Os 25 melhores filmes de 2022

Pois é, minha gente! Mais um ano se encerrou e, com isso, mais uma retrospectiva aqui na página! É hora de celebrarmos as obras incríveis que tivemos e relembrar o que marcou nesses doze meses que se passaram. Demorou, mas veio aí: a lista de melhores filmes que assisti em 2022.

Confesso que adoro fazer essas listas com os meus filmes favoritos. Nunca é uma seleção fácil, até porque consegui assistir muita coisa boa. Precisei, desta forma, deixar vários que amei de fora para manter 25 títulos. Claro, se trata de uma escolha muito pessoal, então é natural que o seu favorito não esteja aqui…isso não significa que ele seja ruim, apenas que não funcionou comigo.

Estou bem feliz com essas obras que trago. Todas elas significaram algo para mim e se destacaram no meu ano. Outras até se tornaram maiores desde que assisti.

Ressalto, também, que para esta lista foram considerados apenas aqueles filmes lançados no Brasil entre janeiro e dezembro de 2022, no cinema ou VOD de forma legal, independente do lançamento original.

Menções honrosas: Viola Davis lidera um grupo de mulheres guerreiras e emociona com “A Mulher Rei”. Vingança é um tema comum no cinema, mas “O Homem do Norte” vem para nos revelar a base de muitas histórias em mais uma produção admirável de Robert Eggers. Foi o ano do terror e, por isso, vale destacar “Morte Morte Morte”, que diverte ao brincar com as fórmulas do gênero. Tom Cruise é um astro e foi responsável por levar o público de volta ao cinema com o empolgante “Top Gun: Maverick”.

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25. Spencer
direção: Pablo Larraín

Já tivemos muitos retratos sobre a Princesa Diana, mas “Spencer” não é só mais um deles. É uma proposta bem mais intimista, onde revela, de forma fictícia, o que poderia ter sido o último Natal dela ao lado da família Real. Pablo Larraín é um dos grandes diretores do cinema atual e ele transforma essa narrativa simples em uma experiência sensorial. Ele, sabiamente, se utiliza da atmosfera de filmes de terror para narrar a solidão da protagonista, que vive de aparências, de uma rotina da qual não tem o menor controle. A câmera quase nunca desgruda de suas costas, nos colocando para dentro daquele universo, nos fazendo sentir tão claustrofóbicos quanto ela. A produção é absurdamente bela, desde os figurinos à riqueza de detalhes dos cenários. A fantástica trilha sonora de Jonny Greenwood vem para acentuar ainda mais essa tensão da narrativa, desenhando com perfeição o tom grandioso que ecoa em nós.

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24. Paris, 13º Distrito
direção: Jacques Audiard

Parceria entre dois cineastas franceses que tanto admiro: Jacques Audiard e Céline Sciamma. Eles narram, despretensiosamente, sobre os amores complexos dentro de uma grande metrópole. Os encontros e desencontros entre três adultos que se relacionam, se tornam amantes, parceiros e pouco fazem ideia do que querem da vida. Entre falhas, palavras que machucam e rompimentos, eles buscam se entender, mesmo que por caminhos tortuosos. É apaixonante como Jacques ilustra esse conto sobre amores modernos. Filmado em preto e branco, o longa hipnotiza por sua beleza, mas também por ter um ritmo surpreendentemente empolgante.

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23. RRR
direção: S. S. Rajamouli

Uma das coisas mais mágicas que o streaming oferece atualmente, é esse poder que ele tem de estourar a bolha, levando o cinema a atravessar continentes e atingir pessoas que antes não seria possível. “RRR” é um hit indiano da Netflix que fez bonito em 2022. Ele recupera o que Hollywood parece ter esquecido: a entregar um épico da forma como tem que ser. Com grandes efeitos visuais para ilustrar sua grandiosidade, mas também com muita paixão e personalidade. É sobre uma inusitada história de amizade entre o líder de uma revolta e um policial durão obcecado por sua promoção no exército britânico. Eles estão dos lados opostos e ambos tem muita garra para defender seus objetivos. Um daqueles filmes feitos por alguém que nitidamente ama o cinema e a magia que essa arte tem em contar histórias e nos levar para universos tão distantes. Aqui tem dança, combates eletrizantes e câmera lenta para revelar sua grandiosidade. Não tem medo do excesso e abraça isso com força. Diverte, encanta e nos envolve ao longo de suas belíssimas 3 horas de duração.

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22. Pinóquio
direção: Guillermo del Toro, Mark Gustafson

Apesar das tantas adaptações que já tivemos do menino de madeira, esta adaptação de Guillermo del Toro tem algo de especial. Aqui, “ser um menino de verdade” nunca é um desejo do protagonista e tornar-se humano acaba sendo uma consequência de suas ações. O roteiro desenha muito bem essas transições e como a transformação não vem apenas de Pinóquio, mas também na vida daqueles que o cercam, que são impactados por seus atos de bondade. Tem muito sentimento nesta jornada e um cuidado rigoroso de toda a produção. Um stop motion que nos choca pelo realismo dos detalhes, que replicam até mesmo as imperfeições. É arte em sua forma mais genuína.

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21. Influencer de Mentira
direção: Quinn Shephard

Para chamar atenção dos demais, uma jovem (Zoey Deutch) forja uma visita à Paris, mas sua mentira acaba saindo do controle quando acontece um ataque terrorista “durante sua viagem”. Para ser a influencer que deseja, ela aproveita esta repentina fama criando um movimento que dá voz a todos aqueles que vivenciaram algum tipo de trauma. É através desse cenário improvável que a obra se aprofunda no universo digital, desenhando, com precisão, essa geração que se tornou refém de suas motivações vazias. “Influencer de Mentira” navega por temas extremamente delicados sem perder a força do humor. Caminha sem medo nessa linha tênue entre a provocação e o ofensivo, mas é corajoso o suficiente para se manter ali, cutucando sem utilizar-se de um discurso panfletário e sendo incisivo para causar desconforto.

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20. Mais que Amigos
direção: Nicholas Stoller

“Mais Que Amigos” é uma comédia romântica que redefine a representação queer no cinema. Billy Eichner, que escreve e protagoniza, aproveita esse espaço para criticar a máquina de Hollywood e como os grandes estúdios sempre ignoraram as narrativas homoafetivas. Ele interpreta um diretor de museu que precisa enfrentar a dificuldade de se relacionar com outros homens na era complexa dos aplicativos e da frivolidade. Apesar dos risos, o longa traz reflexões sobre essa impulsividade não saudável dos amores líquidos, onde ninguém mais se importa em como suas ações podem afetar o emocional do outro. É um roteiro imensamente sincero, que faz rir pelos exageros mas também machuca com suas tantas verdades. Finalmente vejo um filme que sabe equilibrar esse romantismo e esperança que tanto precisamos, com as dores e frustrações que sentimos na era dos desafetos. Porque é escrita por alguém que vive isso na pele e sabe usar suas palavras para nos atingir.

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19. Carvão
direção: Carolina Markowicz

Um dos grandes filmes nacionais que tivemos em 2022. “Carvão”, dirigido pela estreante e talentosíssima Carolina Markowicz, narra uma trama bastante inusitada que acontece no interior do Brasil, onde uma família humilde acaba abrigando um estrangeiro misterioso dentro de casa. Tudo é muito curioso aqui e ficamos vidrados nessa história bizarra, mas estranhamente possível de acontecer. E mesmo quando o longa termina, ficamos ali, digerindo tudo o que ele quis dizer. O que torna a produção tão fascinante, porém, é trazer esses indivíduos tipicamente brasileiros para dentro da cena. O elenco é muito bom e facilmente acreditamos que vivem aquela rotina. Nos faz rir pela identificação que provoca e nos assusta pelas reflexões que deixa no caminho.

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18. Arremessando Alto
Direção: Jeremiah Zagar

Aquela prova de que um clichê bem realizado pode se tornar um grande filme. “Arremessando Alto” marca mais uma parceria entre Adam Sandler e a Netflix e surpreende pelo simples fato de ser bom. É uma obra que chega já com a receita pronta, que envolve uma história de superação dentro do universo esportivo. Aqui, Sandler interpreta um olheiro de um time de basquete que aposta todas as fichas em um jovem com enorme potencial. A direção de Jeremiah Zagar torna todo esse espetáculo muito próximo de nós, sendo impossível não vibrar por cada vitória e torcer fervorosamente pelos protagonistas. Uma obra cativante e, mesmo que a história abrace a simplicidade e clichê dos filmes de esporte, comove. E comove porque é bem contado e porque tem muito sentimento envolvido.

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17. A Lenda do Cavaleiro Verde
direção: David Lowery

A Távola Redonda é cercada de lendas gloriosas. Neste mesmo universo se encontra Gawain (Dev Patel), sobrinho do Rei Arthur. É sobre sua jornada que conhecemos aqui em “A Lenda do Cavaleiro Verde”, dirigido por David Lowery. O longa se afasta por completo deste cinema de fantasia e ação do qual estamos acostumados, revelando este cenário medieval de forma mais sombria e, até mesmo, mais humana. O protagonista é um jovem imprudente e sua ação imatura acaba tendo consequências drásticas, o levando para uma jornada rumo à sua própria morte. O filme subverte essa saga do herói de forma audaciosa e engrandece com seu final ambíguo. Me senti completamente imerso nesse universo e seduzido pelo poder de suas imagens.

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16. O Acontecimento
direção: Audrey Diwan

Apesar dos eventos do filme acontecer nos anos 60, o que vemos aqui é um retrato doloroso e, infelizmente, ainda muito atual sobre aborto. Em uma época em que o procedimento não era legalizado na França, uma jovem (Anamaria Vartolomei) se vê diante de uma jornada solitária após uma gravidez indesejada. A câmera não desgruda da protagonista e a acompanhamos extremamente de perto nesse caminho torturante. É sufocante e soa como um verdadeiro thriller psicológico, onde a personagem precisa enfrentar dores físicas e emocionais constantes. O longa nos faz refletir muito sobre esse peso da gravidez que as mulheres carregam sozinhas e quantas histórias parecidas como essa ainda existem ao nosso redor e nem nos damos conta. É forte e nos causa um grande impacto.

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15. Os Primeiros Soldados
direção: Rodrigo de Oliveira

Quando “Os Primeiros Soldados” acabou, fiquei olhando para a tela por um tempo tentando digerir o que havia visto, até que desabei. É um recorte muito real e que nos atinge justamente porque nos faz pensar em quantas histórias como a retratada aqui aconteceram. A produção nacional revela o encontro de três pessoas que precisaram enfrentar a primeira onda de epidemia da AIDS no Brasil dos anos 80. É muito cruel ver esses personagens tão desamparados, diante de tanto preconceito e falta de informação da época. Eles são vistos como a escória do mundo, como aqueles que não merecem a cura. Apesar do nítido baixo orçamento da produção, é louvável o que o diretor faz com tão pouco. As excelentes atuações trazem uma naturalidade fascinante para as cenas, assim como o texto que traz honestidade e sensibilidade para lidar com um tema tão delicado. É forte e poderoso tudo o que é dito aqui. São falas que nos alcançam porque possuem muito sentimento e muita poesia também.

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14. Flee
direção: Jonas Poher Rasmussen

Por muitas vezes, enquanto assistia “Flee”, eu esquecia que se tratava de um documentário. E, por muitas vezes, eu quis esquecer que se tratava de uma história real. É interessante como a animação sempre foi uma técnica para explorar a fantasia, a fuga da realidade. E essa quebra, que mescla recortes históricos com traços animados, vem justamente como um escape, uma saída para tudo aquilo que é doloroso demais para traduzir, para tudo aquilo que nosso protagonista gostaria de esquecer, de fugir. Conhecemos aqui a dura trajetória de Amin Nawabi, um refugiado afegão e todo o caminho que precisou percorrer, ao longo dos anos, até encontrar um lugar para chamar de lar. Um jovem indo atrás de aceitação da sociedade por estar sempre a margem, por não ter um país e por se descobrir homossexual. Existe um abismo entre ele e o resto do mundo. “Flee” é impactante, doloroso e profundamente emocionante.

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13. Competição Oficial
direção: Gastón Duprat, Mariano Cohn

“Competição Oficial” é metalinguagem pura. É ficção dentro de uma ficção, em uma obra que satiriza, com brilhantismo, Hollywood e toda a batalha de egos que existe no meio artístico. O longa utiliza-se de pouquíssimos cenários e ambientações, mas é aquela produção tão absurdamente genial, que vai se tornando gigantesca aos nossos olhos. A trama se concentra em apenas três personagens: uma diretora (Penélope Cruz) e dois atores renomados, Félix (Antonio Banderas) e Iván (Oscar Martínez) e tudo acontece durante os ensaios para o filme que irão lançar. Uma surpresa deliciosa, que revela, através de um texto crítico e bastante atual, o cinema de nosso tempo. Ri de nervoso, mas também me deixou reflexivo sobre seu excelente final. E claro, valeu por ver esse trio de atores arrebentando em cena. O texto exige bastante dos três e eles devoram cada oportunidade. Eles brilham.

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12. Noites Brutais
direção: Zach Cregger

Uma obra que me deixou em completo choque, não só por suas cenas fortes, mas também por toda sua ousadia e originalidade. Porque se recusa a ser só mais um filme de terror, se transformando (e se reinventando) a cada minuto. “Noites Brutais” sabe como fisgar a atenção, revelando uma trama que tem sempre uma carta na manga e está sempre a um passo à frente do público. Temos aqui quase que 3 filmes distintos e que, aos poucos, vão se encontrando. Essas quebras podem até causar uma estranheza, mas enriquecem sua estrutura como um todo. Sem pretensão alguma, encontramos aqui um dos filmes mais inventivos e divertidos do ano.

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11. O Bom Patrão
Direção: Fernando León de Aranoa

Às vezes, para se ter equilíbrio no mundo, é preciso enganar a balança. É com essa premissa que “O Bom Patrão” faz um recorte extremamente atual sobre o mundo corporativo e sobre as tantas desigualdades que regem o sistema capitalista. O filme acontece durante uma semana, quando o dono de uma fábrica de balanças, Julio Blanco, interpretado pelo sempre fantástico Javier Bardem, precisa resolver todos os problemas de seus funcionários para conseguir, ao fim daqueles dias, receber um prêmio de excelência empresarial. É ele fazendo absurdos para tapar os buracos e manipulando a todos para sair bem na foto. O roteiro é espertíssimo e cria situações que atacam a nossa ansiedade. Ficamos atentos pelos desdobramentos e para ver como toda aquela loucura poderia acabar. Um filme brilhante, divertido e incrivelmente dinâmico.

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10. Great Freedom
direção: Sebastian Meise

“Great Freedom” ilustra com extrema delicadeza o período em que amar era considerado um crime. Parece uma trama distópica e nos sufoca quando entendemos a vida opressora que muitos tiveram que enfrentar. Acompanhamos a jornada de Hans Hoffman (Franz Rogowski) que, em um período pós-guerra na Alemanha, é encarcerado repetidas vezes ao longo dos anos por ser homossexual. Me vi o tempo todo querendo poder abraçá-lo. Hans é o doloroso retrato de tantas pessoas que tiveram suas identidades apagadas. O filme choca ao recontar esse momento da história em que homens foram perseguidos e castigados pela forma como eles amavam. O fim, então, vem como um soco ao falar de liberdade e o quanto ela é relativa. O que é ser livre para você pode também ser a minha prisão.

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9. Argentina, 1985
direção: Santiago Mitre

Em uma época em que muitos ainda apoiam a ditadura militar, “Argentina, 1985” não poderia ter vindo em hora melhor. O longa nos mostra o julgamento histórico que colocou no réu os principais comandantes do regime militar argentino e todos aqueles responsáveis por torturar e assassinar durante a mais sanguinária ditadura da América Latina. O ótimo Ricardo Darín interpreta o promotor público que esteve à frente do processo e como ele reuniu um grupo de jovens estudantes para a investigação do caso. O diretor Santiago Mitre constrói um filme de tribunal angustiante, mas também eletrizante, que envolve e nos mantém vidrados por cada nova informação que chega. Sabe como dosar o humor e o tempo para revelar as relações entre os personagens. Fantástico e altamente necessário.

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8. O Chef
Direção: Philip Barantini

Filmado em único take, vemos de perto a noite mais movimentada dentro de um restaurante. A câmera caminha pelos corredores da cozinha, onde assistimos a rotina caótica do local e um Chef que precisa lidar com a pressão dos funcionários, dos clientes e da crítica, além de ter que segurar seus tantos dramas pessoais. É simplesmente eletrizante adentrar ao universo desse filme, que segura nossa mão já nos primeiros minutos e não solta nem por um segundo. Um plano sequência incrivelmente bem coreografado, que traz naturalidade e intensifica os tantos sentimentos que ali se abrigam. O elenco é incrível e faz esse jogo proposto funcionar. Acreditamos naquela realidade e ficamos hipnotizados por cada pequeno detalhe. Uma obra imersiva, inteligente e sem a pretensão de ser, diferente de outros “menus” oferecidos por aí.

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7. Elvis
direção: Baz Luhrmann

Elvis Presley foi uma das figuras mais emblemáticas do século XX. Ainda que ele já tenha se tornado personagem em outros filmes, nunca o cinema teve a coragem de fazer uma cinebiografia dessa magnitude e Baz Luhrmann, mais conhecido por sua estética espalhafatosa, prova ter sido a escolha mais adequada para esse projeto. Ele flerta com o musical contemporâneo e costura a vida de Elvis em meio a colagens e batidas que nunca pausam. Navegamos em um ritmo alucinante pelos altos e baixos de sua carreira, desde sua infância até sua morte e é incrível como o roteiro consegue, em suas duas horas e meia, dar um overview sobre tudo, sem nunca perder o fôlego. Longe de qualquer imitação, Austin Butler se entrega de corpo e alma nesta obra energética e revigorante. O show que Elvis merecia. O filme que nem sabíamos que precisávamos.

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6. Não! Não Olhe!
direção: Jordan Peele

Jordan Peele segue sendo um dos raros cineastas atuais a movimentar uma multidão para uma ideia original. É um trabalho maduro, de um diretor ainda em seu auge e nos oferecendo uma experiência sem igual. Aquele tipo de filme que, além de nos causar fascínio diante de seus misteriosos símbolos, também nos empolga nesse cinema eletrizante, bom demais de ver em uma tela grande. O terror aqui está nos céus e desperta a atenção de dois irmãos (Keke Palmer e Daniel Kaluuya) que moram em um rancho e procuram alguma forma de registrar essa criatura que os amedronta. É um filme que permite inúmeras interpretações e isso só o enriquece. E não é apenas por essas possíveis leituras que o novo trabalho de Peele funciona. Funciona, principalmente, porque é muito bem feito, porque encanta e diverte um bocado. O roteiro é ótimo e encontra equilíbrio entre comédia e tensão. Um espetáculo visual, sonoro e que só cresceu dentro de mim. Quanto mais eu penso nele, mais eu gosto.

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5. A Pior Pessoa do Mundo
direção: Joachim Trier

Impossível chegar aos 30 anos e não se identificar com a trajetória da personagem Julie, muito bem defendida pela atriz Renate Reinsve em “A Pior Pessoa do Mundo”. Quando ela alcança essa idade, milhões de inseguranças a atingem e uma necessidade de realizar tudo, ao mesmo tempo em que não consegue concretizar nada. O longa norueguês acaba por revelar um singelo e honesto retrato da vida adulta e as tantas incertezas que nos definem. Julie tem a preciosa habilidade de fazer as coisas não darem certo e suas falhas acabam dizendo mais sobre nós do que gostaríamos de admitir. Flertando com o lúdico, o diretor Joachim Trier entrega uma obra deliciosa, elegante e assustadoramente madura.

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4. Um Herói
direção: Asghar Farhadi

O cinema do iraniano Asghar Farhadi tem poder de nos provocar com seus contos morais e aqui não é diferente. É difícil sair ileso de “Um Herói”, que segue como se uma bomba pudesse explodir a qualquer instante. Rahim (Amir Jadidi) está preso por uma dívida que não consegue pagar e durante sua condicional, ele tenta reverter a situação para que a queixa seja retirada. Nada sai como o planejado e sua ação acaba tendo proporções inimagináveis. Nos mantém tensos e angustiados, porque ficamos ali torcendo por algum milagre que faça o protagonista se ver livre desse circo que ele acaba criando para si. Farhadi não tem interesse em julgar o caráter de Rahim e nos faz questionar, a todo momento, o que faríamos em seu lugar. O quão culpado ele é nessa história ou o quão longe vale ir para provar inocência. São decisões difíceis e por isso ficamos ali, sufocados e completamente imersos em sua trajetória. Um drama eletrizante e que, definitivamente, me deixou sem fôlego.

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3. Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo
direção: Daniel Kwan, Daniel Scheinert

“Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo” não poderia ter um título mais pertinente. De fato, cabe muita coisa dentro desse filme, que flui entre gêneros distintos e consegue ser incrível em todos eles. Ao nos transportar para esse lugar de infinitas possibilidades, nos permite sentir inúmeras sensações e vivenciar uma experiência única, ousada e surpreendentemente tocante. O roteiro é absurdamente genial e nunca para de criar ou trazer informações novas. É uma obra que vai se reinventando e mergulhando em lugares nunca antes explorados. A criatividade aqui é inesgotável, onde nem tudo faz sentido e nada, no fim das contas, precisa fazer. O grande lance aqui é se permitir viver a loucura e abraçar o nonsense, porque em algum canto, seja por um detalhe ou um simples diálogo, o filme falará diretamente com você. E no meio do furacão espalhafatoso que nos deparamos aqui, existe um coração que bate forte e emociona quando menos esperamos. Há tanta coisa dentro do filme que ele explode em nós.

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2. Cha Cha Real Smooth
direção: Cooper Raiff

Eu realmente acredito que alguns filmes podem ter um significado mais profundo quando aparecem na hora certa em nossas vidas. Esse aqui foi de encontro comigo e com o que sinto, me fazendo desabar ao final. Escrito, dirigido e estrelado por Cooper Raiff, o longa traz uma narrativa sobre amadurecimento na fase adulta, quando seu carismático protagonista, completamente perdido na vida, acaba se apaixonando por uma mulher mais velha e comprometida. O texto é ótimo e mesmo que tudo seja extremamente leve e gostoso de assistir, caminha com os pés no chão, revelando personagens e sentimentos extremamente possíveis. Diz muito sobre como, independente da idade, no fim das contas, todos enfrentamos um processo de entendermos a nós mesmos e de como encarar o outro. É aqui que o texto vem para dizer muito sobre responsabilidade afetiva e a importância de ser verdadeiro com o próximo. Penso que o que há de mais poderoso aqui é a honestidade entre os personagens e essa coragem que todos têm em dizer o que sentem. Vivemos em um tempo onde todos são tão frios e distantes, que ouvir sobre gentileza acaba sendo de grande impacto. “Cha Cha Real Smooth” diz coisas que eu precisava ouvir e nem sabia. É lindo, acolhedor e faz um bem enorme pra alma.

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1. Aftersun
direção: Charlotte Wells

Nenhum outro filme de 2022 me despertou o que esse aqui conseguiu. É um cinema que transcende, que nos leva para um lugar imensamente íntimo, doce e, ao mesmo tempo, tão obscuro e doloroso. “Aftersun” terminou e me deixou paralisado, em completo estado de catarse. Enquanto grande parte da projeção, estamos lidando com as férias de verão e o relacionamento entre uma filha, Sophie (Frankie Corio) e seu pai Calum (Paul Mescal), ao decorrer entendemos que se trata de uma história de reconciliação, de memória e luto. De uma mulher, agora adulta, procurando pela verdade de seu pai, por tudo aquilo que só a idade a fez compreender. O resultado dessa experiência é algo difícil de esquecer. Uma obra que me comoveu profundamente e me fez ficar remoendo por muito tempo o que eu havia presenciado. Um filme que ecoa em nós. O melhor do ano.

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E para você? Qual o seu filme favorito 2022?

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As 15 melhores cenas de 2022

A retrospectiva continua por aqui para revelar o que teve de melhor no cinema em 2022. Venho agora listar as minhas cenas favoritas do ano.

Separei 15 momentos que, de alguma forma, me marcaram. Seja por um diálogo, pelo visual, pelas atuações. Seja pela forma como o diretor revelou aquele momento dentro do filme. Aqueles instantes que ficaram na cabeça e, por isso, merecem destaque.

Lembrando que todos os títulos citados são de produções lançadas entre janeiro e dezembro de 2022 aqui no Brasil, no cinema ou VOD, independente do lançamento no país de origem.

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15. Revelação
(Morte Morte Morte)

Seria trágico, se não fosse tão cômico. “Morte Morte Morte” traz uma situação aterrorizante, quando um grupo de “amigos” são assassinados dentro de uma mansão ao longo de um fim de semana. A cena final vem para revelar o grande mistério e, assim como toda a obra, choca pelo absurdo. Uma quebra de expectativa corajosa, porque entrega exatamente o que nenhum outro filme de terror ousaria, justamente porque não é o que o público espera. Quando as sobreviventes encontram o celular da suposta primeira vítima, assistem incrédulas o registro de sua morte. É um instante cômico e surpreendente. Para rir de nervoso.

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14. Fita métrica
(Noites Brutais)

Já na segunda parte de “Noites Brutais”, o personagem de Justin Long retorna para seu imóvel abandonado e ao chegar lá percebe que há um “puxadinho” misterioso. É então que ele decide medir aquele novo espaço. A tensão existe porque nós já sabemos o que habilita ali e vê-lo caminhando tranquilamente com sua fita métrica nos deixa imensamente apreensivos. O diretor Zach Cregger sabe como trabalhar o suspense e nos mantém hipnotizados ali, já esperando pelo pior.

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13. Monólogo na praia
(Mais Que Amigos)

Billy Eichner sempre abraçou com força esse papel do cara tagarela e áspero. Quando ele escreve “Mais Que Amigos”, é nítido que ele coloca muito de si na história. A cena em que ele vai à praia com seu “bro” é quando ele revela sua mais verdadeira essência. Longe de qualquer máscara, caricatura ou muro que ele construiu para si. É ele falando sobre ser um artista gay e como teve sua voz reduzida por tanto tempo dentro do mundo do entretenimento. Como ele precisou esperar até que histórias entre homossexuais pudessem ser lucrativas para que ele, enfim, pudesse falar sobre suas próprias vivências. É metalinguagem pura em um discurso honesto e extremamente necessário.

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12. Ensaio da Morte
(Competição Oficial)

A trama de “Competição Oficial” oferece uma metalinguagem bem saborosa e interessante. São dois atores que não se suportam, precisando dar vida a história de vingança entre dois irmãos. A cena em questão, é quando os astros precisam ensaiar o ápice do filme que vão gravar. A sequência que marcará a grande reviravolta, quando um dos irmãos assassina o outro e rouba seu lugar. É muito simbólico esse instante porque acaba refletindo muito sobre o que virá a acontecer na realidade. É fascinante também toda a construção desse momento, onde os cenários estão apenas demarcados e parece que estamos diante de uma peça de teatro, com pouca iluminação e uma atmosfera angustiante.

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11. Telescópio
(Marte Um)

“Marte Um” é um filme muito singelo e feito de muito coração também. O final deixa isso muito claro, quando a família Martins, depois de passar por vários perrengues, decide ouvir sobre os sonhos do filho mais novo, que almeja estudar astrofísica e participar de uma missão espacial. Ele, então, os leva a observar o céu com seu telescópio. É uma cena genuinamente bela, que traz finalmente um momento de paz para aqueles personagens e de esperança que eles tanto precisam.

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10. Crianças revoltadas
(Matilda: O Musical)

Nem todos os números musicais funcionam na versão de “Matilda” da Netflix. Mas se tem um que me fez me ajeitar na poltrona e dar um replay foi a sequência em que as crianças se rebelam na escola cantando “Revolting Children”. É uma coreografia assustadoramente bem coordenada, acelerada e empolgante. A câmera passeia pelos corredores do local em uma montagem fascinante.

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9. Jantar de pérolas
(Spencer)

Quando junta a trilha de Jonny Greenwood, a elegante condução de Pablo Larraín e as expressões de Kristen Stewart, temos o prato perfeito para uma cena agoniante e irretocável. É um jantar que explicita a relação conturbada entre a Princesa Diana e a família Real e, também, uma grande metáfora para os transtornos sofridos pela protagonista. Entre troca de olhares fuzilantes, ela se vê presa no local. Sufocada, ela arranca o próprio colar, deixando as pérolas caírem no prato, onde logo em seguida, as come.

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8. Trouble
(Elvis)

Eu poderia listar inúmeras cenas incríveis de “Elvis”, mas cito uma que me deixou extasiado. Quando o Rei sobe no palco para cantar “Trouble“, ele registra ali que está contra as regras, contra a ordem que rege aquela sociedade tão retrógrada. Com seus movimentos sensuais e gestos provocativos, ele leva o público à loucura, para a fúria dos policiais que acompanhavam o show e logo precisam interceder. É Elvis usando o poder de sua música para quebrar barreiras e incitando a rebeldia que muitas vezes é necessária.

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7. Naatu Naatu
(RRR)

Mais do que entregar uma música chiclete, temos aqui a cena mais fascinante de “RRR”, épico indiano da Netflix. É uma sequência musical no meio de sua aventura gloriosa, onde os dois protagonistas se unem, em uma festa, para ensinar aos convidados um passo de dança nada convencional. É um ato rebeldia ali, já que aqueles movimentos não são bem vindos na alta classe. A sequência é divertidíssima e eletrizante, onde os dois entregam uma coreografia insana e impossível de desgrudar os olhos.

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6. Última batalha
(O Homem do Norte)

O último ato da vingança de Amleth (Alexander Skarsgard), que finalmente entra em combate com seu tio. O diretor Robert Eggers faz deste instante algo esplêndido, quando os coloca para lutar pelados em um cenário devastado por lavas que queimam. O vermelho grita na tela em uma sequência pouco iluminada. A potente trilha traz ainda mais essa sensação de que estamos presenciando algo épico. Há tensão, emoção e tudo que é necessário para entregar um belíssimo clímax.

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5. Chuva de Sangue
(Não! Não Olhe!)

Um dos momentos mais tensos e brilhantes de “Nope”, quando Emerald (Keke Palmer) e Angel (Brandon Perea) estão dentro da casa e percebem que algo muito ruim está acontecendo do lado de fora. Eles começam a ouvir sons assustadores que se aproximam, como gritos desesperados. Logo depois, avistam pela janela, uma chuva de sangue acompanhada de vários objetos, como restos mortais sendo cuspidos por alguma criatura que sobrevoa a região. A trilha sonora de Michael Abels torna esse instante ainda mais impactante. Olhei para essa cena e gritei “ARTE!”.

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4. Pedras
(Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo)

Curioso como uma das cenas mais sinceras e emocionantes de “Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo” seja protagonizada por duas pedras. É um filme que reúne várias sequências peculiares e essa é uma delas. Em um dos tantos universos propostos aqui, mãe e filha são duas pedras no topo de uma montanha. Ali elas tem uma pequena reflexão sobre a vida e como diante de todo universo são apenas criaturas pequenas e estúpidas.

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3. Tempo congelado
(A Pior Pessoa do Mundo)

Cansada da monotonia de seu relacionamento atual e da rotina sem emoção que segue, Julie (Renate Reinsve) vislumbra um mundo congelado. Ela sai de seu apartamento e atravessa a cidade, onde todos os moradores estão paralisados. Julie vai de encontro a única pessoa que também não teve o tempo parado, seu amante, que trabalha em um café. Eles passam um dia romântico juntos. Um dia só deles. Sem ninguém mais. Uma sequência belíssima e apaixonante, ainda que revela essa impulsividade autodestrutiva da protagonista. É leve, gostoso de ver e uma quebra interessante e fantasiosa dentro de um filme tão realista.

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2. Introdução
(Athena)

A notícia de um jovem morto por um policial dá início a uma revolta popular na França. A introdução de “Athena” nos coloca para dentro da cena, quando vemos o grupo de rebeldes em ação. Filmado em um eletrizante plano-sequência, o diretor Romain Gavras constrói ali um instante hipnotizante, imersivo e poderoso. É daqueles momentos do cinema que ficamos nos perguntando como tudo aquilo foi feito. É extremamente calculado cada passo ali e ficamos abismados com tamanha perfeição.

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1. Última dança
(Aftersun)

Começa como apenas uma cena adorável entre pai e filha, durante uma festa, quando ele a convida a dançar “Under Pressure”, clássica colaboração entre Queen e David Bowie. Uma música presente em muitos filmes, mas esse aqui trouxe uma nova perspectiva, que nos faz ouvi-la de forma diferente. A batida empolgante, de repente, ganha contornos mais dramáticos. “Você pode nos dar mais uma chance?”. “Esta é nossa última dança”. Essas frases ecoam em nós como um soco diante do que acontece ali. É o presente devastado tentando abraçar o passado incompreendido. É uma filha buscando seu pai, tentando viver aquela última lembrança com novos olhos. Uma cena incrível, que nos toca e causa um impacto gigante em nós.

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E para você? Qual a sua cena favorita de 2022?

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Os 15 melhores atores de 2022

Continuando com a retrospectiva de 2022, venho apresentar os meus atores favoritos do ano.

Tivemos algumas grandes revelações de atores novatos, como também tivemos a chance de ver alguns veteranos brilharem novamente. Foi um ano bem interessante para as atuações masculinas, o que tornou bem difícil fechar essa lista em apenas 15 nomes.

Espero que gostem dos selecionados e comentem qual foi a favorita de vocês!

Lembrando que selecionei atuações apenas de filmes lançados entre janeiro e dezembro de 2022 aqui no Brasil, no cinema ou VOD, independente do lançamento original.

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15. Vincent Lindon
(Titane)

“Titane” é um filme bem maluco e precisava de um excelente ator para fazer essa insanidade funcionar. Vincent interpreta Vincent, um homem que injeta esteróides para salvar seu corpo do envelhecimento, enquanto luta pela dor de ter perdido um filho no passado. É um personagem ferido e que externaliza suas dores através de sua força e fúria. Uma performance marcante de um grande ator.

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14. Justin Chon
(Blue Bayou)

Justin também escreve e dirige o drama “Blue Bayou”, o que torna sua atuação ainda mais interessante. Ele é incrível em todas as funções que ocupa aqui e prova ser um talento a ser descoberto. É nítido o quão pessoal é esse projeto para o ator, que entrega muita honestidade em todos os seus dolorosos discursos. O final é arrebatador e ele nos destrói.

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13. Alexander Skarsgård
(O Homem do Norte)

Confesso que eu sempre esqueço que o Alexander é um grande ator. Toda vez que ele ressurge eu penso: “Ah, verdade! Ele atua muito bem mesmo”. Talvez porque ele já tenha se metido em projetos duvidosos, mas quando ele tem a chance de fazer algo realmente bom, o cara se destaca. Em “O Homem do Norte”, ele nos revela toda a garra de seu bravo protagonista, atormentado pelo passado, sedento por vingança. Sua presença é forte e nos carrega ao seu lado nessa jornada violenta.

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12. Peter Dinklage
(Cyrano)

Peter já havia dado vida a Cyrano nos palcos e agora tem a chance de mostrar ao grande público o carinho que tem pelo personagem. Um homem que, por acreditar não ser digno do amor, se esconde nas cartas que envia à sua donzela, fingindo ser outra pessoa e vivendo sempre distante da felicidade. Além de revelar ser um excelente cantor, afinal estamos falando de um musical, Peter faz de Cyrano uma figura adorável e apaixonante. Deposita ali muito sentimento e facilmente nos emociona.

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11. Dev Patel
(A Lenda do Cavaleiro Verde)

Gawain não tem nada de herói e é justamente isso que torna sua jornada tão interessante. Distante da bravura e lealdade que sempre lemos nas histórias sobre a Távola Redonda, ele é covarde, fraco e cheio de dúvidas. Ele é humano. Dev Patel faz de Gawain um indivíduo estranhamente fascinante, que caminha sempre atormentado por suas escolhas, pelo peso de ser quem é, receoso sobre o que o futuro lhe aguarda. 

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10. Oscar Martínez
(Competição Oficial)

No meio da insana e divertida metalinguagem de “Competição Oficial”, o ator argentino Oscar Martínez brilha como o ator Iván Torres, um renomado astro do cinema que precisa encarar um excêntrico ensaio para seu novo filme. Nesse tempo ele precisa se desconstruir e se desprender de seu enorme ego. Oscar nos convence ser essa persona amarga e obcecada pela perfeição. Um grande personagem entregue a um grande ator. Não poderia dar errado.

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9. Denzel Washington
(A Tragédia de Macbeth)

O veterano Denzel Washington tem a chance de ouro aqui. É aquele papel do sonho de qualquer profissional e ele agarra com bravura, estando sempre a altura do difícil texto que proclama. Como Lorde Macbeth, o ator nos relembra o tamanho de seu talento e fazia tempo que ele não tinha uma oportunidade tão rica como esta.

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8. Felix Kammerer
(Nada de Novo no Front)

É bastante desesperador acompanhar a guerra pelos olhos do soldado Paul. Se de início, ele é apenas um jovem sonhador, acreditando estar agindo como herói, assim que pisa nas trincheiras destroçadas, sua expressão se apaga. Felix entrega uma atuação brutal, intensa e que acaba dizendo muitos com seus olhares.

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7. Paul Mescal
(Aftersun)

Eu diria que é impossível não se envolver com o Paul Mescal em “Aftersun”. Impossível não ficar com ele na mente, muito tempo depois que o filme termina. Seu personagem nos envolve e, ao fim, nos faz revirar tudo o que vimos para tentar entendê-lo melhor, buscar detalhes que nos passaram despercebidos. É como se ele fosse próximo de nós. Um ente querido, um amigo do qual recordamos com carinho. Uma performance muito singela, comovente. Paul é uma revelação.

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6. Javier Bardem
(O Bom Patrão)

Me vi com um sorriso nervoso enquanto assistia “O Bom Patrão”. É um retrato poderoso e extremamente atual sobre o mundo corporativo. Como chefe de uma fábrica de balanças, Javier nos faz sentir um turbilhão de emoções. É uma mistura de asco e raiva, mas também de admiração por ver um ator veterano tão entregue e tão à vontade no papel. É desconfortavelmente cômico, real e ele nos fisga. Ele faz aqui um protagonista incomum, onde nos deixa vidrados por suas ações inescrupulosas e torcendo por sua desgraça.

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5. Amir Jadidi
(Um Herói)

“Um Herói” atacou a minha ansiedade. A obra nos faz sentir sentimentos diversos diante de sua trama que corre como se a qualquer minuto uma bomba pudesse explodir. A poderosa presença de Amir Jadidi faz dessa experiência ainda mais intensa e emotiva. Há algo de muito único em seu olhar e sua postura. Ele é um cara comum, querendo recuperar sua vida depois de ser preso injustamente. Seu sorriso de alguém que quer sempre acreditar no melhor nos golpeia com força. Uma atuação delicada e extremamente humana.

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4. Antonio Banderas
(Competição Oficial)

Bandeira dá vida a Félix Rivero, um astro do cinema que está prestes a lançar um novo filme. Ele tem uma reputação a zelar e um método de atuação nada convencional. Banderas está à vontade no papel e nos diverte. Ele explora muito bem todas as possibilidades aqui e entrega uma performance espetacular. O monólogo dele quando inventa sofrer de uma doença terminal é de arrepiar.

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3. Stephen Graham
(O Chef)

“O Chef” tem um roteiro eletrizante que não nos permite escapar nem por um segundo. Ficamos ali vidrados por cada passo dos atores, isso porque é filmado em um único take. É um desafio e tanto para o britânico Stephen Graham que não se pode dar o luxo da falha. É ele quem nos guia pelos espaços de um restaurante, vivendo a pressão de uma noite de trabalho. Ele precisa segurar os ânimos de todo mundo, manter aquele lugar de pé e ainda enfrentar seus tantos medos internos. Ele é um furacão.

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2. Franz Rogowski
(Great Freedom)

Um dos personagens que mais comoveram em 2022. Franz é um ator brilhante e me fez querer, a todo momento, entrar ali na tela e abraçá-lo e dizer que vai ficar tudo bem. Ele interpreta Hans, que em uma Alemanha pós-guerra, é repetidamente preso ao longo dos anos por ser homossexual. Um papel poderoso e que representa tantas histórias silenciadas. Me vi com os olhos marejados e com o coração apertado diante de sua presença. É belo e único o que ele faz aqui.

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1. Austin Butler
(Elvis)

Desde que vi as imagens e posteriormente o trailer, em nada Austin me convencia que poderia ser o Elvis Presley. Não só por não parecer fisicamente com o ícone da música, mas algo não encaixava. Ao final do filme eu estava trêmulo, simplesmente hipnotizado por aquela performance. É muito difícil fazer o Elvis porque ele é uma figura excêntrica e já foi alvo de muitas imitações. Distante de qualquer caricatura, Austin traz verdade. Traz sentimento. Não apenas pela voz e por seu rigoroso trabalho corporal, mas também por sua energia, por sua presença que ocupa os espaços e que nos faz acreditar, durante aqueles preciosos minutos, de que sim…ele é o Elvis.

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E para você? Qual foi o melhor ator de 2022?

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Crítica | Elvis

O pássaro que não para de voar

Elvis Presley foi uma das figuras mais emblemáticas do século XX. Sua importância na história da música, que o consagrou como o Rei do Rock, se reflete até hoje. Ainda que ele já tenha se tornado personagem em outros filmes, nunca o cinema teve a coragem de fazer uma cinebiografia dessa magnitude. Baz Luhrmann, mais conhecido por sua estética espalhafatosa, surpreendentemente, prova ter sido a escolha mais adequada para esse projeto. É uma obra autoral, onde seus truques e exageros dialogam perfeitamente com suas intenções, sem nunca ofuscar a vida do astro. Ele abrilhanta sua trajetória e entrega uma homenagem, finalmente, a sua altura. 

Aqui, Baz Luhrmann flerta com o musical contemporâneo e costura a vida de Elvis em meio a colagens e batidas que nunca pausam. É música pulsando na veia em uma montagem criteriosa e soberba. Navegamos em um ritmo alucinante pelos altos e baixos de sua carreira, desde sua infância até sua morte. É incrível como o roteiro consegue, em suas duas horas e meia, dar um overview sobre tudo, sem nunca perder o fôlego e sem nunca largar nossa mão. Ainda que mereça louvor pelo feito de condensar toda a jornada – porque é uma tarefa cruel e quase que impossível – isso, também, enfraquece, em partes, sua dramaticidade. A história do casal, por exemplo, nunca ganha profundidade e nunca entendemos, de fato, o que os torna distantes. Ou sua vida em Hollywood, ou vício nas pílulas. Tudo ali, ao fim, vira um detalhe, quando havia tanto a dizer. 

“Elvis”, entretanto, não está só interessado na carreira do ícone, mas em como o mundo e a sociedade vivia em sua época. Seja por revelar suas raízes mais humildes em Memphis e como a cultura negra teve grande influência em sua música, seja por mostrar esse país que vivia as dores da segregação e em chamas pelos assassinatos de seus líderes. “Quando as coisas estão perigosas demais para dizer, cante!” A voz de Elvis vem com o peso de representar muita história e ele sentia que esse dom tinha um propósito. Sua presença despertava um senso de rebeldia, de força, mesmo quando por dentro, ele era tão frágil. 

É então que temos Austin Butler para dar vida ao ídolo. Longe de qualquer imitação, o ator se entrega de corpo e alma em cena. É comovente ver seu trabalho vocal e corporal. Ele deu o sangue ali e é nítido em cada instante. Tom Hanks, ainda que entregue uma atuação distante de tudo o que ele já fez em sua carreira, seu personagem me incomoda. O filme foca bastante nessa relação tóxica entre Elvis e seu agente Tom Parker, mas este me soa extremamente caricato, quase como um vilão cartunesco. Ficou difícil acreditar nessa inocência do cantor e como ele entregou a própria vida para um ser que, desde o primeiro momento, se mostrou tão desprezível. Ainda assim, o roteiro deixa claro o quão complexo é esse relacionamento e o quão difícil era o astro se ver livre da gaiola que criaram para ele. 

Elvis, assim como ele mesmo acreditava, era um pássaro que só possuía asas. Ele não podia pousar, logo, só voava. Para o astro que nunca teve os pés no chão, Baz Luhrmann entrega um espetáculo a sua altura, que caminha com uma batida ininterrupta, nos permitindo viver o caos e agitação de alguém que nunca pôde aterrissar. Uma obra energética, revigorante e que explode em nós. É belo, empolgante e musicalmente formidável. O show que Elvis merecia. O filme que nem sabíamos que precisávamos.

NOTA: 9,5

País de origem: EUA
Ano: 2022
Duração: 159 minutos
Disponível: Cinema
Diretor: Baz Luhrmann
Roteiro: Craig Pearce
Elenco: Austin Butler, Tom Hanks, Olivia DeJonge, Dacre Montgomery, Luke Bracey