A virada no jogo
Filmes de ação com estética neon tem inundado o cinema. “Atômica”, “Kate” e até mesmo “John Wick” estão aí para provar. “Coquetel Explosivo” é mais um que mistura essa roupagem com elaboradas sequências de embate corporal. O que chama a atenção nessa produção, porém, é o forte protagonismo feminino, que ganha ainda mais destaque pelo o que há nas entrelinhas do texto. A graciosidade aqui é poder ver um elenco feminino, de certa forma subestimado, ocupando um espaço que até pouco tempo atrás só era ocupado por homens. Elas estão unidas e armadas e nós estamos ao lado delas nesse confronto.
A protagonista é Sam, interpretada por Karen Gillan, uma assassina de aluguel que, após uma missão de alto risco, acaba perdendo a proteção de sua organização, além de ter que proteger uma garota de oito anos, filha de uma de suas vítimas. É então que a obra oferece uma eletrizante perseguição, colocando em cena outras mulheres que irão ajudar a personagem nessa violenta jornada. Confesso que é divertidíssimo e inesperado ver Lena Headey, Carla Gugino, Michelle Yeoh e Angela Bassett mandando ver na ação. É ótimo vê-las aqui e o filme só cresce quando estão juntas.

“Coquetel Explosivo” é, visualmente, bem inventivo. Ao explorar diversos (e belos) cenários, o longa acaba por criar um universo muito único. Passa a sensação de que estamos desbravando um mundo desconhecido, com uma lógica própria. As personagens estão sempre adentrando novas passagens, fazendo com que o filme sempre siga uma outra direção, empolgando e nos mantendo atentos. Infelizmente, porém, ainda que acerte nesse visual, a direção de Navot Papushado enfraquece a ação. É tudo muito criativo, mas falta movimento, velocidade e algo que deixasse mais crível esses embates. Essa fraca condução acaba por diminuir o potencial de diversos momentos promissores, como a sequência no boliche ou a luta dos anestesiados. Mas é uma produção que tem estilo, trazendo, ainda, uma boa seleção musical.
Teria sido ótimo ver uma mulher na direção, isso só fortaleceria seus bons discursos. “Coquetel Explosivo” faz uma interessante analogia sobre esse mundo comandado por homens. Homens poderosos que, por anos, ditaram as regras e as alteraram quando foi preciso. Esses seres intocáveis e que sempre se safaram de seus crimes. Precisa haver uma ruptura, uma virada no jogo e, ao fim, a obra traz essa visão esperançosa. A visão de que mulheres estão ocupando os espaços que antes eram negados.
NOTA: 7,5

País de origem: EUA
Ano: 2021
Título original: Gunpowder Milkshake
Duração: 114 minutos
Disponível: Prime Video
Diretor: Navot Papushado
Roteiro: Navot Papushado, Ehud Lavski
Elenco: Karen Gillan, Lena Headey, Carla Gugino, Michelle Yeoh, Angela Bassett, Paul Giamatti