Kevin Smith é um cineasta peculiar e construiu uma carreira, sempre distante dos holofotes, com suas obras pequenas e extremamente pessoais. Lançado em 97, “Procura-se Amy” é, sem dúvidas, o produto mais sentimental e mais honesto que ele já realizou. Apesar dos 20 anos que nos separa, é curioso como sua obra dialoga tão bem com os tempos de hoje. Enquanto fala sobre relacionamentos, Smith consegue expor muitos pensamentos que são corriqueiramente debatidos em redes sociais e em nossa atual sociedade mas que, na época de seu lançamento, provavelmente eram tabu. É lindo a liberdade que ele tem de dizer tanta coisa e é lindo em como ele, ao escrever um romance, não precisou distorcer seus personagens, respeitando a individualidade e personalidade de cada um a todo custo.
Ben Affleck interpreta Holden, que ao lado de seu melhor amigo Banky (Jason Lee), tem conquistado sucesso como quadrinista. A trama se dá início quando ele conhece a espirituosa e extrovertida Alyssa (Joey Lauren Adams) e logo se vê completamente apaixonado. A história de amor que ele constrói em sua cabeça se desfaz quando vem a revelação de que ela é, na verdade, lésbica. No entanto, nem mesmo essa informação é o bastante para fazê-lo desistir deste romance. É através desta simples trama que Kevin Smith consegue debater assuntos como bissexualidade, sexo e a complexidade humana quando se trata de relacionamentos e desejos. Nada é tão simples ou fácil de decifrar. Seus personagens buscam por este auto conhecimento em uma sociedade que aprendeu a taxar indivíduos e transformar em tabu tudo aquilo que os define. Pode soar incoerente algumas atitudes que eles tomem ao decorrer da trama, mas ao meu ver só revela a coragem do roteiro em fugir daquilo que o próprio cinema aceitou como certo ou padrão.
Na história das comédias românticas, é muito comum o texto do filme ignorar essas particularidades de seus personagens para que o final feliz aconteça sem grandes obstáculos. “Procura-se Amy” acerta por não ignorar esses tantos sentimentos existentes em seus protagonistas e permitir que eles traçam suas próprias jornadas, individualmente, mesmo quando estão juntos. Alyssa não é só um complemento de Holden e em nenhum momento ela muda para servir os desejos dele, pelo contrário, ela recua quando necessário. Diferente de todas os outros romances escritos por homens, Kevin Smith não romantiza a imaturidade e escrotidão de seu personagem masculino. Ele é a representação de uma masculinidade tóxica, que parece fofo quando só pensa em si mesmo, que parece mente aberta quando não é. O filme é brilhante em toda essa composição do casal e desses temas que discute. É fascinante pensar que estamos falando de um roteiro de 1997 e que coloca em pauta situações que facilmente seriam debatidas hoje em dia.
Poucas vezes vi Ben Affleck tão a vontade em um papel. Leve, descontraído, sem medo de parecer idiota. Jason Lee surge como um forte coadjuvante aqui. Joey Lauren Adams foi uma revelação na época e é lindo toda a entrega dela à personagem. De fato, ela é o grande destaque do filme. Ainda temos as clássica participações de Jason Mewes e do próprio Kevin Smith como Jay e Silent Bob. Tem muitos elementos que retornam aqui e que são comuns na filmografia de Smith. No entanto, penso que ele nunca foi tão corajoso e honesto como desta vez. Conhecido no mundo nerd, surpreende, inclusive em como ele expõe esse sexismo existente nesse meio cultural. “Procura-se Amy” é um grande acerto em sua carreira e continua a sobreviver bem ao tempo. Diz muito sobre os dias de hoje e se muito do que ele relata aqui ainda é tabu em nossa sociedade, é chocante pensar em como seus discursos foram vistos, há mais de vinte anos atrás. Ele fala sobre essa complexidade dos relacionamentos de forma natural, espontânea, gostosa de assistir. Seu roteiro é brilhante e incrivelmente sensível. Vários discursos aqui emocionam e merecem reconhecimento pelo alto nível de genialidade e autenticidade. É difícil ser romântico e original no cinema e Smith faz isso de forma corajosa e sem procurar por palavras fáceis.
NOTA: 8,5
País de origem: EUA Ano: 1997 Título original: Chasing Amy Duração: 108 minutos Distribuidor: – Diretor: Kevin Smith Roteiro: Kevin Smith Elenco:Ben Affleck, Joey Lauren Adams, Jason Lee, Kevin Smith, Jason Mewes
Com o fim da década (2010 – 2019), nada mais justo do que relembramos o que teve de melhor e mais marcante durante este tempo. Faço este post para citar obras que se destacaram pelo visual. Filmes com aspectos técnicos impecáveis e que nos deixaram admirados pela fotografia, cores, enquadramentos, efeitos especiais, figurinos, design e maquiagem. Filmes que nos impactaram pelo poder de suas imagens. Espero ter feito uma lista justa e se lembrarem de outros títulos, deixem nos comentários!
50. Sucker Punch 2011 | Zack Snyder
Quando Zack Snyder consegue, no meio das megalomaníacas produções em que se envolve, mostrar sua identidade e sua assinatura como cineasta, a recompensa é alta. “Sucker Punch” é um respiro em sua filmografia e a chance única em que ele teve de revelar sua assinatura nesta década. Do Japão feudal à Primeira Guerra Mundial steampunk. Tudo é possível em sua trama e todos os universos ganham vida com efeitos especiais bem aplicados e uma fotografia marcante. Um espetáculo visual.
49. Moonlight 2016 | Barry Jenkins
Os poderosos enquadramentos de Barry Jenkins tornam “Moonlight” em uma obra marcante, digna de ser lembrada. Há uma forte paleta de cores sempre presente nas cenas, tudo extremamente bonito de se ver.
48. Animais Noturnos 2016 | Tom Ford
Além de diretor, Tom Ford é conhecido por ser um renomado estilista e isso justifica suas fortes referências do mundo da moda para compor sua obra. “Animais Noturnos” abusa de cores, figurinos e maquiagem para ilustrar uma trama pesada e bastante complexa. Um filme luxuosíssimo, belo em muitos aspectos.
47. Vingança 2018 | Coralie Fargeat
O poder das cores dentro de um filme. A farofa francesa sobre uma jovem que decide se vingar após ter sido estuprada entrega momentos de pura tensão mas, também, instantes de pura contemplação, enquanto traz referência ao cinema exploitation.
46. Segredos de Sangue 2012 | Park Chan-wook
Empreitada do coreano Park Chan-wook em Hollywood, ele não decepciona no visual e entrega um produto exuberante e com uma estética arrojada. A produção aposta em elementos, seja nos figurinos, seja nos curiosos objetos de cena, para traduzir a personalidade de cada personagem, seus pecados e seus desejos. Há, ainda, uma atmosfera mórbida que transita do começo ao fim, ilustrada por uma fotografia fria que transforma cada tomada em um quadro a ser admirado.
45. A Ghost Story 2017 | David Lowery
As cores e iluminação de “A Ghost Story” muito bem ilustram esta atmosfera melancólica que a trama pede, entregando frames que muito parecem uma pintura. Antes de dirigir a obra, David Lowery já havia feito parte do departamento de arte de outras produções e prova aqui todo o seu domínio estético.
44. O Artista 2011 | Michel Hazanavicius
Filmado em preto e branco, “O Artista” é uma singela homenagem ao cinema e um show lindo de se ver. O diretor francês Michel Hazanavicius constrói um filme minucioso, lindamente calculado. Seus enquadramentos, movimentos e figurinos o faz ser um musical único, mágico e que nos transporta ao passado. Durante seus belos minutos voltamos no tempo e sentimos como se estivéssemos vendo um longa-metragem antigo, não apenas por seu aspecto retrô, mas pelo capricho e cuidado com todos os detalhes.
43. A Criada 2016 | Park Chan-wook
O diretor Park Chan-wook marcou seu nome com o filme “Old Boy” e nesta década ele também deixou sua marca com o belíssimo “A Criada”, uma produção coreana luxuosa, estonteante e esteticamente fascinante. As cores vivas, os cenários com arquitetura antiga e figurinos maravilhosamente bem desenhados ajudam a ilustrar uma trama surpreendente. Um filme que choca em muitos sentidos e o visual é, com certeza, uma das tantas razões para nos deixar de boca aberta.
42. Pantera Negra 2018 | Ryan Coogler
“Pantera Negra” foi um bom respiro nas produções de heróis da Marvel e ao beber de ótimas referências, constrói na tela momentos de pura contemplação. Com figurinos, maquiagem e cenários que trazem um pouco das tradições tribais africanas, acabou-se criando um universo muito único e futurista que eles chamam de Wakanda. Este lugar mágico é crível porque seu design não é apenas estético, é também funcional. É tudo bem realizado e visualmente formidável.
41. Melancolia 2011 | Lars von Trier
O antológico prelúdio de “Melancolia” surge como uma pintura em movimento. É chocante a beleza daqueles instantes e o restante do filme não decepciona. Lars Von Trier entrega seu produto mais requintado e, visualmente, mais impressionante.
40. Sete Minutos Depois da Meia-Noite 2016 | Juan Antonio Bayona
É muito natural como a fantasia se funde na realidade dolorosa narrada no drama “Sete Minutos Depois da Meia-Noite”. É poético a forma como as ilustrações ganham vida na tela e como o diretor espanhol J.A.Bayona, que tão bem entende de terror, faz um filme de monstro único, sensível e visualmente poderoso.
39. Birdman (ou a Inesperada Virtude da Ignorância) 2014 | Alejandro González Iñárritu
A parceria entre o diretor Alejandro González Iñárritu e o diretor de fotografia Emmanuel Lubezki é uma das mais belas desta década. Em “Birdman”, eles entregam um produto refinadíssimo e muito bem orquestrado, com todas as suas cores e movimento. É mágico notar a dificuldade em ordenar um plano sequência e ainda se preocupar com o visual de cada canto e cada virada insana de câmera e é justamente por isso que o trabalho de fotografia aqui é um dos mais brilhantes dos últimos anos (e felizmente foi premiado por isso).
38. Anomalisa 2015 | Charlie Kaufman
“Anomalisa” marca o retorno de uma das mentes mais brilhantes do cinema: Charlie Kaufman. A ideia por si só já é incrível, mas ainda somos surpreendidos com uma animação fantástica e muito bem realizada. É assustador o alto nível da produção, que de movimentos tão perfeitos, até esquecemos que estamos diante de um stop motion. É impossível não ficar hipnotizado pela qualidade visual que oferece.
37. Expresso do Amanhã 2013 | Bong Joon-ho
O visual aqui tem extrema importância, pois é nele que se diferencia cada vagão de um mesmo trem onde toda a trama acontece. São nos elementos, cores, figurinos e maquiagem que notamos a discrepância existente entre as classes sociais e é desta forma que o brilhante roteiro consegue ilustrar suas tantas críticas. É bonito notar o trabalho que a produção teve em desenvolver tantos universos distintos e colocá-los em um mesmo local. E surpreende ao fazerem isso tão bem e de forma visualmente tão bela.
36. Oblivion 2013 | Joseph Kosinski
Talvez falte muito para que “Oblivion” se tornasse uma ficção científica relevante nesses últimos anos. No entanto, se tem algo que ele não falhou em absolutamente em nada foi em seu visual. As naves desenvolvidas para a obra são de uma originalidade admirável e chamam a atenção, não apenas pelo design arrojado, mas principalmente pela funcionalidade palpável delas. Acreditamos que tudo aquilo é possível e essa é a genialidade do design de produção. O diretor Joseph Kosinski ainda constrói um filme de ação refinado, que na ausência de sequências desenfreadas, nos permite contemplar suas belas e vastas paisagens e qualidade técnica de tudo o que nos oferece.
35. Os Oito Odiados 2015 | Quentin Tarantino
Os filmes de Quentin Tarantino costumam chamar a atenção pelo visual e sempre vamos ao cinema a espera de sermos surpreendidos positivamente. Ainda que “Os Oito Odiados” seja um dos filmes mais mornos da carreira do diretor, ao menos fomos presenteados com um dos visuais mais belos de toda sua filmografia. A sua câmera que capta amplas paisagens, a fotografia e o charmoso design que fora desenvolvido para o cenário principal de uma cabana, além dos belos figurinos. Um trabalho admirável.
34. Demônio de Neon 2016 | Nicolas Winding Refn
O terror bizarro de Nicolas Winding Refn que abusou de cores, excessos, sangue e muito neon para trazer para as telas o mundo da moda como nunca tinha se visto antes. Com elementos marcantes e um design agressivo, o visual da obra é, definitivamente, o que mais nos chama a atenção. O terror do filme, muitas vezes, é ilustrado através de sua estética e não necessariamente pelas ações dos personagens.
33. A Vida Secreta de Walter Mitty 2013 | Ben Stiller
Seja um sonho, imaginação, seja uma realidade fantástica. A brilhante mente de Walter Mitty nos presenteou com sequência valiosas, dignas de se deixar na memória. Foi lindo de ver e sentir toda a jornada no protagonista e, como diretor, Ben Stiller caprichou no visual, tornando tudo ainda mais fascinante de assistir.
32. Ex Machina 2014 | Alex Garland
Uma das ficções científicas mais brilhantes de nosso tempo, fato. Mesmo que filmado em um único espaço, é fantástico o que a produção conseguiu fazer com tão pouco. O bom trabalho de iluminação e efeitos especiais nos deixam hipnotizados. Sem a necessidade de ser acelerado ou mirabolante demais, temos a chance de apreciar com calma cada detalhe da obra e a recompensa é altíssima.
31. A Forma da Água 2017 | Guillermo del Toro
As produções de Guillermo del Toro sempre trazem um belo visual e “A Forma da Água” não é exceção. Há um cuidado surpreendente nos detalhe e na construção de cada sequência. Seja no design curioso de sua criatura, seja nos estonteantes cenários e figurinos. É bonito ver o trabalho de toda sua equipe, que se superam a cada novo filme.
30. O Mestre 2012 | Paul Thomas Anderson
Paul Thomas Anderson é um dos maiores cineastas ainda em atividade, isso é um fato. A forma como ele captura suas imagens é de uma beleza hipnotizante e somos presenteados por extraordinários planos abertos e ficamos ali, desnorteados por seu deslumbre visual. “O Mestre” é uma daquelas obras que nos fazem acreditar no cinema outra vez.
29. Sob a Pele 2013 | Jonathan Glazer
Ainda que grande parte da obra seja dedicada a uma filmagem crua estilo documental, quando enfim “Sob a Pele” abraça a ficção científica, o resultado é lindo de se ver. As sequências em que a protagonista mergulha no limbo enquanto se alimenta de suas presas é visualmente impactante e dessa forma o diretor oferece um dos instantes mais memoráveis dessa década.
28. A Chegada 2016 | Denis Villeneuve
O visual de “A Chegada” é poderoso. As sequências, muito bem dirigidas por Denis Villeneuve, imprimem um realismo assustador. Enquanto ficção científica, a produção entrega algumas das cenas mais emblemáticas de nosso tempo.
27. Macbeth: Ambição e Guerra 2015 | Justin Kurzel
Adaptação do clássico de Shakespeare, “Macbeth” levou aos cinemas uma das batalhas mais bem filmadas dos últimos anos. A excelente direção do novato Justin Kurzel, somado ao uso de cores e movimentos extremamente bem coreografados, tornam alguns momentos da obra simplesmente memoráveis. A fotografia do filme é, definitivamente, um espetáculo.
26. Trama Fantasma 2017 | Paul Thomas Anderson
Paul Thomas Anderson é um mestre e se não for para fazer obra-prima aclamada ele nem sai de casa. É assim que sempre somos surpreendidos por um visual estonteante de seus filmes. “Trama Fantasma” é classudo, refinado e encanta pela beleza das cenas. Os figurinos, a arquitetura clássica de seus cenários luxuosos e sua câmera que captura tudo com enquadramentos irretocáveis. Seu cinema é fascinante e não há absolutamente nada fora do lugar.
25. Spring Breakers 2012 | Harmony Korine
As cores fortes tornam “Spring Breakers” em um filme expressivo, cheio de vida e intensidade. É impressionante a qualidade das imagens e o quão bela é a rotina e as ações mais corriqueiras pelo olhar do cineasta Harmony Korine. As festas, as caminhadas na praia, a vida de crime. A forma que ele encontra para ilustrar tudo isso é visualmente impactante.
24. A Cura 2017 | Gore Verbinski
Um thriller psicológico com inúmeros defeitos, no entanto, é impossível não ficar de boca aberta e admirar o belíssimo e irretocável visual da obra. Sua cores e planos, tudo muito bem ordenado pelo diretor Gore Verbinski, que entrega um produto assustadoramente bem produzido. Sua estética nos deixa hipnotizados pela grandeza e beleza de cada cenário, cada espaço e enquadramento. Inclusive, é uma pena que o roteiro não alcance a perfeição de todo o seu design.
23. Silêncio 2016 | Martin Scorsese
O projeto dos sonhos de Martin Scorsese passou despercebido pelo público, mas quem o encontrou teve o privilégio de presenciar um dos visuais mais impressionantes desta década. A fotografia fria ilustra muito bem a tensão e o terror existente em sua trama. Além disso, os ricos enquadramentos e sua câmera que captura amplas paisagens e cenários, tornam a obra em algo grandioso, impactante.
22. Com Amor, Van Gogh 2017 | Dorota Kobiela, Hugh Welchman
Com certeza, uma das animações mais impressionantes que vimos em muito tempo. É surpreendente toda a técnica utilizada para finalizar a obra. Para contar os últimos passos de vida do gênio Van Gogh, a equipe – que contou com mais de 100 artistas – pintou à óleo frame por frame e isso somou 65 mil telas. É absurdo pensar em todo o trabalho que tiverem e é lindo poder conferir o resultado de tamanho esforço. São quadros animados e não haveria forma mais justa – e mais poética – para homenagear um dos maiores talentos de nossa história.
21. Alice no País das Maravilhas 2010 | Tim Burton
Não poderia fazer esta lista e não citar, ao menos uma vez, Tim Burton. Ainda que a carreira do veterano tenha dado uma decaída significativa nesta década, ele ainda conseguiu oferecer o que tem de mais marcante em sua filmografia: aquele visual colorido e grotesco que tanto amamos com sua assinatura. “Alice” chamou bastante a atenção pelo alto nível de qualidade técnica, assustando pelo cuidado de cada pequeno detalhe na tela. É belo, é atrativo e durante seus minutos nos deu vontade de entrar ali e viver um pouco daquela fantasia. Apesar do roteiro fraco, a produção acertou em cheio na estética.
20. O Regresso 2015 | Alejandro González Iñárritu
Com forte referência às obras de Terrence Malick, o mexicano Alejandro González Iñárritu traz em cena belíssimas paisagens, figurinos e maquiagem. É bastante sensorial toda a composição de seu universo, deste encontro do homem com a natureza, do personagem que se infiltra para viver com os nativos, da paixão que nasce ali. Ele cria este estado de contemplação, neste cinema que encontra beleza em tudo aquilo que é natural e nos deixa à vontade, observando e admirando tudo o que nos vem pela frente.
19. La La Land 2016 | Damien Chazelle
Damien Chazelle provou todo seu talento como cineasta no – quase – vencedor do Oscar de Melhor Filme. Tons saturados e movimentos ilustram a obra que funciona como uma grande homenagem ao cinema, além de trazer a magia dos musicais de volta aos holofotes. Com iluminação e uma paleta de cores bem marcante, a obra hipnotiza por seu visual, sendo do começo ao fim um deleite aos amantes da sétima arte.
18. Interestelar 2014 | Christopher Nolan
Uma das ficções científicas mais bem elaboradas e mais atraentes desta década. Foi lindo poder ver este trabalho tão bem finalizado de Christopher Nolan. O interior das naves, a tecnologia e a arquitetura funcional daquele tempo. É realista e muito bem desenhado pela produção, que capricha e nos espanta pela qualidade de cada detalhe. A fotografia também é um espetáculo à parte.
17. Ilha dos Cachorros 2018 | Wes Anderson
O cinema irreparável do mestre Wes Anderson. Ele é um artista único, dono de uma assinatura única. É sempre lindo poder ver o resultado de suas obras e se encantar por todos os ricos detalhes de suas produções. “Ilha dos Cachorros” prova um capricho de toda sua equipe, que une todos os elementos em perfeita harmonia. Som, trilha sonora, fotografia, tudo em perfeito estado. As cores, os efeitos e a caracterização de seus personagens fazem da animação uma das mais belas desta década. O resultado é soberbo e como stop motion, um deleite para os olhos.
16. A Invenção de Hugo Cabret 2011 | Martin Scorsese
A homenagem ao cinema feita por um dos maiores gênios do cinema: Martin Scorsese. Foi uma grata surpresa poder ver o veterano criando na tela uma trama infantil e muito distante de tudo o que ele já havia feito. Os efeitos especiais, a bela fotografia, figurinos e tudo o que compõe este universo mágico e lúdico desenvolvido com muito capricho por toda a equipe do filme. Tudo muito lindo de se ver e admirar.
15. Her 2013 | Spike Jonze
É muito interessante como a cor funciona em “Her” e o poder que ela exerce em cada sequência. A direção cuidadosa de Spike Jonze também se destaca e se prova preocupado com cada pequeno detalhe. A forte paleta de cores, os objetos de cena e o visual melancólico e ao mesmo tempo esperançoso desse futuro, nos acolhe, traz conforto mas também entristece pelo vazio daquela sociedade exposta.
14. A Origem 2010 | Christopher Nolan
Christopher Nolan e sua equipe desenvolvem aqui a arquitetura do sonho e o resultado é brilhante. São diversos universos criados para a obra, todos com um visual diferente e uma funcionalidade nova. A produção extrapola o limite da criatividade e nos faz emergir dentro sua belíssima e bem orquestrada fantasia.
13. Ida 2013 | Pawel Pawlikowski
Sem dúvidas, um dos enquadramentos mais fascinantes dos últimos anos. Não há sequer um plano mal elaborado, uma pessoa ou objeto fora do grid. A perfeição visual alcança um nível absurdo aqui. Os belos contrastes do preto e branco só tornam seus instantes ainda mais impressionantes.
12. A Espuma dos Dias 2013 | Michel Gondry
Visualmente falando, se trata de um dos filmes mais inventivos da década. Em uma espécie de fábula adulta, somos presenteados pelas criações mirabolantes de Michel Gondry. A cada nova cena somos surpreendidos por milhares de novos artefatos, engenhosidades que provam a genialidade de toda a produção. São objetos, máquinas, robôs, corpos elásticos e tudo o que estiver o mais possível distante da lógica. É lindo poder assistir tantos efeitos práticos e um cinema cada vez mais raro de acontecer.
11. Roma 2018 | Alfonso Cuarón
“Roma” é visualmente formidável. O diretor Alfonso Cuarón é conhecido pelo cuidado milimétrico que tem com suas obras e é surpreendente como cada plano surge na tela. São como quadros em movimento, irretocáveis, belamente enquadrados e capturados. A escolha pelo preto e branco o engrandece.
10. O Conto dos Contos 2015 | Matteo Garrone
O conto de fadas adulto de Matteo Garrone espanta pelo visual que parece retirado de pinturas da Irmandade Pré-Rafaelita. Suas cores fortes e figurinos luxuosos dão um tom clássico e suas paisagens e cenários realmente parecem ilustrações de livros antigos. Um espetáculo estético, fascinante de assistir e admirar.
09. As Aventuras de Pi 2012 | Ang Lee
Extremamente tudo em “Aventura de Pi” é lindo de se ver. As impressionantes sequências filmadas por um inspirado Ang Lee são belas demais para desgrudar o olho e não ficar hipnotizado por cada segundo. Toda a aventura do protagonista, que se mantém à deriva com um tigre, é perfeitamente ilustrada por uma irretocável fotografia, além dos belíssimos efeitos especiais que tornam tudo absurdamente crível.
08. Tron: O Legado 2010 | Joseph Kosinski
O diretor Joseph Kosinski trouxe ao cinema todo o seu conhecimento de arquitetura e design e entregou um produto que se tornou referência visual para muito do que foi feito posteriormente. Ele redefiniu a estética, criou algo novo mesmo se tratando de uma sequência. Como filme, pode ter seu defeitos, mas enquanto produção de cinema, definitivamente, deixou um legado.
07. Guerra Fria 2018 | Pawel Pawlikowski
Um verdadeiro show de fotografia. Uma sequência deslumbrante de um visual riquíssimo e muito bem filmado pelo russo Pawel Pawlikowski. As cenas, filmadas em preto e branco, soam como quadros em movimento, muito bem pintados e direcionados. Os enquadramentos são tão belos que até esquecemos de prestar atenção no filme.
06. Anna Karenina 2012 | Joe Wright
Mais uma parceria entre a atriz Keira Knightley e o diretor Joe Wright (Orgulho e Preconceito). A produção é estonteante e faz uns jogos interessantes em cena, onde os cenários se movem como uma peça de teatro. O resultado é bem curioso e nos hipnotiza pela qualidade técnica. Além do belíssimo trabalho de direção de arte, a obra se destaca pela maquiagem e figurinos.
05. A Árvore da Vida 2011 | Terrence Malick
O grande retorno ao cinema do mestre Terrence Malick. É uma obra sensorial, profunda e reflexiva e seu visual nos leva para uma viagem visualmente impactante. Tudo é lindo como um sonho que não queremos acordar.
04. O Grande Gatsby 2013 | Baz Luhmann
Um grande evento. Uma festa que todos nós gostaríamos de ter participado. Uma festa gigantesca, com figurinos de época perfeitamente desenhados para cada convidado e um cuidado com detalhes poucas vezes visto nesta década. Baz Luhrmann criou algo revigorante, cheio de cor e alma. Tudo em cena é uma atração e nos fascina por seu visual deslumbrante. Muita riqueza jogada na sua cara.
03. Mad Max: Estrada da Fúria 2015 | George Miller
O novo “Mad Max” é insano em todos os sentidos. Não apenas pela adrenalina das sequências de ação, mas também pela grandiosidade visual que George Miller recriou. É impossível desgrudar o olho da tela e não ficar de boca aberta com todos os seus planos. Uma obra de arte, sem mais.
02. Blade Runner 2049 2017 | Denis Villeneuve
O diretor Denis Villeneuve teve grandes responsabilidades em suas mãos quando aceitou realizar a sequência de um dos maiores clássicos da ficção científica. Foi uma grande surpresa poder se deparar com um filme completamente bem realizado e, principalmente, assistir na tela grande um dos visuais mais impressionantes de nosso tempo. Todas as cenas são lindas, desde a arquitetura de cada espaço criado, figurinos, cores até a premiada fotografia de Roger Deakins.
01. O Grande Hotel Budapeste 2013 | Wes Anderson
Os filmes do mestre Wes Anderson sempre chamaram a atenção pelas cores e por toda a sua construção ser meticulosamente calculada. Seu cinema é lindo e “O Grande Hotel Budapeste” marca o ápice desse seu aperfeiçoamento visual. Seja a arquitetura retrô de seu arrojado hotel, seja pelos figurinos ou sua irretocável maquiagem aplicada em seu elenco estelar. Nada está fora do lugar e extremamente tudo é incrível de ser ver e admirar. As definições de “vintage” foram atualizadas aqui e com sucesso.
Indicado ao prêmio de Melhor Filme e vencedor de Melhor Roteiro Adaptado no último Oscar, “Jojo Rabbit” traz o retorno de Taika Waititi na direção depois de realizar “O Que Fazemos nas Sombras” e “Thor Ragnarok”. É seu projeto mais ambicioso até agora e que prova, de vez, sua força como diretor e roteirista. Uma obra que se propõe a ser uma sátira anti-ódio e neste sentido, acaba sendo um produto extremamente atual e que facilmente dialoga com os novos tempos, ainda mais, curiosamente, para nossa realidade brasileira. Taika acerta a mão e realiza um trabalho bastante original, mágico, surpreendentemente triste e doce.
O que torna o texto de “Jojo Rabbit” tão interessante é por revelar a Guerra pelos olhos de uma criança. Jojo, interpretado pelo expressivo Roman Griffin Davis, tem uma visão limitada sobre tudo, inocente e de certa forma, apenas reproduz conceitos e frases que ouviu previamente pelos adultos. Enquanto seu país é dominado pelos Nazistas, ele se junta a outras crianças para ser útil da maneira que lhe cabe. Seu amigo imaginário é Hitler e é ele quem lhe ajuda a enfrentar as difíceis decisões de sua vida. Sua rotina calculada é arruinada quando ele descobre que sua mãe esconde em sua casa uma jovem judia. Este encontro acaba lhe fazendo questionar sobre este ódio doutrinado e que não é, necessariamente, o que sente.
Tinha um certo receio sobre como Taika Waititi faria um filme de comédia sobre a Alemanha Nazista. É um tema delicado e muito fácil de se tornar ofensivo. Surpreende, então, a inteligente maneira que ele encontrou de fazer isso funcionar. “Jojo Rabbit” tem sim seus momentos de humor e acerta em como insere a comédia em seu peculiar universo. Talvez por ter uma criança como protagonista, sua liberdade narrativa é tão bem-vinda. E neste conto belo e mágico, o filme atinge facilmente a comoção. A trama consegue dar boas viradas e emociona, trilhando sabiamente ao drama. Por fim, é aquele tipo de filme que nos faz atravessar por diversos sentimentos, deixando nosso coração apertado por vários instantes. Seu humor, felizmente, não diminui o impacto de sua história, pelo contrário, só acentua o quão cruel e absurdo são seus relatos.
O elenco é todo muito bom, o que torna ainda mais prazeroso de assistir. Taika acerta em sua paródia e diverte com sua inusitada composição de Hitler. Sabiamente, ele aparece pouco, deixando o resto dos atores brilharem. Scarlett Johansson faz por merecer sua indicação ao Oscar. Sua passagem pelo filme é muito bela, emociona e prova o quão versátil ela é capaz de ser. Os jovens Roman Griffin Davis e Thomasin McKenzie são os grandes destaques. Simplesmente incrível o que os dois fazem em cena. É sempre interessante quando atores tão novos são capazes de transmitir tanta coisa. Sam Rockwell, Rebel Wilson e Alfie Allen em ótimas participações. Além das atuações, o filme vem com uma produção muito boa, desde os belíssimos figurinos às ótimas locações de filmagem, destacando seu rico design. Há uma forte inspiração ao cinema de Wes Anderson aqui, nos remetendo facilmente o que ele realizou com “Moonrise Kingdom”. Mais do que cores, texturas e aquela famosa simetria. A forma com as personagens interagem, o rápido e esperto humor e a excentricidade de seu universo também estão aqui.
“Jojo Rabbit” é uma obra que dialoga bem com os tempos de hoje. No tempo das fake news e de como tantos discursos de ódio infundados são reproduzidos facilmente em nome de uma doutrina ou de um fanatismo cego a um líder. É assustador quando conseguimos traçar esse paralelo com nossa realidade e justamente por isso, esta paródia é tão necessária e tão bem-vinda. Taika Waititi entrega um filme maduro, provocativo, sarcástico e surpreendentemente doce e emotivo. A cena final é incrível e, de alguma forma, mesmo pelo peso de seus argumentos, nos faz terminar a sessão com o coração aquecido e uma boa dose de esperança e otimismo.
NOTA: 9
País de origem: EUA Ano: 2019 Duração: 108 minutos Distribuidor: Fox Film do Brasil Diretor: Taika Waititi Roteiro: Taika Waititi Elenco: Roman Griffin Davis, Thomasin McKenzie, Scarlett Johansson, Taika Waititi, Sam Rockwell, Alfie Allen, Rebel Wilson, Archie Yates, Stephen Merchant
Shia LaBeouf sempre foi conhecido por sua vida de excessos e histórias polêmicas que, aos poucos, foram destruindo sua carreira como ator. Problemas com bebidas, violência e uma trajetória que o levaram para uma clínica de reabilitação, tornando este projeto possível. “Honey Boy” é a sessão de terapia pública do astro, que expõe, de forma bastante corajosa, a conturbada relação que teve com seu pai alcoólatra e abusivo. O filme é como um relato de memórias, aberta para expulsar seus tantos traumas e aceitar a dor que sente dentro de si.
Otis (Noah Jupe) é seu alter ego. Um garoto que entra para o mundo do cinema ainda criança e precisa lidar com a pressão que sente por estar construindo uma carreira tão cedo e ter seus pais dependentes de suas conquistas. Anos mais tarde, já adulto (Lucas Hedges), após sofrer um acidente por estar embriagado, ele se vê obrigado a entrar em uma clínica de reabilitação, lugar que o faz visitar as lembranças que teve ao lado de seu pai na infância. Investigando tudo aquilo que ele tentou bloquear durante sua vida. Toda a angústia, todo o rancor. Tudo aquilo que o fez ser, como ele mesmo se denomina, um profissional esquizofrênico, um egomaníaco com complexo de inferioridade.
Alma Rar’el, conhecida por dirigir videoclipes de bandas como Beirut e Sigor Ros (Fjögur píanó, que também conta com a participação de Shia), navega por essas lembranças do ator como se mergulhasse em um sonho insano. É esta experiência que nos oferece, de entrar na mente de alguém, conhecer os recortes dolorosos, sem meio e fim, costurados no meio do caos. Parte da memória de alguém que não lembra os atos com clareza, mas sente com a mesma intensidade como se ainda estivesse lá. Visualmente poderoso, várias cenas nos causam fortes sensações. No entanto, é no relato de seu protagonista que está seu verdadeiro impacto.
“Uma semente se destrói completamente para se tornar uma flor. Isso é um ato de violência.”
Um dos exercicios pedidos na reabilitação de Otis era que ele fosse no meio de uma região afastada e gritasse. “Honey Boy” é inteiramente esse exercício, de Shia LaBeouf usando de sua arte para expulsar tudo aquilo que o aprisiona. Neste mesmo instante, quando Otis retorna e diz o que está sentindo de forma irônica, ele é confrontado por seu instrutor que o indaga: “Você está brincando comigo ou está sendo sincero?”. Está aí uma leitura interessante do que Shia nos propõe aqui. Seria tudo isso uma zoação com nossa cara, com a mídia que tanto o diminuiu? Porque toda a situação é bizarra. Dele contando a própria história e interpretando o próprio pai, que por sinal, é um palhaço e surge na tela com uma caracterização forçada e aparentemente mal confeccionada, com barriga falsa. Ainda que tudo seja uma piada, há muita honestidade também. Existe uma linha tênue aqui entre o sarcasmo e o sentimentalismo. Seja qual for a intenção dele, existe nobreza em muitos de seus atos e comove pela jornada de Otis. Pela jornada de Shia. Verdadeiramente, Shia LaBeouf. Ele se despe, se confronta e nos confronta com seus traumas.
É muito forte esta relação entre o protagonista e seu pai. Neste embate, neste exercício de entender o passado e seguir em frente. Tentar esquecer talvez pudesse ser a saída que muitos procurariam. Otis – ou Shia – não queria esquecer porque sabia que tudo o que ele se transformou devia àquele homem. O bem mais valioso que seu pai o deixou foi a dor e a arte dele jamais existiria sem essa parte.
NOTA: 8
País de origem: EUA Título original: Honey Boy Ano: 2019 Duração: 93 minutos Distribuidor: – Diretor: Alma Har’el Roteiro: Shia LaBeouf Elenco: Noah Jupe, Shia LaBeouf, Lucas Hedges, FKA Twigs
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