De longe, “As Mortes de Dick Johnson” pode parecer macabro. E de perto ele é sim, ainda que a intenção seja fazer algo comovente. A cineasta Kirsten Johnson teve uma mirabolante idéia para seu documentário: criar e filmar diferentes versões da morte de seu pai, como forma de lidar melhor com a iminente despedida deste simpático homem que sofre de demência.
Mesmo que seja nobre a intenção da diretora que tenta, de forma bem humorada, dizer adeus a seu pai – e, por vezes, consegue fazer um delicado relato sobre Alzheimer – incomoda essa exposição de um momento tão delicado para realização de seu filme. Nos faz duvidar o quão sincero é este sentimento exposto, que precisa simular uma câmera desligada para capturar um momento de comoção. É estranho ver aquele homem, que distante do juízo, é colocado em situações desconfortáveis como sangrando até a morte ou reencontrando com a falecida esposa. Na tela é lindo, mas assusta quando usa da dor de tanta gente para a concretização deste ensaio da morte.

É um ato egocêntrico. A interferência e manipulação da cineasta é tanta que a obra se afasta do documental, deixando de imprimir honestidade. A emoção existe, ela é tátil, mas se bem enquadrada, segundo a diretora, é ainda melhor. Parece se divertir com aquilo que diz ter tristeza, criando um jogo sádico e de mal gosto sobre alguém que mal tem controle de suas ações.
NOTA: 6,5
- Duração: 89 minutos
Disponível: Netflix
Direção: Kristen Johnson
Elenco: Dick Johnson, Kristen Johnson