O futuro que nos espera
“A Vastidão da Noite” é uma ficção científica de baixo orçamento que acabou fazendo sucesso pelos Festivais de cinema em que passou, chegando a vencer o prêmio de Melhor Primeiro Roteiro no prestigiado Independent Spirit Award. Lançado pela Amazon Prime, o filme vem com um bom respiro às grandes e megalomaníacas produções, que se apoiam em efeitos visuais para causar algum impacto. O que se destaca aqui é a simplicidade e em como o diretor estreante, Andrew Patterson, se utilizando de tão poucos elementos, construiu sua obra. Sua tensão não depende do visual, mas sim dos longos diálogos existentes entre seus poucos personagens.
Filmado como se fosse um episódio de uma série antiga de TV, intitulada Paradox Theather, o programa nos convida a investigar o desconhecido. No melhor estilo de “Twilight Zone” e com ótimas referências ao cinema mais clássico de Spielberg, o diretor opta por nos lembrar, em alguns instantes, de sua metalinguagem. Deste seu paradoxo. Curiosamente, o cineasta assina o roteiro com um pseudônimo, James Montague, quase como um personagem que escreve este seu programa. A sua ficção dentro da ficção. Com chiados, ruídos e uma iluminação natural que por vezes, quase não capta os detalhes das cenas, Patterson acerta ao criar este ambiente retrô e saudosista. A grande ironia vem quando seus personagens, vivendo sob as incerteza da Guerra Fria, sonham com o futuro e todo o universo tecnológico que os esperam.

Pela vastidão da noite, caminham pelas ruas, de uma cidade pequena, Everertt (Jake Horowitz) e Fay (Sierra McCormick), dois jovens aficionados por rádio e gravações de áudio. Ao captarem um som estranho, os dois decidem investigar aquela desconhecida frequência e passam a ter auxílio de algumas pessoas que tem muito a revelar sobre o novo passo da humanidade. É muito interessante como o diretor consegue nos transportar à época, seja pelos belos figurinos e locações, seja pela naturalidade com que aqueles personagens vivem aquela rotina. Acompanhamos, então, em tempo real, os acontecimentos bizarros daquela noite, guiados pelos bravos protagonistas enquanto toda a população da cidade se junta para assistir um jogo. As ruas estão vazias, silenciosas e parte da tensão do filme vem justamente disso. Dessa incerteza que virá quando tudo retornar. A vida daquelas pessoas seriam as mesmas? O que pode acontecer naquele lugar já que ninguém está olhando? Vale destacar o incrível plano-sequência de Petterson, quando sua câmera viaja pela cidade. É tão belo e bem orquestrado que chega a arrepiar.
A tensão se sustenta nos diálogos. Ainda que o roteiro mereça reconhecimento por isso, parte da frustração vem exatamente disso também. Ao demorar muito tempo de tela introduzindo seus personagens – cheguei ao ponto de torcer para os personagens ficarem quietos – nos afasta de suas verdadeiras intenções, justamente porque demora demais para se revelar. É verborrágico, com diálogos intermináveis e, muitas vezes, desinteressantes. O grande pecado de “A Vastidão da Noite” é ser prolixo. É se estender quando não precisa, é dar voltas gigantescas para dizer pouca coisa. O roteiro ainda aposta em alguns monólogos que duram uma eternidade e mesmo que sua intenção seja nos intrigar e nos manter atentos, só nos afasta, nos deixa mais entediados. Nos últimos minutos, finalmente, o filme ganha fôlego, mas já era tarde. Minha mente e coração já estavam distantes demais para me importar com qualquer coisa.
“A Vastidão da Noite” é um belo exemplar da ficção científica recente. Andrew Patterson é, definitivamente, um nome a se prestar atenção nos próximos anos. Há algo de novo em seu olhar e merece destaque. No entanto, ainda que suas qualidades seja evidentes e eu admire suas escolhas, me senti frustrado diante de sua obra. O roteiro fala mais do que transmite, fala incansavelmente quando o silêncio é seu maior triunfo. Foge do lugar comum em sua forma, mas no fim acaba dizendo mais do mesmo.
NOTA: 6,5

- País de origem: EUA
Ano: 2019
Título original: The Vast of Night
Duração: 91 minutos
Distribuidor: Amazon Prime
Diretor: Andrew Patterson
Roteiro: James Montague, Craig W.Sanger
Elenco: Sierra McCormick, Jake Horowitz