o Espetáculo apático de nolan
O mais recente trabalho de Christopher Nolan veio com um peso gigantesco nas costas. Quase como aquele produto que salvaria os cinemas durante a pandemia. Foi um lançamento arriscado e claramente não alcançou os objetivos que pretendia, muito menos causou o impacto que almejava. “Tenet” é um filme difícil e este, definitivamente, não era seu momento.
Nolan é um dos diretores mais ambiciosos de nosso tempo. Seu cinema é grandioso, alcançando um patamar difícil de se manter. “Tenet” é um sinal nítido de seu desgaste, de que ele precisa recuar, se afastar um pouco de sua megalomania. Ele ainda entrega um produto original, novo e interessante, no entanto, falta emoção, aquilo que já em “Dunkirk” demonstrava ter perdido. Ter um bom conceito não é suficiente se você não consegue colocar seu público para dentro da ação. Ele nos priva da experiência, o que torna sua criação sem muitos propósitos.

Nenhum personagem é devidamente apresentado e dificilmente nos importamos com qualquer coisa que eles enfrentam. O protagonista é vazio, o que nos afasta ainda mais de sua missão. Ele é uma peça de um plano maior que nunca temos acesso, seguindo regras que nem mesmo ele compreende. Não tem vida própria e nunca é colocado a fazer escolhas ou a encarar um dilema. John David Washington nitidamente não entendeu o que fazia ali, entregando uma performance desconfortavelmente fraca. Sem carisma algum, sua jornada é guiada por diálogos expositivos e sem emoção. Assim como ele e tudo o que o cerca, não tem alma.
Nolan tem uma direção pomposa como sempre, entregando aqui algumas das cenas mais belas deste ano. Todo o conceito do “universo reverso” é visualmente muito bem explorado, chocando pelas saídas que encontra. O uso controlado de efeitos visuais e sua ousadia de apostar naquilo que é prático, tornam suas sequências de ação absurdamente incríveis. Apesar de ser inventivo, a intenção (e soberba) de Nolan de confundir seu público é maior do que a intenção de nos conectar ao que cria. Sua narrativa é ambiciosa, mas nada disso nos atinge quando o que desenvolve é tão confuso e tão apático. Você passa grande parte sem entender e quando entende, simplesmente não se importa.
NOTA: 6

- País de origem: EUA
Ano: 2020
Duração: 150 minutos
Diretor: Christopher Nolan
Roteiro: Christopher Nolan
Elenco: John David Washington, Kenneth Branagh, Elizabeth Debicki, Robert Pattinson, Michael Caine, Aaron Taylor-Johnson
Com um ato final que reúne todas as pontas soltas, “Tenet” é puramente Christopher Nolan e que fará com que os seus fãs se apaixonem mais, assim como os seus detratores que irão cada vez mais odiar.