Responsabilidade afetiva

Vencedor do Grande Prêmio do Público no último Festival de Sundance, “Cha Cha Real Smooth” alia drama e comédia de forma harmônica e entrega umas das produções mais sensíveis e encantadoras do ano. Eu realmente acredito que alguns filmes podem ter um significado mais profundo quando aparecem na hora certa em nossas vidas. Esse aqui foi de encontro comigo e com o que sinto, me fazendo desabar ao final.

Escrito, dirigido e estrelado por Cooper Raiff, o longa muito me lembra as narrativas agridoces de Judd Apatow sobre amadurecimento na fase adulta. O texto é ótimo e mesmo que tudo seja extremamente leve e gostoso de assistir, caminha com os pés no chão, revelando personagens e sentimentos extremamente possíveis. Cooper interpreta Andrew, jovem de 22 que acabou de se formar e não tem perspectiva alguma sobre o que fazer da vida. Sem muitas habilidades mas com carisma de sobra, o destino acaba o colocando como animador de Bar Mitzvah (cerimônia judaica para jovens de 13 anos). São nessas festas que ele acaba conhecendo Domino (Dakota Johnson) uma mulher casada com quem se apaixona.

“Cha Cha Real Smooth” revela como o amor funciona em cada estágio da vida. É curioso como na primeira sequência, Andrew, ainda criança, tem seu coração partido ao se apaixonar por uma mulher mais velha. 10 anos depois, ele se encontra na mesma posição, pronto para se entregar. Andrew e Domino se completam. Ainda que ambos estejam perdidos na própria existência e nesta necessidade de estabelecer algo na vida adulta, a idade que os separa também os coloca em instantes muito distantes dentro do que esperam de um relacionamento. Os anos passam e, quase que automaticamente, passamos a buscar coisas distintas dentro de uma relação. O que hoje precisamos está longe do que buscávamos há anos atrás. A obra sabiamente faz um interessante paralelo entre essas gerações e como, independente da idade, no fim das contas, todos enfrentam um processo de amadurecimento, de entender a si mesmo e de como encarar o outro. É aqui que o texto vem para dizer muito sobre responsabilidade afetiva e a importância de ser honesto com o próximo. Vale, ainda, citar a deliciosa química entre os atores. Me vi com um sorriso no rosto durante o filme todo, torcendo e vibrando por cada simples conversa entre o casal.

Nos minutos finais, porém, me encontrei chorando e tentando entender o porquê tudo aquilo me afetava tanto. Penso que o que há de mais poderoso aqui é a honestidade entre os personagens e essa coragem que todos têm em dizer o que sentem. Vivemos em um mundo que isso parece tão difícil quando estamos tentando algo com alguém. Se expressar é sempre um passo arriscado e que triste que seja. Andrew é destemido e sua persona adorável vem como inspiração. É motivador assistir pessoas sendo gentis umas com as outras. É motivador ver como é possível ouvir o outro, falar em alto e bom som sobre paixão. Se permitir se entregar e achar que tudo bem bater na porta de alguém e dizer que a ama. A verdade é que vivemos fechados a tudo isso e o filme vem para dizer que sentimentalismo não é crime e chorar é só uma prova de que estamos vivos. E está tudo bem. “Cha Cha Real Smooth” diz coisas que eu precisava ouvir e nem sabia. É lindo, acolhedor e faz um bem enorme pra alma.

NOTA: 10

País de origem: EUA
Ano: 2022
Título original: Cha Cha Real Smooth
Duração: 107 minutos
Disponível: Apple TV+
Diretor: Cooper Raiff
Roteiro: Cooper Raiff
Elenco: Cooper Raiff, Dakota Johnson, Vanessa Burghardt, Leslie Mann, Brad Garrett

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