A razão que existe no coração
Sabe aquela sensação boa de ver um filme e sair dele com o coração aquecido e uma sensação de ter vivido algo especial? Nem é a nossa história, mas ficamos apaixonados. Isso porque “Eduardo e Mônica” nos coloca ali dentro, vivendo os amores de outras pessoas, sofrendo junto, torcendo junto. A trajetória comum, de indivíduos comuns e que rapidamente nos identificamos.
Depois de “Faroeste Caboclo”, o diretor René Sampaio retorna para dar vida a outro clássico do Legião Urbana. Atemporal, a letra que contava os encontros e desencontros de Eduardo e Mônica há muito tempo merecia o cinema e finalmente isso aconteceu. Só não esperava, sinceramente, que pudesse dar tão certo. Isso porque na trama que, teoricamente, já conhecemos, não há clímax e nem um grande momento além do recorte ordinário de duas pessoas que se amam. Talvez esteja aí a beleza desse projeto. De fazer uma simples história de amor funcionar nos tempos dos desafetos. É sobre dividir a vida com alguém e abraçar e aceitar todo o caos que vem junto com essa decisão.

Alice Braga faz de Mônica uma mulher intrigante. Descolada, independente e alguém que não queremos desgrudar os olhos e conhecer mais a fundo. Gabriel Leone, bela revelação da TV, faz bonito no cinema e traz a Eduardo um charme genuíno, alguém que facilmente nos apaixonamos. Ver os dois esbanjando química em cena não é apenas muito gostoso de se ver, como também nos faz sentir uma certa dor ao decorrer do filme. São os opostos que se atraem, que estão sempre em uma direção diferente. Enquanto ela fala alemão, ele ainda está nas aulinhas de inglês. Ambos precisam ceder e achar o ponto no meio do caminho. O longa nos faz pensar justamente o quão fácil é desistir de uma relação, ressaltar o que não faz dar certo. Difícil mesmo é estar presente, entender esse desequilíbrio e persistir naquilo que, no fundo, traz um bocado de felicidade. Eles foram feitos um para o outro, mas eles mesmos não enxergam isso.
Da nostalgia dos anos 80 às referências afetivas que nos remetem à letra de Renato Russo, “Eduardo e Mônica” é uma viagem irresistível ao passado e à juventude. Tudo nele emociona porque é construído com muito sentimento e honestidade. Que delícia ver Eduardo cantando “Total Eclipse of The Heart” no karaokê ou Mônica usando de sua arte para expressar seu amor em uma exposição. São instantes delicados e ao mesmo tempo tão poderosos. A gente sai acreditando no amor e aceitando o fato de que, apesar dos percalços, existe sim razão para as coisas feitas pelo coração.
NOTA: 8,5

País de origem: Brasil
Ano: 2022
Duração: 114 minutos
Diretor: René Sampaio
Roteiro: Michele Frantz, Matheus Souza, Jessica Candal, Claudia Souto
Elenco: Alice Braga, Gabriel Leone, Victor Lamoglia, Otavio Augusto