, Irlanda do Norte, Reino Unido, Canadá
Ano: 2020
Título original: French Exit
Disponível: Net Now
Duração: 100 minutos
Diretor: Azazel Jacobs
Roteiro: Patrick deWitt
Elenco: Michelle Pfeiffer, Lucas Hedges, Valerie Mahaffey, Imogen Poots, Danielle MacDonald

Um comentário em “Crítica: Saída à Francesa

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