Crítica: Modern Love (segunda temporada)

O aconchego da identificação

Inspirada na coluna semanal do The New York Times, “Modern Love” traz crônicas reais de pessoas que tem algo especial a dizer. A série antológica chega em sua segunda temporada no Prime Video e, ainda, com uma leveza adorável. Tem muito do cinema de John Carney (Apenas Uma Vez, Sing Street), que aqui encabeça o projeto. São tramas apaixonantes, confortáveis e que, de alguma forma, nos fazem muito bem.

É natural, como em qualquer série que conte com episódios independentes, que alguns deles nos toquem mais. Logo, assim como a primeira leva, esses também não agradam sempre. Vai acontecer, em alguns instantes, que aquele personagem fale diretamente com você e outras vezes não. É assim, porém, que a temporada termina com a sensação de ser irregular, porque nem sempre segue no mesmo nível. Falha, ainda, por apostar, em alguns momentos, em uma narrativa mais fantasiosa, se afastando daquele realismo que lhe faz tão bem, como no episódio In the Waiting Room of Estranged Spouses, que destoa de todo o resto.

Ainda assim, existe inteligência em todas as histórias contadas e uma maturidade surpreendente no desenvolvimento de cada uma delas. Mesmo que seja simples e rotineiro, aquele recorte foi importante para alguém. Uma viagem, um reencontro, o primeiro beijo. “Modern Love” nos faz pensar que em cada canto do mundo, neste exato segundo, histórias estão sendo traçadas. E ao nos identificarmos com essas crônicas de vida, traz aconchego, conforto.

A temporada já inicia com o momento de maior inspiração do show. On a Serpentine Road, With the Top Down é emotivo e facilmente nos leva às lágrimas. Os episódios 2, 3 e o último também se destacam ali. Um tema que permeia algumas dessas histórias e dá o tom da temporada é que todos nós carregamos em nós um background. Uma história passada que definiu o que somos hoje e nenhuma experiência que vamos viver irá apagar o que já existiu. Vamos carregar essas lembranças com a gente. Sempre aptos a mudanças, a seguir novos passos, mas sem apagar o aquilo que, um dia, foi importante para nós.

Gosto, ainda, de como todos esses episódios terminam. Paula, personagem de Lucy Boynton, no instante mais metalinguístico da temporada (episódio 3, no trem), revela que prefere os finais sem ponto final, aqueles que terminam como um recorte, com a incógnita dessa vida que continua. “Modern Love” deixa um sentimento bom em nós mesmo que nunca saibamos exatamente como todos esses contos irão seguir. Deixa um sentimento de “quero mais” e, atualmente, são poucas as produções que deixam esse gosto. Aquela sensação de que não se esgotou, de que ainda precisamos ouvir aquelas pessoas falando, aquelas jornadas sendo contadas.

NOTA: 8,0

País de origem: EUA
Ano: 2021

Disponível: Prime Video
Duração: 256 minutos / 8 episódios
Diretor: John Carney, John Crowley, Andrew Rannells
Elenco: Minnie Driver, Kit Harington, Lucy Boynton, Dominique Fishback, Sophie Okonedo, Tobias Menzias, Zoe Chao, Garrett Hedlund, Anna Paquin
, Jack Raynor, Tom Burke

Crítica: Um Fim de Semana Prolongado

histórias de amor não caminham no mesmo tempo

Final de sábado, querendo ver uma coisa leve e gostosa e eis que me deparo com uma grata surpresa. “Um Fim de Semana Prolongado” teve um lançamento tímido e pode ser uma boa pedida para os admiradores de romances indies como “Ruby Sparks” e “Eu Estava Justamente Pensando em Você”. É uma trama mirabolante, que constrói um scifi sutil sem a necessidade de efeitos visuais e sem tirar o pé do chão. Tudo flui de maneira realista, original e incrivelmente apaixonante.

Quando conhecemos alguém especial e tentamos construir um relacionamento com essa pessoa, muitas vezes nos deparamos com o empecilho do “tempo”. Cada um vive seu momento específico da vida e nem sempre é possível caminhar junto. O filme, então, faz uma divertida analogia sobre este tempo, onde um homem acaba se apaixonando por uma mulher que veio do futuro e eles terão um período curto para viver esta experiência, tornando eterno o que eles já sabem que terá um fim.

É assim que a obra, sensivelmente, acaba refletindo em como nós somos capazes de viver intensamente apenas quando sabemos a data de validade. Comove essa jornada dos protagonistas, principalmente porque há sentimento e honestidade em cada frase dita. O roteiro é esperto e flui em uma naturalidade admirável, destacando as boas performances de Finn Wittrock e da adorável Zoe Chao, que finalmente ganha um papel de destaque do qual ela tanto merecia. O diretor estreante Stephen Basilone entrega uma obra bastante intimista, revelando alguns instantes de grande inspiração como quando Zoe canta ou quando encena um número de dança.

“Um Fim de Semana Prolongado” é fofo e tem o raro poder de nos fazer torcer pelo casal principal e estampar um sorriso tonto no rosto todas as cenas em que estão juntos. São dois indivíduos que nasceram um para o outro mas não nasceram no mesmo tempo. O filme nos revela esse futuro distante, onde a tecnologia pode ter evoluído, mas nós ainda seremos feitos dessa mesma insegurança, ansiedade e deste constante sentimento de inadequação. Ainda seremos esses reles mortais desiludidos, esperando o salário no fim do mês e sonhando com as próximas férias.

NOTA: 8,5

País de origem: EUA
Ano: 2021
Título original: Long Weekend
Disponível: Locação no Youtube e Google Play
Duração: 91 minutos
Diretor: Steve Basilone
Roteiro: Steve Basilone
Elenco: Finn Wittrock, Zoe Chao, Damon Wayans Jr., Jim Rash