Os 10 melhores atores coadjuvantes de 2022

Esta semana, aqui no site, postarei algumas listas revelando minhas atuações favoritas de 2022. E para dar start nessa retrospectiva, vou começar pelas grandes performances masculinas em papéis coadjuvantes.

É incrível quando nos deparamos com aqueles personagens de suporte dentro da trama que acabam roubando a cena. Que por vezes, pela excelente entrega do ator, acabam se tornando maiores do que deveriam.

Selecionei, então, 10 atores coadjuvantes que, ao meu ver, se destacaram durante o ano!

Lembrando que selecionei atuações apenas de filmes lançados entre janeiro e dezembro de 2022 aqui no Brasil, no cinema ou VOD, independente do lançamento em seus respectivos países de origem.

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10. Theo Rossi
(Emily the Criminal)

Apesar do caráter duvidoso de seu personagem, a verdade é que nos afeiçoamos à Theo Rossi em “Emily The Criminal”. É ele quem vai guiar a protagonista a cometer pequenos crimes para sobreviver, mas ele também tem seus sonhos e um coração ainda muito vivo. Sua presença é carismática e estranhamente nos faz torcer por ele, ainda que duvidamos dele o tempo todo.

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9. Anthony Hopkins
(Armageddon Time)

Poucas coisas funcionaram no drama “Armageddon Time” e a atuação de Anthony Hopkins definitivamente foi uma delas. É incrível o poder que o veterano tem em cena, transformando cada pequeno diálogo em um momento a ser apreciado. Ele engrandece a obra, sem muito esforço.

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8. Jean De Almeida Costa
(Carvão)

Atuações mirins tendem a ser pouco valorizadas no cinema. É uma pena porque existem aqueles naturalmente bons e que roubam a cena, mesmo em um elenco dominado por adultos. Esse é o caso do pequeno Jean de Almeida Costa que se destaca no filme “Carvão”. Filho da família onde a ação ocorre, ele arranca nosso riso fácil mesmo quando o humor não é o foco. Existe uma espontaneidade admirável, como se ele vivesse realmente aquela vida. Há muita força em seu olhar também.

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7. Paul Dano
(Batman)

Paul Dano é um dos atores mais subestimados do cinema atual. Ele sempre entrega atuações marcantes, mesmo quando seu papel é pequeno. Em “Batman”, ele faz de Charada um personagem altamente intrigante, que nos hipnotiza. Ele não busca uma caracterização estereotipada, revelando algo novo e que mexe com os nossos nervos. Uma pena que não apareça tanto, mas quando ele surge em cena, é impossível prestar atenção em outra coisa.

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6. Eddie Redmayne
(O Enfermeiro da Noite)

Nunca gostei muito do Eddie Redmayne, que pra mim sempre trouxe atuações exageradas e sempre fora do tom. Dito isso, me surpreende muito vê-lo em “O Enfermeiro da Noite”, onde ele finalmente entrega algo sutil, mas imensamente poderoso. Aqui ele interpreta o serial killer Charles Cullen, que assassinou dezenas de pacientes nos hospitais em que trabalhou. É um personagem complexo e que ele torna ainda mais interessante. Seus tantos trejeitos somem para dar vida ao personagem, que vai se transformando diante de nossos olhos, conforme a trama vai nos revelando sua verdadeira identidade. Uma composição certeira e assustadora.

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5. Brian Tyree Henry
(Passagem)

É curioso como “Passagem” prometia ser o retorno de Jennifer Lawrence e acabou sendo o palco para Brian Tyree Henry finalmente provar seu grande talento. Na pele do mecânico James, que auxilia na jornada pós traumática da protagonista, ele entrega uma atuação contida, mas comovente e delicada. Seus relatos trazem honestidade e facilmente acreditamos nas dores daquele frágil homem.

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4. Anders Danielsen Lie
(A Pior Pessoa do Mundo)

O palco de “A Pior Pessoa do Mundo” é todo da protagonista, mas é inegável que o charme e delicadeza do norueguês Anders Danielsen Lie chamam a atenção, principalmente na reta final da obra, quando seu personagem revela sofrer de uma doença terminal. Os discursos finais são imensamente comoventes devido a entrega do ator.

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3. Ke Huy Quan
(Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo)

Uma grande atuação que ninguém esperava encontrar no ano, vinda de um ator que por anos se manteve afastado dos holofotes. Muito provavelmente nem Ke Huy Quan acreditava no alcance que sua atuação teria em “Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo”. Devido ao riquíssimo texto da obra, ele tem a chance de viver todas as vidas possíveis aqui dentro e ele abraça com muito sentimento todas elas. Seu carisma e senso de humor enchem a tela, mas é seu coração que torna sua atuação tão grande. Ele se transforma em cada segundo e nos convence em todos eles.

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2. Sean Harris
(O Desconhecido)

Sean Harris é aquele ator que está no elenco de vários filmes, mas nunca nos damos conta. Não por ele ser esquecível, mas porque ele é bom demais e dificilmente conectamos uma interpretação sua a outra. Em “O Desconhecido”, ele dá vida à homem misterioso e principal suspeito de um assassinato. Sua presença traz um sentimento pesado, negativo, como se estivéssemos, de fato, observando os passos e ações de um criminoso. Sua composição é brilhante, nos amedronta e nos faz ter a certeza do grande ator que ele é (e ainda muito subestimado).

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1. Mark Rylance
(Até os Ossos)

É exatamente o tipo de papel que eu jamais imaginei o Mark Rylance fazendo e que, depois de assisti-lo, será difícil desvincular sua imagem a ele. O veterano é um camaleão e, ainda assim, ele nos surpreende aqui. Como o canibal Sully, ele nos provoca e nos faz ter um asco enorme por sua presença. Cada trejeito e cada detalhe de sua performance nos causa uma sensação ruim, de algo repugnante. Convence demais e, por isso, o primeiro lugar não poderia ser outro.

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E para você? Qual foi o grande ator coadjuvante de 2022?

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Crítica | A Lenda do Cavaleiro Verde

Jornada de desonra

A Távola Redonda é cercada de lendas gloriosas, entre elas a de Rei Arthur, símbolo da cultura celta e que enfrentou males em prol da honra e bondade. Neste mesmo universo arturiano se encontra Gawain, seu sobrinho. É sobre sua jornada que conhecemos aqui em “A Lenda do Cavaleiro Verde”, lançado no Brasil pelo Prime Video e que, por sua vez, foi baseado em um poema escrito no século XIV.

Dirigido por David Lowery, dos excelentes “Pete’s Dragon” e “A Ghost Story”, o longa se afasta por completo deste cinema de fantasia e ação do qual estamos acostumados, revelando este cenário medieval de forma mais sombria e, até mesmo, mais humana. Nosso protagonista, Gawain, interpretado pelo ótimo Dev Patel, é irresponsável e vive uma vida sem grandes esforços, mesmo que queira ser reconhecido como herói, assim como todos aqueles que o cercam. Sua imprudência, porém, define sua inevitável jornada, quando aceita o desafio do Cavaleiro Verde – uma criatura metade humana, metade árvore – que oferece um poderoso machado e uma vida digna para aquele que o golpear. O preço, porém, é que um ano depois, terá de receber o mesmo golpe de volta. Gawain, em um ato impensável, corta a cabeça do Cavaleiro.

É assim que “A Lenda do Cavaleiro Verde” se transforma em uma espécie, curiosa e intrigante, de coming of age medieval. O jovem protagonista parte em uma longa caminhada pelo interior da Inglaterra para encontrar a criatura e ter sua cabeça cortada. É ele indo atrás da própria morte. Saindo de sua vida cômoda, descobrindo o mundo e sentindo, finalmente, o peso de suas escolhas. O amadurecimento forçado de alguém que não está preparado para ser uma lenda. Há, também, muito de um thriller psicológico aqui, quando o personagem se lança nessa tortura de buscar por seu destino mortal, quando escolher pela vida será sinal de seu fracasso e de sua desonra. É assim que o filme subverte essa saga do herói de forma brilhante e audaciosa.

Existe uma grandeza intimidadora na obra, onde as cenas causam bastante impacto. Visualmente é um dos filmes mais belos que vi nesse ano e teria sido lindo tê-lo visto em uma tela de cinema. É rico todo o trabalho da equipe e o que conseguiram fazer com o orçamento. Sequências como as do encontro com os gigantes ou do mergulho no mar vermelho me deixaram estagnado.

Cheio de simbolismos, “A Lenda do Cavaleiro Verde” termina de forma ambígua e isso o engrandece. As possibilidades que vão se abrindo em nossa mente o tornam ainda mais intrigante. Me senti completamente imerso nesse universo e seduzido pelo poder de suas imagens. Fantástico!

NOTA: 9,0

País de origem: EUA, Canadá, Reino Unido, Irlanda do Norte
Ano: 2021

Título original: The Green Knight
Duração: 130 minutos
Disponível: Prime Video
Diretor: David Lowery
Roteiro: David Lowery
Elenco: Dev Patel, Alicia Vikander, Barry Keoghan, Joel Edgerton, Sean Harris