A existência além de um perfil no Instagram

Ao mergulhar na rotina de uma influencer fitness, o drama polonês “Sweat” consegue fazer um estudo extremamente atual sobre os reflexos dessa cultura digital em nossa vida. O roteiro tenta desvendar o que há por trás daquilo que não vimos, dessa existência além de um perfil do Instagram. Acaba sendo perturbador acompanhar a jornada da protagonista porque diz muito sobre essa estranha obrigação que construímos para nós mesmos. A de registrar como forma de existir.

Acompanhamos, então, três dias na vida de Sylwia (Magdalena Koleśnik), a influencer de milhões de seguidores que, para manter seu projeto fitness, acaba sendo o rosto de diversas marcas e vivendo, aparentemente, uma vida dos sonhos. Um desconforto em sua carreira nasce, porém, quando decide postar um vídeo se abrindo publicamente sobre sua solidão e sobre querer encontrar um homem. É muito curioso esse conflito porque ele mostra o quanto a vida digital precisa ser uma encenação de ânimo e sucesso e Sylwia se vê estremecida quando abre essa porta, quando permite ser honesta com aqueles que a seguem. É como se ela quebrasse uma regra, revelasse ao mundo algo que a torne frágil e isso é inadmissível.

“Sweat” faz um registro muito real sobre o que é estar presente nas redes sociais. Em nenhum momento o roteiro julga sua protagonista, que é escrita com muita originalidade, e nem busca por conclusões fáceis sobre o assunto, tanto que se encerra com um sentimento amargo. Magnus Von Horn, que aqui escreve e dirige, coloca sua personagem em um ponto de reflexão. Até que ponto ela é capaz de aguentar essa pressão e as demandas exaustivas de se viver virtualmente. Visualmente, o filme traz cores fortes e alegres, ilustrando essa contradição entre a rotina projetada para os outros verem e aquela em que realmente se vive. Aquela em que se é vulnerável, solitário. Aquela que se esconde.

Em tom documental, o longa nos causa bastante desconforto e alcança momentos de brilhantismo como quando Sylwia visita sua família. Infelizmente, sinto que a trama acaba focando demais no plot do stalker, quando poderia usar desse tempo para explorar outras questões mais interessantes. Sinto, também, que o discurso final foi um pouco desnecessário, onde poderia ter sido mais sutil nas revelações da protagonista.

“Sweat” termina e nos deixa em silêncio, pensativos sobre essas armadilhas que as redes sociais nos pregam. Não acredito que o filme se aprofunde tanto no tema, por vezes, é até bastante vago, mas causa algo em nós. Diz muito sobre solidão, sobre a vida além daquela que postamos e tudo aquilo que é tão frágil em nós e omitimos. No virtual, os outros não querem ouvir e nós não queremos que eles saibam.

NOTA: 8,0

País de origem: Polônia, Suécia
Ano: 2020
Duração: 100 minutos

Disponível: Mubi
Diretor: Magnus von Horn
Roteiro: Magnus von Horn
Elenco: Magdalena Koleśnik

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