Voltar a pertencer
Com boa atuação de Sandra Bullock, “Imperdoável”, da Netflix, é inspirado na minissérie britânica de mesmo nome lançada em 2009. A obra também marca o primeiro filme de língua inglesa da diretora alemã Nora Fingscheidt, depois do excelente “Transtorno Explosivo”. Apesar da premissa interessante, falta um bom roteiro para unificar suas tantas tramas, soando irregular na maior parte do tempo.
Já em seus primeiros minutos a produção escancara uma dura realidade. A vida daqueles que passam por um processo de ressocialização após anos encarcerados. Um retrato necessário ao dar visibilidade para aqueles que são jogados à margem, nos fazendo justamente refletir sobre segundas chances e quem somos nós para julgar o perdão do outro, sem antes conhecer a trajetória que cada um viveu. Surge, então, para dar voz a esse discurso, uma forte protagonista, que caminha com o peso da culpa e de seus traumas passados. Recém saída da prisão, Ruth (Bullock) agora tenta se readequar ao mundo depois de cumprir vinte anos de pena. Mas ela tem um plano ainda maior: ir atrás de sua irmã do qual nunca mais teve notícias.

Nesta sua jornada por encontrar aquela que ama, em um dos instantes mais potentes do filme, a protagonista grita “eu existo”. Ruth não está atrás do perdão, aceitou o preço que pagou e agora busca por ser vista, por pertencer. A obra, infelizmente, parece pouco acreditar na própria potência. Vai, aos poucos, deixando de escanteio esse drama social para dar espaço a um suspense tolo de vingança. O plot dos irmãos, além de ser digno de um SuperCine, leva a trama para um lugar desinteressante e previsível. E, infelizmente, acaba tendo mais peso na história do que merecia. Para piorar ainda mais esse cenário, o roteiro pouco sabe o que fazer com todos os seus personagens secundários, que possuem um ou outro momento de importância e logo depois são descartados. É assim que atores do calibre de Viola Davis, Vincent D’Onofrio e Jon Bernthal passam pela tela sem muito o que fazer.
“Imperdoável” tem seus bons instantes, como a revelação final que dá uma virada interessante na história. No entanto, acaba se sustentando demais na atuação de Sandra Bullock, que emociona em um produto pequeno demais para sua entrega. O texto é fraco e se perde em suas tantas narrativas, pincelando ideias, apressando eventos e nunca se aprofundando em seus temas. Vale em um sábado descompromissado, mas é sim uma bela de uma decepção.
NOTA: 6,5

País de origem: EUA
Ano: 2021
Título original: The Unforgivable
Duração: 112 minutos
Disponível: Netflix
Diretor: Nora Fingscheidt
Roteiro: Christopher McQuarrie
Elenco: Sandra Bullock, Viola Davis, Jon Bernthal, Vincent D’Onofrio, Rob Morgan