Grande história, pequeno filme

Nem sempre uma história incrível resulta em um grande filme. “Mulheres ao Poder” traz uma trama fantástica inspirada em eventos reais e, infelizmente, acaba entregando um produto morno, pequeno demais diante do riquíssimo material que tem em mãos.

A obra narra um passo importante na luta feminista, quando ativistas do Movimento de Liberação das Mulheres protestaram contra o concurso de Miss Universo nos anos 70. Em uma época em que elas não tinham (ainda menos) voz, se uniram para questionar essa objetificação do corpo feminino como entretenimento. O grande conflito aqui, porém, nasce quando o longa oferece um outro lado dessa mesma história, quando a primeira mulher negra estava prestes a vencer esse mesmo concurso.

Infelizmente, o roteiro jamais consegue fazer bom proveito dessa dualidade. Existe espaço para tantas discussões relevantes, mas o texto, tão quadrado e sem coragem, não ousa expor nada além daquele discurso feminista de cartilha que a gente tanto vê. Quando uma mulher preta alcança um espaço que tantas vezes lhe foi negado, ela inspira crianças como ela, mostra que é possível chegar lá. A luta que as ativistas pregam é válida, mas ela não abraça o coletivo quando usam como base suas vivências individuais, que não olham os grupos minoritários. É ainda muito interessante a rápida conversa que a líder das ativistas, vivida por Keira Knightley, questiona as escolhas da própria mãe, tão submissa na vida doméstica. Seu ponto tem fundamento, mas ela jamais teria os privilégios que tem sem os sacrifícios daquela que a criou. São pontos delicados e que mostram as tantas camadas que a luta feminista tem, mas quando opta por não se aprofundar em nada, esses ótimos debates morrem.

Na intenção de contar diversos fatos, o roteiro acelera o passo, pincela sem muito cuidado essas tantas questões e termina sem nunca valorizar a grandeza da história e dessas grandes mulheres que a protagonizaram. Seja a força do movimento ou o glamour do concurso. Nada traz impacto, envolve ou traz sequer um sinal de honestidade. A direção de Philippa Lowthorpe é pouco inspirada, salvando apenas o momento em que ela revela as pessoas reais por trás dos eventos narrados. A sorte da produção é ter um forte elenco que segura o nosso interesse, com destaque para Gugu MBatha-Raw, Jessie Buckley e a surpreendente presença de Greg Kinnear.

NOTA: 6,5

  • País de origem: Reino Unido, Irlanda do Norte
    Ano: 2020
    Título original: Misbehaviour
    Duração: 106 minutos
    Diretor: Philippa Lowthorpe
    Roteiro: Rebecca Frayn, Gaby Chiappe
    Elenco: Keira Knightley, Jessie Buckley, Gugu Mbatha-Raw, Rhys Ifans, Greg Kinnear, Lesley Manville, Emma Corrin

Deixe uma resposta