Quem poderia odiar Tom Hanks?

É muito raro nos depararmos com remakes que façam sentido, que tenham alguma razão ou uma ótica diferente que justifique suas criações. “O Pior Vizinho do Mundo” é a versão hollywoodiana do ótimo “Um Homem Chamado Ove”, filme sueco que nem é tão antigo assim, de 2015. E como era de se esperar, vemos aqui uma produção altamente desnecessária, que só prova a falta de originalidade do cinema atual.

Em seus primeiros minutos, já conseguimos decifrar a trama por completo. É a história do velho rabugento, onde o filme vai tentar justificar suas ações com seu passado trágico, enquanto seu coração vai sendo amolecido pela presença dos novos vizinhos. Uma produção bastante confortável, que não faz mal algum para quem assiste, tampouco entrega um material potente para que se mantenha na memória do público. Um drama que engata a primeira e se mantém nela até o fim. Sem grandes picos, sem grandes momentos. Sua montagem, algumas vezes acelerada, nos tira a possibilidade de criar alguma conexão com suas passagens.

A presença de Tom Hanks é curiosa, visto que ele sempre construiu essa imagem do “bom vizinho”. Quem poderia odiar Tom Hanks? Apesar de Otto ser um senhor rancoroso, é sempre possível ver os bons sentimentos que habitam dentro dele. É assim que vemos nesse personagem algo muito próximo do que são nossos pais e facilmente criamos empatia com o personagem. Mariana Treviño, que interpreta sua nova vizinha, por sua vez, é quem traz brilho para a produção. É muito bom ver os dois contracenando e ver essa relação entre eles crescer em situações tão corriqueiras. De ver ela conseguindo enxergar esse coração que ele tanto se esforça em esconder.

O que enfraquece as intenções de “O Pior Vizinho do Mundo” é essa opção do roteiro em desconstruir o protagonista tão rapidamente, sem antes conhecermos sua rotina e sua relação com os demais. Logo no primeiro ato já somos levados a acompanhar uma série de flashbacks, o que nos tira aquela curiosidade e apreensão em tentar desvendá-lo. Mal analisamos os conflitos e o filme já quer nos dizer os porquês. Essas cenas do passado, aliás, poderiam ter sido resumidas visto que o roteiro tem tão pouco apego a elas. Estão ali só para ser um recheio sem muito sabor, quebrando o ritmo da história em relatos de pouca inspiração e sentimento. E quando não nos importamos com o passado de Otto, toda sua construção cai por terra.

Marc Forster é um diretor que embarca em qualquer uma. Seja filme de zumbi, seja um 007. De uma filmografia improvável, ele ao menos se esforça em entregar produções minimamente decentes e aqui não é diferente. “O Pior Vizinho do Mundo” é bem produzido e provavelmente vai emocionar alguns. Comigo não funcionou. Bonitinho e simpático sim, mas desnecessariamente longo e confortável demais com sua trama reciclada.

NOTA: 6,5

País de origem: Estados Unidos
Ano: 2022
Titulo original: A Man Called Otto
Duração: 126 minutos
Disponível: HBO Max
Diretor: Marc Forster
Roteiro: Fredrik Backman, Hannes Holm, David Magee
Elenco: Tom Hanks, Mariana Treviño, Manuel Garcia-Rulfo, Mack Bayda

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