A cor dos novos tempos
Uma preciosidade presente no catálogo da HBO Max e que não tem o reconhecimento que merece. Que grata surpresa me deparar com esta belíssima produção de 98, que tão bem dialoga com o nosso tempo presente. Um filme que, ao falar justamente sobre uma sociedade ultrapassada, tão bem entendeu o futuro.
Escrito e dirigido por Gary Ross, que tempo depois levaria aos cinemas Jogos Vorazes, ele cria aqui uma distopia com uma bela crítica, através de um texto leve e apaixonante, que consegue causar impacto e trazer discussões relevantes, mais de vinte anos depois. Na trama, os irmãos David (Tobey Maguire) e Jennifer (Reese Witherspoon), são transportados para uma série de TV em preto e branco, Pleasantville, no qual o jovem garoto sempre foi aficionado. Ali dentro, eles precisam agir como se fossem personagens daquela cidade fictícia, no entanto, quando situações fogem do controle, aquele mundo passa a seguir uma nova ordem, ganhando vida própria. Ganhando, enfim, cor.

O roteiro de Gary Ross é fascinante e nos faz adentrar a esse universo fictício e a vibrar por seus belos acontecimentos. A vida em “Pleasantville” é perfeita e há algo nostálgico nesses personagens que facilmente nos lembram séries antigas de TV. É brilhante em como, aos poucos, com a chegada desses dois jovens do mundo real, esse universo vai se transformando, justamente quando eles trazem informações de que existe vida fora dali, sentimentos além daqueles que já conhecem. Que a vida pode ser mais do que viver aquela rotina repetitiva e episódica. Brilhante, então, em como a direção de arte vem como parte crucial da narrativa. O surgimento da cor causa espanto naquela comunidade e passa a dar início a uma revolução. Tudo é muito bem cuidado e ilustrado pelo fantástico visual, que segue como um sonho do qual não queremos acordar.
Claro que a crítica da obra seria mais eficaz se tivéssemos um elenco mais diversificado. Alguns discursos teriam ainda mais poder. Ainda assim, temos as ótimas presenças de Tobey Maguire, Reese Witherspoon, Joan Allen e Jeff Daniels. Algo que me incomoda, também, é seus instantes finais e como se conclui essa aventura. O destino dos protagonistas quebra bastante a lógica que havia criado até ali.
Em “Pleasantville” vemos uma sociedade conservadora sendo contestada. Pessoas firmes em suas ideologias ultrapassadas, que enfatizam a continuidade e não a alteração. Que definem o que é agradável e rejeita o que para elas não é. É curioso como aqueles que querem tanto manter tudo como sempre foi são aqueles que estão em uma posição de poder, líderes patriarcais que temem a liberdade de seus subordinados. Neste universo, a cor representa um novo olhar, a evolução que tanto precisamos. O preto e branco confunde nossa visão, é limitado, nos impede de ver a pluralidade das pessoas, a imensidão de cores que somos feitos. Tem muita gente que ainda luta por viver no preto e branco. E quanto mais os anos se passam e mais as gerações evoluem, o mundo ganha a cor que precisa, que melhor se adequa aos novos tempos.
NOTA: 9,5

País de origem: EUA
Ano: 1998
Título original: Pleasantville
Disponível: HBO Max
Duração: 124 minutos
Diretor: Gary Ross
Roteiro: Gary Ross
Elenco: Tobey Maguire, Reese Witherspoon, Joan Allen, Jeff Daniels, William H.Macy, Paul Waker