Crítica | Belfast

Muito Barulho Por Nada

Admirador de Shakespeare e Agatha Christie, Kenneth Branagh se firmou no cinema com suas tantas adaptações e sua visão sobre alguns clássicos da literatura. É bem-vindo então, quando ele (tenta) revelar um lado mais pessoal, recriando sua infância em Belfast. O diretor e roteirista escreve aqui sua carta de amor à cidade e a todos aqueles moradores que precisaram partir dali para terem uma vida melhor. Uma obra feita com muito sentimento sim, mas sem um bom roteiro para amarrar suas boas intenções, ainda que tenha vencido, injustamente, o Oscar.

Filmado em preto e branco, vivenciamos um recorte na vida do pequeno Buddy ao lado de sua família em Belfast. Ele não tem dimensão dos problemas que ali o cercam, brincando pelas ruas sem nunca entender do que são constituídos aqueles tantos muros. Branagh pincela os conflitos religiosos da Irlanda da década 60 sob o olhar ingênuo de uma criança. É bastante compreensível, por essa ótica, que ele não se aprofunde em seus temas. Por outro lado, devido a isso, passamos pelo filme sem nos conectar a nada, avistando de longe, sem nos importar com o que nos é contado.

A primeira cena revela um combate civil depois de uma brincadeira entre as crianças na rua. Uma cena estranha, apressada, sem muita emoção. A sequência seguinte mantém esse mesmo esquema e por aí vai. Branagh vai juntando fragmentos curtos, frases soltas, instantes que até possuem uma certa comoção, mas não nos atinge. São sentimentos do qual não fomos apresentados e ficamos ali só assistindo. Um recorte de belos eventos, mas oco e infértil. Pouco se constrói ali e, como consequência, termina da forma como começou, sem dizer nada.

“Belfast” acaba ganhando força pelas ótimas atuações, com destaque para Caitriona Balfe. A beleza das imagens também chama atenção, entregando sequências visualmente fascinantes. Infelizmente, Branagh perde a chance de revelar um pouco de si, onde se mostra muito mais preocupado com um bom enquadramento do que com a honestidade de seus relatos. É nítido que ele tem muito carinho por sua infância, mas infelizmente, seu texto que traduz tudo isso é fraco, revelando um compilado de memórias genéricas em um Oscar Bait esquecível.

NOTA: 6,0

País de origem: Reino Unido, Irlanda do Norte
Ano: 2021
Duração: 97 minutos
Diretor: Kenneth Branagh
Roteiro: Kenneth Branagh

Elenco: Jude Hill, Caitríona Balfe, Jamie Dornan, Ciarán Hinds, Judi Dench, Lara McDonnell