O fim que traz eternidade

São raros os filmes de romance que nos atingem por completo. Muito provavelmente porque o cinema já falou de amor em tantas formas que é difícil nos deparar com algo longe dos clichês e que nos envolva profundamente com a história. “As Pontes de Madison” é um desses casos preciosos e emociona. Digo que me impactou como quase nenhum outro do gênero e, durante seus belos minutos, me deixou com o coração vibrando e imensamente apaixonado por tudo.

Baseado no livro de Robert James Waller, o filme conta com a direção do mestre Clint Eastwood, que também protagoniza ao lado de Meryl Streep. A atriz interpreta Francesca, uma mulher casada, mãe de dois filhos e que vive em uma região pacata no Estado de Iowa. Quando sua família se ausenta por quatro dias, ela acaba se envolvendo com o fotógrafo Robert (Eastwood), que está de passagem pelo local para registrar as pontes de Madison.

É poderoso esse encontro entre os dois personagens. Ficamos vidrados assistindo as conversas e os tantos sentimentos que existem ali. Francesca acredita ser ordinária demais, não digna daquela tórrida paixão. Clint, como diretor, ressignifica os cenários em que ela habita e, ao trazer um turbilhão de emoções, torna tudo aquilo que é banal em efervescência. É uma direção inteligente que, ao flagrar pequenos gestos, consegue descrever todo um contexto. Como quando, logo no início, em uma rápida interação familiar, compreendemos tudo aquilo que é ausência na protagonista e que, posteriormente, vai sendo preenchida.

Francesca precisa enfrentar um grande dilema: se entregar a um novo amor ou retornar a sua família, para aquela rotina de submissões, onde seus sonhos e vontades não são mais prioridades. Em um dos diálogos mais poderosos do filme, a protagonista faz um discurso intenso sobre os detalhes da vida e tudo aquilo que some da própria identidade quando se tem filhos. O que resta quando todos eles se vão? Já é tarde demais para saber quando, por todo esse tempo, deixou de olhar para si mesma. Estar com Robert é também uma chance de poder olhar para dentro e finalmente poder sentir o que deseja sentir. É sua libertação.

É então que o filme nos arrebata, quando faz uma interessante reflexão sobre paixão e tempo. Porque a grande verdade é que nada sobrevive e aquele rápido encontro só poderia ser eterno se tivesse um fim. Como aqueles sonhos do qual Robert fala em certo momento. Daqueles do passado e que se tornam importantes. Não por terem sido realizados, mas porque nos faz bem lembrar que um dia os tivemos. Mas para ser bom eles precisaram estar intactos, não vividos. Uma contradição poética e dolorosa para aqueles que amam..

“As Pontes de Madison” cresce com a maravilhosa sintonia entre Streep e Eastwood. Como é gostoso ver os dois contracenando. Aliás, não vou superar tão cedo aquela cena de Robert na chuva e Francesca segurando a maçaneta do carro (quem viveu, sabe). Uma obra sensível, romântica e que me fez me perguntar porque não havia visto essa preciosidade antes. Daqueles filmes que marcam e dificilmente saem de nós.

NOTA: 9,5

País de origem: Estados Unidos
Ano: 1995
Titulo original: The Bridges of Madison County
Duração: 135 minutos
Disponível: HBO Max
Diretor: Clint Eastwood
Roteiro: Richard LaGravenese
Elenco: Meryl Streep, Clint Eastwood

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