Crítica: Os 7 de Chicago

O espetáculo da fórmula

O roteirista Aaron Sorkin chamou a atenção da crítica, há dez anos atrás, quando usou do tribunal para investigar a mente de Mark Zuckerberg no irreparável “A Rede Social”. Ele retorna a este ambiente para contar mais um evento real, desta vez, focando no longo e histórico julgamento dos “7 de Chicago”, quando um grupo de ativistas foi acusado de incitar tumulto enquanto protestava nas ruas contra a Guerra do Vietnã.

O filme quase todo é centrado dentro do tribunal, com alguns pouquíssimos flashbacks que nos situam ao que realmente aconteceu. Sorkin é mestre nessas longas discussões, contando sempre com um texto verborrágico e de poucas pausas. Ainda que narre um acontecimento do final da década de 60, os debates que consegue extrair de tudo isso é extremamente atual e relevante. É assustador e causa incômodo, não apenas pela postura violenta da polícia, como o despreparo do juiz diante do caso, criando um espetáculo do qual ele já tem certo sobre quem são os culpados e as vítimas da história.

Apesar das boas reflexões que deixa, “Os 7 de Chicago” é formulaico e frustra ao se deixar cair nas armadilhas do subgênero. O falatório é calculado e mais clama por um Oscar do que por honestidade. O grande pecado do texto é se apegar ao julgamento e esquecer daqueles que estão sendo julgados. Passamos o filme todo vendo detalhes ricos das discussões sem jamais conhecer os verdadeiros personagens da história. Aaron Sorkin pode demonstrar grande conhecimento de tribunais, mas esquece das vidas que preenchem aquele espaço. Sabemos o que eles fizeram, mas jamais sabemos quem eles foram.

Como diretor, Sorkin também segue as fórmulas e não reinventa aquele ambiente, sendo visualmente tedioso. Ao menos ele acerta na condução do elenco, extraindo ótimas atuações principalmente de Sacha Baron Cohen, Yahya Abdul-Mateen II, Frank Langella e Mark Rylance. Eddie Redmayne me surpreendeu também. Havia tempo que não o via tão livre de seus tantos trejeitos.

Ao fim, o diretor ainda nos presenteia com um momento surpreendentemente piegas, com trilha sonora pesada e bastante desconexo com o que havia apresentado até ali, optando por uma dramaticidade desastrosa que diminui a força de seus bons discursos.

NOTA: 6,5

  • País de origem: EUA
    Ano: 2020
    Duração: 129 minutos
    Título original: The Trial of the Chicago 7
    Distribuidor: Netflix
    Diretor: Aaron Sorkin
    Roteiro: Aaron Sorkin
    Elenco: Eddie Redmayne, Joseph Gordon-Levitt, Mark Rylance, Sacha Baron Cohen, Jeremy Strong, Alex Sharp, Frank Langella, Michael Keaton, Yahya Abdul-Mateen II
    , John Carroll Lynch