Cultura ocultada
A temporada do Oscar acaba ofuscando boas produções que chegam nesta época do ano e “Alma de Cowboy” é uma delas. O longa revela a história real dos Cowboys negros da Filadélfia, que ainda nos tempos atuais traçam uma caminhada de luta e resistência. É desta forma que o filme se torna bastante necessário, por dar visibilidade a uma cultura tão ocultada e abrir campo para discutir gentrificação e como os espaços urbanos vão sendo alterados tendo o racismo como condutor.
A trama, baseada no livro de Greg Neri, tem como base uma premissa comum, a do filho que retorna para a casa do pai e precisa se adequar às novas regras. O que deixa essa jornada intrigante é que o jovem em questão é inserido em uma realidade incomum, tendo que dividir seu espaço com um cavalo e os Cowboys da Rua Fletcher. Há um descompasso entre aquela comunidade e o tempo em que o garoto vive. O filme acaba sendo sobre este encontro, dele perceber que enquanto ele busca por um lar, aquelas pessoas buscam o refúgio delas também, diariamente, mantendo os estábulos vivos e se mantendo firmes enquanto a cultura delas estão sendo apagadas.

Apesar da previsibilidade desta relação entre pai e filho e da superficialidade com que encerra alguns conflitos, a obra acerta bastante na ambientação e neste poder de nos conduzir para dentro de seu universo tão único e inesperadamente poético. O filme vê beleza na rotina, no trabalho, nas conversas corriqueiras. É belo a forma em que o diretor Ricky Staub ilustra tudo isso, trazendo, inclusive pessoas reais em cena, criando uma atmosfera ainda mais realista e honesta. Um trabalho sensível e que merece destaque no extenso catálogo da Netflix.
NOTA: 8
- País de origem: Reino Unido, Irlanda do Norte
Ano: 2021
Título original: Concrete Cowboy
Disponível: Netflix
Duração: 101 minutos
Diretor: Ricky Staub
Roteiro: Ricky Staub
Elenco: Caleb McLaughlin, Idris Elba, Lorraine Toussaint