O cinema que resiste
Gareth Edwards retorna à ficção científica depois de ter realizado um dos melhores capítulos de Star Wars, o subestimado “Rogue One”. Para este seu novo filme, que também roteiriza ao lado de Chris Weitz, ele bebe muito da franquia de George Lucas, além de outros clássicos do gênero. É um emaranhado de boas referências que causam uma certa nostalgia. “Resistência” traz muitas falhas sim, mas também nos relembra desse cinema que abrigava mais histórias originais, antes de ser invadido por adaptações, remakes e sequências intermináveis.
O título nacional que recebeu não poderia ser mais propício para fazermos essa análise. Não há mais espaço para obras como “Resistência” e por isso é tão surpreendente ver o resultado que toda a equipe alcançou e ver esse filme chegando aos cinemas. Ainda que tudo indique já ser um fracasso comercial (o que é uma pena), a obra nos lança um alerta e se mostra extremamente importante nos dias de hoje. Não só por vir com uma ideia original na cansativa era das franquias, mas também por entregar uma produção de altíssima qualidade com um orçamento extremamente baixo. É a prova de que CGI nas mãos certas pode acrescentar no cinema. A prova de que um projeto bem elaborado pode alcançar melhores resultados do que aqueles que possuem grandes números. Nada é muito memorável aqui, mas vem para sinalizar mudanças significativas para os blockbusters do futuro.

Quando junta os efeitos especiais de altíssima qualidade, mais o talento de Greig Fraser na direção de fotografia, além da ótima condução de Edwards, temos sequências visualmente impactantes. Como é bom poder apreciar novamente a ficção científica e ter tempo para contemplar a beleza de cada cena. O filme nos permite isso. Nos permite sentir essa imersão, sem ser megalomaníaco ou parecer fake como quase todos os blockbusters que nos são apresentados. A direção acerta ainda nas sensações que desperta diante da grandeza que constrói, nesse encantamento pelo fantástico. Nos dá a dimensão real das coisas, como quando ficamos apreensivos quando a cena é nas alturas. Parece simples, mas são sentimentos perdidos em produções recentes.
Apesar desta plasticidade bem elaborada, o longa peca no roteiro. A trama coloca em cena uma batalha entre máquinas e humanos em um mundo pós-apocalíptico. Todas as soluções que encontra nos traz a sensação de já termos visto aquilo em algum outro lugar. Nada realmente parece muito inventivo. As relações entre os personagens também são reveladas de forma apressada e toda a dramaticidade da obra perde e muito quando não temos acesso a essas conexões. O texto não se aprofunda na construção do protagonista e John David Washington não tem carisma, entregando uma interpretação cansada assim como seus últimos papéis. O coração e brilho do filme fica nas costas da pequena Madeleine Yuna Voyles, que encanta em sua primeira atuação.
Apesar das falhas, a obra empolga em diversos momentos, principalmente por esse fascínio que causa por esse seu visual futurista. Surpreende pelo resultado que alcança devido às limitações da produção, fazendo os efeitos especiais dos mais recentes blockbusters parecerem medíocres, mesmo com muito mais grana investida. O filme pode até parecer um primo distante de Star Wars, mas ainda que recicle muitas ideias, ao menos teve a coragem de resistir nesse cinema que sobrevive de franquias. Não tem muita personalidade, mas pelo menos entrega uma boa diversão e uma experiência incrível em uma tela grande.
NOTA: 7,0

País de origem: Estados Unidos
Ano: 2023
Titulo original: The Creator
Duração: 133 minutos
Diretor: Gareth Edwards
Roteiro: Gareth Edwards, Chris Weitz
Elenco: John David Washington, Madeleine Yuna Voyles, Allison Janney, Ralph Ineson, Ken Watanabe, Gemma Chan