As histórias que ficam pelo caminho

Existe uma linha tênue que separa o documental e a ficção no cinema de Chloé Zhao. Eles se misturam em suas narrativas e dentro delas não é mais possível separá-los. Em “Nomadland”, ela faz um registo bastante íntimo sobre o fenômeno crescente de pessoas que, em território norte-americano, buscam por trabalhos sazonais em uma viagem sem rumo por todo o país. Somos levados a conhecer um pouco dessa vida nômade pelo singelo olhar de Fern, brilhantemente interpretada por Frances McDormand, que após ficar viúva e enfrentar um colapso econômico em sua cidade, passa a morar em sua Van, traçando uma jornada sem destino e se mantendo em empregos temporários.

A cada novo ponto de parada em sua viagem, a protagonista constrói uma nova história. Ela é a soma de muitas conversas, encontros e ciclos que nunca se fecham. É lindo quando Fern se mantém em silêncio, apenas ouvindo o que os outros têm a dizer. É lindo, ainda, em como “Nomadland” nos permite, ao seu lado, vivenciar tudo isso, nos conectar com tantas jornadas e sentimentos. Chloé Zhao traz poesia e honestidade em cada minuto de seu filme, imensamente tocante e realista.

“Lar é só uma palavra ou algo que carrega dentro de você?”. Cada indivíduo ali relatado traz consigo uma história muito forte, algo que os conecta ao mundo. Em um dos momentos mais emocionantes do longa, uma das figuras reais – Robert Wells – revela que o que mais admira nessa vida nômade é nunca precisar dizer adeus, diferente das grandes perdas que já sofreu na vida. A viagem segue sem destino, mas o que houve de mais significativo retorna, se mantém vivo dentro de cada um. O rumo é solitário, mas a alma é cheia de muito sentimento.

“Nomadland” encontra beleza nesses encontros, nessas histórias. As belas imagens, a encantadora trilha sonora e a fluida e hipnotizante montagem fazem desta viagem ainda mais prazerosa. Frances está incrível aqui, completamente entregue aos tantos sentimentos de sua adorável personagem. Ela é real e nos faz querer abraçá-la a cada instante. David Strathairn também merece destaque. A troca entre os dois atores é grandiosa, um dos pontos altos da trama. Chloé Zhao merece o reconhecimento que está tendo. Ela realiza um filme único e especial, que transita de forma primorosa entre a ficção e o documental. Tudo é história, tudo é sentimento e tudo é real. “Nomadland” é imenso.

NOTA: 9,5

  • País de origem: EUA
    Ano: 2020
    Duração: 108 minutos
    Diretor: Chloé Zhao
    Roteiro: Chloé Zhao
    Elenco: Frances McDormand, David Strathairn

Deixe uma resposta