Comédia como nos velhos tempos
Quando foi a última vez que tivemos uma comédia boa? Depois de assistir “Que Horas Eu Te Pego?”, me vi pensando nisso. Há quanto tempo o gênero não era produzido por um grande estúdio e com o simples propósito de fazer o público rir, de forma descompromissada e sem qualquer filtro, sem vergonha alguma de ser o que é. Me vi voltando aos anos 2000, quando produções como essa ainda existiam. O diretor Gene Stupnitsky recupera esse cinema perdido, despertando nostalgia simplesmente por ser bom.
Claro que grande parte do mérito do filme está nas mãos de Jennifer Lawrence, que surge magnética em cena. É muito bom vê-la tão solta e explorando, finalmente, esse seu lado mais cômico. Uma escolha ousada em sua carreira pós-Oscar e surpreendentemente assertiva. Sua parceria com o jovem Andrew Barth Feldman funciona demais, rendendo alguns momentos adoráveis e alguns outros impagáveis, como a primeira vez que se encontram ou a já antológica sequência de luta na praia. Uma comédia romântica que abraça o absurdo e que, apesar da simplicidade, cativa facilmente pelo carisma de seus personagens.

Lawrence interpreta Maddie que, desesperada por dinheiro e manter a casa que herdou da mãe, decide aceitar um pedido incomum: namorar o filho de um casal rico, o fazendo ter experiências reais antes de entrar na faculdade. O encontro de Maddie com Percy garante boas risadas e o roteiro consegue extrair piada dessa situação até o fim, nos fazendo rir das insanidades dessa mulher por dinheiro e desse jovem introvertido tentando se abrir para o mundo. Gene Stupnitsky sabe como conduzir até mesmo a comédia mais física, sem nunca ter medo do ridículo. É então que ele entrega, sem grandes pretensões, uma obra libertadora, espontânea e imensamente gostosa de assistir.
O texto é ótimo, não perde ritmo e nem humor, conseguindo ainda comover nos devidos momentos. Maddie e Percy são dois indivíduos opostos que precisavam de um empurrão. Ambos precisavam sair do casulo e ver um pouco além do conforto. Duas gerações diferentes, lidando com amadurecimento e aceitando a difícil decisão de partir. É curioso como Maddie, aparentemente tão segura de si, precisa incentivar aquele jovem a obter a coragem necessária para crescer, quando na verdade, ela ainda possui um grande medo de dar um próximo passo. Um encontro que inicia-se com uma mentira e vai se tornando suporte e inspiração para ver o futuro com outra perspectiva.
“Que Horas Eu Te Pego?” vem para nos questionar quando foi que perdemos interesse em tudo isso ou quando foi que essas comédias perderam a força. É claro que esse filme provavelmente seria um sucesso estrondoso em uma plataforma de streaming, mas como é bom poder vê-lo em uma tela grande, assim como o adolescente que um dia eu fui teve a oportunidade. Ainda tem espaço para o gênero, ainda mais quando ele é bem escrito, bem conduzido e com atores completamente entregues. Até ontem eu nem sabia quem era Gene Stupnitsky, mas hoje sinto que o cinema atual precisava dele ou de cineastas com o seu mesmo atrevimento.
NOTA: 8,5

País de origem: Estados Unidos
Ano: 2023
Titulo original: No Hard Feelings
Duração: 103 minutos
Disponível: Cinema
Diretor: Gene Stupnitsky
Roteiro: Gene Stupnitsky, John Phillips
Elenco: Jennifer Lawrence, Andrew Barth Feldman, Natalie Morales, Laura Benanti, Matthew Broderick