A tragédia do confronto

Um dos títulos originais mais interessantes da Netflix em 2022 e que, infelizmente, está passando despercebido. “Athena” é um espetáculo visual que teria sido lindo ter visto em uma tela grande. Dirigido pelo francês Romain Gavras – filho do diretor Costa-Gavras – o longa foi escrito em parceria com Ladj Ly, de “Os Miseráveis” (2019), e é nítido as relações entre os filmes. Ambos revelam este embate entre civis e policiais, mas aqui de uma forma ainda mais visceral e impactante.

Preciso já começar dizendo que a introdução de “Athena” é fodástica! A melhor sequência que tivemos nesse ano. É um plano sequência de tirar o fôlego, com movimentos de câmera que nos deixam extasiados. Já logo de cara, um trabalho formidável de Gavras. Ao longo de toda produção, também, ele rege uma orquestra que nos entrega uma experiência quase que sensorial e que fascina. É um conjunto de elementos ali, desde a montagem, a fotografia e a trilha sonora, que vai construindo este cenário épico e glorioso. Infelizmente, porém, quando entrega o ápice nos primeiros minutos, acaba por deixar uma leve sensação de frustração, porque nada do que vem depois está à altura daquele seu início magistral.

Nos arredores de Paris, a morte de um jovem garoto por um guarda acaba sendo o estopim desta relação entre policiais e os moradores do conjunto habitacional Athena, provocando um embate violento entre os grupos. O longa, então, foca nos três irmãos da vítima e como eles seguem nessa batalha. Cada um defendendo seu interesse, onde nem sempre estão do mesmo lado. Entre os conflitos sociais e fraternos, o texto vai desenhando ali sua própria tragédia grega, com mortes, reviravoltas e muito excesso. É bem interessante, inclusive, a virada no meio do filme, onde há uma troca de protagonistas, nos permitindo seguir na história com outro olhar.

Vindo de uma carreira de clipes musicais, Romain Gavras se mostra muito mais rigoroso nesse espetáculo visual e nessa sua afinidade com a estética do que no roteiro. É uma experiência fantástica sim, mas no fim, sinto que é um filme que não diz muito ou já disse o que já foi dito antes. Todas as discussões políticas e sociais são engolidas por seu fervor, por sua necessidade de impacto, o deixando bem menos profundo do que pretende ser. Ele caminha por aqueles espaços colado em seus protagonistas, mas falta aquela habilidade de imersão, que no meio de gritos, violência e explosões, ainda nos mantém distantes. Ele dita o olhar, mas nem sempre essa intensidade que vemos na tela, pulsa dentro da gente. Ainda assim, uma obra urgente, empolgante e incrivelmente bem produzida. Uma experiência sem igual ali no catálogo da Netflix e que definitivamente merece uma chance.

NOTA: 7,5

País de origem: França
Ano: 2022
Duração: 99 minutos
Disponível: Netflix
Diretor: Romain Gavras
Roteiro: Elias Belkeddar, Ladj Ly, Romain Gavras
Elenco: Sami Slimane, Dali Benssalah, Anthony Bajon

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