A era da nostalgia
Queria muito vir aqui e fazer parte desse grupo que amou demais “Top Gun: Maverick” e dizer, tranquilamente, que ele já é um dos melhores filmes do ano. Provavelmente minhas altas expectativas estragaram um pouco minha experiência, mas, definitivamente, nada estragou mais do que entrar na sala de cinema e ver uma obra tão calculada e tão produzida para ser algo que já foi. Tudo muito bem feito, com certeza, e isso é inegável. Mas não consigo me emocionar, assim como muitos, com algo tão imensamente desnecessário e que, com plena consciência disso, se contenta em ser apenas uma bela peça de museu.
“Top Gun: Maverick” é mais uma dessas produções que ganharam fôlego nos últimos anos, que tem como o grande intuito fisgar a audiência pela nostalgia. Matrix, Caça Fantasmas, Jurassic Park, entre outros clássicos estão tendo seus túmulos cavados para tentar resgatar alguma chance de sucesso. O processo parece sempre o mesmo: trazer o elenco original de volta e apostar tudo no saudosismo. Se não tem nada de novo para contar – e a maioria desses filmes não tem mesmo – sou do time que prefiro que não mexam. O primeiro “Top Gun” foi lançado em 1985 e é mais conhecido por alavancar a carreira de Tom Cruise do que por ter o carinho do público. Dessa forma, o sucesso dessa sequência nem diz tanto sobre a fama da franquia, mas sim pela qualidade dela e pela maneira especial com que a produção desenha esse cinema dos anos 80. É gostoso de ver e nos transporta para essa época onde os grandes blockbusters ganhavam vida. Nos faz vibrar e brilha nossos olhos pela qualidade imensa de cada sequência.

Ainda que tudo seja incrivelmente bem conduzido pelo diretor Joseph Kosinski, que já tem no currículo bons filmes de ação como “Tron: O Legado” e “Oblivion”, o longa me parece muito preso nessa intenção de homenagem. Tudo muito arquitetado para ser exatamente como foi o primeiro filme. Fiquei surpreso em ver um roteiro que segue basicamente os mesmos passos do original, como se qualquer fuga do que já foi um dia pudesse estragar a memória dos fãs. Maverick quebrando regras e por isso indo parar na Top Gun. Temos. Rivalidade entre alunos que logo sabemos que finalizará em admiração. Temos. Sequência musical com “Great Ball on Fire”. Temos. É um filme que segue passo a passo o que precisa ser, mais parecendo um remake do que uma continuação propriamente dita. Eu conseguia prever exatamente o caminho dos personagens, inclusive quando dois deles iriam cruzar olhares e fazer algum tipo de expressão. Todos os indivíduos ali estão presentes apenas para preencherem arquétipos. Seja do macho alfa, do antagonista valentão, da donzela compreensiva. Todos são carismáticos, de fato, e o bom elenco ajuda. Mas nenhum deles tem vida além daquela função específica.
Cenas de ação impecáveis, trilha sonora, montagem. É realmente um espetáculo para ver na tela grande e isso é inegável. Mas nada disso preenche um filme se ele não tem muito a dizer. E quando eu tiro o saudosismo de “Top Gun:Maverick”, não sobra muita coisa. É sobre aquele herói valentão, másculo, que precisa provar que é foda o tempo todo, enquanto todos ao seu redor o acham foda o tempo todo. Confesso que não tenho muito saco para tanta bajulação. Divertido sim, empolgante e lindamente produzido. Mas para um filme que tem tanto fascínio pelo voo, era natural esperar um texto com mais frescor, que respirasse liberdade e não se contentasse em ser somente a peça de um museu e aquele item perfeitamente lapidado para preencher – calculadamente – o que as almas nostálgicas precisavam. Não sei se essa leva de sequências/reboots/remakes são reflexos da crise dos roteiristas ou apenas medo dos grandes estúdios de se arriscarem. Mas ver essa aclamação em cima de Top Gun em 2022 me assusta um tanto sobre os novos caminhos que o cinema tem a seguir.
NOTA: 6,5

País de origem: EUA
Ano: 2022
Duração: 131 minutos
Disponível: Cinemas
Diretor: Joseph Kosinski
Roteiro: Ehren Kruger, Eric Warren Singer, Christopher McQuarrie
Elenco: Tom Cruise, Miles Teller, Glen Powell, Jennifer Connelly, Val Kilmer, Jon Hamm, Lewis Pullman