A espontaneidade calculada

A honestidade na fala de uma criança diz muito sobre a coragem que perdemos com a maturidade. “Sempre em Frente”, escrito e dirigido por Mike Mills, desenha a diferença existente entre a visão dos pequenos com o pessimismo e cansaço da vida adulta. As imagens em preto e branco trazem um tom melancólico à obra e ilustram bem esse contraste.

O protagonista é Johnny (Joaquin Phoenix), um jornalista que tem um projeto social que visa entender as perspectivas de futuro na infância, enquanto precisa cuidar, por um breve período, de seu sobrinho, Jesse, no qual nunca conseguiu construir uma relação. Um envolvimento tardio, mas revelador. É dessa troca que ele passa a ver o mundo com outros olhos, a entender o poder da escuta e absorver todas as lições que aquele garoto tem a lhe ensinar. O roteiro revela conversas corriqueiras entre os dois e desses pequenos momentos em que se tornam, enfim, família. Tudo bastante delicado, ganhando pelas boas atuações de Phoenix e Woody Norman.

No entanto, sinto que esse universo que Mike Mills tenta construir é muito frágil. Quando se esforça demais para parecer espontâneo, perde seu brilho. Os diálogos, pensamentos e reflexões que giram em torno dos personagens são poéticos, mas distantes demais de qualquer realidade. É estranho como esses indivíduos que narra são extremamente conscientes sobre seus problemas, suas falhas. Inclusive a criança, que parece entender muito bem sobre solidão e todo o peso que se tem na vida adulta. É claramente um texto vindo de uma pessoa experiente, tentando dar vida para alguém que não é.

“Sempre em Frente” me soa bastante prepotente. Quer ser poesia e tem coração, mas às vezes parece não compreender a complexidade humana. Tudo ali tem uma razão, uma resposta, onde seus personagens compreendem demais a si mesmos. Ainda assim, preciso dizer que a produção me encanta. A beleza das cenas, junto com a ótima montagem, revelam, mais uma vez, o cuidado de Mills por trás das câmeras. Vale, também, pelas entrevistas reais com as crianças durante o filme, que nos lembram as coisas incríveis que elas podem falar quando são escutadas. Vejo ali a honestidade que falta a todo o resto e a espontaneidade que a produção tenta capturar, mas falha.

NOTA: 7,0

País de origem: EUA
Ano: 2022
Título original: C’mon C’mon
Duração: 108 minutos
Diretor: Mike Mills
Roteiro: Mike Mills
Elenco: Joaquin Phoenix, Woody Norman, Gaby Hoffmann, Scoot McNairy

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