A retrospectiva continua por aqui para revelar o que teve de melhor no cinema em 2022. Venho agora listar as minhas cenas favoritas do ano.

Separei 15 momentos que, de alguma forma, me marcaram. Seja por um diálogo, pelo visual, pelas atuações. Seja pela forma como o diretor revelou aquele momento dentro do filme. Aqueles instantes que ficaram na cabeça e, por isso, merecem destaque.

Lembrando que todos os títulos citados são de produções lançadas entre janeiro e dezembro de 2022 aqui no Brasil, no cinema ou VOD, independente do lançamento no país de origem.

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15. Revelação
(Morte Morte Morte)

Seria trágico, se não fosse tão cômico. “Morte Morte Morte” traz uma situação aterrorizante, quando um grupo de “amigos” são assassinados dentro de uma mansão ao longo de um fim de semana. A cena final vem para revelar o grande mistério e, assim como toda a obra, choca pelo absurdo. Uma quebra de expectativa corajosa, porque entrega exatamente o que nenhum outro filme de terror ousaria, justamente porque não é o que o público espera. Quando as sobreviventes encontram o celular da suposta primeira vítima, assistem incrédulas o registro de sua morte. É um instante cômico e surpreendente. Para rir de nervoso.

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14. Fita métrica
(Noites Brutais)

Já na segunda parte de “Noites Brutais”, o personagem de Justin Long retorna para seu imóvel abandonado e ao chegar lá percebe que há um “puxadinho” misterioso. É então que ele decide medir aquele novo espaço. A tensão existe porque nós já sabemos o que habilita ali e vê-lo caminhando tranquilamente com sua fita métrica nos deixa imensamente apreensivos. O diretor Zach Cregger sabe como trabalhar o suspense e nos mantém hipnotizados ali, já esperando pelo pior.

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13. Monólogo na praia
(Mais Que Amigos)

Billy Eichner sempre abraçou com força esse papel do cara tagarela e áspero. Quando ele escreve “Mais Que Amigos”, é nítido que ele coloca muito de si na história. A cena em que ele vai à praia com seu “bro” é quando ele revela sua mais verdadeira essência. Longe de qualquer máscara, caricatura ou muro que ele construiu para si. É ele falando sobre ser um artista gay e como teve sua voz reduzida por tanto tempo dentro do mundo do entretenimento. Como ele precisou esperar até que histórias entre homossexuais pudessem ser lucrativas para que ele, enfim, pudesse falar sobre suas próprias vivências. É metalinguagem pura em um discurso honesto e extremamente necessário.

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12. Ensaio da Morte
(Competição Oficial)

A trama de “Competição Oficial” oferece uma metalinguagem bem saborosa e interessante. São dois atores que não se suportam, precisando dar vida a história de vingança entre dois irmãos. A cena em questão, é quando os astros precisam ensaiar o ápice do filme que vão gravar. A sequência que marcará a grande reviravolta, quando um dos irmãos assassina o outro e rouba seu lugar. É muito simbólico esse instante porque acaba refletindo muito sobre o que virá a acontecer na realidade. É fascinante também toda a construção desse momento, onde os cenários estão apenas demarcados e parece que estamos diante de uma peça de teatro, com pouca iluminação e uma atmosfera angustiante.

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11. Telescópio
(Marte Um)

“Marte Um” é um filme muito singelo e feito de muito coração também. O final deixa isso muito claro, quando a família Martins, depois de passar por vários perrengues, decide ouvir sobre os sonhos do filho mais novo, que almeja estudar astrofísica e participar de uma missão espacial. Ele, então, os leva a observar o céu com seu telescópio. É uma cena genuinamente bela, que traz finalmente um momento de paz para aqueles personagens e de esperança que eles tanto precisam.

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10. Crianças revoltadas
(Matilda: O Musical)

Nem todos os números musicais funcionam na versão de “Matilda” da Netflix. Mas se tem um que me fez me ajeitar na poltrona e dar um replay foi a sequência em que as crianças se rebelam na escola cantando “Revolting Children”. É uma coreografia assustadoramente bem coordenada, acelerada e empolgante. A câmera passeia pelos corredores do local em uma montagem fascinante.

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9. Jantar de pérolas
(Spencer)

Quando junta a trilha de Jonny Greenwood, a elegante condução de Pablo Larraín e as expressões de Kristen Stewart, temos o prato perfeito para uma cena agoniante e irretocável. É um jantar que explicita a relação conturbada entre a Princesa Diana e a família Real e, também, uma grande metáfora para os transtornos sofridos pela protagonista. Entre troca de olhares fuzilantes, ela se vê presa no local. Sufocada, ela arranca o próprio colar, deixando as pérolas caírem no prato, onde logo em seguida, as come.

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8. Trouble
(Elvis)

Eu poderia listar inúmeras cenas incríveis de “Elvis”, mas cito uma que me deixou extasiado. Quando o Rei sobe no palco para cantar “Trouble“, ele registra ali que está contra as regras, contra a ordem que rege aquela sociedade tão retrógrada. Com seus movimentos sensuais e gestos provocativos, ele leva o público à loucura, para a fúria dos policiais que acompanhavam o show e logo precisam interceder. É Elvis usando o poder de sua música para quebrar barreiras e incitando a rebeldia que muitas vezes é necessária.

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7. Naatu Naatu
(RRR)

Mais do que entregar uma música chiclete, temos aqui a cena mais fascinante de “RRR”, épico indiano da Netflix. É uma sequência musical no meio de sua aventura gloriosa, onde os dois protagonistas se unem, em uma festa, para ensinar aos convidados um passo de dança nada convencional. É um ato rebeldia ali, já que aqueles movimentos não são bem vindos na alta classe. A sequência é divertidíssima e eletrizante, onde os dois entregam uma coreografia insana e impossível de desgrudar os olhos.

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6. Última batalha
(O Homem do Norte)

O último ato da vingança de Amleth (Alexander Skarsgard), que finalmente entra em combate com seu tio. O diretor Robert Eggers faz deste instante algo esplêndido, quando os coloca para lutar pelados em um cenário devastado por lavas que queimam. O vermelho grita na tela em uma sequência pouco iluminada. A potente trilha traz ainda mais essa sensação de que estamos presenciando algo épico. Há tensão, emoção e tudo que é necessário para entregar um belíssimo clímax.

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5. Chuva de Sangue
(Não! Não Olhe!)

Um dos momentos mais tensos e brilhantes de “Nope”, quando Emerald (Keke Palmer) e Angel (Brandon Perea) estão dentro da casa e percebem que algo muito ruim está acontecendo do lado de fora. Eles começam a ouvir sons assustadores que se aproximam, como gritos desesperados. Logo depois, avistam pela janela, uma chuva de sangue acompanhada de vários objetos, como restos mortais sendo cuspidos por alguma criatura que sobrevoa a região. A trilha sonora de Michael Abels torna esse instante ainda mais impactante. Olhei para essa cena e gritei “ARTE!”.

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4. Pedras
(Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo)

Curioso como uma das cenas mais sinceras e emocionantes de “Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo” seja protagonizada por duas pedras. É um filme que reúne várias sequências peculiares e essa é uma delas. Em um dos tantos universos propostos aqui, mãe e filha são duas pedras no topo de uma montanha. Ali elas tem uma pequena reflexão sobre a vida e como diante de todo universo são apenas criaturas pequenas e estúpidas.

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3. Tempo congelado
(A Pior Pessoa do Mundo)

Cansada da monotonia de seu relacionamento atual e da rotina sem emoção que segue, Julie (Renate Reinsve) vislumbra um mundo congelado. Ela sai de seu apartamento e atravessa a cidade, onde todos os moradores estão paralisados. Julie vai de encontro a única pessoa que também não teve o tempo parado, seu amante, que trabalha em um café. Eles passam um dia romântico juntos. Um dia só deles. Sem ninguém mais. Uma sequência belíssima e apaixonante, ainda que revela essa impulsividade autodestrutiva da protagonista. É leve, gostoso de ver e uma quebra interessante e fantasiosa dentro de um filme tão realista.

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2. Introdução
(Athena)

A notícia de um jovem morto por um policial dá início a uma revolta popular na França. A introdução de “Athena” nos coloca para dentro da cena, quando vemos o grupo de rebeldes em ação. Filmado em um eletrizante plano-sequência, o diretor Romain Gavras constrói ali um instante hipnotizante, imersivo e poderoso. É daqueles momentos do cinema que ficamos nos perguntando como tudo aquilo foi feito. É extremamente calculado cada passo ali e ficamos abismados com tamanha perfeição.

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1. Última dança
(Aftersun)

Começa como apenas uma cena adorável entre pai e filha, durante uma festa, quando ele a convida a dançar “Under Pressure”, clássica colaboração entre Queen e David Bowie. Uma música presente em muitos filmes, mas esse aqui trouxe uma nova perspectiva, que nos faz ouvi-la de forma diferente. A batida empolgante, de repente, ganha contornos mais dramáticos. “Você pode nos dar mais uma chance?”. “Esta é nossa última dança”. Essas frases ecoam em nós como um soco diante do que acontece ali. É o presente devastado tentando abraçar o passado incompreendido. É uma filha buscando seu pai, tentando viver aquela última lembrança com novos olhos. Uma cena incrível, que nos toca e causa um impacto gigante em nós.

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E para você? Qual a sua cena favorita de 2022?

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