Histórias de dor sobrevivem
Apesar de ser uma continuação direta do filme de 1992, “Candyman” também pode funcionar para quem desconhecia a história. Os eventos já ocorridos são relatados aqui como lendas e muito bem situam um novo público. Agora com direção de Nia DaCosta, é interessante como eles amplificam esse universo, trazendo questões raciais ainda mais escancaradas e situações mais pavorosas.
Criada pelo escritor britânico Clive Barker, o mesmo de Hellraiser, a lenda urbana de Candyman teve sua primeira aparição em 1984 no conto “The Forbidden”. Tem como base uma ação clássica de nossa infância: dizer o nome dele cinco vezes no espelho e ele aparecerá para te matar. Assim como no primeiro filme, aqui o roteiro também usa dessa premissa simples para discutir racismo estrutural e gentrificação. Mas também se atualiza e deixa suas intenções ainda mais claras e poderosas. Candyman era um homem negro que foi brutalmente assassinado no passado. Reviver sua lenda é não deixar essa dor da violência ser esquecida. Ela precisa sobreviver porque é um sinal de luta, de resistência.

O novo protagonista é Anthony, artista plástico vivido por Yahya Abdul-Mateen II, que vive com sua namorada em um condomínio de luxo. Para um novo projeto de pintura, ele passa a se inspirar nos eventos macabros ocorridos em Cabrini-Green. No entanto, sua arte acaba por despertar novamente a ira de Candyman, trazendo consigo novas vítimas. A trama traz algumas semelhanças com o primeiro filme, mas existe brilhantismo na forma como faz esse resgate, seja pelas pesquisas do passado feitas por Anthony, seja por sua nova obsessão pelo caso. O roteiro, que também é assinado por Jordan Peele, traz algumas sacadas brilhantes e muita reflexão. A produção vem requintada e a direção de Nia da Costa eleva o nível, encontrando saídas visuais que causam fascínio. As cenas são belas, existindo sempre esse equilíbrio desconfortavelmente simétrico, espelhado assim como esse plano em que Candyman ressurge.
Apesar de acentuar suas provocações, é um filme em que suas intenções são maiores que ele mesmo. Ainda que seja um resgate necessário e bastante atual, como saldo final, não fica muito à frente de seu antecessor, que já possuía suas falhas. O texto, infelizmente, conduz muito mal essa jornada do protagonista, do qual nunca estamos conectados. Suas transformações nunca são convincentes, assim como a dos personagens que o cercam. O ato final é de uma confusão absurda, não deixando claro como a história chegou naquele ponto. É corrido e decepciona, não estando a altura do que prometia lá no começo.
NOTA: 6,5

País de origem: EUA, Canadá
Ano: 2021
Título original: Candyman
Duração: 91 minutos
Diretor: Nia DaCosta
Roteiro: Nia DaCosta, Jordan Peele, Win Rosenfeld
Elenco:Yahya Abdul-Mateen II, Teyonah Parris, Colman Domingo, Vanessa Williams