A despedida que merecíamos

Depois de quinze anos na pele de James Bond, Daniel Craig se despede do personagem neste filme que encerra com grande êxito os capítulos comandados pelo ator. A franquia se renovou ao longo desses últimos anos e alcançou um patamar de altíssima qualidade. “007” fez bonito nessas últimas duas décadas e, por isso, é tão comovente chegarmos nesse encerramento. Ainda mais devido às inúmeras mudanças de data de lançamento devido à pandemia, a expectativa só aumentou. Felizmente, “Sem Tempo Para Morrer” vale a espera e finaliza com a grandiosidade que merecia.

Diferente daquela antiga estrutura episódica, aqui a obra retorna para fechar as pontas que deixou em aberto nos filmes anteriores, principalmente aquelas iniciadas em “Spectre”. James (Craig), mesmo depois de se afastar do MI6, entende que o passado não pode simplesmente ser deixado para trás e volta a confrontar o vilão Blofeld (Christoph Waltz) e os planos da organização terrorista. No entanto, ele se vê envolvido em uma ameaça ainda mais poderosa, precisando correr para salvar o mundo e sua amada Madeleine (Léa Seydoux).

O diretor Cary Joji Fukunaga vem com a difícil missão de manter o bom nível dos filmes anteriores e não só acerta muito como consegue entregar uma das produções mais belas do ano. É uma obra que não descansa, que está sempre seguindo uma nova direção e jamais perdendo a empolgação ou nosso interesse. “Sem Tempo Para Morrer” nos fisga e jamais solta nossa mão. A excelente montagem dá vida a sequências de ação primorosas, que ganham ainda o reforço do talento de Hans Zimmer, que assina a trilha. Além, é claro, de toda a elegância comum na franquia que nos seduz ao seu luxuoso universo.

O que causa um pouco de frustração é o fato da produção retirar o peso de personagens que claramente mereciam mais destaque. O vilão Blofeld de Christoph Waltz some, dando espaço para Safin, vivido por Rami Malek, uma figura de motivações não muito claras e diálogos rasos, que infelizmente enfraquece todo o conflito da obra. Dói, ainda, ter que assistir Ana de Armas por pouquíssimos minutos. Seu carisma preenche a cena e deixa um vazio depois. No mais, a presença e as relações dos demais coadjuvantes é sempre muito bem conduzida pelo roteiro. É um texto que sabe dosar humor, seriedade e sentimentalismo.

Ao início do filme, James Bond já não mais consegue andar tranquilamente na rua sem olhar para trás, sempre com a dúvida da perseguição. É um personagem atordoado pelas perdas, por tudo aquilo que fez no passado e sempre se reflete no presente. James sempre teve tempo para matar, só não teve o tempo necessário para viver. É assim que os cinco capítulos se encerram de forma emotiva e heroica. “Sem Tempo Para Morrer” é uma bela homenagem ao personagem, respeitando sua trajetória e, principalmente, respeitando o público que esteve ao seu lado nesses últimos anos.

NOTA: 8,5

País de origem: EUA, Reino Unido, Irlanda do Norte
Ano: 2021

Título original: No Time to Die
Duração: 163 minutos

Disponível: Cinemas
Diretor: Cary Joji Fukunaga
Roteiro: Neal Purvis, Robert Wade, Cary Joji Fukunaga, Phoebe Waller-Bridge
Elenco: Daniel Craig, Léa Seydoux, Rami Malek, Lashana Lynch, Ralph Fiennes, Ben Whishaw, Naomie Harris, Rory Kinnear, Jeffrey Wright, Billy Magnussen, Christoph Waltz, Ana de Armas

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