Quando o fascínio pelo desconhecido se perde

É tão bom quando uma sequência de um filme nos prova necessária, onde através de uma boa trama percebemos que estávamos enganados por desconfiar. Isso é o que não acontece aqui. Do começo ao fim, “Um Lugar Silencioso – Parte II” não prova ser uma boa decisão. Não que seja ruim, muito pelo contrário, continua tendo uma ótima condução do diretor John Krasinski, mas é claramente uma escolha gananciosa de um estúdio, vindo de uma história que nitidamente não foi pensada para uma continuação.

Enquanto assistia essa “parte II” me via refletindo sobre o poder da imaginação que o cinema nos permite. O quanto a sugestão é, algumas vezes, muito mais interessante do que aquilo que é explícito, revelado. Quando o primeiro filme encerrou em “aberto”, um caminho promissor abriu em nossa mente, fechando-se com excitação. É decepcionante quando aquilo que era apenas uma possibilidade ganha vida, onde eles desenham um rumo de ideias tão simplórias que o lucro era ter ficado na imaginação mesmo. O grande lance do bom suspense que nos fisgava antes era aquilo que não podíamos ver. As criaturas que andavam às sombras e caçavam pelo som omitido por suas próximas vítimas. A tensão ainda existe, mas esse fascínio pelo desconhecido se perde quando vemos tão claramente como são esses monstros. Tudo é revelado aqui e perde a força e o interesse.

As primeiras cenas, quando nos revela os acontecimentos anteriores ao ataque mostrados no primeiro filme, são fantásticas e rapidamente nos reconectamos ao universo. Infelizmente, logo em seguida, cai no marasmo, trilhando caminhos tão comuns em filmes pós-apocalípticos. O herói desesperançoso, o pior lado da humanidade que emerge nesse novo mundo e tudo aquilo que já esperamos de uma obra desse tipo. Pouco oferece de novidade, se utilizando dos mesmos recursos do primeiro filme, reciclando ideias descaradamente. Seja por esse quarteto que é separado e precisa se unir, seja por resoluções já exploradas como a questão dos ruídos que servem de defesa. Nada é novidade aqui e isso frustra. Os personagens pouco saem do lugar, mais parecendo um bom episódio de uma série do que um filme propriamente dito.

Aqui, a mãe (Emily Blunt) continua por esse caminho desolador, buscando proteção ao lado dos três filhos. Apesar dessa simplicidade da trama, a grande força dessa sequência ainda se concentra no bom elenco, que agora conta com a bela adição de Cillian Murphy. Todos estão ótimos e extraem o melhor mesmo com pouco em mãos. Os efeitos visuais também continuam incríveis, assim como o belíssimo trabalho de som. É, também, muito bem costurado esse rumo dos personagens que, ao se dividirem, paralelamente, o filme consegue manter uma união, sempre interligado. Há, ainda, muito sentimento em cena e isso nos envolve a esses indivíduos e esse desespero do silêncio quando há tanta dor a ser exposta.

“Um Lugar Silencioso – Parte II” está longe de ser uma ofensa. É bem produzido, envolve e conta com ótimas atuações. No entanto, é pequeno demais como sequência de um filme que foi tão bom e poderia ter ficado nele mesmo. Não prova ser necessário e, infelizmente, termina indicando uma terceira parte. Não tem fôlego e é uma decisão estúpida prolongar aquilo que já deixou de respirar.

NOTA: 7,0

País de origem: EUA
Ano: 2021

Título original: A Quiet Place Part II
Duração: 96 minutos
Diretor: John Krasinski
Roteiro: John Krasinski
Elenco: Millicent Simmonds, Cillian Murphy, Emily Blunt, Noah Jupe, John Krasinski, Djimon Hounsou

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