A nova definição da vergonha

Fantástico trabalho de estreia da canadense Emma Seligman. “Shiva Baby” revela algumas experiências pessoais da cineasta enquanto jovem, bissexual e vivendo em uma comunidade judaica de Nova York. É um retrato bastante íntimo e um tanto quanto transgressor ao discutir temas tabus dentro de uma cultura tão conservadora.

Na primeira cena, Danielle (Rachel Sennott) se arruma para um evento enquanto é paga depois de transar com um homem mais velho. Ela vai participar de um Shivá, cerimônia judaica de sete dias de luto, onde encontra com sua família, a ex-namorada e este seu atual Sugar Daddy, que não apenas conhece seus pais como também é casado e com um filho. É através desta embaraçosa reunião, que o longa nos provoca um riso nervoso, nos fazendo acompanhar uma série de saia-justas, onde a protagonista precisa manter uma aparência que definitivamente não é a sua.

Sabe quando nos deparamos com uma situação tão vergonhosa, onde só queremos cavar um buraco na terra e desaparecer? “Shiva Baby” nos traz a experiência de desfrutar deste incômodo sentimento por uma hora e meia. É uma comédia que desperta desespero e, somado ao violino que toca ao fundo, mais o faz parecer um filme de terror, do qual tememos a todo instante os próximos acontecimentos.

Toda a ação acontece em um único ambiente e a diretora domina aquele pequeno espaço com maestria. O roteiro, também assinado por Seligman, é esperto, tem dinamismo e conta com diálogos ácidos que provocam neste inesperado embate entre práticas sexuais e ritual religioso. O filme tem ritmo, diverte e nos faz adentrar aquele peculiar universo. É claustrofóbico estar na pele da protagonista que precisa lidar com todos interferindo em suas escolhas e palpitando sobre seu futuro. Danielle, interpretada pela ótima Rachel Sennott, enfrenta este período de difíceis decisões da fase adulta e se vê rodeada por uma sociedade que espera algo dela, que a pressiona por viver as conquistas que todos viveram em sua idade. É um peso grande que ela carrega nas costas, que todos nós carregamos.

NOTA: 8,5

País de origem: EUA
Ano: 2020
Disponível: Mubi
Duração: 71 minutos
Diretor: Emma Seligman
Roteiro: Emma Seligman
Elenco: Rachel Sennott, Molly Gordon, Polly Draper, Fred Melamed, Danny Deferrari

Deixe uma resposta