A história não contada

Conhecido por Black Mozart, Chevalier de Saint-George foi um violinista de renome na França do século 18 e alcançou alturas inimagináveis na sociedade da época. É triste perceber o quanto ele foi ignorado pela história, mesmo quando obteve tantos títulos e poderia ser reconhecido até hoje como tantos outros artistas são. O filme “Chevalier”, dirigido por Stephen Williams, se faz necessário por revisitar a existência desse homem e nos fazer refletir sobre como as conquistas de pessoas pretas foram e continuam sendo apagadas.

Filho de um senhor de terras e uma escrava, Joseph é deixado em uma escola para jovens prodígios e logo vai conquistando sua brilhante carreira, tanto como um esgrimista vitorioso, como um músico admirável. O longa foca em sua busca por ser o novo líder da Ópera de Paris e como ele precisou se desdobrar para ser ouvido em uma época em que homens pretos não ocupavam aqueles espaços. Ganancioso e exibido, ele não abaixa a cabeça porque sabe que ninguém desrespeita um francês de sucesso e era isso o que queria. O olho no olho, ser tratado como todos. Buscando ser visto em um mundo que não te quer ali. Deixar de ser o turista na terra que também era sua.

A introdução de “Chevalier” é bastante atropelada, entregando boa parte da trajetória do protagonista de forma picotada e de pouco cuidado. O filme vem com a intenção de nos revelar a “história nunca contada”, mas opta por acelerar tudo aquilo que o fez ser quem é para, no lugar disso, nos contar sobre um romance que nunca decola e personagens sem muita profundidade. Escolhe pelo caminho mais genérico possível dentro de dramas de época e terminamos com a sensação de não ter conhecido a verdadeira trajetória de Chevalier de Saint-George. Temos um rápido acesso sobre seus feitos e talentos, mas sem saber quem ele era, de fato.

Falta à obra uma melhor contextualização sobre os acontecimentos que narra, onde muitas de suas cenas se tornam forçadas ou fora da realidade. Como quando o protagonista desafia Mozart em um duelo durante uma apresentação. São liberdades narrativas que podem até empolgar, mas são desnecessárias e soam tolas e manipuladoras demais. Se a ideia era desenhar uma fantasia, que o filme abraçasse isso com mais força, afinal, quando ele se entrega ao musical é quando revela sua grande potência. Causa, ainda, um grande desconforto quando todos falam em inglês na trama que ocorre na França. Piora quando, em certo momento, o personagem se irrita com a mãe por ela não falar francês. Estranho.

O jovem Kelvin Harrison Jr. é talentoso e dá o seu melhor ali, mesmo quando o simplório roteiro não o ajuda. Ainda temos Samara Weaving como uma coadjuvante carismática que nos chama a atenção. A produção também é riquíssima e acaba fazendo a sessão valer mais a pena. Os cenários e figurinos luxuosos são de brilhar os olhos. “Chevalier” promete contar a história que não sabíamos, mas falha ao se entregar demais à cartilha do gênero, contentando-se em revelar apenas o superficial.

NOTA: 7,0

País de origem: Estados Unidos
Ano: 2022
Titulo original: Chevalier
Duração: 108 minutos
Diretor: Stephen Williams
Roteiro: Stefani Robinson
Elenco: Kelvin Harrison Jr., Samara Weaving, Lucy Boynton, Minnie Driver, Sian Clifford, Ronke Adekoluejo

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