A moralidade que nos censura

Produzido pelo brasileiro Rodrigo Teixeira e baseado no curta-metragem de mesmo nome, “Yes, God, Yes” usa deste período de descobertas na adolescência para questionar como a religião, muitas vezes, pode ser repressora. Apesar de leve e cômica, a obra traz um discurso interessante e boas reflexões.

Alice (Natalia Dyer) é uma adolescente passando pela fase de puberdade em uma escola católica, onde passa a se questionar sobre o castigo divino devido seus “desejos impróprios”. Sua mente é inundada de pensamentos safadinhos depois de descobrir as possibilidades de um chat da UOL. Eis que ela precisa enfrentar quatro dias de um retiro religioso, onde terá que encarar não apenas suas tantas dúvidas como a hipocrisia das pessoas que a cercam. A atriz Natalia Dyer, uma das ótimas revelações de Stranger Things, se sai muito bem aqui.

Ao não revelar o ano em que se passa, vamos buscando essa informação nos detalhes das cenas que nos causam bastante nostalgia. Seja o chat da UOL, o jogo da cobrinha dos celulares da Nokia, seja das brincadeiras como passar cola na mão para secar na pele. São situações que despertam afeição ao tempo que narra, à adolescência que enfrentamos anos atrás, onde a tecnologia era tão limitada e as informações tão inacessíveis. Além disso, a diretora Karen Maine explora bastante o uso do branco em suas cenas, construindo uma aura celestial e divina que contrasta com as descobertas sexuais da protagonista.

O filme, infelizmente, parece muito cauteloso sobre a própria proposta, não sendo tão ousado quanto a trama permitia. Também peca ao ir aos extremos em sua crítica, caindo no estereotipo, como por exemplo, o padre ser viciado em pornografia.

Ainda assim, a obra faz uma crítica certeira a hipocrisia da Igreja e aqueles sempre muito prontos para julgar o comportamento alheio. Fala sobre o papel de uma religião neste processo de crescimento e o quanto ela pesa em nossas escolhas individuais. A verdade é que crescemos com medo do inferno, receosos sobre sermos severamente punidos por nossos reais desejos. Muitos de nós enfrentamos esses dilemas na adolescência, enfrentamos esse pavor do castigo por sermos quem nós somos, que estamos sendo julgados por alguém acima de nós. O filme nos relembra o quão cruel é tudo isso em nossa formação. O quão cruel é você se aceitar quando se sente tão culpado por sua existência. Ao mesmo tempo, o filme traz um tom de otimismo, ao afirmar que pode ser só uma fase de nossa vida, que o mundo, com todas as suas falhas e liberdades, está à nossa espera. De que esse medo é irreal e só funciona na mente daqueles que se permitiram ser controlados.

NOTA: 8,0

País de origem: EUA
Ano: 2019
Disponível: Para locação no Youtube, Google Play e Apple TV+
Duração: 78 minutos
Diretor: Karen Maine
Roteiro: Karen Maine
Elenco: Natalia Dyer

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